História Acasos do Destino - Capítulo 14

Lucy POV

Envolvi meu irmão com meus braços fortemente e deixei que as minhas lágrimas molhassem seu ombro. Eu sempre odiei chorar, mas eu me sentia segura com ele, protegida e amada. Nunca poderia esquecer o que aconteceu e hoje sei que seria capaz de qualquer coisa para protegê-lo.

Flashback on

Abri meus olhos lentamente tentando focar a minha visão. Eu estava deitada no chão e meu irmão estava ajoelhado ao meu lado de cabeça baixa. Seu choro baixo fez meu coração se apertar, com dificuldade eu me ergui um pouco e o abracei.

- Lucy, eu fiquei com medo de você ... – sua voz falhou. Eu sabia o que ia dizer, ele estava com medo de eu morrer e eu também estava com medo dele morrer.

- Tudo bem eu também estou com medo, mas a gente está junto nessa e vai ficar tudo bem – disse chorando assustada, mas me sentia aconchegada com ele – não imagino o que seria de mim sem seu apoio – disse com dificuldade devido as lágrimas e os soluços.

- Eu também não maninha, a gente vai sair dessa, você tá com muita dor? – me dirigiu um olhar preocupado que me fez lembrar do meu pai.

- Não, já estou um pouco melhor – disse tentando passar confiança a ele – e sua perna?

- Melhor – respondeu, mas sabia que assim como eu, estava tentando amenizar o clima. A verdade era que eu sabia que ele ainda sentia muita dor, mas não queria me preocupar. Admito que eu também fazia isso.

Todos os dias em que passamos naquele lugar foram terríveis, ver o Percy sofrer não era apenas ruim, era como se eu sofresse com ele, tomasse suas dores me machucando também. Eu me sentia fraca e todo o meu corpo doía. No entanto, eu não entregaria os pontos, permaneceria forte por quanto tempo aguentasse. Eu não podia simplesmente desistir e deixar meu irmão sozinho nas mãos deles. Ele ficaria bem, iríamos voltar pra nossa família juntos e, se necessário, seria a última coisa que faria.

O homem que nos torturava era nojento e ameaçava me violentar de outra forma enquanto a mulher se insinuava pro meu irmão. Eu não tinha ideia do motivo de fazerem isso. O Percy e eu não comíamos nada desde a noite de Ano Novo, e isso me preocupava porque tinha medo do meu irmão morrer por estar fraco.

Quando fomos resgatados estávamos em péssima situação, o Percy tinha um corte profundo em sua perna quebrada. Tento não pensar no grito que ele deu quando o osso foi quebrado. Eu tinha um belo corte na lateral do corpo onde minhas costelas tinham se quebrado.

Durante todo o caminho até o hospital eu só conseguia pedir a tudo que fosse mais sagrado para proteger o meu irmão. Não consegui prestar atenção no choro da minha mãe, ou nos gritos dos médicos dizendo pra nos levar para a sala de cirurgia. Tudo que eu pude me concentrar era na mão do meu irmão na minha me dando forças, e lembrei da minha promessa. Nós estávamos juntos e tudo ficaria bem, quando fomos separados eu apaguei.

Flashback off

- Eu me sinto tão segura com você – disse chorando – foi a primeira vez que você disse que me amava, lembra? – perguntei tentando sorrir em meio ao choro.

- Claro que lembro, foi a primeira vez que você disse também – disse ele, dei uma risada misturada com uma fungada.

- Te amo – disse ainda abraçada a ele. As palavras eram tão puras que ninguém poderia negá-las, era como uma mãe amando um filho. Era natural.

- Te amo – disse ele me apertando mais forte. Respirei fundo tentando me acalmar.

- É um belo jeito de acordar, com o carinho do meu irmão – disse brincando e fazendo ele rir.

- É, demorou um tempo para a gente perceber que isso é melhor que brigar, né? – disse divertido. Assenti com a cabeça.

Nós deitamos novamente e eu não me soltei de seus braços. Por ainda estar cedo não nos preocupamos com nada. Meu irmão brincava com os leves cachos nas pontas do meu cabelo.

- Sabe mesmo com tudo aquilo acontecendo eu me sentia segura só de estar perto de você, apesar das brigas eu sabia que você era sincero comigo e eu sempre admirei isso – disse olhando em seus olhos.

- É, eu também, você continua sincera, a gente só não briga mais, você me dava forças pra continuar maninha, só você sabe o que a gente passou naquele lugar – disse ele, sorri. Passamos um bom tempo dessa forma.

Percy POV

Minha irmã é muito importante pra mim e era a única coisa que me preocupava quando acordei no hospital.

Flashback on

Acordei com uma luz branca no meu rosto, isso me cegou e eu demorei pra me acostumar com a claridade. Quando conseguias enxergar apenas vi olhos azuis e uma cabeleira preta vindo na minha direção. Uma cabeça foi colocada em meu pescoço e logo minha prima desandou a falar.

- Percy! Você acordou! Eu fiquei preocupada! – disse beijando o meu rosto e em seguida me dando um tapa fraco no braço – Nunca mais faça isso! – tentou parecer irritada.

- Oi – disse sorrindo fraco. Minha prima não mudava - Lucy ela está....? – perguntei com dificuldade. Eu precisava saber como ela estava.

- Ela está bem, mas ainda não acordou. Vocês dois ficaram em coma durante três dias. O Jason está com ela. Seus pais foram dormir um pouco com muita insistência do meu pai e do tio Hades, você está se sentindo bem? – perguntou ela com lágrimas nos olhos, tentei sorrir, ela segurou minhas mãos.

Meu corpo parecia chumbo, eu não sentia ele. Sabia que devia ser efeito da anestesia, ou alguma coisa do tipo. Ainda sim ter minha prima ali do meu lado, segurando minhas mãos com carinho, era reconfortante.

- Fraco, mas bem – disse – não queria te preocupar, me desculpa Thals, te amo.

- Idem priminho – disse ainda segurando as minhas mãos – quer que eu chame um médico?

- Não precisa, fica aqui comigo, por favor? – pedi, ela sorriu e sentou perto de mim na cama. Inclinei minha cabeça na sua direção e sorri um pouco, apesar de parecer que eu passei tanto tempo parado que os meus músculos faciais pareciam estar inutilizáveis.

- Todos ficaram preocupados com vocês, espero que fique tudo bem a partir de agora, eles foram presos por Ares. Seus pais nem os viram, não quero nem ver aqueles vídeos, o que importa é que vocês vão ficar bem – Thalia disse passando a mão pelo meu cabelo. Relaxei um pouco e respirei fundo. Não desejava de maneira alguma que eles vissem o que aconteceu, mal conseguia eu esquecer. Não queria que eles também vissem aquilo.

- Quando a Lucy acordar eu quero vê-la, tudo bem? – perguntei, ela sorriu assentindo – senti falta de vocês, agora acho que vou descansar – disse e fechei os olhos, era bom estar com a minha família novamente.

Flashback off

Acho que aquele lugar nunca vai sair da minha cabeça. Os gritos que minha irmã dava eram tão perturbadores, me tiravam o sono logo depois que voltamos pra casa. Várias noites seguintes, eu dormia com alguém, seja a Lucy ou a Thalia.

Com o tempo eu consegui cessar as lágrimas, mas mesmo assim não larguei a minha irmã. Tudo aquilo foi difícil pra mim e pra ela, mas estávamos com a nossa família agora e nada mais importa a não ser isso. Acho que mesmo que quisesse eu não conseguiria mais brigar com a minha irmã, pelo menos não do jeito que brigávamos antes. Embora sempre nos desentendêssemos quando menores, ela sempre me apoiou assim como a Thalia. As duas são as minhas melhores amigas e desconfio que seja as do Jason também. Eu tenho sorte de ter uma família como a minha.

Acabamos dormindo novamente e dessa vez não tive nenhum sonho ruim, ou lembrança daquele lugar. Apenas dormi tranquilo.

Quando despertei estava me sentindo bem, tudo parecia estar correndo da maneira certa. Olhei no celular da minha irmã pra ver que horas eram. Suspirei. Já eram 14hrs, uma voz me assusta.

- Quem deixou você mexer no meu celular, hein? – perguntou Lucy fingindo estar brava, demos risada da tentativa falha.

- Bom dia, estava vendo que horas eram – sorrio a ela.

- E aí, que horas são?

- 14hrs, dormimos bastante dessa vez.

- É, mas dormimos bem, me sinto feliz, acho que isso é bom.

- Com certeza.

Levantamos da cama e fomos almoçar a comida que tinha sobrado. O dia se passou calmo e confortável. No dia seguinte eu veria a Annabeth com seu sorriso lindo e isso apenas me deixou mais contente.

O que está acontecendo comigo? Eu acho que estou pirando. Isso é normal?

Na manhã seguinte o dia começou com aula de História, sendo o Jason o meu parceiro. As aulas correram tranquilas e até que estava melhor nas matérias.

Na aula de Biologia o nosso professor passou uma pesquisa para a semana seguinte sobre animais que correm risco de extinção. E já que a loura era a minha dupla as coisas ficaram ainda melhores. Nós teríamos que escrever um redação sobre pelo menos dois animais. Só esperava que eu me saísse bem, apesar que Biologia sempre foi a minha matéria favorita, por isso já tinha ideia sobre o que fazer.

Quando cheguei em casa a Lucy estava na cama sentada e parecia um pouco distraída. Entrei em seu quarto e me sentei ao seu lado.

- Oi, aconteceu alguma coisa? – perguntei com o cenho franzido. Ela demorou um pouco pra olhar pra mim e responder.

- Oi, não aconteceu nada só estava pensando um pouco e você tudo bem?

- Sim, animada com o trabalho de Biologia?

- Claro e tenho certeza de que você ainda mais, não é? – ela deu um sorrisinho malicioso. Não tive como negar.

- Com certeza - nós conversamos durante um bom tempo sobre o que faríamos. Era bom alguém que gostasse das mesmas coisas que você.

Lucy POV

Enquanto estava conversando com o meu irmão eu recebi uma mensagem no meu celular.

Will: Preciso conversar com você, pode vir em casa?

Eu: Claro, daqui a pouco estou aí.

Ele deveria querer falar do Nico, só esperava que tivesse tudo bem entre os dois. Me despedi do Percy dizendo que precisava resolver uma coisa e que já voltava. Quando cheguei no apartamento do louro não precisei esperar muito pra entrar.

Ele estava vestido de jeito simples, uma bermuda com uma blusa preta. Seus cabelos estavam bagunçados como se ele tivesse acabado de acordar, e seu sorriso chegava até seus olhos com sinceridade. Ele me lembrava o Jason na aparência, o Luke também, mas era só isso mesmo, porque o Jason não é tão tranquilo quanto o Solace.

- Olá, é bom te ver.

- Oi, também é bom vê-la novamente - disse ele sorrindo.

O Will era meu único amigo garoto além dos meus primos, na verdade era quase um irmão pra mim. É claro que eu tinha uma boa razão pra isso, eu não queria me tornar tão próxima de um garoto e depois ter que me afastar dele por causa de uma namorada ciumenta. NÃO, eu preferia deixar assim. Talvez vocês me perguntem se eu já tentei ser amiga de algum garoto e a resposta é sim, mas acabou da pior maneira possível. Contudo, eu sei que com o Will é diferente, pois ele gosta do meu primo, assim não tenho com o quê me preocupar.

- E aí como vai o meu médico favorito? – perguntei sarcástica.

- Muito bem obrigado – ele disse a mim zombeteiro. Sorrio.

- Então como vai seu pai? – o pai dele era Apolo, um dos maiores médicos que existe, talvez o maior, era muito bom e parecia ser extremamente divertido. Eu e o Will tivemos uma longa conversa porque ele tinha medo da reação do pai em relação a sua opção sexual, por isso eu disse que se ele quisesse eu iria com ele contar.

- Bem, eu ainda estranho a reação do meu pai em relação a minha opção sexual, ele age tão naturalmente e abertamente – disse um pouco confuso – nunca vou entendê-lo cem por cento.

- Seu pai ama você independentemente da sua opção e isso é o que importa – disse sorrindo sincera – mas vamos ao que interessa como vai seu coração apaixonado pelo Nico, hein?

- Sei lá na mesma, ele é complicado, mas eu não vou desistir até ele dizer que realmente não me quer e não gosta de mim – disse sorrindo confiante.

- É isso aí fique firme, duvido que ele vá dizer algo assim.

- Na verdade preciso te contar uma coisa – ele sorriu mais ainda.

*****

- Vocês se beijaram e só me conta agora? – eu estava indignada, dei um tapa em seu braço fazendo ele rir.

- Você estava muito ocupada com um certo garoto, não quis atrapalhar – corei um pouco fazendo ele rir ainda mais.

- Fica caladinho que eu posso te zoar muito mais – revidei emburrada. Ele fingiu fechar um zíper na boca e fez cara de inocente. Acabei sorrindo.

- E como vai a Thalia? – perguntou mudando de assunto.

- Bem, você sabe que ela fica meio desconfortável quando estamos juntos. Afinal, no quesito aparência você parece com o Luke, apesar de ser só isso acho que o Jason iria encher muito o saco dela se ela passasse muito tempo com a gente – ele sorri.

- Imagino, posso não conhecer muito a Thalia, mas sei que não é muito recomendável irritá-la.

- Exatamente, mas eu acho que está ficando tarde e você deve ter muita coisa da faculdade ainda – dei um beijo em seu rosto o abraçando amigavelmente.

- Depois te ligo para dizer como vai meu coração. Tchau – ele disse me dando um beijo no rosto – Se cuida.

- Sempre, também se cuide, até mais – disse saindo de seu apartamento. Peguei meu carro e dirigi pra casa.

Quando estava estacionando o carro na garagem do prédio meu celular tocou.

Papai.

Sim eu chamo meu pai de papai às vezes, mas isso não vem ao caso agora.

- Alô? – disse ao atender o celular. Sempre me perguntei porque dizemos alô quando atendemos o telefone.

- Oi filha, tudo bem? – perguntou como sempre fazia. Depois que eu e o Percy tínhamos sido sequestrados eles ficaram ainda mais protetores, mas eu entendia isso.

- Tudo bem e vocês como estão? E Tyson? – Tyson era nosso irmão caçula, ele tinha dez anos e era muito grande pra sua idade. Eu adorava ele, acho que eu e o Percy sempre mimávamos ele quando íamos pra lá.

- Está tudo bem aqui. Sua mãe e Tyson estão com saudades de vocês – sorri. O Tyson era muito fofo e era super inocente. Imagino o que ele fale quando quer ver a gente – Na verdade eu liguei porque vai ter uma conferência aqui em Londres e nós queríamos que viessem – por essa eu não esperava, então tá né.

- Claro pai. Quem vai? – perguntei curiosa.

- A intenção é ir todos vocês, menos o Ty porque ele ainda muito pequeno. Nós vamos deixar ele com a minha mãe – Vó Reia era um doce de pessoa. Ela tinha se casado com nosso falecido vô Carlos, ele adorava mitologia por isso quando ela engravidou eles colocaram o nome de um deus grego, daí a coisa pegou. Hoje em dia parece bem comum nome mitológico, como o Percy e Jason. Ou o pai do Will.

- Vocês avisaram a Thalia e o Jason? – perguntei um pouco preocupada. Digamos que meu Tio Zeus não era muito bom com palavras, às vezes o pedido dele acaba se tornando uma ordem. E bem vocês conhecem a minha prima, ela odeia ordens.

- Não sei se meu irmão já os avisou sobre isso – ele estava cauteloso – se puder avise a eles antes do seu tio, apesar de eu achar que ele já ligou. Você conhece ele – isso não era bom. Alerta vermelho pra confusão. Não quero nem imaginar o que vai acontecer quando souberem.

- Tudo bem, vou tentar comunica-los da melhor maneira possível. Manda um beijo pra mamãe e pro Ty – sorrio. Meu pai sabe o quanto eu gosto do pequeno, posso não estar o vendo, mas tinha a impressão de que sorria.

- Mando sim, mande eu beijo pro Percy e pra todos aí. Tchau.

- Tchau – desligo o telefone e saio do carro. Minha preocupação volta, só quero ver a reação da Thalia e do Jason com essa conferência.