História Acordos - Perdas e Descobertas.

Desde muito novo Naruto viu muitas das coisas que amava se perderem diante de seus olhos, viu pessoas importantes sendo roubadas de sua vida sem nenhum aviso ou explicação, por isso, sempre que a situação parecia querer se repetir, uma fúria incontrolável o dominava.

Lutando ele era uma pessoa perigosa, com raiva ele era um perigo fatal.

Depois de passar alguns segundos olhando para o chão, metros abaixo da sacada onde estava, ele finalmente respirou fundo, os ombros relaxaram ao constatar que aquele homem, quem quer que fosse, já estava ardendo no mais profundo inferno naquele momento.

Quando se virou, Hinata viu todo o resquício de ódio que ele possuía nos olhos, deixando os lindos orbes azuis adquirirem um tom quase avermelhado. Embora a distância entre os dois fosse curta, ele correu até ela e abraçou, como há muito tempo não abraçava alguém.

A morena chorava e seu corpo disparava intensos tremores frequentemente, o que o deixou em um estado de alerta e preocupação.

- Está tudo bem, Princesa. - Ele beijou o topo de sua cabeça, delicadamente. - Eu estou aqui. Vai ficar tudo bem, querida.

Naruto ergueu os olhos para os homens que pararam na porta do quarto.

- Senhor? O que aconteceu aqui? - Sasuke era quem falava.

- Alguém invadiu o quarto e tentou matar a princesa. Já dei um jeito em quem fez isso, mas, com certeza, ele não estava sozinho. Vasculhem todo o palácio em busca de suspeitos, quero-os vivos para interrogatório, mas não exitem em usar violência se necessário. Tranquem os portões do castelo, não quero que ninguém saia e certifiquem-se de que estão todos bem.

- Sim, Senhor. - O moreno começou a dar as ordens e rapidamente os homens começaram a se espalhar.

- Você e você, - Naruto apontou para dois dos soldados que ainda não tinham saído - fiquem com a princesa, mantenham a guarda e não deixem entrar aqui ninguém que não seja de confiança. Eu vou atrás do resto dos desgraçados que tentaram entrar aqui.

Ele a soltou, mas assim que deu um passo sentiu a morena segurar em seu braço. Ao se virar ela não lhe disse nada, apenas fez um movimento de negação com a cabeça e se desfez em lágrimas novamente.

A raiva que ainda sentia deu espaço para o desejo de ficar ali e protegê-la pela dor que sentiu ao ver tantas lágrimas escorrerem por aqueles olhos que tanto o fascinavam.

O loiro suspirou.

- Montem guarda lá fora e fechem a porta.

Imediatamente suas ordens foram seguidas e ele a encarou por mais alguns segundos antes de se sentar na cama, colocando-a sobre seu colo e delicadamente afagar seus cabelos.

- Não me deixe aqui sozinha. - Sua voz era menos que um sussurro.

- Não vou. - Ele a puxou ainda mais contra si. - Me desculpe por não ter estado aqui para te proteger.

A morena apenas negou, envolvendo o pescoço do marido com os braços finos.

- Você estava, e você me protegeu.

- Você está bem? - Perguntou após alguns minutos de silêncio.

- Agora estou. Obrigada pelo que fez…

- Eu disse que qualquer um que tocasse em você não viveria para tocar em outra coisa. Costumo cumprir com minha palavra.

- Eu sei que sim.

A voz de Hinata já estava mais firme e os tremores pararam, as lágrimas secavam em seu rosto e só então Naruto sentiu-se realmente aliviado.

- Você deveria dormir um pouco.

Cansada ela assentiu e delicadamente ele a deitou na cama, estavam próximos um do outro e, ao final do processo, seus olhos encontravam-se em uma intensa transmissão de sentimentos mistos. Os dela expressavam gratidão, os dele, alívio por tê-la viva.

- Vai ter que me desculpar mais uma vez pelo que vou fazer, Princesa. - A voz do loiro era um sussurro rouco.

- O que você vai…

Antes que terminasse foi interrompida por um beijo, inicialmente um encontro suave de lábios que tornou-se algo mais urgente, uma necessidade de adquirir a certeza de que estavam ambos bem, de que o pesadelo daquela noite não os havia afetado.

Mas havia.

Daquela vez ela o correspondia com tanto desejo quanto ele pedia, puxava-o para si na tentativa de se sentir segura de novo enquanto seus corpos buscavam um jeito de se manterem mais próximos do que haviam se permitido nos últimos dias. Naruto sugava seus lábios com tanta força que ela tinha certeza de que estariam inchados, mas não se importou porque era a primeira vez que sentia aquilo em muito tempo.

Suas línguas disputavam território dentro de suas bocas, vasculhando todos os esconderijos que poderiam encontrar, buscando conhecer melhor e intimamente cada parte da boca e lábios um do outro.

Nenhum dos dois possuía mais controle sobre o que estava acontecendo, sobre seus desejos, mas como sempre, nada parecia cooperar para que finalmente se unissem em um só.

As batidas na porta foram urgentes e Naruto bufou ao sair de cima da morena e pedir para que, independente de quem fosse aquele ser inconveniente, entrasse.

- Senhor. - Um de seus soldados, embora constrangido pela situação que obviamente interrompera, chamou firme - Temos um problema.

“Quando é que não temos? ”, Naruto pensou em silêncio antes de se levantar apressadamente da cama.

- Diga.

- Muitos rebeldes estão tentando passar pelos portões, é um ataque. Ainda estamos vasculhando o castelo em busca de outros invasores, mas muitos dos nossos homens estão cansados da última batalha ou estão na cidade.

O loiro esfregou os fios loiros antes de suspirar pesadamente.

- Mantenha guarda ao lado de Hinata e não deixe nada se aproximar dela.

Checou a espada na bainha e começou a andar.

- Aonde você vai? - Hinata perguntou sem esconder sua preocupação.

- Descontar em alguém minha frustração. Se é que você me entende. - Ele lhe dirigiu um sorriso malicioso, deixando-a corada, e saiu rumo às suas novas vítimas.

Hinata se manteve deitada, pensativa.

“Estou ficando louca.”

A que ponto deixaria sua relação com Naruto chegar? O que teria feito se aquele guarda não os houvesse interrompido? Não poderia deixar-se levar pelas reações imediatas que o Uzumaki provocava em sua mente e seu corpo, mas também não poderia ignorar o fato de que dali por diante tudo seria diferente.

Aqueles minutos haviam provocado mudanças em ambos, descobertas que nenhum deles queria fazer.

Mas, naquele momento, ela só podia torcer para que ele voltasse sem nenhuma complicação.

Fechou os olhos e dormiu.

 

 

 

- Alteza?

A voz não era conhecida o que a fez despertar ainda mais rápido e alerta.

Um homem com a armadura do exército de Naruto estava parado à sua frente, com expressão solene.

- Onde está meu marido?

Os olhos de preocupação do soldado a fizeram pensar imediatamente no loiro, algo não estava certo e só podia ser com ele.

- Naruto está sendo tratado pelos seus mestres, acabou se ferindo na luta.

- Ele está bem?

- Vai ficar.

Hinata se levantou imediatamente, pronta para ir atrás do rei quando se ouviu ser chamada mais uma vez.

- Senhora, temo que não possa ir vê-lo agora.

- Do que está falando? É claro que eu posso, eu sou a princesa e ele é meu marido!

- O conselho pede uma reunião urgente.

- Foda-se o Conselho.

O homem suspirou.

- Seu pai está morto.

Hinata estancou imediatamente.

- O que disse? - Sua voz era calma, resultado de uma incredulidade absurda.

- Seu pai… Um dos rebeldes o atacou. Naruto tentou salvá-lo mas não conseguiu chegar a tempo… Eu lamento muito.

Os olhos da morena, mais uma vez naquela noite, inundaram-se em lágrimas pesarosas e sem se importar com quem pudesse vê-la naquele momento, chorou tão profunda e desesperadamente quanto seus pulmões permitiram.

Seus joelhos não resistiram a seu peso e ela caiu no chão, o soldado imediatamente se prontificou a ajudá-la, mas ela apenas se desviou de seus braços.

- Saia daqui! - Bradou com o fôlego que ainda lhe restava.

- Mas senhora…

- AGORA!

- Sim, senhora.

Com uma reverência perfeitamente executada ele deixou o quarto.

 

 

 

- Sasuke, eu tenho que ver Hinata. Saia da minha frente.

- Você não vai sair daqui, Majestade. - O moreno era impassível. - Ainda precisa ser tratado. De nada vai servir ir até ela e mal suportar ficar de pé. Você só será mais um peso nesse momento.

- O pai dela está morto porque eu não consegui protegê-lo, devo ao menos um pedido de desculpas!

- Ele não está morto por sua causa. Ninguém conseguiu ajudá-lo, você não era o único responsável pela segurança do castelo e graças às suas medidas muitas outras vidas foram salvas. Agora pare com essa sua maldita mania de colocar as responsabilidades de tudo em cima de seus próprios ombros. Você não pode carregar o peso do mundo, Naruto!

- E o que você quer que eu faça?

- Quero que fique deitado aí e me ouça.

O loiro bufou.

- O quer me dizer?

Atento o moreno olhou ao redor, certificando-se de que ninguém estaria ali para ouvi-lo.

- Eu fiz o que você me pediu, investiguei o passado de Hinata e lamento lhe informar, não consegui praticamente nada.

- Então?

- Então que eu já estava desistindo até que finalmente descobri que sua adorável esposa já foi noiva antes.

- Como? Por que eu não sabia disso?

- Ao que me parece, Hinata já havia se comprometido com um outro príncipe, Otsutsuki Toneri. Ele era um cara compreensível, bonito, calmo e um monte de outras coisas segundo ouvi… Até que no dia do casamento ele abriu os portões da cidade para seu exército, sobre o pretexto de deixar seus homens participarem da festa, e então eles atacaram o reino.

“Toneri tentou levar Hinata mas foi impedido por Inuzuka Kiba, o capitão do exército de Mun, que na época ainda existia. Ouve quase que uma guerra dentro da própria cidade e foi aí que Hinata perdeu praticamente todo o seu exército, embora tenham conseguido expulsar os homens de Toneri.”

Naruto pensou no assunto por alguns segundos.

- Onde está esse Kiba? Quero falar com ele.

- Receio que não possa, Majestade. Kiba morreu protegendo Hinata.

- Ele deveria ser muito fiel à ela…

- Mas parece que sua alteza não se importou tanto assim.

- O que quer dizer com isso?

- Houve uma cerimônia celebrando o heroísmo dos soldados mortos, Kiba foi o principal homenageado. Hinata não participou da homenagem.

- E o que ela alegou para não participar disso? O Conselho certamente não aprovaria sua ausência sem nenhum motivo.

- Ela disse que ficaria com o pai, Hiashi foi ferido na batalha.

- E Hinata estava cuidando dele?

- Não, claro que não. O rei estava sob o cuidado de seus mestres, ninguém arriscaria perdê-lo.

- É claro. Mas ela ficou mesmo todo o tempo com o pai?

- Isso eu não sei lhe dizer. Está desconfiando de alguma coisa?

O loiro se posicionou melhor na cama.

- Acho que há mais nessa história do que sabemos.

- Posso continuar a investigação.

- Não. Eu faço isso. Como conseguiu essas informações?

- A maioria com uma garota que trabalha aqui. Mulheres falam com facilidade quando você sabe que método usar com elas.

Naruto sorriu.

- Acho que não tive essa sorte com Hinata.

- Pode ser que tenha, depois que começarem a dormir na mesma cama.

O loiro deu de ombros.

- O que essa garota faz aqui?

- Ajuda no cuidado dos feridos, aprendendo com os mestres.

- Mande-a para mim, diga que estou precisando de ajuda.

- Naruto…

- Relaxe, não vou pegar seu brinquedinho.

- Ela não é um brinquedo.

- Nas suas mãos? Todo mundo é.

- Pode ser que isso mude. - Deu de ombros.

- Está mesmo gostando dela? - Perguntou surpreso.

- Ela é uma boa pessoa… E não me olhe assim, nós dois sabemos que você sempre foi um galinha vagabundo que vivia trocando de mulher toda noite e agora só pensa na Hyuuga.

- Como é bom saber que sou respeitado por meus soldados.

- Eu sou seu amigo e você é um idiota.

O loiro riu.

- Mas você bem que me acompanhou em muitas das minhas idiotices.

- Estou te acompanhando nessa também. A maior burrice de todas… Se apaixonar.

Com um suspiro, o rei de Konoha apenas assentiu. Afinal, era hora de admitir, havia se apaixonado.