1. Spirit Fanfics >
  2. Abra meus olhos >
  3. Capítulo I A Rotina

História Abra meus olhos - Capítulo I A Rotina


Escrita por: MBalrog

Capítulo 1 - Capítulo I A Rotina


Era 7h30 e eu estava atrasada novamente. O metrô estava lotado e sem lugares pra sentar. Eu em pé, em estado letárgico, tentando aproveitar aqueles minutos de pausa do dia, antes de tudo começar. Terça feira é o pior dia. É dia de reunião logo cedo e eu vou ouvir um monte do Luís por ter esquecido de mandar aqueles e-mails semana passada.
Mas por enquanto eu ainda tenho esses minutos. Esses poucos minutos antes do dia começar, onde coloco os fones de ouvido e fico descansando os olhos ardidos por acordar cedo.
O trem para na minha estação e eu desço apressada. Algumas quadras depois estou no trabalho. Passo o dedo na máquina de ponto e dou bom dia pra recepcionista, que nunca responde.
Rapidinho passo no banheiro pra lavar as mãos e enxugar o suor e já vou sentando à minha mesa. -Bom dia, Ana. A voz é de Lucas, um colega de trabalho.
-Bom dia, Lucas. Como foi sua prova ontem?
-Não teve, a professora faltou... Miguel, ô Miguel! E saiu atrás do Miguel.
Minha mesa está uma bagunça. Dá pra perder um carro ali. Depois da reunião eu arrumo tudo. Mas não deu tempo nem de pensar. Meu chefe entrou no departamento e começou a passar o recado: vamos todos pra sala de reunião, levem as anotações. Não tem café hoje porque acabou e fulano esqueceu de incluir na lista de compra. Meu chefe é um homem nervoso, de cabelos ralos e com complexo de deus. Se sente melhor fazendo as pessoas se sentirem mal. Colocá-las em seus lugares, como ele diz.
Eu sempre fico ansiosa antes das reuniões. Ainda estou com sono e não estou afim de trabalhar. Mas não adianta reclamar nem ficar desanimada. Hoje vai ser foda.
Adentro a sala de reuniões enquanto os outros funcionários passam por mim apressados.
-Ana!- grita meu chefe. –Vamos, vamos minha filha, é pra hoje!
Eu não estou devagar, mas se eu não correr ele pega no meu pé. Eu sei que a diferença de 5 metros da porta pra cadeira não vai fazer o tempo ser otimizado se eu for andando ou correndo. Nem a empresa vai ficar mais rica. Mas na cabeça do meu chefe correr é pró atividade e pró atividade é obrigação dos seus súditos.
A reunião correu maçante por 45 minutos. Eu estava fazendo o meu melhor pra continuar acordada. Quando resolveram passar um slide motivacional, apaguei por um tempo. Slide motivacional é a coisa mais desmotivacional que existe.

-Ana! - bradou meu chefe. -Seguinte, pra todo mundo ouvir: já falei um milhão de vezes que quero agilidade. Não é pra dormir no ponto. Eu tive um atraso de 2 dias com 3 fornecedores porque a Ana esqueceu de mandar alguns e-mails. Isso não pode acontecer (...)

Durou 8 minutos. Uma sessão de humilhação pessoal e um exemplo de como não se comportar, totalmente baseados no meu comportamento.

 

18h12. Estou arrumando minha bolsa e entrando na fila pra passar o dedo no ponto. O barulho de telefones tocando e ar condicionado ligado me deixaram com dor de cabeça. O fim do dia não chegava nunca. Na fila, dois colegas conversam como se ninguém mais estivesse ali:
- Aquela que trabalha na loja dali da frente, né? Nossa, um dia minha mulher me flagrou olhando pra ela. Cara, foi automático, sabe? Ela tava com um decote, daqueles que não dá pra desviar o olhar.
-Ela não ficou brava?
-Não falou nada, só me deu aquela olhada. Ah, mas ela não podia falar nada também, né? Vai me encher o saco por causa disso? Já deixei claro antes da gente casar que não gosto que me enche o saco! -Deu um passo pra frente e pisou no meu calcanhar arrancando meu sapato do pé. - Opa Ana, não tinha te visto aí. Desculpa.
Eu enfio o dedo médio e o indicador na parte de trás do sapato e o calço novamente. Mais três dias e eu vou poder dormir até tarde. Dessa vez eu juro que não levanto cedo no fim de semana. Vou ficar na cama até meio dia!


Abro a porta de casa e jogo a bolsa e o moletom no sofá. Acendo a luz, tranco a porta e vou tirando os sapatos pela sala. Caminho até o banheiro e abro o chuveiro pra ele esquentar. Vou tirando a roupa e colocando no cesto.
Tenho 27 anos, moro sozinha num apartamento pequeno e numa localização péssima na cidade. Trabalho numa revendedora de tecidos há 3 anos e ganho pouco. Mas não abaixo do que estão pagando por aí. Não tenho namorado, nem animais de estimação. E esqueci de comprar leite de novo. Droga.

 

Depois de jantar na frente da tevê, lavar a louça e passar a roupa do dia seguinte, já estou com muito sono e sem vontade de continuar a ler meu livro. Vou aproveitar e dormir cedo hoje. Quem sabe acordo mais disposta amanhã.

 

A dor de cabeça não passou, o quarto escuro de repente começou a girar. Será que vou ter alguma crise de enxaqueca? A escuridão é rompida por um flash. Que frio. Que frio que começou a fazer, o que está acontecendo?

 

-Ela acordou. Me dá esse cobertor.
De quem é essa voz? Eu não consigo me mexer. Tá muito frio. Aos poucos vou abrindo os olhos e a claridade faz eles doerem. Eu não estou na minha cama, nem no meu apartamento. Estou em algo parecido com uma praia. Estou ensopada. E tem duas pessoas perto de mim. Está muito claro e eu não consigo enxergar. Meu coração está batendo muito rápido. O que está acontecendo?
-Calma. Diz uma voz de um rapaz jovem. Você está bem. Não consegue se mexer, né? Vai passar. Se concentra em ficar quente. Eu sei que você deve estar confusa, mas já vou explicar tudo.

Conforme minha visão voltava aos poucos, o rosto deles começou a não fazer sentido pra mim. Eram dois. Um tinha a pele levemente alaranjada, cabelos compridos com algumas miçangas amarradas. Um sorriso simpático e duas orelhas pontiagudas gigantes. As orelhas deviam ter 20cm de comprimento. Ele estava descalço, usando algo como uma bermuda feita de pele de animal. O outro, mais sério, tinha a pele num cor de rosa berrante e cabelos roxos. Tinha as orelhas grandes e pontudas também e usava uma roupa branca. Eu entrei em pânico. Meu corpo começa a formigar e eu consigo mexer os braços agora. O cor de rosa segura meus braços com uma força incrível.
-Calma, calma, você vai se machucar. Nós só queremos te ajudar. Está tudo bem. Logo você vai conseguir andar, mas antes de sair correndo, seria bom que nos escutasse, porque assim, sozinha, você não vai muito longe.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...