Esperei alguns segundos e me aproximei. Tapei os seus olhos. Não perguntaria quem era, seria muito óbvio. Me contradigo o tempo todo. - My salvior, advinha quem é?
- My Queen... My life, me respondeu. - Virou e sorriu para mim. Aqueles dentes alinhados e brancos, me encantam. Sorri de volta.
Aqueles olhos esverdeados foram de encontro aos meus castanhos. Senti um arrepio percorrer por todo o meu corpo... O mesmo arrepio da primeira troca de olhares; da primeira vez que ouvi a sua doce e melodiosa voz; o mesmo arrepio da nossa primeira vez... E pensando bem, toda vez é a primeira...
***
Depois do café, Miss Swan literalmente bagunçou a minha vida... Foram tantos encontros. Tantas idas e vindas que a vida nos proporcionou. Chamei-a para um cinema, logo em seguida, para um jantar e se ela aceitasse, jogaria os dados e faria todas as apostas com a senhora dona do meu destino - Eu mesma, Regina Mills...
- Este lugar é simplesmente mágico! - Falou, entrando no restaurante.
Eu nunca havia levado ninguém aos meus lugares preferidos, isto me soava como um convite para que adentrassem ao meu mundo e eu não gostava de dividir a minha solidão. Mas com ela, tudo era diferente... Tudo aconteceu de um jeito tão inesperado que eu não poderia esperar que eu conseguisse controlar as minhas atitudes.
Uma noite qualquer do mês de Agosto e lá estávamos nós, a sós, no local mais procurado da cidade de SP... Mesmo que estivessem dezenas de pessoas no restaurante italiano: Luna - sempre seriamos somente nós.
Se alguém me perguntasse o porquê de amar tanto este lugar, eu não saberia responder. Talvez seja os detalhes simples, porém sofisticado em cada móvel de madeira; ou as quatro pinturas em cada parede, que ressaltavam a ideia de que as vezes, o pouco é o essencial; ou o teto espelhado que me dá a visão do céu estrelado, mesmo quando cai um temporal lá fora, em qualquer outro lugar; ou eu simplesmente amo a comida e o vinho que eles servem...
Assim que o garçom aproximou-se, eu pedi o melhor vinho que tivessem e para comer, o de sempre: A tradicional macarronada a bolonhesa. - É a mais pedida e também me lembra os domingos na casa de minha irmã Zelena, aquela deusa europeia. - Falei para My Salvior, como se fosse importante que ela conhecesse um pouco dos meus gostos.
A rapidez e o bom atendimento poderiam entrar na lista dos meus porquês. Reparei que enquanto comíamos, hora ou outra, Miss Swan olhava para o céu estrelado, mas eu não comentei sobre este detalhe, na verdade, ficamos em silêncio o jantar todo e no final, fizemos um brinde.
Curioso, não? Mas quando duas almas se reencontram, o que a boca poderia dizer é vago, perto da conexão e da troca de energia que elas trocam por si só...
- O que você mais gostou deste lugar? - Perguntei depois de dez minutos que acabamos de devorar a sobremesa, tirando-a propositalmente de seus devaneios... Eu precisava sair dos meus.
- O lugar é encantador, não vou negar, mas eu não sei se a sensação seria a mesma se um outro alguém houvesse me convidado... Acredito que eu não repararia nos mínimos detalhes... Então... - Falou e eu a cortei.
- Então????? - Perguntei.
- A pergunta certa seria: "O que eu mais gostei neste jantar"?! E a resposta seria: A companhia de Vossa majestade...
Assim que deixamos o lugar, seguimos para o meu carro e depois para o meu apartamento. A convidei para entrar, com todo o cuidado para não parecer vulgar e apressada.
A conduzi para o meu quarto, segurando-na suavemente pelas mãos. Aquele doce aroma de chocolate com canela que ela possuía me embriagava mais que qualquer bebida; mais que o próprio vinho que tomamos em outrora. Abri lentamente a porta de meu quarto e depois que adentramos, a fechei. My Salvior continuara segurando minha mão; ou eu não havia soltado a dela, mas isso realmente não importa. Caminhei até o meu toca discos e coloquei um vinil e a primeira música a tocar foi: Caruso - Lucio Dalla:
Qui dove il mare luccica e tira forte il vento - Aqui onde o mar brilha e sopra forte o vento
Su una vecchia terrazza davanti al golfo de surriento - Sobre um velho terraço, em frente ao golfo de Sorrento
Un uomo abbraccia una ragazza dopo che aveva pianto - Um homem abraça uma mulher, depois de haver chorado
Poi si schiarisce la voce e ricomincia il canto - Depois limpa a voz e recomeça o canto
Te voglio bene assaie - Eu te amo tanto sabe
Ma tanto, tanto bene sai - Mas tanto, tanto, sabe?
E una catena ormai - É uma corrente agora
Che scioglie il sangue dint' e vene sai - Que faz o sangue queimar nas veias, sabe?
Vide le luci in mezzo al mare pensò alle notti là in america - Viu luzes em alto-mar, Lembrou de noites lá na América
Ma erano solo le lampare e la bianca scia di un elica - Mas eram só lanternas a brilhar, no rastro branco de uma hélice
Senti il dolore nella musica e si alzò dal pianforte Sentiu doer a música e se levantou do piano
Ma quando vide la lunauscire - Mas vendo a luz surgir
Da una nuvola - Atrás de uma nuvem
Gli sembro più dolce anche la morte - Até a morte lhe pareceu mais doce
Guardò negli occhi la ragazza quegli occhi verdi come il mare - Olhou fundo nos olhos da mulher Aqueles olhos verdes como o mar
Poi all'improvviso uscì una lacrima e lui credette di affogare - De repente viu escapar um lágrima e pensou estar à se afogar
Te voglio bene assaie - Eu te amo tanto sabe
Ma tanto, tanto bene assaie - Mas tanto, tanto, sabe?
E una catena ormai - É uma corrente agora
Che scioglie il sandue dint' e vene sai - Que faz o sangue queimar nas veias, sabe?
Potenza della lirica dove ogni dramma é un falso - Que poder é esse da ópera, onde todo drama é falso
Che con un po'di trucco e con la mimica puoi diventare un altro - Com um pouco de maquiagem e representação. Podemos nos transformar em outro
Ma due occhi che ti guardano cosi vicini e veri - Mas quando dois olhos te olham, assim tão perto e verdadeiros
Ti fan scordare le parole confondono i pensieri - Te fazem esquecer as palavras, confundem teus pensamentos
Cosi diventa tutto piccolo anche le notti là in america - Assim, tudo se torna pequeno, também as noites lá na América
Ti volti e vedi la tua vita come la scia di un'elica - Você vira e vê a sua vida como o rastro de uma hélice
Ma si é la vita che finisce ma lui non ci pensò -poi tanto - Mas, sim, é a vida que se acaba e ele nem pensou sobre isso
Anzi si sentiva gia felice e ricominciò suo canto - Ou, ao contrário, ele já se sentia feliz e recomeçou seu canto
Te voglio bene assaie - Eu te amo tanto sabe
Ma tanto, tanto bene assaie - Mas tanto, tanto, sabe?
E una catena ormai - É uma corrente agora
Che scioglie il sangue dint' e vene sai - Que faz o sangue queimar nas veias, sabe?
-
Enquanto a música tocava, mostrei para Swan, como a noite estava estrelada. Ficamos um tempo admirando a lua e as estrelas pela varanda, depois, voltamos para o nosso pequeno mundo! - O meu quarto.
Coloquei para tocar a mesma música... Aquela música fascinante... Aquela voz roca e forte do cantor se encaixando de uma maneira tão complexa na letra; a letra se complementando com a batida tão melancolicamente romântica; e eu me encontraria em minha salvadora... Tudo se completando em uma única noite.
Segui a lentidão da música para encostar os meus lábios nos dela. O beijo começou calmo e aos poucos ganhou intensidade. Acariciei lentamente, cada parte do seu corpo. Foi estranhamente mágico. Mesmo que o desejo e a paixão gritasse, precisávamos deixar que o amor que habita nossas almas, conduzisse cada ação de nossos corpos que já estavam colados e nús. Antes que nos jogássemos na cama, dançamos... E como apenas a cortina estava fechada, nos amáriamos a luz da lua.
As minhas mãos passeavam por todo o seu corpo e as dela, faziam do meu, sua tela; sua obra de arte.
Um artista poderia nos lançar em uma tela, ou, um poeta poderia nos eternizar em seus versos. Ou as estrelas poderiam nos conceder um desejo... Ou... Ou tantas coisas... Mas o que realmente importa é que eu poderia amá-la e o fiz, e ela... Ela também poderia me amar e o fez.
***
- Trouxe vinho... Podemos continuar aqui, embaixo desta árvore mesmo... Sim, eu pretendo me embebedar e ficar ao seu lado, até o amanhecer... Foda-se todo mundo. - Falei.
- Quantas garrafas você já esvaziou? - Perguntou-me.
- Ainda não bebi... O Robin... preciso te contar uma coisa... ah, vamos encher a cara. Depois lhe conto. - Falei.
Faz tempo que não vejo um céu tão estrelado. Quer dizer, só o vejo assim quando estou ao lado dela. Beijei-lhe calmamente de uma maneira intensa. Para que nunca se esqueça de mim. Nunca sabemos quando estamos em uma despedida. Bem, penso que a todo momento estamos em uma, mas ela nunca chega de fato.
Em momento algum sinto a necessidade de fazer valer a pena o tempo, mas com Emma Swan, sinto que é mais que um dever, viver intensamente cada despedida e provocar leves arrepios em cada reencontro.
Abracei-a e ficamos ali. Já são mais de nove horas. Demoramos para acabar com a primeira garrafa. Contamos as estrelas e permitimos um reencontro mais caliente, dos nossos lábios.
O silêncio era a nossa trilha sonora. Lembrei dos estranhos. O toque do celular tentou quebrar a química do momento e eu o quebrei. Nada me importa. Só preciso sentir algo de verdade. Só preciso não me sentir só.
Em alguns momentos, parecia que eu não estava ali, mas aonde mais estaria?
Lhe entreguei um cigarro e acendi um para mim, também. Estávamos nós, com o patético entre os dentes. Amo.
- Te voglio bene assaie Eu te amo tanto sabe
Ma tanto, tanto bene assaie Mas tanto, tanto, sabe?
E una catena ormai É uma corrente agora
Che scioglie il sangue dint' e vene sai Que faz o sangue queimar nas veias, sabe? - Falamos juntas, como se soubessemos o momento ideal de nos completarmos.
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