Era 31 de outubro e estava nevando muito, mas ainda assim Jimin estava a caminho de uma festa estúpida de Halloween. Sentia-se idiota vestido de Fantasma da Ópera, odiava fantasias e de fato preferia suas roupas. Não queria ir à festa, mas fora obrigado pelos seus amigos, principalmente por Hoseok que por sinal estava ligando-o.
Atendeu e logo colocou no viva voz e em seguida jogou o aparelho no banco do carona. A voz estridente de Hoseok ecoou pelo carro junto com um barulho de vozes e música alta. Muito alta.
– Já está chegando? Ou está perdido? – Perguntou.
– Estou quase aí.
– Tem uma garota que não para de perguntar sobre você e...
Enquanto Hoseok tagarelava sem parar sobre a tal garota, Jimin olhava pelo para-brisa a neve piorar consideravelmente. Teve a impressão de que não saía do lugar, mas antes de concluir tal pensamento escutou um pigarro de Jung, claramente esperando uma resposta.
– Então? O que você acha?
– Eu acho que o carro atolou. – Disse começando a ficar nervoso.
A estrada estava deserta, estava escuro e para completar havia somente o seu carro naquela rodovia. Ninguém seria louco de sair naquela nevasca em plena noite de Halloween. Sentiu a inquietação se alastrando lentamente, afinal era assim que começava uma história de terror.
– Acredito que você chegará um pouco atrasado. – Disse Hoseok irônico.
– Você acha? – Revirou os olhos mesmo sabendo que ele não podia ver.
– É melhor tomar cuidado...
– C-com o quê?
Hoseok riu.
– Sabem o que dizem sobre o dia 31... – Fez uma pausa dramática e Jimin bufou irritado. – Que os mortos ganham direito de visitar o mundo dos vivos, ou seja, talvez você encontre alguma alma penada por aí.
– Cale a boca! Eu não acredito nessas baboseiras! Tudo não passa de um costume antigo. – Disse tentando parecer seguro, mas na verdade estava aflito.
– Você quem sabe. Mande-me sua localização por mensagem, irei lhe buscar.
Jimin assentiu e se despediu do amigo. Depois de mandar a mensagem, ligou o farol numa tentativa de clarear a pista. Pensou em descer do carro e procurar ajuda, mas tudo o que via ao redor era neve.
Poderia ter evitado essa situação se tivesse ficado em casa ao invés de concordar em ir a essa maldita festa. Fechou os olhos, amaldiçoando Hoseok por ter insistentemente o convidado. E quando os abriu, viu uma silhueta caminhando em sua direção.
Com o coração acelerado, Jimin respirou fundo incontáveis vezes tentando se acalmar. Tudo que conseguia pensar era no pior, de filmes com serial killers, assombrações e tudo de sobrenatural que pudesse matá-lo. Travou o carro rapidamente, somente por precaução.
Olhou novamente em direção à estrada, agora não havia nada. Soltou o ar aliviado ao notar que não havia ninguém, estava nervoso com o fato de estar sozinho num lugar deserto e talvez tenha começado a imaginar coisas.
As batidas na janela ao seu lado o fez saltar alarmado. Virou o rosto assustado e deu de cara com um garoto de cabelos escuros. Ele estava pálido e seus lábios tinham um tom azulado por causa do frio, notou.
– Pode me ajudar? – Perguntou com a voz abafada.
Jimin apenas o encarou atônito. Pensou seriamente em deixá-lo entrar, mas não o conhecia. Ele podia ser um assassino ou um psicopata, ou...
– Está muito frio aqui. – Disse interrompendo seu pensamento.
Percebeu que o garoto não usava nada além de uma blusa branca e calça preta. Jimin sabia que era loucura deixar um estranho entrar em seu carro, mas ele poderia morrer de hipotermia a qualquer momento e Jimin não queria ser culpado por sua morte.
Concordou balançando a cabeça e destravou o carro. O garoto rodeou o automóvel rapidamente até abrir a porta e sentar no banco do carona. Jimin o observou abraçar o próprio corpo ao mesmo tempo em que batia os dentes de frio.
– Obrigado. – Falou sorrindo fracamente.
– De nada.
– Meu nome é Kim Taehyung. Qual o seu?
Jimin apertou as mãos no volante receoso em responder, e então uma risada baixa chamou sua atenção.
– Não precisa ter medo, eu não vou te matar. Não sou um assassino.
– Assassinos nunca dizem que são assassinos. – Respondeu fazendo-o rir novamente.
– Você acha mesmo que um assassino se vestiria assim? – Indagou segurando a manga da camisa fazendo uma careta.
Por instinto o analisou de cima a baixo novamente. Um assassino realmente não se vestiria de maneira tão desleixada. Usava uma blusa branca de botão – que tinha um tecido muito fino para o inverno –, uma calça preta e estava descalço, o que chamou sua atenção. Perguntou-se mentalmente como ele estava aguentando tanto frio?
– Me chamo Park Jimin. – Respondeu por fim.
– Prazer em conhecê-lo. – Disse e logo após olhou sua roupa com o cenho franzido. – Você estava indo a uma festa a fantasia ou algo assim?
– Hum, sim. – Disse envergonhado por estar vestido daquele jeito. – Mas não irei conseguir chegar lá a tempo, meu carro ficou preso graças a tempestade.
Passaram um tempo num silêncio estranho. Jimin o olhou de esguelha, seus lábios já estavam da cor normal, mas sua pele ainda estava pálida. Seu olhar era inexpressivo, mas ele sorria demais. De repente, Taehyung o olhou, fazendo-o desviar o olhar sem graça por ter sido pego o encarando.
– Mas o que aconteceu com você? Está perdido? – Perguntou fitando o painel do carro.
– Digamos que sim.
Taehyung remexeu-se na cadeira, inquieto. Notando seu desconforto, Jimin decidiu não persistir no assunto.
– Por que escolheu essa fantasia? – Taehyung questionou.
– Tinha um terno em casa e só precisei comprar essa máscara. – Disse dando de ombros.
– Você gosta de Halloween?
– Na verdade, eu odeio o Halloween. – Respondeu rindo amargamente.
Taehyung o olhou confuso.
– E você? – Perguntou Jimin ao ver a expressão do garoto.
– Eu adoro o Halloween, – Baixinho, ele continuou. – é o único dia do ano que posso sair.
– O que disse? – Perguntou não entendendo o que Taehyung tinha dito.
– Nada de mais. – Disse balançando a mão em descaso. – Quantos anos você tem? Parecemos ter a mesma idade.
– Tenho vinte e um.
Taehyung assentiu.
– Ah, então você é mais velho. Mas isso não nos impediria de sermos amigos, não é?
– Hum, eu acho que não. – Respondeu sem jeito.
– Que alívio! – Riu baixo e Jimin o acompanhou.
E eles ficaram conversando durante a noite praticamente toda, se conhecendo e sorrindo, fazendo Jimin esquecer-se da ajuda de Hoseok. Que por sinal estava demorando. Taehyung era legal e estranhamente bonito para um garoto. Queria muito saber o que o levou a andar na neve, descalço e sozinho.
Abriu a boca para perguntar, mas o viu bocejando.
– Que tal irmos dormir? Já é quase meia noite. – Sugeriu Jimin.
– Meia noite? – Taehyung perguntou num sobressalto.
– Quase meia noite, na verdade.
Num súbito movimento, Taehyung se inclinou e selou seus lábios. Jimin ficou brevemente surpreso em meio ao ósculo, mas não afastou o contato. Não era como se ele nunca tivesse beijado um garoto antes, mas dessa vez foi estranho. Estranhamente bom.
A boca de Taehyung era gelada, mas não de um jeito ruim.
– Por que fez isso? – Jimin o olhou sentindo o rosto esquentar.
– Tive vontade. – Disse dando um risinho, mas logo seu sorriso desmanchou e sua expressão pareceu melancólica. – Talvez a gente nunca mais se veja, esse foi um jeito de fazer você se lembrar de mim.
– Como assim a gente nunca mais vai se ver? Você poderia me dar seu número. – Disse como se fosse obvio.
– Não tenho celular. Mas você pode me dar o seu, eu arranjo um jeito de te ligar.
Jimin apenas assentiu e rabiscou o número num pedaço de papel que pegou no porta-luvas. Olhou Taehyung que estava encarando o papel com um olhar indecifrável que o fez questionar se ele realmente tentaria ligá-lo.
– Boa noite, Jimin. – Disse encostando a cabeça na janela.
– Boa noite, Taehyung.
Mas Jimin não dormiu, apenas ficou parado olhando-o dormir. Tinha uma sensação desconhecida de que aquela seria a ultima vez que o veria, então fez algo inesperado até para si mesmo e o beijou. Foi um selinho leve e rápido, para que não fosse o suficiente para acorda-lo.
E então acomodou-se no banco e fechou os olhos.
[...]
Jimin despertou ao som das batidas contínuas na sua janela e a voz conhecida de Hoseok soava abafada do outro lado do vidro. Abriu os olhos e instantaneamente virou o rosto para o banco do carona, agora vazio. Franziu o cenho se perguntando onde Taehyung estaria naquele momento?
Desceu do carro ainda estranhando o fato de ter acordado sozinho. O sol estava próximo a raiar, mas ainda estava estava escuro. Boa parte da neve já havia derretido e podia a ver a pista nitidamente.
– Eu demorei um pouco por causa da neve. Você está bem? – Perguntou Hoseok vestido de Darth Vader com um casaco enorme de frio.
– Estou bem. Você viu um garoto por aí? – Indagou olhando para os lados a procura de Taehyung.
Hoseok apenas negou com a cabeça.
Na beira da estrada havia algo que chamou a atenção de Jimin.
– O que é aquilo? – Apontou para o local.
Tanto ele como Hoseok foram ver o que era. Ao se aproximar viu que era uma homenagem a alguém que morreu em algum acidente naquela pista. Haviam flores, cera derretida do que já foi uma vela e um retrato com a foto do falecido. Jimin fitou o garoto da foto, estarrecido.
Era Taehyung.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.