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História Acompanhante de Aluguel - Um segredo aqui e outro lá


Escrita por: belisaints

Notas do Autor


Oieeee!

Hoje o dia tá meio chato então resolvi postar, hehe. Eu to adiantada nessa história, mas como dei um tempinho na escrita porque minhas amigas vieram me visitar, parei com as postagens também porque ainda quero manter esse intervalo de capítulo e etc.

Enfimmmmmmm, espero que gostem! Yey. To adorando escrever essa história!

Divirtam-se!

Capítulo 4 - Um segredo aqui e outro lá


Eu não sei exatamente o que esperava quando falei a Jungkook sobre vestir roupas que o deixassem com cara de bom moço — como também não sei se ele levou a sério a instrução –, mas eu com certeza sabia o que não esperava. A jaqueta de couro, a camiseta branca e a calça jeans escura não chegam nem perto da ideia predeterminada, até porque elas só conseguem gritar uma única coisa: problema.

E algo me diz que ele fez isso por pura teimosia.

Não que eu esteja reclamando da vista...

Desde que nós chegamos ao restaurante e nos encontramos com os meus pais em uma mesa afastada da entrada, sua presença tomou conta do ambiente inteiro. Não só por causa de sua óbvia boa aparência e seu perfume frutado, mas como também por mamãe ser invasiva o suficiente para lhe direcionar dezenas de perguntas sem vergonha alguma; e o tornar, assim, o principal assunto do almoço.

Eu já esperava por isso, não havia qualquer outro motivo para esse encontro, mas não consegui me manter impassível quando a primeira pergunta do questionário nonsense de mamãe dançou entre nós. Eu me encolhi entre os ombros no mesmo instante, meus olhos correndo para qualquer lugar que não fosse Jungkook e sua possível resposta atravessada. As lembranças recentes de seu olhar sério em reação à minha curiosidade parecendo mais vivas do que nunca.

Entretanto, para minha enorme surpresa, ele cedeu.

Jeon Jungkook nasceu em Busan e é três meses mais novo que eu. Tem uma irmã mais velha formada em medicina, os pais cuidam de uma panificadora de bairro e seu objetivo de vida é trabalhar com produção de jogos. Odeia carros sedan e seus doramas favoritos são Vampire Prosecutor e Doctor Stranger.

A fina cicatriz em sua bochecha, que eu nunca havia percebido, foi feita por uma concha em uma de suas idas à praia. E assim que ele sorri aberto para minha mãe ao terminar a história, eu me pego prestando atenção em absolutamente tudo o que ele faz e fala. Talvez seja pela forma como ele exala confiança e conforto ou pelo fato dele se moldar com facilidade em todos os assuntos falados. É como uma caixinha de agradáveis surpresas quando menos se espera e não evito pensar que talvez ele seja assim de verdade, longe de todo esse lance de acompanhante de aluguel. Há uma segurança aparente, algo que lhe faz parecer muito mais interessante do que antes. E, sem que eu perceba, eu estou o observando com uma atenção redobrada em uma busca secreta por detalhes que nunca havia notado.

Olhos, boca, nariz, cabelo e orelhas. Tudo sendo analisando milimetricamente enquanto ele ainda parece afundado nas perguntas de mamãe. É fácil lhe observar do outro lado da mesa, sentindo seus pés encontrarem os meus sem querer. Daqui eu consigo ver como seus olhos amendoados brilham muito mais em ambientes fechados, como também consigo ver dois outros brincos nas orelhas que não havia percebido antes. E que talvez sejam propositais para fugir completamente da imagem de bom moço que pedi que fizesse.

Talvez a teimosia cretina de Jungkook tenha sido a principal responsável pela minha negligência aos seus detalhes. A pintinha logo abaixo do lábio inferior, a forma que seu cabelo bagunçado o deixa ainda mais bonito e como seu nariz se enruga de um jeito infantil toda vez que sorri. E talvez, mas só talvez, eu pense em como ele deveria sorrir mais vezes.

Eu me sinto mergulhar na sensação de estar redescobrindo Jungkook por inteiro, em cada mínimo detalhe, um segredo aqui e outro lá.

— Você pretende ficar em Seoul depois da faculdade ou voltar para Busan?

Sou arrancada de meu devaneio pela voz de mamãe. A pergunta vem ingênua, mas eu sei que há uma intenção clara por detrás disso. Há uma segunda, terceira, quarta intenção como em todas as outras perguntas feitas anteriormente.

— Pretendo morar em Seoul. — Ele dá a resposta de forma sincera e, sem saber, certa também. — O mercado de trabalho na produção de jogos é muito maior aqui.

Hm. Entendi.

Examino cautelosamente a reação de meus pais pelo que deve ser a décima vez só hoje. Eu já sei que papai não se importa com quem eu vou me casar, que o importante mesmo é só ter um casamento em vista. E ele deixa isso ainda mais claro quando nem sequer parece ouvir a conversa, toda a atenção voltada para o celular; sua voz sendo ouvida apenas quando solta algum elogio aleatório a Jungkook. E eu me pergunto se em algum momento ele fez questão de estar aqui, se só saber que sua filha não seria uma vergonha para a família já não era o bastante para ele.

Almoço com o namorado de Yerin? Que grande bobagem!

Mas deixando de lado qualquer possível carência paterna, eu me sinto aliviada. A reação de papai era a que eu procurava; me livrar de qualquer cobrança é o objetivo de tudo isso, me livrar, principalmente, de conversas sobre Haneul.

Já mamãe, além do casamento, parece mesmo se importar com o noivo também.

— Jungkook querido, quais são suas intenções com Yerin?

Meus olhos crescem em pavor e eu quase engasgo com o ar.

Mamãe! — Me ouço a reprimir sem ao menos pensar, sentindo meu rosto ruborizar sem exatamente entender. — Isso é desconfortável.

— Por que desconfortável? — Ela parece ofendida, virando-se para papai em sua frente à procura de apoio. — Eu estou errada em me preocupar? Jungkook, eu estou errada?

— Yerin, nós somos seus pais, nós nos preocupados com isso. — Meu pai ralha por pressão de mamãe e eu me sinto afundar no acento. Seus olhos indo da tela do celular para mim de maneira displicente, mas não ouso rebater. — Tenho certeza que Jungkook não vê problema algum em responder essa pergunta, não é?

E então eu não levo menos do que um segundo para olhar para ele, seu rosto tem um quê de desconforto claro, mas não parece a ponto de se erguer e largar o almoço no meio. Talvez ele esteja pensando que tudo isso é loucura, que parece uma pegadinha idiota de televisão.

Eu também gostaria que fosse.

— Nós nunca conversamos sobre isso, na verdade. — Diz, a boca se repuxando em um sorriso sem graça e eu logo me vejo curiosa por sua resposta. — Nós estamos focamos em terminar a faculdade e decidir nossas vidas profissionais antes de tomar qualquer outra decisão. Minha única intenção agora é ver ela ter sucesso no que quer.

Eu sinto um lance esquisito no peito, mas não é algo ruim. Sinto também minhas bochechas se repuxarem em um sorriso que logo é impedido de crescer por mim mesma. Eu sei que essa não era a resposta que meus pais queriam ou esperavam, mas foi a que eu sempre quis de Haneul e nunca tive.

— Você costuma ir para Busan ou seus pais costumam vir aqui para lhe visitar?

A voz de mamãe vem outra vez e ela realmente parece chateada com a resposta dada. Seu rosto é contorcido em um sorriso amarelo e eu sei que a próxima ligação que ela me fará terá como tema principal a porcaria da intenção de Jungkook comigo.

E por mais que isso vá me chatear no futuro, eu não consigo ficar irritada pela resposta dada.

— Eu visito eles uma vez por mês.

Ela se remexe na cadeira, de repente interessada.

— Qual sua próxima visita?

— Esse fim de semana.

Os olhos de mamãe de arregalam surpresos, passando de Jungkook para mim e de mim para papai, seus dedos tamborilando a mesa para chamar sua atenção.

— Querido, não seria uma ótima ideia nós irmos juntos para um encontro de famílias?

Um grito de pavor cresce pela minha garganta, mas eu o sufoco a tempo. Vejo o rosto de Jungkook petrificar e tento encontrar alguma desculpa boa o bastante para que isso não aconteça. Mas há um branco enorme, um nervosismo crescente e um desespero tão grande que eu nem sequer consigo por em ordem meus pensamentos bagunçados pela aflição.

— Esse fim de semana? — Papai pergunta aéreo, tirando os olhos do celular de forma vaga. E eu posso jurar que estou suando. Suando como um porco. — Acho muito precipitado... Talvez mês que vem?

— Mês que vem?

— Não esqueça que esse fim de semana nós combinamos de nos encontrar com a família Lee.

Apesar de toda a tensão sobre uma possível visita que me pega a parte detrás dos joelhos, a referência à família de Haneul me faz ter um reboliço furioso na boca do estômago, um amargo estranho na ponta da língua. Eu pensava que estaria livre disso por hoje, que estaria livre disso para sempre. Mas ele parece mais um fantasma que vem e vai o tempo todo.

Os olhos de papai correm até Jungkook, de repente, cautelosos.

— Eu espero que você não se importe de nós termos um vínculo forte com a família de Haneul.

— Não me importo.

Mas ele parece sim se importar. Não com o vínculo, obviamente, Jungkook está mais incomodado por ter o nome de Haneul citado na conversa do que qualquer outra coisa. É um lance de orgulho ferido, acredito.

— É a única opção, não é? — Mamãe mia depois de um tempo, chateada. Imersa em toda uma batalha de argumentos interna. — Quer dizer, nós precisamos mesmo ir a esse evento com os Lee.

Inflo o peito, não me sentindo aliviada o bastante. É como se a qualquer instante outra ideia possa surgir e colocar em risco todo meu plano. Todo o conforto de antes, com as perguntas sendo respondidas por Jungkook de forma perfeita, sem falhas, parece ter se dissolvido no ar. Nada mais parece seguro.

Remexendo-me na cadeira de forma inquieta, passando os olhos pelos pratos sujos de comida em meio à mesa. Estou pensando em algo para dar o fora daqui, algo que nos faça desaparecer da frente de meus pais como num passe de mágica. Mais uma pergunta foi lançada a Jungkook, mas não consigo prestar atenção. Meus olhos caem, no entanto, sobre meu pulso perto da taça de cristal, eles captando sem demora alguma meu relógio.

13h45. E uma desculpa perfeita e verdadeira surge.

Sinto meu corpo reagir em choque, minhas pernas se batendo nos pés da mesa e eu me erguendo de forma desastrada.

— Nós precisamos voltar para a faculdade! — Falo exaspera, interrompendo qualquer possível assunto que esteja acontecendo, subitamente me lembrando da promessa feita a Jungkook. — Marquei uma reunião de trabalho.

— Mas assim? — A voz de mamãe é assustada, me olhando confusa de cima a baixo. — Tão de repente?

— Desculpa. — Faço um sinal claro para Jungkook se levantar, o aroma frutado tomando o ambiente assim que ele se move. Seu rosto tem um ar perdido e talvez ele também tenha sido pego desprevenido por toda a movimentação repentina. — Eu já estou atrasada, perdi o horário.

— Não querem uma carona?

Olho para meu pai, a sugestão vagando por poucos segundos sobre a mesa até eu entender que a pergunta foi realmente proferida e que precisa ser respondida.

— Não precisa.

— Tem certeza?

— Absoluta! — Eu já não estava mais aguentando todo o clima do almoço, precisar passar por isso dentro de um carro é como a morte. Inclino-me sobre a mesa e agarro o pulso de Jungkook sem pensar. — Vamos, eu vou me atrasar.

— Yerin, por que toda essa pressa? — De repente mamãe está afobada por toda nossa agitação, se erguendo e pedindo para que meu pai faça o mesmo. — Isso é indelicado. Você não pode se despedir da maneira correta?

— Eu sinto muito. — Dou um passo para trás e puxando Jungkook comigo, ele cambaleia incerto em minha direção. — Mas essa reunião é realmente importante.

— Daqui duas semanas nós temos aquele evento beneficente, não esqueça, Yerin! — Mamãe fala, as mãos se juntando contra o peito em um olhar preocupado. — É importante que você vá. E você também, Jungkook, é tradição na empresa, todos precisam estar presentes.

— Nós vamos! — Falo, sorrindo estranho por ela incluir ele de uma forma tão natural. — Obrigada pelo almoço.

Me mande mensagem quando puder!

Mas a voz de mamãe foi deixada para trás, junto a um agradecimento rápido de Jungkook a meus pais. Nossos passos no chão do restaurante são intensos, como toda a urgência que sinto em dar o fora daqui. A mudança brusca de temperatura nos pega em cheio quando paramos na calçada, nossos corpos se encolhendo automaticamente de frio.

E assim que meus olhos encontram minha mão ainda segurando o pulso de Jungkook, eu o solto de maneira abrupta. Logo percebendo que a sensação quente pela sua resposta mais cedo ainda me toma o peito em aconchego; o que me faz pensar quando exatamente eu me vi afundada na ausência de demonstração de carinho. Afundada ao ponto de me agarrar a uma resposta inventada por um namorado alugado.

Isso é patético e eu devo mesmo ter enlouquecido.

Afasto-me dele alguns passos, sua figura esguia tem um destaque bonito por entre as árvores da rua e eu me perco por um instante, apreciando a forma como ele enfia as mãos nos bolsos da jaqueta e olha para o movimento em nossa frente.

— Obrigada por hoje.

Ouço-me dizer, voltando a realidade quando seus olhos me analisam por um tempo. Eu não faço ideia do que eles dizem ou sentem, eu só sei que preciso sair daqui. Chamo um dos táxis parado na esquina de um jeito desastrado e me ocupo em pegar algum dinheiro dentro da bolsa. Sua atenção ainda está voltada para mim quando ergo a cabeça e estendo as notas em sua direção.

— O dinheiro para a corrida, — explico vendo sua testa vincada em confusão — você não vai chegar a tempo para seu compromisso se for a pé.

— E você?

Não sei ao certo se explico para ele que quero ficar longe, manter uma distância razoável, porque, de repente, o calor no coração parece intenso demais para administrar.

— Eu preciso passar em outro lugar antes.

Sua cabeça se inclina para o lado, pegando o dinheiro em desavença.

— Tem certeza?

— Tenho, pode ir.

O táxi para em nossa frente no segundo seguinte, Jungkook olhando para suas portas fechadas por algum tempo antes de avançar e abrir a que acessa os bancos detrás.

— O que você vai fazer a respeito do evento beneficente?

Ele está parado no meio do caminho, me observando. E eu me pego surpresa por isso. Dentre todas as perguntas que pensei que fosse ouvir dele, essa seria a última. 

— Não faço a menor ideia. — Digo incerta, pega desprevenida pela sua preocupação. — Tenho tempo até lá.

— Se você quiser me contratar de novo, é o dobro. — Ele aponta em minha direção como um aviso e eu me vejo levar um tapa na cara. Tão óbvio. Preocupação uma ova. — Eu não faço esse tipo de trabalho, mas eu abro uma exceção pra você. Se sinta grata por isso.

— Eu vou te pagar o dobro... — Rebato chocada. — Como eu deveria me sentir grata por isso?

— É contra as minhas regras e mesmo assim eu estou fazendo.

Solto o ar pela boca, indignada comigo mesma por ter sequer acreditado que Jungkook podia ser capaz de sentir compaixão ou empatia.

— Você está mesmo tão desesperado assim pela grana? Indo contra suas próprias regras desse jeito? — Vejo-o se remexer no lugar surpreso pela minha reação explosiva. — Eu devo mesmo ser sua melhor cliente, não é? Você deveria me tratar melhor!

Seu peito infla, inconformado.

— Você não é minha melhor cliente, eu tenho clientes melhores que você!

— Com aquele post-it horrível? Duvido muito. Nem sei como você teve coragem de colocar aquilo no edital dos dormitórios.

— Não fui eu quem fez, foi meu amigo! E foi um momento de desespero e... — Ele para de falar abruptamente quando o motorista do táxi o chama. Jungkook suspira alto, os olhos semicerrados em teimosia voltados para mim. — A próxima vez é o dobro.

— Não vai ter próxima vez.

Ele não rebate, optando apenas por entrar no veículo e bater a porta com força. Mas eu consigo ver um lampejo de riso irônico nos seus lábios, nada convencido pela minha resposta. E eu detesto ter prestado atenção em como seu nariz se enrugou como o de uma criança pelo ato.

Eu odeio Jeon Jungkook e todos os seus detalhes.

Ele abaixa a janela um último instante, os braços se pendurando para fora do carro, o sorriso cretino ainda na boca.

— O que é? — Solto brava. — Eu já te agradeci por hoje, ok? Eu sou grata, Jungkook.

— Não é isso. — Ri. — Eu só estava pensando aqui que você escapou mesmo de se casar com Haneul e a família idiota dele.

Eu não faço ideia por que esse comentário veio. Muito menos em que sentido ele veio. Bom, ruim. Eu só sei que me sinto quente de novo, ridiculamente quente e bem cuidada. Porque algo me diz que ele lembra, lembra como eu me encolhia em cada comentário ofensivo na festa de Eubin e em quão desconfortável eu fiquei na volta para os dormitórios.

E isso é ridículo. Jungkook não deveria lembrar nada, deveria esquecer tudo e voltar só a ser o perfeito babaca que ele sempre foi.

Giro os olhos por não saber mais o que fazer e dou as costas, caminhando para uma direção contrária a dele. Mas então eu paro, olhando para trás apenas para ver o táxi sumir no fim da rua e me deixar aqui, parada entre as árvores e suas flores, parada aqui e agarrada a uma demonstração de carinho que eu nunca tive.

[...]

Solto um suspiro longo, olhando para o livro aberto de Antropologia repleto de anotações e frases sublinhadas para, assim, mirar a folha em branco em minha frente, a folha que deveria ser um extenso resumo sobre a matéria. Deveria se mamãe não tivesse interrompido meus planos de passar a tarde inteira afundada em estudos intensos.

... Uma almofada cor carmim e um candelabro dourado. — Ela continua do outro lado da linha e eu não faço ideia do que ela está falando. — Cortinas bege... Não! Creme. Cortinas creme com...

Tento pescar alguma anotação importante, algo que eu possa adiantar, alguma frase para iniciar finalmente o resumo, mas eu desisto quando percebo que eu sou péssima em fazer duas coisas ao mesmo tempo. Deixo então meu corpo sucumbir mais uma vez, girando a cadeira apenas para encontrar Sorn entrar às pressas em nosso dormitório. Enquanto mamãe ainda fala, vejo-a chutar os sapatos para longe e correr até sua escrivaninha, dando um sorriso rápido em minha direção como forma de cumprimento.

Assim que seus livros vão sendo empilhados ao lado de seu notebook, eu percebo que ela precisará de silêncio. Arrependida por atender a ligação, dou uma última olhada em meu material de estudo, antes de levantar e ir para o corredor. Meus pés se enfiando em meus tênis e mamãe ainda parecendo falar sobre objetos e cores e sabe-se lá mais o quê.

O que você acha?

— Legal. — Solto cansada, minhas costas encontrando a parede do corredor vazio.

Legal? Eu perguntei se você acha melhor champanhe ou vinho e você me responde legal? — Sua voz é aguda de indignação e eu permaneço quieta em aborrecimento. — Yerin, nós não conversamos desde semana passada e quando conversamos você não presta atenção? Isso é...

— Desculpa. Eu estou com a cabeça em outro lugar.

Em que lugar, Yerin? O que é mais importante do que a decoração para o evento beneficente?

Abro a boca para lhe dizer sobre os trabalhos da faculdade, sobre as dezenas de preocupações que me rondam esse semestre. Mas eu logo me vejo quieta outra vez. Não iria adiantar, ela não entenderia. Não é como se isso fosse algo realmente importante para ela. Quando eu ganhei a bolsa de estudos na universidade, seu primeiro comentário foi “pra quê?”.

Brigou com Jungkook?

O nome sendo lançado de forma aleatória faz meu corpo se remexer involuntariamente no lugar. Um incômodo estranho na boca do estômago. Eu não o vejo desde o almoço, como também evito pensar nele desde então. A conclusão de que enlouqueci por me apegar a um relacionamento inventado me assustando ao ponto de fugir de lugares em que poderia o encontrar. Foi um momento estranho e que eu quero me manter longe.

— Não, não é isso.

Como foi a viagem dele para Busan?

Respiro fundo, a cabeça doendo nas têmporas por pura indisposição.

— Bem.

Yerin... — sua voz vem mansa e eu já me preparo para o que está por vir — Como está o namoro de vocês?

Evito soltar um grunhido. O fato de mamãe ter nos transformado no assunto principal da conversa me deixa desconfortável. Talvez me deixa mais desconfortável do que sua insistente duvida sobre nós dois. Eu sabia que isso ia acontecer, que seu interesse seria constantemente escancarado em forma de perguntas; mas não sabia que quando acontecesse eu estaria tentando superar algo que nunca nem sequer pensei que teria que superar.

— Por que a pergunta?

Porque, bem... O que foi aquela resposta dele sobre as intenções com você?

E então eu me encolho abruptamente, mamãe acertando um chute certeiro em meu calcanhar de Aquiles.

— Foi a que eu queria ouvir. — Falo sincera. — O que você esperava?

Que ele falasse sobre casamento, óbvio. Vocês nunca conversaram sobre isso?

— Conversamos. — Minto e a ideia me faz sofrer um arrepio estranho nos braços. — Nós queremos nos casar, mas estamos indo por etapas. Primeiro faculdade, depois casamento.

Isso é bobagem! — Sua vez vem afrontosa e eu ouço sua respiração pesada do outro lado da linha. — Mas ok. O importante é que você não está mais solteira. E eu gosto de Jungkook, ele é muito bonito.

Eu quero morrer. Morrer de verdade. Porque, de repente, todos os detalhes dele estão me surgindo na cabeça e eu não consigo parar de pensar nisso. Meu corpo sendo tomado por um sentimento quentinho e confortável. E isso é patético.

Você precisa superar.

Precisa. Superar.

— É. — Solto em meio a um riso estranho. — Eu preciso estudar agora, mãe. A gente conver-

Ah! Eu esqueci de te contar.

— Contar o quê?

Jisoo foi transferido para a Chung-Ang.

O sentimento que antes era quente é substituído por um frio, tão frio que eu me sinto imersa em uma banheira de gelo.

— Quem?!

Jisoo, o melhor amigo de Haneul. — Fala animada. — Hoje foi o primeiro dia de aula dele aí. Disse que os dormitórios são pequenos, é verdade, querida?

— Hm, é...

Mas eu não tenho certeza o que acabei de responder. A voz de mamãe parece distante demais agora, enquanto meu cérebro conecta a nova informação as demais. Meus ombros tremem em ritmo de zumba e eu sinto meus lábios ficarem secos de pânico.

Jisoo transferido para Chung-Ang.

Jisoo. O cara que não deixa passar nada, o cara que conta absolutamente tudo para Haneul, ainda mais coisas que envolvem minha vida. Transferido. Para. Chung-Ang.

Isso é... Puta que pariu.

Assim que a voz de minha mãe se despede do outro lado da linha e a ligação chega ao fim, eu me vejo correr em disparada até as escadas. De repente, o elevador parecendo lento demais para suprir minhas necessidades de inquietude nervosa. As solas de meus tênis fazem um barulho agudo em contato com o chão e se mescla ao som do meu teclado touch, meus dedos ágeis a procura de um contato em específico.

Pulo os degraus de dois em dois, minhas pernas tremendo e eu tendo a absoluta certeza que a qualquer instante eu vou cair. Mas eu não consigo parar, é uma urgência irritante que me toma os nervos e faz com que o desespero comande todos os meus movimentos. Aperto o telefone contra a orelha e não leva mais do que três segundos para que Jungkook me atenda.

Foda-se o lance da superação, eu preciso dele agora.

Yerin?

— Jungkook! — Minha voz ecoa e eu afasto o sentimento estranho que me pega o peito. — Eu quero conversar com você.

Não posso. — A voz parece aérea. — Estou ocupado.

— Só desça um pouco, eu estou indo para o hall!

Eu não estou no dormitório.

— Onde você está? Eu preciso falar com você! — Eu tenho plena consciência de que soo desesperada, mas não é como se eu me importasse. — Eu preciso que você pare de ser acompanhante de aluguel, que seja exclusivo meu.

O quê? Do que você está falando?

— O amigo de Haneul pediu transferência para cá, ele não pode ver seus anúncios no edital! — Quase grito, terminando mais um lance de escadas. — Você precisa tirar todos eles de lá, entendeu?

Eu não posso fazer isso, Yerin, eu ainda não arranjei dinheiro para o notebook.

— Eu pago por todos os encontros!

O quê? Eu não posso... — Pausa e eu percebo que ele parou o que estava fazendo também. — Eu nem sei o porquê eu estou respondendo isso, isso não faz o menor sentido.

— Isso é sério! Eu pago por todos os en-

Eu preciso desligar.

— Jungkook!

As escadas acabam ao mesmo tempo em que a ligação se encerra e eu me vejo sozinha no primeiro andar do edifício dos dormitórios. Tento discar o número outra vez, mas eu deveria saber que Jungkook é babaca o suficiente para desligar a droga do celular. Corro pelo corredor, passando pelas catracas e parando em frente ao edital. Meus olhos varrendo cada aviso, cada um deles em completo desespero. E levo certo tempo para encontrar, mas eu o encontro. O anúncio não é mais um post-it com escritos à mão, agora é um flyer de papel couchê fosco, muito mais agradável aos olhos. As palavras continuam as mesmas, mas agora seu nome encabeça a folha. E se o mundo não estivesse desabando nesse exato instante, eu me pegaria feliz por Jungkook ter ouvido minhas críticas.

Com um aperto estranho no peito, eu retiro todos os anúncios do edital, cada um deles. Retiro todos e os enfio nos bolsos de meu moletom. O ar saindo pela minha boca ao passo que meus olhos observam o espaço vazio no quadro de rolha. E eu sei que o que vem a seguir não é de longe a coisa mais sensata que já fiz. Como também sei que tentei fugir disso desde que a lembrança me surgiu conturbada assim que mamãe encerrou nossa ligação. Mas não existe alternativa.

Seleciono o contato em meu celular e o desbloqueio, passando os olhos pela última conversa de forma dolorosa e já arrependida.

Não existe alternativa.

 

[16h12] eu: compre o notebook

[16h12] eu: e eu saio com vc


Notas Finais


O Jungkook é babaca, todo mundo sabe disso, né? Hahahaha, mas aguardem que ele tem uma explicação pra ser tão seco e frio assim contigo.

Beijinhos

P.S.: obrigada pelos favoritos, eu fico sempre muito feliz quando recebo notificação de que alguém favoritou a história <3 <3


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