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História Acampando no coração de Park Chanyeol. - Na boca da garrafa.


Escrita por: wtfsehunnie

Notas do Autor


Olaaaaaaaaaaaaaaar
Segurem as pedras e tijolos!
Eu ia postar ontem, mas aconteceu um imprevisto e só faltou o desfecho do capítulo, que já foi suficiente para que eu não pudesse postar.
Fiquei surpresa com o capítulo anterior, porque as notificações em relação ao último capítulo duplicaram e eu não esperava isso.
Sem mais enrolações, boa leitura ♥

Capítulo 6 - Na boca da garrafa.


– Acorda – sou chacoalhado.

– Só mais um minutinho...

– Você já falou isso trinta vezes – suspira – eu vou dar um soco no seu nariz se você não acordar agora.

– Tirou o dia pra me irritar, é? – espreguiço-me e todo meu corpo reclama de dor.

– Sabia que não devia ter deixado você dormir aqui no sofá, agora vou ter que aguentar essa sua cara de limão o dia inteiro.

– Eu tive um sonho estranho – abro os olhos minimamente para ver Sehun sentado no chão próximo a mim – Chanyeol senpai tinha me notado – faço bico e choramingo – parecia tão real.

– E foi – diz – você chegou, deu a festa e me empurrou do sofá todo trabalhado na animação, depois falou do seu nariz, ficou quietinho, virou de costas encolhido e acabou dormindo sussurrando sozinho.

– Verdade! – jogo-me contra ele e ambos caímos no chão, outra vez as dores se propagam por todo meu corpo – por que deixou que eu dormisse aqui?

– Eu até pensei em te levar para o quarto, achei que você pesava um saquinho de areia, mas pesa um caminhãozinho inteiro – ri.

Desfiro um tapa em seu braço e ele me empurra para o lado.

– Vai tomar banho e vamos almoçar.

– Almoçar? Ficou louco? – sorrio – é café da manhã.

– Seria se você não dormisse como uma pedra. Eu tentei te acordar, e o que você disse? Só mais um minutinho.

– Blábláblá você só me enche – levanto e caminho para o banheiro para tomar um banho.

– Então na próxima você acorda pra jantar!

– Sim, senhor.

– E você ainda não me agradeceu por ter colocado você naquela mesa ontem, comemoramos e o crédito foi todo meu. Mereço reconhecimento.

– Obrigado Oh Sehun – digo com a cabeça no vão da porta, a voz falsamente meiga – você é o trevo de quatro folhas do meu jardim, sorte a minha ter um amigo como você, estou tão lisonjeado.

– Não precisa tanto – apoia-se nas mãos e me fita – não esquece o beijinho no pé quando sair.

– A única coisa que eu beijo aqui é o Chanyeol – sorrio apenas de lembrar – por que ele me notou! – levanto minhas mãos no alto da madeira e cantarolo enquanto desço lentamente – Felling myself, I’m felling myself.

– Ah, não! – o mais alto tapa os olhos com as mãos e cai para trás no chão – poluição visual!

– Engraçadinho.

Tomo meu banho cantando, afinal, por que não? O que eu mais preciso fazer hoje é achar uma agendinha no meio das minhas coisas para marcar o dia épico em que Park Chanyeol sentiu-se curioso pelo nariz ferrado do lindo Byun Baekhyun. Talvez para chamar a atenção dele eu precise dar uma quebradinha no braço, na perna, será que quebrar o dedinho do pé seria menos doloroso? Sei lá, é menor.

Calma aí, eu não gostei dessa ideia. Vou me quebrar todo pra que Chanyeol me perceba? Desse jeito ele só vai me dar flores no meu funeral.

Nada pode dar errado. Hoje irei pular para o grupo de canoagem e nadar cachorrinho por aí feliz da vida, quem liga? Não. Na verdade eu ligo, seria um mico.

Pensando bem, eu já deveria ter passado por várias situações constrangedoras, mas para isso Chanyeol teria que estar prestando atenção em mim, o que – como todos nós sabemos – não aconteceu. Isso foi bom ou ruim? Acho que um pouco dos dois. Só o que me intriga é saber que cheguei ao ponto de acabar com meu narizinho para que ele me notasse. Não que eu esteja reclamando – de forma alguma, se ele quiser se importar mais com meu nariz eu não vejo problema nenhum – mas tinha que ser assim? Não poderia ser apenas algo natural como ele me achar bonitinho e termos contatos visuais como nos filmes?

A resposta é...

Não. Claro que não.

Essas coisas só acontecem em filmes mesmo – não se deixem iludir – por isso não posso deixar minha esperança influenciar as minhas expectativas. Tenho que ser pé no chão, mas isso não é o que se espera de mim. E Sehun nunca me disse algo como “aja naturalmente”, porque é uma das coisas que não consigo fazer.

– Você viu Chanyeol no café da manhã? – pergunto.

– Vi sim.

– Ele parecia curioso? – adentramos o refeitório lado a lado – um olhar perdido procurando alguém?

– Eu até mentiria para te confortar, mas pra mim ele parecia normal.

Reviro os olhos e caminhamos até a fila. Meus olhos percorrem o local e acho o mais alto virado de costas, compartilhando a mesma mesa que Tao – nem vou comentar nada –, Kyungsoo, Jongin, Luhan, Xiumin, Yixing, e até menos Kris pareceu se incluir no grupo.

– Você quer sentar lá? – Sehun para e ambos fitamos a mesa cheia.

– Como você conseguiu toda essa liberdade para sentar com eles?

– Eu conheci um garoto, aquele que você emprestou minha camiseta, ele é bem legal – para de falar ao perceber que só estou enrolando por puro nervosismo – quer ou não?

Nego com a cabeça.

– Quero – murmuro, contradizendo com meu menear.

Aproximamo-nos da mesa e sinto que estou cada vez mais nervoso. Lembro-me do bilhete e respiro fundo.

– Tudo bem? – o mais alto me olha e só então percebo que parei de andar.

– Ah, tá... – esquadro o lugar tentando encontrar alguém que esteja me olhando de forma suspeita, mas todos parecem entretidos demais com a comida e a conversa entre amigos – Sehun?

– Hum?

– Se me largar pra ser amigo do ruivinho eu mato você.

– Tá com ciúmes? – sorri.

– Não, é só que... – solto o ar pela boca – nada.

O mais alto senta ao lado de Luhan sem avisar e eu o acompanho, mas ninguém parece se importar já que estão rindo loucamente.

– E depois ele começou a sorrir com uma expressão que até deu medo – escuto a voz de Chanyeol.

– Sério? – Yixing que está à minha frente olha para o garoto ao seu lado, vulgo Kyungsoo, que mantém uma expressão fechada e totalmente mal-humorada.

– Muitas vezes já acordei no meio da noite com D.O falando enquanto dorme – o ruivo diz – mas nunca o tinha visto sorrir daquela forma.

– Se Kyungsoo virar sonâmbulo eu juro que saio correndo daquele quarto – Chanyeol fala brincalhão.

– Não se pode nem mais dormir em paz – a vítima retruca – e nem sei do que você dois estão reclamando, quem arruma aquela cabana sou eu, vocês não seriam nada sem mim.

– Então é isso que você pensa enquanto dorme? – Jongin que está do outro lado de Yixing se inclina para frente a fim de encarar o outro – eu não mereço ser escravo! Quando vocês forem meus servos, irão pagar por...

– Cale a boca, Kai!

Todos riem. Até mesmo eu que peguei a conversa pela metade e entendi que o garoto satânico fala dormindo. Ainda bem que não divido minha cabana com ele, não iria nem conseguir dormir.

– Vocês irão jogar verdade ou consequência hoje depois da fogueira? – Kris que está à esquerda de D.O pergunta.

Muitos o repreendem para que fale mais baixo.

– Esse assunto não se conversa aqui – Xiumin diz baixo.

Então até mesmo o santinho do senhor Minseok quebra as regras nesse acampamento? Realmente aparências enganam, e isso é o suficiente para eu me veja mais perdido do que esperava estar. Eu nunca esperava isso de Xiumin, então o bilhete... Pode ser qualquer um, literalmente.

Não posso ver o rosto de Chanyeol porque ele está no mesmo banco que eu ao lado de Luhan. Ainda assim, consigo escutar sua voz e isso já é o bastante. De qualquer forma eu não teria coragem de olhá-lo.

É tão desconfortável estar aqui e saber que provavelmente alguém está me olhando às escondidas nesse exato momento, então se eu rir e cuspir arroz, com certeza não passará despercebido.

Mas talvez eu esteja esquentando a cabeça por nada, e se for apenas uma brincadeira? E no fim eu pensar tanto para simplesmente nada?

– Nós podíamos chamar Sehun – o ruivo sugere.

Os outros concordam e lá no fundo me sinto abalado por não ter sido convidado.

– Mas Baekhyun pode ir, né? – o mais alto passa o braço por meus ombros num abraço de lado.

– Por mim tudo bem – Luhan concorda.

Não sei se quero ir, na verdade.

Mentira.

Eu quero muito ir.

Mas.

Isso é um passo muito perigoso, sinônimo de passar mais tempo ao lado de Chanyeol. Entretanto, o que me resta é cruzar os dedos e torcer para que nenhum deles tenha enviado o maldito papel para mim, e então tudo bem, porque é perceptível que tal reunião é bastante sigilosa e os que não participam não tem conhecimento.

Quando acabam de comer, decido ficar outra vez na mesa para ver se a sorte vai sorrir para mim outra vez. Só que desta vez Chanyeol não fica. Pois é, um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

Todos caminham para fora e estou visivelmente emburrado, o que chama a atenção de Sehun. Uma das inúmeras coisas que eu nunca admitirei em voz alta é que eu gosto quando ele se importa. Gosto porque apesar de eu ser mimado – outra coisa que guardarei para mim –, ele não ignora quando vê que não estou legal. Talvez porque se preocupa ou só é curioso mesmo.

– O que aconteceu? – gruda seu ombro ao meu e sussurra à medida que me afasto dos outros.

– Nada mudou, ele não me notou.

– Fica calmo, quem sabe hoje à noite...

Tapo sua boca e olho para os lados para ter certeza de que ninguém escutou.

– Cala a boca, se alguém descobre...

– Não tá mais aqui quem falou – levanta as mãos em sinal de rendição – enfim, isso significa que você não vai pular pra canoagem hoje?

– É – cruzo os braços – não vou.

O mais alto respira fundo e vira o pescoço. Percebo seus olhos fixarem-se por alguns segundos em Luhan que anda para longe.

– Certo – retoma sua atenção para mim – eu vou lá dançar. Tome cuidado, fique inteiro.

– Não se preocupa, vai – dou leves batidinhas em seu peito e ele corre em direção ao ruivo – Ah, Sehun, não perde uma oportunidade.

– Oi.

Estremeço com o susto e giro nos calcanhares, dando de cara com Tao. Fiz questão de ignorá-lo durante o almoço, mas parece que agora não tem como evitar.

– Oi – respondo.

– Como está o seu nariz?

– Bem, obrigado.

– Fiquei preocupado.

Ah, é? Ficou preocupado comigo quando estava cheio de gracinhas com Chanyeol?

Comprimo os lábios num sorriso e todos nos reunimos perto à rede. É possível ver que muitos fitam meu rostinho quase escondido pelos esparadrapos, tenho certeza de que ficaram rindo. Bando de idiotas. Nem pra serem um pouco mais discretos.

O time é dividido e nem presto atenção. Apenas vou para o lado de Jongin me indica e no lugar certo.

Kai apita e o jogo começa. Olho para o lado direito como quem não quer nada, mas no centro vejo alguém que não estou disposto a ver. Kyungsoo.

Grito de susto e logo fecho a boca esperando que ninguém tenha ouvido.

– Tudo isso é medo da bola, Baekhyun? – Jongin ri enquanto observa a partida.

Reviro os olhos e fito o garoto ao meu lado.

– Te assustei? – um sorriso travesso desponta em seus lábios.

Não respondo.

– Você é um medroso.

– Escuta aqui querido – perco o controle e coloco o dedo indicador em seu peito tentando intimidá-lo, e isso fica mais fácil por conta da altura semelhante – você deveria chorar ao invés de rir. Eu tenho mais medo de você do que de uma bola, olha que situação humilhante! Você chega a ser mais assustador que ela! Apenas pare para imaginar como eu me sinto tendo mais medo de você que a loira do banheiro!

Sinto algo contra meu rosto e por um segundo acho que ele me deu um soco, mas logo vejo a bola rolar perto de meus pés.

– AH PORRA – grito irritado o suficiente – DE NOVO NÃO.

Entretanto, o garoto à minha frente apenas engole em seco e me fita como se ainda processasse o que acabei de dizer. Será que peguei pesado?

– Baekhyun – Jongin se aproxima – tá legal?

– ‘To – chuto a bola para longe.

– Ok, então vem aqui rapidinho – coloca ambas as mãos em meus ombros e me encaminha para mais longe – podem continuar – diz para os jogadores.

– O que foi?

– Você tem certeza de quer continuar aqui?

– Você está me expulsando, Kim Jongin? – aproximo meu rosto do seu.

– Não é isso – nega com a cabeça e dá um passo para trás – é só que... Você precisa se esforçar, e não está fazendo isso. Talvez... Talvez aqui não seja o lugar para você.

– Você não precisa me mandar sair – coloco as mãos na cintura – porque eu mesmo estou me retirando.

– Você pode voltar se quiser aprender de verdade – sorri – sem ressentimentos?

– Sem ressentimentos? – rio irônico – você vai ver sem ressentimentos quando voltar pra cabana e não encontrar sua cama lá.

Saio em passos rápidos para qualquer lugar.

Aonde eu vou agora?

Canoagem? Não, de jeito nenhum.

É pra lá que eu vou.

Caminho até o riacho, mas não há ninguém, por isso sigo pela margem. Assim ele se curva para a esquerda, posso ver várias canoas ao longe e Chanyeol que está em pé na beirada apoiando seu peso sobre o remo com a destra.

O céu permanece nublado, mas isso não afeta na beleza que meus olhos capturam. Poderia dar zoom no mais alto, tirar uma foto e enquadrar.

Kris está sentado desajeitadamente numa canoa. Seu tamanho não ajuda muito e o jeito desengonçado de remar me dá vontade de rir. E é isso que faço. Mas quando ele cai e Chanyeol pula para ajudá-lo paro imediatamente.

– Seu aproveitador de meia tigela – rosno para mim mesmo.

Caminho pela margem tomado pela raiva vendo-os abraçados enquanto saem da água. Mal percebo quando fico perto demais do riacho e meu pé escorrega, desequilibrando-me totalmente.

Caio na água e afundo instantaneamente.

Para o meu desespero, meus pés não alcançam o solo, dando-me conta que nesta parte não é tão raso quanto a água cristalina faz com que pareça.

Nadar cachorrinho, nadar cachorrinho.

É a única coisa que consigo pensar.

Todavia, apenas bato os pés e movimento os braços para cima e para baixo sem coordenação.

Isso tá mais para nado alienígena que nado cachorrinho.

Meus dedos alcançam a borda e estou quase sem forças para respirar. Engulo um pouco de água ao fincar os dedos na terra e impulsionar-me para cima.

Jogo meu tronco no gramado e respiro fundo, tossindo algumas vezes. Minhas pernas ainda então submersas, mas isso pouco importa. Eu quase morri!

– Baekhyun, Baekhyun! – a voz de Minseok fica mais audível a cada segundo – está tudo bem?

Ele segura em meus braços e me puxa para fora.

Concordo com a cabeça.

– Eu estava rondando por aqui – agacha-se ao meu lado – e escutei o barulho da água.

– Você aparece quando eu preciso – sorrio – te devo duas.

– Claro que não – afasta os fios de minha testa – estou apenas fazendo meu trabalho.

– Obrigado.

– Quer ir para a enfermaria? – me olha preocupado.

– Não, tudo bem – sua expressão não parece convencida – sério.

Suspira.

– Quer ajuda para voltar?

– Não, obrigado.

Levanto-me com seu auxílio, mesmo que eu não precise. Apenas achei que faria pouco caso de sua preocupação se eu recusasse.

– Evite andar por aqui por aqui, pode ser que não tenha tanta sorte na próxima.

– Certo – abraço meu próprio corpo e ando até a cabana.

Não se preocupe, trago uma boia na próxima.

 

 

As pessoas já estão começando a se dispersar em direção às suas próprias cabanas. Desta vez eu e Sehun não somos apenas dois garotos perdidos entre tantos outros. Estamos junto com o grupo de Luhan. Os veteranos. Os populares.

Não que isso importe, a única coisa que ligo aqui é o mais alto que está um pouco longe, mas fico feliz por estar tecnicamente próximo. Pelo menos assim, quem quer que tenha enviado o bilhete não irá desconfiar. Mas há uma coisa que me incomoda: Kyungsoo está ao lado de Chanyeol.

Não que eu esteja descontente com isso. O que me deixa angustiado é ele estar tão longe quanto Chanyeol.

Não falou comigo nem me olhou com aquela expressão medonha o jantar inteiro. Acho que fui um pouco maldoso em dizer aquelas coisas. Vai saber se atrás daquelas expressões intimidadores ele é sentimental? Grande parte de mim grita não, entretanto, eu mal o conheço.

Levanto-me junto a Sehun, dando início ao plano. Não é difícil executá-lo, já que o combinado é ir para a cabana como todo mundo e aguardar Yixing ligar a lanterna apenas uma vez na escuridão.

– Agora é só esperar – Kai olha pela fresta da cortina simples e bege do pequeno quarto.

Jogo-me em minha cama enquanto Sehun permanece de braços cruzados em pé.

– Eu vi – Jongin se afasta da janela – vamos.

– Vem Baekhyun – Sehun me apressa e levanto rapidamente, batendo a cabeça contra a cama de cima.

– Acho que não vou sobreviver até voltar para casa – resmungo e os outros dois riem.

– Não esquece a blusa – o loiro avisa antes de se retirar.

– Verdade – pego uma jaqueta preta de pano fino que não esquenta muito, mas nem estou com muito frio e a coloco.

Sigo Jongin em silêncio. Ele entra pela mata sem trilha alguma com a lanterna com menos luminosidade que a de Xiumin em mãos. Seguro o pulso de Sehun com um pouco de medo.

Está tudo bem, desde que nenhum espírito apareça.

A lanterna de Jongin ilumina um garoto e sinto o ar fugir de meus pulmões. Reprimo um grito ao ver os olhos de Kyungsoo. Esse garoto que ainda me mata.

– Que susto – Kai sussurra.

Eu que o diga.

– Essa droga pifou – D.O chacoalha a lanterna desligada que tem na mão.

– Que bom que apareceram – Luhan sorri.

Chanyeol apenas concorda e suas mãos nos ombros do ruivo não passam despercebidas por meus olhos. Mordo o lábio e apenas concentro-me em acompanhar os outros, quem sabe é apenas um toque de amigos?

Respiro fundo e tomo coragem em me aproximar de Kyungsoo.

– Oi – digo baixinho.

Ele me olha com uma expressão totalmente o que que tá acontecendo?

– Desculpa – digo ainda mais baixo – eu não quis dizer aquilo de verdade.

– Tá tudo bem – sorri – talvez eu tenha te assustado mais do que deveria.

– Também acho.

O silêncio se instala e não sei o que fazer. Cogito a ideia de desacelerar o passo para me juntar à Sehun, mas D.O continua.

– Isso não significa que pararei de te assustar – me olha e um calafrio percorre minha espinha – irei diminuir a dose.

– É um bom começo – tento parecer satisfeito.

Antes que ele possa responder, as árvores ficam ausentes e posso avistar a roda de garotos na margem do riacho. Ironia ou não, o mesmo lugar que quase me afoguei.

Acomodo-me entre Sehun e Yixing.

– Quem começa? – Jongdae que está do outro lado coloca uma garrafa sobre uma pasta preta para facilitar a movimentação da mesma.

– Eu posso? – Lay levanta a mão.

Sinto calor e decido tirar a blusa, dobrando-a de qualquer jeito e colocando atrás de mim.

– Aqui é o seguinte – Jongin diz – a boca da garrafa aponta para aquele que irá responder ou sofrer a consequência. É a única regra.

– Ah, e nada que prejudique alguém, como dançar de cueca na mesa do refeitório no café da manhã – Xiumin completa – o que acontece aqui, fica aqui.

– Emocionante – Tao esfrega as mãos.

Até havia me esquecido dele e para minha sorte, está entre Kris e Jongdae.

Chanyeol está ao lado esquerdo de Luhan, e Sehun está entre nós, ou seja, duas pessoas de distância.

– Fithing – Yixing gira a garrafa – Tao. Verdade ou consequência?

Consequência, consequência, consequência. Seja jogado no rio.

– Verdade.

– Hum... – olha para cima – é verdade que você veste sutiã sem bojo sob as roupas?

O outro abre a boca totalmente surpreso, pronto para negar.

– Ah, ah – Chanyeol interfere – não pode dizer não.

Tao suspira e faz careta.

– É.

– É o quê? – Yixing questiona.

– Verdade.

– O que é verdade, Tao? – o sorriso de Lay se abre ainda mais.

– Que eu uso sutiã – resmunga de má vontade.

Todos riem baixinho.

Parece algo normal, mas vê-lo dizer tais palavras é realmente engraçado – ver meu inimigo de conquista passar por isso é sensacional – sem contar que apenas imaginá-lo de sutiã é hilário.

– Posso ir? – D.O sorri e gira a garrafa.

– Isso não tem ordem não? – pergunto.

– Não – Luhan me fita com a luz das lanternas – é só ir todos sem ordem e recomeçar.

– Cheeeeeeen – D.O comemora – verdade ou consequência?

– Consequência.

– Certo – arqueia uma sobrancelha – dê um beijo no Xiumin.

– O quê?

– Vai logo.

Tudo em mim congela. Será que já desafiaram Chanyeol a beijar alguém? Quem seria? Então eu mesmo tenho chances de beijá-lo aqui? Sinto minha mão formigar, será que é de nervosismo? Olho para ela e vejo um besouro caminhando ali.

Espera.

Um besouro?

Chacoalho a mão e grito o mais alto que posso, levantando num pulo e correndo para longe.

– O que foi? – Sehun faz a pergunta da vez.

– Um besouro – faço careta.

– Senta logo e sossega – ri – vem.

– E se ele ainda estiver aqui? – retorno cautelosamente.

– Com esse escândalo ele deve ter ido pra longe – Sehun ri baixo.

Meu rosto queima e sei que desta vez Chanyeol me percebeu. Quem não perceberia?

– Será que alguém escutou seu grito? – Luhan parece preocupado.

– Provavelmente – Jongin confirma.

– Vão parar? – Kris interroga.

– Não – D.O diz – só se alguém aparecer. Anda, beije-o logo, Chen.

– E não posso recusar?

– Não, você não pode.

Chen engatinha para frente de Xiumin e o encara.

– Sem drama, isso não é novela das nove – Kyungsoo apressa.

Logo Jongdae inclina o tronco para frente e beija os lábios de Minseok. Kyungsoo abre seu sorriso diabólico e Kai aperta observa a cena de boca aberta.

– Maravilhoso – D.O bate palminhas e Jongdae volta para seu lugar.

– Você gosta de ver beijos gays? – Tao faz uma expressão incrédula.

– Não – responde simplista – é só pra ver se alguém sai do armário.

Lança um olhar para Chen que comprime os lábios e brinca com os dedos, evidentemente nervoso.

– Eu quero ir – Tao gira a garrafa sem que ninguém responda.

Ela gira, gira, gira.

E a boca da garrafa aponta para ninguém menos que Park Chanyeol.

– Chanyeol! – sorri – verdade ou consequência?

Verdade, verdade, verdade.

– Consequência.

Engulo em seco com medo do que esse atirado pode fazer.

– Então eu desafio você a dizer... – faz bico – você se sente atraído por alguém aqui? Se sim, quem?

Sinto que vou desmaiar e lá no fundo estou com medo de a resposta ser sim e não ser eu.

– Minseok! – alguém grita.

– É o Suho! – Xiumin sussurra com os olhos arregalados.

– Acho que ele escutou Baekhyun – Jongin pragueja.

Apenas tenho tempo de ver todos correndo atrás de algumas árvores antes que as luzes das lanternas se apaguem. Decido segui-los no escuro mesmo e me junto aos outros.

– Ui – Yixing sussurra e escuto várias pessoas caindo. Provavelmente tropeçou e como num efeito dominó, sou empurrado e numa tentativa de me manter em pé, levanto as mãos e encontro os ombros de alguém, mas acabo o derrubando também.

Fecho os olhos com força e me agarro aos ombros, caindo sobre o corpo.

Minha testa toca o gramado levemente e sinto a curvatura do pescoço em meu nariz. Seja lá quem for, tem um cheiro maravilhoso.

– Shh – alguém pede para que fiquemos quietos.

Tudo fica silencioso e permaneço imóvel, fungando o pescoço alheio disfarçadamente.

– Oi – a voz de Xiumin soa longe.

– Ah, aqui está você – Suho fala – escutei um grito e vim ver se está tudo bem.

– Um grito? Que estranho, não escutei nada.

– Certeza?

– Absoluta. Fique tranquilo, se eu escutar alguma coisa eu irei verificar.

Silêncio.

– Tudo bem... Vou voltar para minha cabana.

– Certo. Até mais.

– Até.

Afrouxo os dedos e espalmo a destra no gramado.

– Esperem – Kyungsoo segreda.

Permanecemos mais alguns segundos assim.

E se for Chanyeol abaixo de mim? Meu coração palpita forte só de imaginar.

E se for Tao? Eu hein, quero esse bem longe.

E se Tao tiver caído sobre Chanyeol?

Ah, ele me paga!

– Ele já foi – a voz de Minseok me assusta e estremeço.

Ergo o rosto e todos se movimentam ao mesmo tempo, as lanternas são acesas e meu coração falha uma batida ao ver o rosto de Chanyeol parcialmente iluminado pela luz tênue por conta da sombra de minha própria cabeça.

Seus olhos fitam os meus e estamos tão próximos que minha respiração se mistura à sua.

Ah, Chanyeol...

Tão lindo.

Pigarreio constrangido e ergo meu corpo – contra minha vontade – sustentado pelos meus braços. Sento-me no gramado com as pernas flexionadas e apoio meus antebraços sobre os joelhos. Abaixo a cabeça e respiro fundo, tentando regularizar minha respiração e recompor-me.

O corpo ao meu lado se levanta e seu ombro esbarra no meu sem querer, mas que já é suficiente para que o arrepio percorra por todo meu corpo.

– Vem – Sehun estende as mãos e segura as minhas, ajudando-me a me levantar – isso é culpa sua.

– Isso é culpa do besouro – reviro os olhos e empurro o corpo do mais alto.

– E sua, por ter gritado.

– Nem começa, Sehun – mostro a língua.

Ele me imita e cruzo os braços.

– Acho melhor pararmos por hoje, mais alguém pode ter escutado – Tao diz.

Todos concordam e voltam para pegar a garrafa e a pasta que ficaram para trás, mas permaneço no mesmo lugar, por preguiça mesmo.

– Vamos, vamos – Lay corre na frente.

– Espera. Isso é culpa sua! – aponto para ele.

Todos concordam comigo e começam a falar seus próprios argumentos.

– Afinal, aonde você tropeçou? – Kris pergunta.

– Nos meus próprios pés.

Seguro a risada, ainda que eu não esteja totalmente ligado à realidade. Continuo pensando no corpo de Chanyeol sob o meu. Seu cheiro levemente adocicado e sua pele macia e quente.

Ainda estou perdido nos olhos que se cravaram aos meus quando todos se levantaram e a beleza de cada traço bem de pertinho.

Permaneço de cabeça baixa, mordendo meus próprios lábios numa falha tentativa de me acalmar.

Caminho ao lado de Sehun depois que Jongin se oferece para levar Kyungsoo, Luhan e Chanyeol para a cabana, que é um pouco distante da nossa. Recuso-me a olhar para o moreno mais alto, mesmo que lá no fundo eu queira correr para os braços dele e sentir seu cheiro maravilhoso.

Conversam animadamente, mas continuo alheio às risadas.

– Terra chamando Baekhyun – Sehun cutuca meu braço.

– Oi – resmungo.

– Oi, tudo bem? – diz baixo – o que houve? Nem parece que hoje de manhã você ‘tava dançando até o chão.

Arregalo os olhos e desvio meu olhar para as costas de Chanyeol que ri de alguma coisa que D.O acabou de dizer. Espero que ele não tenha escutado.

Bato com o cotovelo na barriga de Sehun e ele abre a boca, num pedido de desculpas, como se tivesse esquecido que o outro está aqui.

Todos se despedem e me escondo atrás do loiro para evitar ter que dizer alguma coisa, apenas aceno para qualquer um e sigo em frente.

– É por aqui, Baekhyun – Kai me olha com um sorriso nos lábios, indicando a direção oposta à que estou indo.

– Ah, sim – sorrio – eu já sabia.

– Sabia sim – Jongin confirma com a cabeça e diz num tom totalmente irônico.

Olho uma última vez para a cabana, onde, em algum lugar, está um garoto maravilhoso com um cheiro embriagante.

 

 

– Jongin! – balanço o tornozelo direito do moreno.

– O que foi? – responde com a voz sonolenta depois de muita insistência por minha parte.

– Minha blusa, eu a esqueci lá.

– É madrugada, de manhã você busca – vira para o outro lado.

– Tem que ser agora! – choramingo.

Depois de muita insistência e palavrões de Jongin, ele aceita.

– Achou? – pergunta totalmente mal-humorado enquanto escora num tronco e me ilumina precariamente.

Não respondo, ainda descontente com sua falta de vontade em me ajudar. Agacho para pegar o pano e tudo em mim para ao ver um papel preso a uma pedra sobre ele. Desamarro rapidamente e o guardo no bolso antes de levantar.

Nada do que Kai diz entra em minha mente no caminho de volta.

Ai meu Jesus Cristinho, me salva.

Aperto o passo, quero chegar logo e ler o que está escrito. O que será dessa vez? Algo como “Chanyeol já sabe de seu segredo!”.

Não, socorro, não.

Assim que adentramos a cabana, o moreno não perde tempo em voltar para o quarto. Sento-me no sofá num misto de medo e curiosidade. Pesco o papel em meu bolso e aqui está a letra bonita outra vez.

 

Ah Baekhyun, seria fraqueza de minha parte dizer que não te entendo? Poderia deixar bem claro se você quer colaborar em manter isso que sei entre nós.

 

Solto o ar pela boca várias vezes repetidas como um cachorrinho no calor, numa falha tentativa de colocar pra fora toda a tensão presente no meu corpo e alma. Não sei se fico contente em finalmente ter conseguido levantar duas hipóteses: a) o anônimo é bem informado para saber que eu estava num jogo totalmente sigiloso; b) ou esta pessoa estava entre nós durante o jogo.

De uma coisa eu tenho certeza: a segunda me parece pior.

Vamos, Baekhyun, sinta medo. Sinta-se ameaçado.

Então por que em meio a essa bagunça, tudo o que eu quero saber é a resposta que Park Chanyeol não pôde dar?


Notas Finais


Estão vendo o circo começando a pegar fogo?


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