História ABO Originals - Status

"Sam?" Louis repete e olha para Zayn com curiosidade.

O amigo beta desvia o olhar e morde o lábio inferior antes de suspirar e começar a falar. "Bem, não é nada demais, só curiosidade boba..." Justifica-se e Louis não consegue evitar um sorriso malicioso. "É que hoje de manhã eu fui falar com ele e bem, ele estava todo entretido falando no celular com esse tal de Sam, então... Eu só perguntei quem era, já que o Niall costuma contar tudo para gente, mas ele desconversou. Então, sei lá, foi estranho. E eu acho que talvez ele não queira me contar, mas pode ter te falado algo, já que vocês parecem estar numa amizade melhor..." Zayn não olha para Louis em nenhum momento. A paisagem ao redor parece estar mais interessante e o ômega sabe que é só o jeito do beta de tentar mostrar desinteresse, o que é desnecessário, pois só a sua pergunta já mostrou toda a sua curiosidade.

Louis queria fazer algum comentário sugestivo, mas resolveu deixar para depois. Se falasse algo agora Zayn provavelmente não falaria o que realmente está querendo. Iria se fechar por tempo indeterminado e deixar Louis morrer de curiosidade.

"Bem, isso é um pouco estranho, realmente, porque ele me contou sim..." Louis começa, tentando conter o sorriso por saber do interesse de Zayn e pensando se deve falar sobre Sam, afinal, se Niall desconversou é porque não queria que Zayn soubesse, e Louis não sabe se pode ou não contar.

"E quem é esse cara?" Os olhos do beta agora estão voltados atentamente para Louis, e ele nem está fazendo questão de disfarçar o seu interesse.

"Um alfa..." O ômega diz, tentando se conter e ao mesmo tempo já deixando que essa simples palavra ligue os pontos na cabeça do beta. A expressão de Malik muda. "Ah..." Ele murmura em entendimento e há um momento de silêncio antes de Louis questionar: "Você e o Niall ainda estão brigados ou algo do tipo? Eu achei que estivesse tudo bem, então não sei o porquê dele não querer te contar... Ele parecia bem animado, então, sei lá... Você o conhece. Eu achei que ele iria gostar de falar sobre isso com todo mundo que quisesse ouvir."

"A gente tá mais ou menos bem... Já faz um tempo que parece que o que realmente segura a gente junto é você, Lou." Zayn admite e Louis franze o cenho. Isso não é legal. "É que parece que o clima é outro quando sou só eu e o Niall."

"Um clima ruim?"

"Não exatamente." O lábio do beta levanta levemente em uma espécie de sorriso disfarçado. "Eu tento não fazer nada que possa estragar nossa amizade, já que não está fácil. Mas eu não me sinto mais só amigo dele há algum tempo..."

"Uau!" Louis exclama sorrindo. "Achei que iria ser difícil arrancar algo assim de você... Que teria que insinuar muitas coisas e te zoar na frente dele." O ômega ri, o beta não.

"Não faça isso! Eu só disse porque não adianta tentar disfarçar. Eu já me entreguei desde que decidi perguntar desse cara. Acontece que você é meu melhor amigo, e se eu não puder falar com você então não vou poder falar com ninguém."

"Tudo bem, Z! Best Fucking Friends, certo?" Ele diz rindo enquanto bate suas mãos com as do beta em um toque de palma aberta seguido de um soquinho e movimentos estranhos. Zayn ri um pouco e relaxa, falar com Louis é tranquilo.

"Com certeza. Pra sempre..." Responde, e então volta ao assunto que lhe aflige. "E eu sei que ele te conta as coisas... Quem é esse alfa?"

Louis suspira. Ele sente como se estivesse expondo um pouco o Niall, mas ao mesmo tempo talvez o ômega loiro só tenha evitado o assunto com Zayn devido a tensão que está rolando entre os dois.

"Bem, seria legal se você não me entregasse por ser boca aberta." Louis começa se defendendo. "Eu vou te contar porque acho que Niall também contaria, se não fosse essa tensão entre vocês... Sam é um alfa amigo da família dele com quem ele pretende passar o próximo heat, mas aparentemente não é só isso. O cara conhece a família dele, tem apoio se quiser algo sério, e provavelmente vai querer, porque é um alfa que já tem uma filha e não quer se envolver com alguém e deixar a menina se apegar para depois deixa-lo. É um possível futuro namorado. Ele parecia animado."

"Namorado? Então, esse cara é possivelmente o futuro alfa do Niall?"

Louis podia arriscar dizer que havia um pouco de dor naquela pergunta. O jeito que o beta havia citado o status de Sam como se aquilo fosse o que mais lhe incomodava.

E era.

Já fazia algum tempo que Zayn sentia coisas diferentes em relação a Niall. Ele começou a perceber (e ao mesmo tempo tentar ignorar isso) quando o ômega se envolveu com Liam, e Zayn se importou mais pelo fato do ômega estar com alguém que iria machucá-lo, do que por ser seu ex.

Ele disse à si mesmo que era apenas proteção de amigo. Ele conhecia Liam bem o suficiente para saber que o interesse repentino por Niall era apenas uma provocação. Mas o tempo passou, algumas conversas com Niall sobre o assunto aconteceram e Zayn no fundo sabia que ele não gostaria de ver o ômega saindo com Liam, mesmo se ele não fosse seu ex.

Era confuso, e ele chegou a pensar que estava confundindo a si mesmo sobre o que sentia e com quem se importava.

Ainda era doloroso o fora que levou de Liam apenas por ser beta, aquilo feriu seu orgulho. E pensou que talvez não gostasse do alfa com seu amigo, pois além de ser uma provocação sobre pegar alguém próximo, era uma provocação sobre status.

Mas o que teve com Liam foi passageiro. O que doeu foi ser negado por ser beta. E o pior é que isso ainda persistia quando era com Niall.

Afinal, o loiro era um ômega à procura de um alfa. E o que ele quer Zayn jamais poderia lhe dar.

"Talvez sim, talvez não..." A voz de Tomlinson tira o beta de seus pensamentos. "Eu disse a ele que as coisas não funcionam assim. Ele pode até ficar com esse cara. Sam pode até ser legal, mas ele já tem uma filha e quer algo sério. Ele já viveu algo e Niall ainda não viveu nada. Sem contar que, mesmo que esse alfa seja uma boa pessoa, isso não significa que Niall vá amá-lo. Às vezes as pessoas são legais, mas você não consegue sentir nada. Não dá para se forçar a gostar de alguém."

Louis sorriu com seu pequeno discurso e Malik também. Era diferente ouvir Louis falando positivamente sobre gostar de alguém... Logo ele, que não acreditava em nada daquilo.

Talvez Harry tenha sido realmente bom para Louis, apesar de tudo.

"Bem, mas talvez dê certo, né? Ele e esse Sam... Se ele for um cara legal, Niall vai conseguir tudo o que sempre quis." É difícil dizer aquilo, porque parte dele não quer isso, mas ele tem que pensar no que é melhor para Niall.

"Zayn? Você está torcendo para que eles deem certo sem nem tentar algo antes? Se você está gostando dele, deveria pelo menos deixar ele saber e escolher."

"Escolher?" Zayn solta uma risada debochada, mas é triste. "Eu sou um beta, Louis. Eu não sou uma escolha quando se compete com um alfa. Talvez eu tivesse alguma chance se o cara fosse um babaca, mas senão, não tenho nenhuma."

Louis pega nas mãos do amigo e arruma sua postura, antes de dizer seriamente. "Zayn, seu status é de beta, mas isso não define quem você é. Isso não te faz menos do que os outros. E sinceramente, você já tem um monte de babaca para te falar essas merdas negativas, você não precisa ser mais um te colocando para baixo."

"Você sabe que não é bem assim. Tudo que o Niall sempre sonhou foi com o alfa ideal e uma família! Eu não posso ter filhos e um namoro entre a gente nunca seria levado à sério."

"Filhotes não são o que fazem um casal ser o ideal. Vocês podem ser felizes sem, ou adotarem. Isso realmente importa para você? Porque eu acho que as pessoas ficam juntas por se amarem e não para, exclusivamente, reproduzirem."

"Eu não me importo. Essa é minha vida, Lou. Eu no máximo vou encontrar um beta ou uma beta e adotar uma criança." Zayn suspira conformado. "Niall pode gerar uma criança e é isso que ele quer. Comigo não daria."

Louis solta suas mãos. "Você parece saber bem tudo o que ele quer ou não, mesmo sem falar com ele." Louis é irônico e tem raiva de toda essa merda que a sociedade abo ditou. Determinando como as pessoas devem se comportar de acordo com seu status, e fazendo elas se sentirem mal por ser quem são.

"Tá na cara. Eu não tenho chances, não sei nem porquê achei que tivesse." Na verdade, Zayn sabe sim. Desde que Niall brigou com ele e o acusou de ter sentimentos à mais por Louis, ele notou uma pontinha de ciúmes vindo do loiro. E isso o intrigou.

"Você tá esquecendo que eu sou um ômega e já fiquei com ele?" É um pouco estranho falar assim, sendo que Zayn está interessado no loiro, e Louis já ficou com os dois, mas enfim.

"Mas não foi um namoro."

Dois ômegas namorando seria realmente escandaloso, provavelmente seriam chamados de doentes e levados pelas famílias até algum doutor. Betas com ômegas ou alfas até era aceitável, como algo passageiro. Como se betas fossem substitutos temporários para o par perfeito que ainda não chegou. Mas as relações entre alfas e alfas ou ômegas e ômegas eram as piores, as mais criticadas e condenadas. Nenhum casal assim tinha coragem de enfrentar a sociedade, era problemático demais até mesmo para aceitarem em sua própria mente que há interesse por alguém do mesmo status, alguém por quem não deveriam sentir nada.

"Você não está querendo se ajudar, Z." Louis diz com pena. "Se deixar o tempo passar e Niall se envolver com esse alfa só vai ser pior. Já vi que a amizade entre vocês não vai ser mais a mesma e eu fico triste com isso. Antes de qualquer coisa, todos nós somos amigos. E vocês não deviam esquecer isso."

"Eu vou continuar sendo amigo dele." O beta afirma, é quase convincente, mas Louis nega com a cabeça e Zayn não se repete, sabendo que não é totalmente verdade.

"Ser amigo desse jeito... Vendo ele com outro e o vendo desconversar certos assuntos? Isso é chato, Z. Você deveria pelo menos tentar falar com ele, deixar claro o que está apenas no ar e tentar evitar se afastar por completo."

Era triste quando uma amizade de anos morria aos poucos. Quando cada um se calava e se afastava, como se não valesse à pena o esforço. E como tudo poderia ser evitado se houvesse diálogo. Se as pessoas chegassem e perguntassem “O que está acontecendo com a gente? Como a gente deixou chegar nesse nível?”. Se colocassem todas as suas forças para tentar mais uma vez, para fazer dar certo.

Pelo menos para dizer que tentou, antes de desistir.

Louis havia aprendido aquilo com toda a briga que teve com Harry, e por isso insistia que seria melhor Zayn abrir a boca sobre o que sente.

Às vezes o arrependimento maior é por aquilo que não foi dito.

Zayn pensou bem sobre aquelas palavras. Em parte, se sentia melhor por ter falado com Louis sobre isso e descoberto quem era o tal Sam. E por outro lado, sentia que seu status o atrapalhava mais pelo que iriam dizer do que pelas limitações que impõe sobre seu corpo. Estava mais preocupado em ter uma chance real com Niall se tentasse lhe conquistar, do que com um fora. Porque, se Niall o escolhesse, abriria mão de todo o seu sonho de família perfeita. Não teria apoio dos familiares, que com toda certeza iriam preferir o tal alfa, e muito menos das outras pessoas. Seriam os dois contra todos, e parecia errado carregar o ômega junto a si para aquela realidade.

No entanto, precisava salvar sua amizade. Eles ainda poderiam ser amigos. Serem como eram antes. Niall, Zayn e Louis. Sem sentimentos confusos interferindo.

Decidiu que conversaria com o ômega. Só precisava pensar bem no que iria dizer.

Zayn acendeu um cigarro ao que pensava em tudo que havia conversado com Louis e o ômega fez o mesmo. Era bom ter esse tempo só os dois, mas eles ficaram muito tempo na rua, conversando e fumando, e já era hora de ir para casa. 

O beta propôs uma carona, disfarçada de gentileza boba, mas na verdade ele se preocupava com Louis andando sozinho por aí. Ele era um ômega próximo do heat e seria fácil para alguém maior lhe atacar. Louis percebeu, pois negou o primeiro convite e Zayn insistiu.

O ômega agradecia a preocupação, de verdade, porém detestava o jeito que pensavam nele como indefeso. "Eu sei me defender, Z..." Lembrou o amigo antes de entrar no carro do mesmo e aceitar a carona até o seu apartamento. Louis já era acostumado a andar a pé e sozinho, não tinha mais tanto medo. E quando Zayn lhe olha duvidando de si, Louis apenas levanta a blusa e pega uma pequena faca que carrega junto a si, exibindo-a com um sorrisinho.

"Você anda com uma faca, sério?" Malik estava realmente surpreso, não imaginava que o amigo andasse com armas para defesa. Niall que parecia o tipo que anda com spray de pimenta, Louis parecia muito confiante para sequer ter cogitado andar com algum objeto do tipo.

"Não sempre... Mas esses dias tem muito mais gente me olhando sempre que eu passo..." Louis dá de ombros e guarda a faca em sua mochila. Ele não espera que um dia realmente tenha que usar aquilo, mas se sente melhor por saber que se precisar terá algo em mãos.

"Isso não é mais perigoso ainda?" O beta questiona, se preocupando mais. "Tipo, se alguém vier tentar te assaltar... Ou atacar... E então achar essa faca e tomar da sua mão... Podem usar isso contra você, Lou." 

Louis ri. "Se alguém tentar me assaltar provavelmente já virá armado. E sinceramente, quem assalta pobre? É um desperdício de esforço." 

"Assalto é besteira. Bem material a gente recupera, o que me preocupa é se te atacarem." Zayn faz questão de usar o plural, porque ele sabe bem que na condição financeira atual seria péssimo para Louis perder o pouco que tem.

"Se me atacarem eu me defendo. Se não conseguir me defender, então sou atacado. Simples." Tomlinson está sinceramente saturado daquele assunto. "Já cansou do assunto 'Louis indefeso' ou quer falar mais alguma coisa que não vai mudar nada?"

Zayn revira os olhos. "Só, por favor, evite sair de casa e sozinho. Pelo menos nesses dias, ok?"

"Eu não tenho aonde ir mesmo, tanto faz..." Louis encerra o assunto e os dois vão em silêncio até o prédio do ômega. Louis se despede, agradece pela carona e entra em seu prédio.

É bom estar em casa, mas ainda é cedo demais e seu banheiro ainda está com o cano estourado. Ele se joga no sofá e fecha os olhos.

Às vezes ele gosta de fingir que não existe. Só por uns minutinhos onde sua mente fica livre de todos os problemas e está tudo okay.

*

Harry faz hora extra naquele dia. Depois de todas as insinuações de Liam, sobre Harry colocar Louis em primeiro lugar em tudo e deixar suas obrigações de lado, o alfa está tentando desfocar um pouco sua mente sobre o namorado e pensar mais nas coisas chatas que tem que fazer. Ele ainda não tem um cargo muito bem definido na empresa, está aprendendo o máximo que pode, e sua vantagem é ter a mente rápida. Ele aprende fácil quando se concentra e consegue fazer muitas coisas em um período curto de tempo. Os chefes de setores o ajudam em tudo que ele precisa, e Harry tem mais uma conversa com seu pai. Ele ficará na diretoria futuramente, e mesmo que seja bom aprender desde o básico, é necessário que ele foque mais no trabalho que realmente irá fazer. Os subordinados existem por um motivo, e Harry deve saber avaliar o trabalho deles, mas não tem tempo para aprender minuciosamente sobre a função de cada um.

Viva a divisão de trabalho! Menos peso e responsabilidade sobre si.

Chega a ser incrível como sua mente consegue focar tão bem em todas as suas obrigações e lições quando não está pensando em Louis. Mas é só parar um pouquinho que o namorado já lhe vem a mente. Principalmente na pausa para o café, onde ele usa seus minutos livres para olhar a galeria do celular e ver milhares de fotos que tirou de um Louis adormecido. 

Harry percebe que os dois ainda não tem aquelas fotos fofas de casais. Onde ambos aparecem e estão acordados, não apenas Harry beijando o topo da cabeça de um namorado dorminhoco.

Decide fazer uma ligação, apenas por saudades de ouvir a voz maravilhosa do outro. E também por precisar explicar que hoje seu pai lhe convidou (ou melhor, intimou) para um jantar em família. E é por isso que ele deve demorar para lhe encontrar naquela noite.

A ligação demora a ser atendida, Louis o atende no último minuto e sua voz soa sonolenta e feliz.

"Oi, amor." É o ômega que diz e Harry sente seu peito encher de tanta alegria. 

Ele passou muito tempo esperando para ouvir uma frase simples e linda como essa.

"Oi, babe... Te acordei?"

"Sim, mas não tem problema..." Louis solta um bocejo. "Eu já iria te ligar, você está demorando muito hoje... Que horas vem me buscar? Eu bem que poderia usar aquela sua banheira... Estava até sonhando com ela..." Louis ri, e Harry se lembra do incidente do cano estourado. Seria a oportunidade de ter o namorado passando alguns dias em seu apartamento.

É só uma pena que ele ainda irá demorar horas até poder ir embora, e ainda há o jantar.

"Em algumas horas... Hoje eu tenho que jantar com a minha família... Posso te buscar e te deixar no apartamento antes de ir." O alfa tem vontade de convidar Louis, mas sabe que sua mãe brigaria consigo por trazer o namorado em um jantar qualquer, e não em o jantar especialmente feito para o ômega. E ainda há a possibilidade de Louis negar, por ser um convite tão repentino. Prefere não se arriscar, não quer um clima chato entre eles por bobeira.

"Hm... Que pena..." Louis soa distante, sua voz diferente. "Eu sonhei com você, também..." Ele diz baixinho e Harry franze o cenho, intrigado pelo rumo que aquela conversa estava tomando. "Eu, você e a banheira... Foi um sonho molhado." Louis diz por fim e solta uma gargalhada. Harry ri também, porque a piada é tão tosca que parece com algo que ele diria.

"Gostei desse sonho... Parece interessante." A voz do alfa é rouca e ele mal percebe quando sua porta abre e um ômega aparece na mesma carregando algumas pastas. Harry ainda tem o café em mãos e o celular pressionado contra a orelha, e ele acha realmente rude o jeito que foi interrompido, mas isso o lembra que ele deveria focar no trabalho. 

Ele acena para o ômega entrar e se sentar e tenta prestar atenção no que Louis estava dizendo.

"... a melhor parte é que pode se tornar realidade. Você gostaria disso?" Harry realmente queria saber do que seu namorado estava falando, mas ele perdeu.

"Desculpe, Lou. Eu tenho que desligar. Mais tarde eu passo aí, ok?" Ele diz com pesar enquanto encara o ômega em sua frente que está lhe olhando timidamente e agarrando a pasta de documentos como se fosse sua vida.

Harry tem feições duras e assustadoras com algumas pessoas. E o ômega que acabou de entrar na sala pôde perceber isso. A feição do alfa simplesmente mudou de um rosto alegre e apaixonado, provavelmente pela ligação que fazia, para um olhar aborrecido pela intromissão. Porém, não era sua culpa se aqueles documentos deveriam ser entregues naquele horário. E a secretária lhe disse para apenas entrar.

"Hm, tá... Me liga." Louis responde com uma voz confusa, e Harry desconfia que ele ficou chateado. E porra, Harry realmente queria saber o que poderia se tornar realidade... Eles estavam numa conversa quase erótica e infelizmente o trabalhou lhe chamou.

Louis desliga antes que o alfa possa dizer mais alguma coisa, e Harry se senta, deixando seu café e celular sobre a mesa.

"Desculpe por te interromper." O ômega diz rapidamente, parecia assustado e Harry tenta relaxar sua expressão facial.

"Tudo bem..." Ele afirma, estendo a mãos para pegar os papéis e voltar seu foco para o serviço. Mesmo que seja difícil e sua mente ainda esteja em Louis.

Louis... Ele provavelmente seria tão diferente se trabalhasse naquela empresa. Harry não consegue imaginar seu namorado abaixando a cabeça para algum alfa só por ele ser de um cargo superior e parecer bravo. Mas enfim, o ômega a sua frente não tinha culpa de exalar submissão e medo. 

Alguns ômegas seguiam exatamente o perfeito esteriótipo de ômega perfeito. Pequeno, medroso e pronto para obedecer ou chorar caso gritem com ele.

Isso levava Harry a se preocupar com outro possível problema dentro da empresa, talvez ali não seja um lugar totalmente seguro para ômegas trabalharem. Talvez eles não se sintam mentalmente confortáveis. E tudo isso pela quantidade de alfas assumindo cargos mais altos, o jeito que o status interfere nas relações. Era algo para se pontuar em seu trabalho acadêmico e para tentar mudar na sua empresa real.

Conversaria com seu pai sobre aquilo e com o responsável do RH. Queria fazer algum tipo de campanha ou algo que ajudasse com que, dentro da empresa, os status fossem esquecidos. Aquele lugar deveria ser seguro para todos. E ele sentia-se mal por ser intimidante apenas por ser um alfa original.

Ele não quer funcionários com medo, ele só precisa de respeito. E isso não se consegue com imposições e força.

Ele assina os papéis e mantém uma conversa leve com o ômega que a cada segundo parece menos intimidado. Harry até tenta uma de suas piadas e o funcionário ri. É um ponto positivo, apesar da possibilidade de que ele só riu por Harry ser filho do chefão, já que suas piadas não são tão engraçadas.

De qualquer forma, o rapaz sai de sua sala com uma expressão menos amedrontada de quando entrou. E Harry não fica sabendo dos comentários que o ômega faz sobre ele com os colegas, nem das insinuações que rolam. Ele só foca no trabalho e pensa em ver Louis daqui há algumas horas.

O ômega, Ely, diz aos colegas que Harry é simpático. E não, não há maldade. Ele gostou de Harry como pessoa, mas tem noção de que aquela conversa amigável não foi nenhuma forma de tentar conquistá-lo. Styles era um chefe sério, e só por ter sido gentil não significa que deseja algo a mais. Ely entende isso, principalmente por ter visto o jeito que seu rosto estava enquanto falava ao celular e o "mais tarde eu passo aí " que o alfa original disse a quem estava na linha. Porém, seus colegas maliciosos não poupam sugestões sarcásticas e as fofocas começam.

Falam de como Harry é bonito e parece estar disposto a ser mais do que apenas profissional. Ely se martiriza por ter respondido as perguntas sobre como foi lá dentro e teme por seu emprego por causa das coisas que estão dizendo. Ele defende-se e fala da ligação. O que só piora tudo, uma vez que distorcerem os fatos e há quem diga que no telefonema deveria ser algum outro ômega da empresa.

Não dá para controlar a língua alheia.

O ômega sabe que é sacanagem toda a maldade que estão jogando para cima de Harry. Ele parece um alfa sério e ético. Simpático, sim, como um bom ser humano que se esforça para deixar as pessoas confortáveis, mas não com segundas intenções. Porém, o que ele sozinho poderia fazer para conter as fofocas? Ele só espera que Harry não ouça o que dizem e pense mal de si. Ele gosta e precisa muito daquele emprego, mesmo que tenha que lidar com algumas cobras.

*

Louis ficou sim um pouco chateado com o jeito que Harry parecia nem ter ouvido sobre sua proposta de um possível boquete na banheira, mas o que lhe chateia mais é ter que esperar horas até o namorado aparecer para lhe buscar. Tomlinson já tem algumas de suas coisas arrumadas em sua mochila. E passou seu tempo contando dinheiro e ligando sobre orçamentos para seu banheiro. Era tudo muito caro e estressante.

Ele poderia lidar com essas coisas depois. No momento, só queria ir para o apartamento de Harry e tomar um bom banho. E ainda teria um tempo sozinho no imóvel, já que Harry jantará com a família.

Ele anda por seu apartamento e pensa novamente no boquete que pretende fazer... Talvez Harry realmente não tenha escutado sua proposta pelo telefone. Talvez estivesse ocupado com o trabalho, ou resolveu desligar e pensar sobre aquilo. Talvez Louis tivesse sido ousado demais por falar algo do tipo num telefonema. Enfim... Haviam mil possibilidades.

E ele se sentia ansioso. 

Sexo oral era um outro passo importante para si, já que ele tinha medo daquilo ser um gatilho para lembranças ruins e um ataque de pânico. Tinha pensado naquilo por um bom tempo, se Harry não forçasse sua cabeça contra seu pau, se ele não engasgasse e tivesse falta de ar, se nada disso acontecesse, ele estaria bem. Poderia transformar em sua mente lembranças negativas em algo bom.

Poderia ser legal, interessante e excitante. 

Tinha pensando em amarrar as mãos do alfa para que não lhe tocasse e brincar com seu pau como se fosse realmente um brinquedo. Só algo para devorar com calma, no seu próprio tempo e sem engasgos.

Oh, droga! Talvez esse heat estivesse fodendo com sua cabeça e chegando antes da hora. Pensamentos assim eram recorrentes e ele se sentia quente demais facilmente.

Só desejava que o tal jantar da família de Harry não demorasse. Louis pretendia ter uma noite especial.

Só ele, Harry e a banheira