Eu estava extremamente cansada e isso com certeza era evidente no meu modo de caminhar pela rua escura indo para o meu apartamento. Cada passo que dava parecia um tormento doloroso, embora eram bastante gratificantes só de pensar em estar mais perto da minha adorada cama quentinha.
Sem dúvida, eu deveria ter chamado um táxi, assim chegaria bem mais rápido e que sabe um pouco mais descansada. Mas nessas ocasiões sempre havia um fator contra, dinheiro ou uma falta dele. Uma pena não ter suficiente para isso, pois eu mal tinha para pagar as inúmeras dívidas que imagine para ter uma vida social estável. Então lá estava eu, andando como se tivesse erguendo nuns 100 quilos a cada perna nas ruas desertas há mais das duas da manhã parecendo um zumbi que acabara de sair de sua cova com grandes sacolas.
Para ser sincera eu não tinha medo de andar naquelas altas horas, na verdade era o contrário, o bairro me conhecia há muito tempo e sabiam o que eu poderia fazer sem não ter nada nas mãos, imagina se eu tivesse.
Nesses momentos era bom ser temível.
Um riso fraco escapou quando virei na esquina entrando no beco escuro e frio, foi difícil ajeitar o casaco em volta de mim. Isso é que dar levar várias sacolas.
Olhei bem para minha frente do qual tinham alguns mendigos dormindo enrolados com mal trapos e outros simplesmente levantaram a cabeça para me olhar. Ajoelhei perto de um deles e deixei as enormes sacolas cheias de quentinhas.
- Têm comida o suficiente para vocês. Acorde eles. - instruí depois de voltar a andar novamente.
- Obrigado, Vanessa.
Fiz um gesto com a mão, não me importando com o agradecimento, afinal tudo que eu mais queria era me livrar daquelas sacolas mesmo. Ainda me perguntando o por que eu passava em restaurantes a tarde da noite para pegar as sobras para eles.
Por mais que eu tentasse não conseguia ignorar a fome que eles sentiam, tempo atrás eu havia sentido isso também, não saber quando seria a minha refeição, suportar dias seguidos com a dor no estômago do qual a única escapatória era dormir, isso era o mínimo de esperança que uma criança poderia ter, até ter a maldita ideia assaltar casa para me livrar da dor que a fome causava.
O maior erro que já fiz em toda minha vida do que é o único arrependimento, se eu soubesse que aquele estabelecimento era um esconderijo de uma máfia, a mais perigosa da cidade que estava ganhando território facilmente, eu nunca teria invadido.
Me capturaram e torturam por dias, até então o chefe ter a brilhante ideia de me fazer parte de sua "família" ou seria morta. Não foi difícil fazer a escolha.
Fui treinada em qualquer tipo de coisa, desde a usar armamentos pesados às práticas de piores técnicas de torturas usando o mínimo de coisas possíveis, contratou o melhor técnico de informática que o dinheiro poderia pagar e quando ele considerou que eu já possuía idade o bastante para começar a fazer serviços fui obrigada a infiltrar e matar pessoas que possuía dívidas com a máfia e assim eu pagaria a minha dívida com ele.
O chefe era um ser temível e que me dava nojo só estar na sua presença, mas no fim de tudo ele me deu alimentos, abrigo e proteção, proibindo todos da máfia me machucar e tocar em mim. Éramos realmente uma espécie de uma família, que fazia qualquer tipo de negócio deste de assassinato a tráfico de drogas e pessoas.
Mas ainda era a minha família.
Soltei um suspiro prazeroso assim que avistei a esquina de minha rua, já podia escutar o chamado de minha macia cama e cobertor quentinho. Assim que dobrei a esquina parei estática no lugar. Não podia acreditar que o passado veio me atormentar na forma de um homem encostado em seu carro na frente da portaria do prédio. Isso é que dar ficar pensando.
Antes de ter a chance de voltar e esperar que fosse embora, ele me viu e veio até mim.
- Vanessa. - cumprimentou ele como sempre, uma voz calma e suave.
- Marco.
Marco era como um irmão mais velho, foi ele quem me ensinou artes marciais e usar armas brancas. Com ele parecia que o tempo não agia como nas outras pessoas, no auge dos 40 anos ainda tinha o mesmo corpo musculoso e bronzeado, olhos escuros e cabelo negro com mínimo de fios grisalhos. Não o via deste que finalmente sai da máfia a mais de dois anos e para ele estar ali não era coisa boa.
- O que quer Marco? - perguntei logo de uma vez.
- Impaciente como sempre, princesa. Deveria parar de trabalhar naquele bar nojento, parece sempre estressada...
- Está me vigiando de novo? ... Quer saber? Deixa para lá, diga logo o que quer. - cruzei os braços irritada, conseguia ver o meu desejo de estar esparramada na cama ir voando para bem longe.
- Não podemos conversar aqui. - diz ele assumindo sua posse de profissional.
Marco se virou e foi para frente do prédio, grunhi de frustração prevendo que minha noite seria muito longa.
Fui de uma vez liderando o caminho para dentro do prédio, nem se quer dei atenção para o falatório de safadeza do porteiro tarado que aquela espelunca tinha.
- Você deveria ir para um lugar melhor. Carlos pode dar isso para você. - disse Marco me seguindo.
- Em troca voltar a trabalhar para ele? Não, obrigada.
- Carlos sempre a considerou uma filha. Ele pode até ser um arrogante, bravo e mesquinho atrás de seus objetivos, mas até ele foi mais brando com você.
- Só por um único motivo, Dira. Se não fosse por ela, eu nunca teria saído.
Abri a porta do apartamento, ele podia ser pequeno e bagunçado, entretanto, era bastante confortável. Dei uma rápida verificada e só então permiti que Marco entrasse, fui direto para cozinha e tirei duas garrafas de cerveja da geladeira. Joguei uma para ele quando retornei para o que eu chamava de quarto/sala/sala de jantar e só então me acomodei na cama.
- Não me canso de repetir, não me importo com o que aconteça, eu não voltarei. - disse antes de tomar um enorme gole de cerveja.
- Dira foi sequestrada.
Engasguei e a raiva em mim começou surgir e a corroer a cada músculo do meu ser. Joguei a garrafa contra parede transformando em cacos.
- Quero o nome e o que quer. - exigir entre dentes.
- Ele se chama Crowley e quer um serviço de assassinato contra dois irmãos.
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