História Acordos - A falta que você me faz.

 - Você está falando sério? - Sasuke o encarou incrédulo.

- É claro que estou. Porque está tão surpreso?

- Há um mês você saiu daqui deixando ordens expressas para nos contermos e lidar com o inimigo com paciência, agora você nos propõe um ataque direto?

- Não podemos mais deixar esse homem nos ameaçando dessa forma. Não vou permitir que isso se prolongue por mais tempo.

- E como pretende fazer isso, vossa Majestade? Por acaso alguma coisa mudou desde a última reunião? Porque ainda nos vejo correr os mesmos riscos que correríamos se tivéssemos os atacado há um mês atrás.

- Muita coisa mudou, Sasuke. Eles estão mais fracos agora, se foi um mês sem abastecimento, os soldados vão estar cansados.

- Você está supondo isso, Naruto! Não podemos nos arriscar desse jeito, se quiser atacar me mostre um plano melhor do que esse.

- Porque você está me contrariando tanto?

- Por quê você não está agindo com a cabeça! Eu não tenho ideia do que te fez mudar de opinião, provavelmente algo que Hinata disse, não me importa. Mas está claro que você está buscando alguma vingança pessoal e eu não vou concordar com isso.

- Você quer mesmo me dar lição de moral sobre a busca por vingança? Logo você?

- Sim, eu vou. Sabe porquê? Por que em nenhuma das minhas vinganças eu coloquei todo um exército em risco!

- Eu não estou arriscando a vida de ninguém!

- Não? Porque você acabou de me mostrar um plano de ataque exatamente igual ao que você se recusou a usar há algumas semanas atrás porque sabia exatamente dos riscos. Porque sabia que isso seria um caos, um suicídio em massa!

- Você não entende. Eu preciso fazer isso.

- Eu entendo, Naruto. Entendo que você disse que só voltaria aqui se Hinata lhe dissesse toda a verdade que você procurou desde que a conheceu, não é difícil concluir que se voltou aqui é porque ela finalmente decidiu confiar em você e é ainda mais fácil supor que qualquer que tenha sido esse segredo, ele envolve Tatsuo. Sinceramente, não quero nem tentar imaginar o que ele fez a ela, mas mesmo sem saber da gravidade de tudo entendo que você queira vingança pela mulher que ama, eu faria o mesmo.

- Então porque está causando tanta confusão?

- Porque essa vingança é sua. Não dos homens que lutam no seu exército. Eu treinei grande parte daqueles soldados, com outra parte eu lutei todas as batalhas da minha vida, ao seu lado eu liderei aqueles homens em mais guerras do que a maioria das pessoas com nossa idade pode se gabar de ter participado, eu organizei o funeral de incontáveis pais e irmãos dos homens que hoje lutam ao nosso lado. Eu não vou deixar que os mande em uma missão suicida.

- Não é uma missão suicida!

- Então deixe que eles decidam isso.

“Quer lutar? Lute. Quer levar seus homens? Leve, mas leve apenas aqueles que querem ir. Antes de lhes dar as ordens para atravessarem aqueles portões marchando os avise de cada risco que estão correndo, conte-lhes os motivos que o estão levando a lutar e quando eles souberem de tudo, marche com quem quer marchar com você. Não se preocupe, muitos irão, porque você tem inúmeros soldados devotos a você, que dariam suas vidas sem pensar duas vezes para ter a sua aprovação, então não tenha medo de entrar nessa luta sozinho.”

“Mas avise-os. Porque se for agir com seu coração, deixe-os agirem também. Não sacrifique a vida de tantos bons homens em uma atitude mal pensada.”

“E esteja ciente de que se você não comunicar a eles tudo isso, eu mesmo o farei. Estou lhe dando a oportunidade, sua Graça. Agora com sua licença, vou dar-lhe tempo para pensar melhor no assunto.”

Naruto observou furioso enquanto Sasuke se afastava, as passadas firmes denunciavam sua irritação que ele visivelmente tentava controlar.

Frustrado o loiro caminhou até os jardins, buscando esclarecer melhor os pensamentos enquanto sentia a brisa fria vinda do norte ou enquanto apreciava a beleza das plantas selvagens cultivadas ali.

Sua cabeça estava em um turbilhão de ideias e pensamentos confusos, tudo dentro dele disputava com ideias opostas. Seus nervos pareciam querer explodir naquela batalha de sentimentos divergentes, prestes a convergir em um surto de impaciência.

Suspirou, esfregando o rosto com as mãos levemente umedecidas de suor, um sinal claro de sua confusão interna, de que não sabia o que fazer.

Por um lado, tudo que envolvia suas emoções gritava para que se levantasse e lutasse naquele exato momento, que deixar Tatsuo respirando por mais um único segundo era um erro.

Por outro, as palavras de Sasuke pesavam em sua consciência. Ele nunca havia colocado seus homens sob qualquer risco desnecessário, não se perdoaria se os lavasse para a morte certeira.

“O que eu faço?”, perguntou-se na esperança de que aquela pergunta o ajudasse a se posicionar melhor sobre suas opções, mas nada parecia ajudar.

- Algum problema aqui?

Naruto virou-se imediatamente em direção a voz, permitiu-se exibir um pequeno e breve sorriso enquanto Jiraya se aproximava e se sentava ao seu lado.

- Me diga, quando é que um rei não tem problemas?

- Quando ele vai a um bordel. Certamente não precisará se preocupar com a prostituta que pode pagar, todas elas se atiram aos pés de reis esperando conseguir algumas moedas que lhes permitam comprar mais do que podem usualmente.

- Resposta sábia.

- Mas suponho que não seja sábia o suficiente para resolver o que anda te atormentando.

- Infelizmente não.

- Conte-me a respeito e talvez eu possa ajudá-lo.

- É uma longa e complicada história.

- Então talvez eu deva agradecer por não estarmos no meio do campo de batalha agora e por termos muito tempo disponível.

Mais uma vez o loiro sorriu.

- Prepare seus ouvidos.

Depois de explicar a Jiraya tudo que tinha acontecido, todas as suas dúvidas e confusões, o loiro suspirou, pedindo que ele lhe dissesse qualquer coisa que pudesse lhe esclarecer melhor qual seria a decisão mais sábia a ser tomada.

- Eu amei uma mulher uma vez, amo-a até hoje, e por ela eu faria qualquer coisa. Mataria qualquer um. Mas Naruto, se ela me amasse apenas metade do que a amo, tenho certeza de que, por pior que tenha sido os problemas que ela enfrentou, ela jamais desejaria que eu arriscasse a minha própria vida e a vida de tantas outras pessoas por causa de uma vingança.

“Você pode vencer essa batalha e agradar Hinata, é uma possibilidade, mas a que custo? E se você se sacrificasse lá, acha que ela se perdoaria? Ou que apenas aumentaria o fardo que ela carrega?”

- Ela não teria culpa.

- Hinata não me parece o tipo de mulher que pensaria assim.

“Entendo as preocupações de Sasuke, além de Itachi a única família que lhe resta é você e aqueles homens que ele dedica quase todo o tempo para treinar. E também entendo o seu lado.”

- Eu deveria desistir?

- Não. Deveria conversar com os dois.

- E dizer o quê para Hinata? Que não sou forte o bastante para acabar com o pesadelo dela?

- Dizer que precisa de mais tempo para fazer isso do jeito certo, sem arriscar perder a vida de tantas boas pessoas, tenho certeza que ela vai entender.

- E quanto a Sasuke?

- Não há com o que se preocupar. Ele não está com raiva de você, certamente ele ficaria se você seguisse em frente com o plano, ignorando os conselhos dele, mas quando ele perceber que você pensou melhor no assunto tudo voltará para seu devido lugar novamente.

- E o que faço com Tatsuo? Deixo-o lá, nos ameaçando?

- Você é um grande militar, grande estrategista, assim como seu melhor amigo e capitão do seu exército. Lá dentro daquele castelo está o primo de sua mulher, um homem que você já constatou ser extremamente inteligente. Reúnam-se, montem um conselho de guerra e planejem. Pensem em uma estratégia que lhes seja favorável e vença essa batalha pela honra de sua mulher.

- Obrigado, Jiraya. - Naruto disse após abraçá-lo. - Posso lhe dar um conselho também?

- Claro.

- Quando vencermos essa batalha, volte para Konoha, volte para a mulher que você ama.

- Não é tão fácil assim…

- É claro que é. Acredite em mim, Tsunade o ama tanto quanto você ama ela.

- Como você sabe…?

- Que era dela que você falava?

- Sim…

O loiro sorriu de lado.

- Todo mundo sabe.

- Não está me mandando voltar para casa porque estou ficando velho, está? - Brincou.

- Jamais. Você ainda é um dos melhores soldados que tenho, homens com metade de sua idade não fazem o que te vejo fazer. E isso não foi uma ordem, foi um pedido.

“Os dias que passei em Konoha me fizeram perceber o quanto ela está sozinha, só lhe resta Shizune… Esse pedido acaba sendo principalmente por causa dela. Vocês dois me criaram como filho, torço para que finalmente se tornem um casal.”

- Eu torço também, criança.

Dias após a conversa com Hinata, Neji finalmente decidiu conversar com Tenten. Pediu para que a chamassem até a biblioteca, como se fossem ordens de Hinata. Escondeu-se até que ouviu a porta sendo aberta.

Pelos pequenos espaços entre os livros a viu confusa procurando pela rainha e sorriu. Ela era linda.

- Hinata? - A morena deu alguns passos cautelosos, sem conseguir encontrar a mulher que procurava.

- Acho que ela está um pouco ocupada agora. - Sussurrou ao ouvido dela.

Tenten sequer o ouviu se aproximar, o que não era uma surpresa. Neji era silencioso, como um gato.

- O que está fazendo? - Virou-se para ele e imediatamente concluiu que havia cometido um erro. Seus rostos estavam a milímetros de distância. Ela sentia a respiração dele chocando-se com a sua, o hálito quente em contato com sua pele enquanto ele abria a boca para falar.

- Eu precisava conversar com você.

- Pensei que já tivéssemos concluído todos os nossos assuntos.

- Percebi que não.

- O que você quer?

- Quero que ouça com atenção as minhas próximas palavras.

- Estou ouvindo. Diga rápido, antes que eu mude de ideia.

- Eu amo você. - Neji a viu franzir a testa, confusa, mas antes que ela dissesse algo ele colocou o indicador sobre seus lábios. - Me espere terminar.

“Eu amo você, mais do que eu consigo expressar. Eu sinto sua falta todos os dias, sinto falta do seu corpo, da sua boca, de poder beijar você. Sito falta da sua risada, um dos sons mais agradáveis que já escutei; sinto falta das suas piadas sem graça que sempre me fazem sorrir; sinto falta de seus comentários indiscretos que me deixam com vergonha e admirado por sua ousadia. Sinto falta do homem que eu sou quando estou com você, sinto falta das coisas que você me faz sentir. Sinto falta de ver a mulher delicada e frágil que eu sei que você é quando o assunto é nós dois ou a sua vida. Sinto falta de ver você corada, com vergonha. Sinto falta de tocar em você, na pele mais macia que eu já toquei.”

“Eu sinto sua falta, Tenten. Sinto tanto que machuca e machuca porque eu te amo.”

Quando terminou a viu tentando conter as lágrimas.

- Do que adianta me amar assim se você não se permite viver isso comigo? Ficar comigo? - A voz entretanto, estava visivelmente embargada.

- Nada. Por isso estou disposto a mudar.

Neji tirou uma pequena joia do bolso e se ajoelhou diante da mulher que amava.

- Mitsashi Tenten, aceita se casar comigo?

A morena sentiu-se parar de respirar por alguns segundos, antes de deixar as lágrimas caírem livres e ceder sobres os joelhos o abraçando.

- É tudo o que eu mais quero. - Respondeu o mais firme que pôde. - Eu amo você.

Neji se afastou, colocando o anel delicadamente no dedo dela.

- Eu amo você.