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História Accelerate - Oito


Escrita por: Lilaahs

Notas do Autor


Quatro meses presa num bloqueio criativo terrível... Finalmente consegui terminar esse capítulo e peço desculpas pela demora (podem puxar minha orelha, eu mereço!). Espero que gostem ^^

Capítulo 8 - Oito


Uma coisa acontece no início da segunda semana de minha estadia na casa dos Lee e tento me conter, mas sei que não consigo. Não há aulas neste dia por conta de uma reunião com o corpo docente do colégio e Minhyuk e a mãe não estão em casa. Ele me disse que a acompanharia novamente até a cidade vizinha e aproveitaria para ver o pai que não apareceu nenhuma vez desde que eu cheguei. Me pediram para ficar à vontade, mas estar sozinho me deixa muito intimidado, por isso não saio do quarto. Penso em dar uma volta de bicicleta, mas não quero acabar dando de cara com o meu pai. Eu sei que ele me segue e que ainda não tentou se aproximar, mas vai fazê-lo quando achar que é a hora certa e isso me amedronta porque não quero voltar à rotina dos socos e ferimentos.

Outra pessoa que quero evitar ao máximo é Wonho. Ele não me procurou desde a última vez, quando desenhou no meu caderno aquele frasco de remédios, talvez por achar que eu iria até ele para questioná-lo. Foi meu primeiro pensamento, mas recuei. As ideias que pipocaram em minha cabeça me deixaram ainda mais confuso do que eu já estava.

           

Mesmo assim, termino os deveres e folheio o caderno em busca do desenho. Wonho não fez aquilo sem um propósito e quero muito descobrir seus motivos sem ter de coletar pistas diretamente com ele. Tento encontrar ligações entre Minhyuk e o frasco de remédios e num vislumbre meus olhos encontram a gaveta da mesinha na qual eu mexi para procurar por um clipe. Recordo-me de parte de seu conteúdo e vou até lá, abrindo-a, encontrando os dois frascos brancos que vi antes. Não há rótulos e um deles está lacrado. Com cuidado, abro o segundo frasco e vejo os comprimidos arredondados e na cor laranja dentro dele. Não sei para que servem, portanto devolvo tudo ao devido lugar e vasculho lentamente os demais compartimentos em busca de uma resposta.

Não encontro nada fora do comum então procuro fazer outra coisa, talvez copiar um dos textos passados no dia em que Minhyuk faltou para o caderno dele. Abro sua mochila e tiro de lá os seus cadernos, copio o texto que falta e dou risada dos rabiscos que ele tem nas últimas folhas, certamente um desenhista que cria círculos quando quer traçar quadrados. Ele não é muito organizado também, o que me faz ter certa dificuldade em devolver os cadernos para dentro da mochila. Quando enfio a mão dentro dela para abrir caminho para o material, toco em mais um frasco de remédios. Eu o tiro para examiná-lo, constatando que está quase vazio e o abro, vendo o mesmo tipo de comprimido laranja dentro dele. Talvez sejam vitaminas, eu penso, e guardo-o de volta, tirando as ideias ruins da mente.

Não nego que a primeira coisa que imagino é que Minhyuk possa estar doente. O fato de Wonho não querer me contar de forma direta e a lembrança da conversa entre ele e Minhyuk me forçam a pensar desse jeito, mas não sinto como se essa fosse a verdade. Nunca o vi demonstrar qualquer sintoma, cansaço, tonturas, reclamações sobre dores… Sua personalidade alegre e divertida talvez acoberte qualquer coisa parecida, mas não, sei que não é isso. No fundo, desejo que não seja. Necessito que não seja.

Fico um tempo deitado, tentando não deixar que as ideias ruins tomem a minha mente, então desço até a cozinha para comer alguma coisa. Há sanduíches prontos sob um pano de pratos branco, local indicado pela mãe de Minhyuk ao insistir que eu deveria ficar à vontade mesmo estando sozinho. Sento-me na bancada até terminar o lanche e me sinto bem pelo carinho impresso no ar daquela casa, coisa que eu não sentia há anos e até então não sabia que me fazia tanta falta. Este não é o meu lar e ainda assim é melhor do que estar na casa a qual eu realmente pertenço.

Lavo os utensílios que usei e deixo tudo em ordem. Em seguida vou até a sala de estar e me sento no sofá tentando entender o complexo controle cheio de botões da televisão. Ligo o aparelho e mudo os canais até encontrar um filme qualquer, mas não consigo prestar atenção a mais que cinco minutos de cena, pois meu celular começa a vibrar dentro do bolso do meu casaco. Eu o pego, ansioso por achar que é Minhyuk, mas na tela é o nome do meu pai o que vejo. Respiro fundo e não atendo, sofrendo com a vibração do aparelho e com a insistência do velho. Ele desiste na terceira tentativa, mas envia uma mensagem de texto que abro por curiosidade. Quer me ver, o que não é novidade, e pede para que eu o encontre perto do pub no horário em que começo o trabalho. O que ele quer dizer é que vai me encurralar, pois sabe que eu nunca deixo Billie na mão, ou seja, ele vai estar lá de qualquer maneira, à espreita no caminho que faço. Jogo o celular na outra ponta do sofá e deixo meu corpo murchar sobre o móvel, sabendo que não tenho escolha. Não fugi para muito longe, afinal, o que quer dizer que não estou livre das amarras de casa. Penso em alternativas como ir trabalhar mais cedo, mas sei que não vai adiantar. Conhecendo meu pai, ele estará esperando desde já por mim. Decido deixar as coisas acontecerem e volto a assistir o filme cujo título eu não sei, mas não demora até que eu me canse e caia no sono.

           

É na primeira esquina perto do pub que meu pai está parado com as mãos nos bolsos do casaco, me observando enquanto eu me aproximo. Ele não se move e espera até que eu pare em sua frente para abrir a boca e falar:

- Volte para casa.

É uma ordem abrupta, mas não num tom grosseiro como sempre foi. Ele sabe o que penso sobre isso, sabe que não quero voltar, e por isso não digo nada.

- Eu não vou mais bater em você, Hyungwon, mas eu quero que você volte para casa.

- Por quê? – eu quero motivos. Uma promessa rala sobre uma possível paz não é o bastante para mim, pois, na primeira noite de bebedeira, meu pai certamente quebraria qualquer acordo.

- Porque você não é como a sua mãe – ele diz, referindo-se à fuga dela.

- Não coloque ela no meio...

- Não precisa defender aquela mulher, eu sei que você não gosta de fazer isso...

É um ponto verdadeiro. Ainda que ela seja minha mãe, ela me deixou. Respiro fundo, desviando o olhar, sentindo raiva porque meu pai também me conhece bem apesar de tudo.

- Eu sei que você está na casa dos Lee, realmente acha certo dar trabalho a pessoas que nada tem a ver com você? – ele diz algo que eu já esperava, mas então complementa, me deixando ligeiramente surpreso. – Ou melhor, acha certo colocá-los em perigo?

- É uma ameaça? – eu quero saber e ele diz que não, que é um aviso.

- Eu ainda devo dinheiro – ele diz, mas não menciona a quem, embora eu tenha certeza de que seja para os caras que me atacaram. – Eles podem ir atrás de você de novo. Se souberem que você está na casa de gente como os Lee, vai ser como abrir uma porta para o inferno naquele lugar. É isso o que você quer?

Penso um pouco e entendo que o que ele diz faz sentido, mas não posso ceder e concordar em voltar para casa com ele. É óbvio que ele atiçou a vontade que tenho de proteger Minhyuk e sua família por tudo o que eles estão fazendo por mim, mas também tenho de proteger a mim mesmo.

- Se eu voltar para casa, seus “amigos” virão atrás de mim – eu digo e meu pai fica ainda mais sério.

- Eu posso lidar com isso.

- Não, não pode – eu insisto. – Mesmo que pare de me bater, não vai se importar se eles me usarem, vai sentir como se eu estivesse sendo punido por outras mãos, enquanto as suas estarão limpas. É pra isso que você me quer de volta, não é? Para pagar a sua dívida com o dinheiro que ganho no pub... Ou talvez, talvez tenha pensado em me usar de alguma outra forma... É isso, não é?

Por um instante desejo profundamente que ele negue e que diga que estou pensando bobagens. Quero que ele diga que me quer de volta porque sente falta do filho e que vai me proteger de qualquer um de seus amigos. Quero que ele diga que precisa do dinheiro que ganho, mas que também precisa ter o filho por perto, porque sou a única família que ele tem. Por um instante, torço para que seu semblante mude e eu veja o pai que ele foi no passado quando as coisas iam bem e nós parecíamos uma família feliz.

Infelizmente, ele continua com a mesma expressão, até um pouco mais nervoso. Olha para o chão e isso significa que estou certíssimo: ele tem planos para mim, planos que o ajudarão a quitar qualquer dívida que esteja pendurada em seu pescoço.

- Não é algo que eu queira, mas não há outros meios... – ele começa e eu o interrompo imediatamente.

- Você é doente! – eu dou risada pela esperança que nasce e morre dentro de mim ao mesmo tempo. – Eu nunca vou voltar para casa!

- Pense nos Lee...

- Encoste um dedo neles e eu acabo com você.

Percebo que me aproximei demais e não tenho tempo de recuar. Sinto a dor do soco no lado esquerdo do rosto e meu pai vai embora pisando forte, enquanto eu tento me equilibrar e felizmente não caio no chão como achei que faria. Seguro o rosto com as mãos, perplexo, e fico um tempo remoendo a conversa antes de voltar a caminhar em direção ao pub.

 

-x-

 

A reação de Minhyuk e de sua mãe não é muito diferente da reação que Billie teve um pouco mais cedo quando entrei no pub depois de discutir com meu pai. Quando volto para a casa de Minhyuk sou levado até a sala e eu dispenso os cuidados com curativos, pois não acho que sejam necessários. Meu rosto só está um pouco inchado e há um pequeno corte causado pelo anel que meu pai deveria estar usando intencionalmente – mas que não fizera tanto estrago. Explico a situação e aviso a eles que vou deixar a casa.

- Mas para onde você vai? – Minhyuk pergunta e eu respondo que irei procurar uma pensão ou algo do tipo.

- Eu posso me virar, não posso continuar dando trabalho depois das ameaças do meu pai...

- Mas Hyungwon... – Minhyuk resmunga e sua mãe nos interrompe.

- Eu não vou deixar você sair dessa casa – ela diz. – Nós vamos chamar a polícia e eles irão cuidar do caso...

- Não adianta – eu falo. – Eles não vão levar a sério. Eles já conhecem meu pai, concordam com o que ele faz comigo... não vão entender até que algo ruim realmente aconteça...

- Nada de ruim vai acontecer – ela volta a dizer. – Você vai continuar aqui em casa e se vir seu pai novamente, nós vamos à polícia sim!

Agradeço, sem saber como expressar a minha gratidão. Minhyuk segura a minha mão e acho isso estranho, pois não estamos sozinhos, mas tudo o que a mãe dele faz é sorrir aos nos ver.

           

É sobre isso que conversamos quando Minhyuk e eu estamos no quarto, terminando de ajeitar as cobertas. Ele quer saber se estou quieto por estar sentindo dor e eu respondo que não é esse o motivo.

- Estou pensando sobre a sua mãe.

- Se apaixonou por ela? – ele brinca e nós dois rimos. – O que tem ela?

- Ela me aceita tão bem... Ela... Não mostra qualquer desconforto com a nossa “amizade”... – eu falo, fazendo aspas com os dedos no final da frase.

- É porque ela sabe sobre a gente – Minhyuk diz e isso me deixa um pouco envergonhado. – Eu nunca escondi que gosto de outros garotos e ela nunca viu nada de errado nisso.

- Wow – eu digo e penso em como seria se minha mãe estivesse vivendo comigo. Minhyuk questiona sobre minha nova sessão de silêncio e eu volto a falar. – Acho que se minha mãe estivesse comigo ela pensaria como o meu pai e me detestaria.

- Eu acho que não – Minhyuk diz. – Eu acho que a sua mãe ia me adorar!

Eu dou risada de sua brincadeira, mas só em sonho ele seria aceito como eu estou sendo aceito pela sua família. Nós somos de mundos diferentes, colidindo no meio do caminho. Talvez eu tenha me afastado de meus pais porque apenas assim sou capaz de ter qualquer tipo de relacionamento com Minhyuk. Penso em como seria se eu tivesse fugido de casa na época em que estava com Wonho, se nós estaríamos juntos hoje, mas não quero ter esse tipo de história na memória. Tudo o que tinha de acontecer chegou no tempo certo e por alguma razão eu sei que as coisas vão acabar se ajeitando.

- Seu queixo dói quando você fala e é por isso que você está quietinho desse jeito? – Minhyuk pergunta, esgueirando-se ao meu lado no colchão ao lado da cama. – Será que também dói quando eu faço isso?

Ele pega meu rosto com suas duas mãos e me beija de repente, rindo no começo. O aperto de seus dedos na minha bochecha esquerda de fato me causa uma dorzinha, mas eu a ignoro facilmente. Nossas posições fazem com que ele se incline mais sobre mim e, para manter o equilíbrio, Minhyuk solta meu rosto e apoia uma das mãos no colchão no meio de minhas pernas. Sinto a pressão que ele faz para que eu me deite, mas sei que a porta está aberta e isso me deixa receoso. Eu o detenho e ele entende, mas ainda assim continua com a brincadeira, espalmando a mão livre em meu peito, me fazendo ceder. Sou obrigado a esticar as pernas e Minhyuk para de me beijar para subir e se sentar sobre meu corpo. Ele sabe qual é o efeito desse contato e sorri porque está exatamente onde queria chegar.

- Por favor, não vamos ser imprudentes - eu digo e ele olha para trás, para a porta. Volta a me encarar como se não estivéssemos nem um pouco expostos. - Minhyuk, sério…

- Quer mesmo que eu saia daqui para trancar a porta? - ele pergunta e eu concordo. Suas mãos deslizam pela lateral do meu tronco e ele finalmente se levanta. Gira a chave duas vezes e aproveita para apagar as luzes antes de voltar. - Mais algum risco a ser evitado, Hyungwon?

Quando ele retorna, estou sentado novamente, então o encontro de nossos corpos é ainda mais intenso. Sinto seus lábios entrando imediatamente em contato com meu pescoço e o seguro num abraço desajeitado enquanto ele tenta encontrar uma posição mais confortável para suas pernas.

- Por que as coisas são sempre tão repentinas com você? - eu pergunto e ele dá um risinho, mas não me responde. Sua concentração agora o leva a apressar-me em tirar nossas roupas e, sendo essa a nossa provável primeira vez, eu me deixo ser comandado de início.

 

Minhyuk é impulsivo, o que deixa as coisas um pouco imprevisíveis. Quando dou por mim ele já está um passo adiante, mas é fácil me adaptar às suas maneiras, mesmo que eu não o esteja enxergando direito. Ele continua a me surpreender tanto pela forma como se doa a mim, quanto pela maneira como me recebe. No começo empregamos força demais, talvez por causa da vontade que crescera durante todo esse tempo, de ter um ao outro, mas aos poucos atenuamos os movimentos para então condensá-los novamente. Aprendemos como funcionamos juntos e tentamos fazer durar o máximo de tempo possível essa mistura louca de sensações, de dores, de gemidos e arfadas, de pele com pele e sabores. Chega um ponto em que não quero mais parar, mas almejo o final de nosso ato porque sei que é inevitável. Meu corpo começa a enfraquecer enquanto o corpo de Minhyuk treme e sei que é assim a sensação de quase enlouquecer, de esquecer-se de tudo, de ter tudo, de provar tudo de uma só vez.

Quando termina, parece que durou horas. Quando ele desaba sobre mim e mordisca minha pele porque ainda estamos unidos, eu tento respirar fundo porque sinto tontura e falta de ar. Nós nos separamos e deitamos lado a lado, mas a verdade é que ainda estamos dentro um do outro e essa é a melhor maneira de finalizar a noite: sabendo que marcas foram deixadas e que juntos somos exatamente o que sonhamos ser. 


Notas Finais


Eu juro que empaquei nesse final e sei que poderia ter sido uma cena bem mais intensa, mas preferi deixar sutil assim do que enfiar mais coisas e acabar estragando a narrativa (é, ainda não tenho confiança para detalhar esse tipo de cena xD). Me deixem saber o que acharam e até a próxima! ♥


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