História Abyss Madness - Confiança

Sentada sobre um tronco caído, ela fitava Zed em sua fúria. Já havia revirado e quebrado tudo o que havia encontrado daquele templo, estava sujo de sangue e praguejava a cada minuto. A maga balançava as pernas, as orbes se movimentavam lentamente ao seu redor; riu quando o ninja arremessou um candelabro no chão:

- Já pensou em olhar no telhado? - ela provocou, recebendo um olhar gélido vindo dele - Ora vamos Zed, o baixinho levou, apenas aceite isso

Num ímpeto de fúria, o rapaz afundou a mão na parede com um soco. Saiu do pequeno templo, similar ao anterior: - Como diabos eu fui enganado por um yordle - rosnou

- Pois é, deve ser deprimente - provocou cínica

Chegaram ali pela manhã, o templo estava parcialmente abandonado, salvo um pequeno ninja de orelhas pontudas. Zed foi firme ao dizer que queria resolver aquilo sozinho e Syndra apenas observou a tudo. A luta entre os dois foi dura e equilibrada e Zed parecia estar se divertindo. Essa postura mudou no momento em que o Yordle conseguiu escapar. Zed foi rápido em persegui-lo, utilizando suas sombras, no entanto o baixinho havia sido mais esperto e Zed voltou com as mãos vazias. Ele esteve tão compenetrado no embate e na caça que só se lembrou de seu objetivo quando o pequeno havia ido embora. Procurou o pergaminho e caiu em fúria ao notar que tudo aquilo foi um truque; que teria sido facilmente lido se ele não tivesse se distraído de forma fútil.

- Se você tivesse pedido minha humilde ajuda - provocou ela - isso não teria acontecido

- Vai mesmo me irritar mais? - disse entre dentes

- Ora, está irritado? - fingiu surpresa - Eu não percebi, desculpa

- Syndra! - quase gritou

A maga gargalhou, pouco se importando com as ameaças ou com o tom que Zed assumia. Por fim o ninja desistiu de sua procura infrutífera. A contra gosto e munido de raiva, sentou-se ao lado de Syndra que lutava para se manter séria.

- Desculpe por isso - ela dizia ainda rindo, seus olhos lacrimejaram por conta do ataque de risos - E agora, o que vai fazer? - perguntou depois de um tempo, quando já não ria mais

- Eu sei pra onde ele foi - disse insatisfeito

- Vamos lá então ue - respondeu simplória

- Não é tão fácil

Syndra pegou-se pensando nos últimos acontecimentos e não foi muito difícil deduzir o que preocupava o ninja: - Shen? - perguntou ela, mesmo sem o conhecer ou tão pouco saber quem ele era ou como parecia, ela já sabia que esse era o oponente de Zed e que mais cedo ou mais tarde seis caminhos se encontrarão - Tem medo dele?

- Não. Só será uma perda de tempo

Syndra enrolou uma mecha do cabelo nos dedos: - Ainda acho que está com medo

- Tirou o dia pra testar minha paciência?  - perguntou irônico

Ela riu, se aproximando dele e encostando a cabeça em seu ombro: - Você demorava mais pra se irritar

- Talvez você esteja ficando boa nisso

- Talvez você esteja amolecendo

E no fundo ele sabia que estava. Desde o momento em que deixou-a tocá-lo, vê-lo, senti-lo. Não era de fato incômodo, afinal há muito desejava por ela; isso deixava sua fraqueza suportável.

- Vamos caçar esse tal de Shen? - perguntou a maga

- Vamos.

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Seu olhar reprovador era tão torturante quanto qualquer sermão ou punição física. Desde que entrara na sala passou a ser o foco daquele olhar. Não precisou de muito tempo para se arrepender do que havia feito; mesmo que ele não tivesse proferido palavra alguma. Akali estalou os lábios, sentou-se na cadeira a frente dele. Retirou a máscara, não esperou que ele fizesse o mesmo, sorriu amargamente ao pensar sobre isso.

- Perdeu o juízo? - disse de forma pesada, fazendo o meio sorriso nos lábios da jovem desvanecer

- Eu sei o que eu fiz - levantou as mãos como gesto de rendição

- Não parece - ele passou a mão pela tempura - Ele podia ter te matado

- Mas não matou - tentava bater de frente com ele, no entanto sabia que estava longe de ter razão

- Eu podia ter perdido você - voltou a olhá-la

A ninja não teve palavras para refutar aquilo, apenas engoliu a própria saliva e desviou o olhar. Esperava aquele tipo de reação vinda dele, porém mesmo com anos de convivência ela ainda não havia aprendido uma maneira de enfrentar os puxões de orelha que Shen vez ou outra lhe dava. Akali não era do tipo que se submetia a ordens ou abaixava a cabeça sem questionamentos, no entanto Shen era uma das poucas pessoas, se não a única, a ter uma influência sobre ela. Sabia da história do rapaz e de seu caráter, talvez fosse por isso que o seguia tão fervorosamente.

- Desculpa, tá? - quebrou o silêncio perturbador, ao menos para ela

- Isso realmente vai resolver tudo - pegou um pergaminho que jazia sobre a mesa - Kennen voltou hoje - entregou o pergaminho para ela

Sabia que Shen tinha muito o que dizer para si e se ele estava adiando isso, deveria ter um motivo sério para tal. Ao passar um olhar rápido pelo pergaminho notou sangue em sua borda e isso a fez hesitar. Quando percebeu que se tratava do pergaminho protegido pelo templo praguejou:

- Devíamos matá-lo hoje - o olhou - agora

- Me diga você - ele se levantou - Isso seria fácil?

- Muito sangue será derramado, mas isso não está acontecendo agora?

O ninja andou até a janela lateral, ficando de costas para Akali. A jovem passou o indicador pela marca de sangue seco no pergaminho e sentiu o coração apertar:

- Kennen está… - ela não ousou falar

- Ferido - voltou a olhá-la, encostando-se no batente da janela - Gravemente

As mãos de Akali se fecharam num punho. Naquele instante a jovem se amaldiçoou por não ter cortado a garganta de Zed; mesmo que isso significasse sua morte. Pôs o pergaminho sobre a mesa, voltando a encostar-se na cadeira. Ela não percebia, mas Shen observava cada mínimo detalhe de seu rosto e postura, para o ninja, Akali era uma pintura, enigmática em certos pontos e emocional em outros. Shen sempre teve dificuldade de demonstrar certos sentimentos complexos e admirava Akali por tê-los em sua mais pura expressão. Sim, Shen a admirava de diversas formas, muito embora jamais tivesse dito isso nem para ela nem para ninguém.

- O que pretende fazer? - perguntou Akali

- Eu farei algo que deveria ter feito há muito - ela o olhou surpresa

- Não vai se jogar nesse abismo sozinho - levantou de sobressalto - Não se atreva a me deixar de fora - foi até ele - Não de novo

- Devo presumir que não cometerá o mesmo erro? - disse de forma branda

O rosto de Akali foi de triste a irritado em segundos, mas Shen percebeu cada mudança nos traços da jovem: - Pare de jogar meus erros em mim toda hora, que inferno! - gritou

- Não estou jogando - ele respirou fundo - Desculpe. Mas acho que isso é algo que eu devo fazer sozinho

- Ele não está sozinho - ela cruzou os braços - Acha que ele lhe dará um duelo limpo? - riu com escárnio - Ele não é o mesmo

E Shen sabia. Haviam crescidos juntos, os três, não somente um crescimento físico, mas também psicológico. Foram de aprendizes a verdadeiros guerreiros. Passaram por provações e felicidades juntos, até o dia que Zed pôs seu ego acima de tudo. Egoìsmo sempre foi a justificativa que Shen encontrava para o que Zed havia feito; pôs sua vontade egocêntrica a frente das regras, dos laços, da vida que levavam. Akali tinha uma visão mais dura, para ela, Zed sempre foi uma pessoa inclinada para o mal e aquele fatídico dia foi apenas o estopim para suas vontades.

- Nenhum de nós é - disse pesaroso, o dia em que Zed os traiu também foi o dia em que seu pai foi morto e Shen se culpava de certo modo por tudo aquilo

- Ele é nosso fantasma. Só conseguiremos seguir em frente quando enterramos  

- Eu sei disso - o ninja desceu o olhar, sentiu o cansaço dos últimos dias bater

Akali se aproximou, abraçando-o. Shen deixou seu corpo ceder um pouco, encostou a cabeça no ombro da jovem e fechou os olhos. Sentiu os dedos dela desabotoarem sua máscara e ele não contestou, afastou seu rosto minimamente para que ela pudesse tirar o tecido que escondia seu rosto. Os cabelos negros e finos caíram em sua testa, as unhas da jovem tocaram seu coro cabeludo, fazendo deslizando entre os fios. Pouco a pouco o ninja se permitiu relaxar, Akali notou sua respiração ficar lenta:

- Sabe que pode contar comigo - ela sussurrou

Shen permaneceu em silêncio. Era difícil saber o que se passava realmente na cabeça dele, principalmente pelo fato dele tentar guardar tudo pra si. A relação deles sempre foi um fio, fino, porém forte e, mesmo depois de tudo, eles ainda permaneciam juntos. Ela estava disposta a estar do lado dele a qualquer custo, mesmo que ele não pedisse, mesmo que ele a mandasse embora, ela estaria ali, por ele; assim como ele estaria por ela.

- Eu devo fazer isso - ele respondeu, sua voz abafada

- Ainda sim irei com você - insistiu

O ninja se afastou, voltando a postura rígida: - Aceitarei sua ajuda - disse vencido, não tinha a intenção de ter atritos Como ela.

- Como se você tivesse alguma escolha - ela rebateu, tirando um leve sorriso nos lábios dele

- Deixarei a bruxa com você. Não precisa matá-la, apenas a mantenha longe - foi firme

- Não prometo nada

- Não seja imprudente - disse preocupado

O rapaz tentou pegar a máscara de volta, mas Akali desviou, segurando-a atrás de si. Com a outra mão, a ninja segurou o queixo dele: - Não sou uma criança

Ficou na ponta dos pés e encostou os lábios no dele, tão sutilmente que o rapaz sentiu apenas o calor de sua pele. Ao recuar, Shen passou uma das mãos pela cintura dela e voltou o corpo dela contra si, a beijando. Fazia dias que não se viam e aquele beijo sedento era tudo o que precisavam.