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História Acorrentados - Entrega


Escrita por: DesnecessauraMM

Notas do Autor


E chegamos ao fim!

Primeiramente, gostaria de agradecer ao apoio até aqui. Não pude fazer dedicatótias para todos, mas espero ter correspondido ao carinho através da escrita.

Agradeço por quem favoritou, comentou, avaliou, opinou e até quem apenas adicionou a biblioteca. O alcance dessa fanfic foi surreal, nunca pensei que chegaria a isso.

São mais de 100 favoritos! Obrigado <3 Muito comentários dizendo que era a melhor fanfic, muita gente dizendo estar encantada, nem tenho palavras para agradecer.

Peço desculpa pelos erros (vou revisar toda história e corrigir), é muito ruim escrever pelo celular. Peço desculpa peloa atrasos e por não corresponder as expectativas.

Tenho muito a aprender e espero que vocês voltem a me acompanhar nas próximas histórias RivaMika, esse casal foi uma surpresa para mim, nunca pensei que me acharia tão bem escrevendo sobre eles.

Obrigado por terem esperado uma semana para ler o último, boa leitura e desculpem os erros! Que lindo, cara <3

Capítulo 21 - Entrega


Fanfic / Fanfiction Acorrentados - Entrega

Nunca pensei que algo iria ser tão forte que me faria simplesmente desistir de tudo e não ver problema nenhum nisso. Eu não me importava com mais nada.

Haviam passado duas semanas e eu mal saía do quarto, queria apenas ficar deitada. Eren sempre aparecia e tentava me animar, mas era em vão. Eu estava totalmente quebrada.

Alguns agentes do FBI vieram a minha procura, dizendo precisar do meu depoimento para um processo aberto na corregedoria, só que neguei qualquer informação. Não iria me envolver em simplesmente nada.

Outra coisa difícil foi o dia que chegamos em casa de madrugada, minha mãe ficou desesperada ao ver a minha situação. Não tive coragem de olhar para ela, meu irmão contou tudo e a reação dela foi esperada: repúdio total a aquele homem.

- Nunca vou perdoar o que ele fez a você, Mikasa. - Falou assim que entrou no meu quarto, enquanto eu lia. - Ele deveria ser o exemplo, não induzir uma jovem a isso.

- Mãe, por favor, não é hora -

- Ela é a minha filha, Eren. Eu nunca vou deixar de protegê-la.

Eles conversavam e eu continuei lendo, sem me importar com isso. Desde que voltamos era isso, eles discutiam como se eu não estivesse ali.

Meu coração não estava.

(...)

Um mês depois eu já estava melhor, mas procurava não pensar muito no que havia acontecido. Usava as tarefas domésticas para me distrair e gastar energia, pensando em entrar numa academia para não sair de forma.

Num sábado minha mãe teve a ideia de fazer um almoço entre vizinhos, com o intuito de me fazer voltar a socializar com as pessoas. Pediu para que eu fosse até o mercado, foi a primeira vez que saí de casa em todo aquele tempo.

A minha aparência estava melhorando, a cor apática do meu rosto dava espaço ao rubor natural. Meu cabelo estava bem maior que o normal e as olheiras já haviam sumido.

Estacionei o carro, entrando no mercado que estava lotado. Peguei tudo da lista, passei no caixa e voltei para o veículo. Assim que abri o porta-malas senti alguém atrás de mim, posicionei a chave entre os dedos, pronta para atacar.

- "Usar qualquer coisa como arma." - Falou uma das primeiras lições da academia militar.  - Impressionante.

- Não, não é. - Virei e encarei a pessoa. - Colocar em prática o que aprendemos na academia sem autorização é quebra de juramento. Mas, com certeza, você sabe disso.

- Impressionante, Mikasa Ackerman. - Estendeu a mão para mim. - Você é realmente tudo o que me falaram.

- Senhor...? - Apertei sua mão, um pouco incerta.

- Não posso revelar meu nome, mesmo que tenha vontade de fazê-lo. - Pôs as mãos no bolso. - Você é um talento nato.

- Se sabe o meu nome, sabe da minha desistência da carreira militar. Talento não define capacidade para executar quaisquer carreira, mas foi um prazer falar com o senhor.

- Espere. - Segurou meu braço. - Você sabe o motivo de todos os jovens, assim que terminam a academia da PM , terem como primeira opção o FBI?

- História?

- Ingenuiadade. - Arqueei a sobrancelha. - Por isso, talentos como você não se encaixam lá. É algo tão certinho que esquecem do que realmente importa: êxito ao proteger a nação.

- Onde o senhor deseja chegar?

- A CIA não se importa em sujar as mãos, pois, muitos de nós, já têm as mãos sujas. Lá o nosso passado não importa e sim o que estamos dispostos a fazer. Acha que poderia se adaptar a isso, Ackerman?

- Não. Estou oficialmente afastada de qualquer atividade do tipo. - Me estendeu um cartão.

- Você sabe que não tem talento para uma vida civil, mas irei respeitar sua decisão. Me ligue se mudar de ideia. Obrigado pela atenção.

Saiu caminhando e eu olhei para o cartão preto com um número prateado. Entrei no carro e dei a partida, jogando aquele pedaço de papel na bolsa. Não seria fácil fugir do meu passado.

(...)

Depois de um tempo eu comecei a trabalhar em uma das floriculturas da família de Annie. Eu fazia buquês, cartões, cartas. Enfim, era uma faz tudo.

Era difícil ver homens apaixonados, falando palavras uma por cima da outra, expressando um amor intenso para suas amadas, pedindo dicas para conquistar uma moça bonita do trabalho ou pedindo algo para esconder uma aliança.

Tudo isso me fazia lembrar de Levi. Quase três meses se passaram e eu nunca mais tinha o visto, provavelmente já estaria noivo de Ral ou até casado, doía só de pensar.

O dia dos namorados estava próximo e as encomendas, estoque e pedidos estavam a mil por hora. Eu tinha que aguentar algumas piadinhas de alguns clientes que vinham encher meu saco, mas também era divertido.

Eu estava no sotão usado como depósito e ouvia a toda hora o sino na porta, indicando o movimento. O pai de Annie, senhor Augusto, estava no atendimento, enquanto eu pegava mais cartões.

- Mikasa, preciso de você!

- Já vou! - Desci as escadas e encontrei o senhor de meia idade. - Vamos trocar?

- Não, tem um pedido de cartão. Vou buscar fitas e o remédio para as flores, o calor pode afetar muito elas, estão no carro. - Assenti e fui para a frente da loja.

Em todo esse tempo nunca me senti mais fraca do que naquele momento. Estava com uma barba, aparentando não fazer há algum tempo. O cabelo também estava maior, ele parecia mais forte, olhando em volta.

Fiquei um tempo parada, sem conseguir dar nenhum passo. O olhar dele finalmente caiu sobre mim e eu quis correr. Não me importei com o que tinha acontecido, dei alguns passos e parei na frente do balcão.

- Bom dia, o que deseja? - Não o encarei novamente, mas vi ele por as mãos sobre a madeira.

- Gostaria de um arranjo daquelas flores. - A voz dele estava muito rouca, mas seu cheiro ainda era o mesmo.

- Tulipas. - Abri uma nova compra no caixa. - O que mais?

- Talvez um cartão. - Peguei a caixa com os papéis decorados.

- Temos vários tipos. - Subi o olhar no seu corpo e vi vários curativos. - Escolha um, vou pegar uma caneta.

- Não. - Engoli o seco. - Preciso de algo maior.

Respirei fundo para tentar olhar novamente para o seu rosto, então encontrei com seus olhos. A cara de tédio que eu sempre amei estava ali, só que ele me olhava de um jeito diferente.

- Uma folha?

- Sim. - Peguei outra caixa e coloquei em cima do balcão. - Aqui está.

Ele passou algumas e escolheu uma branca com detalhes dourados. Coloquei a caneta sobre a folha e virei as costas, só que parei ao ouvir sua voz.

- Espere. Preciso da sua ajuda.

- Desculpe, senhor. Preciso atender os outros clientes. - O senhor Augusto surgiu dos fundos, com algumas sacolas em mãos.

- Senhor, sua funcionária poderia me ajudar a escrever uma carta? - Olhei para Augusto.

- Oh, mas é claro! Mikasa tem uma mão dos anjos! - Acenou e eu voltei para sua frente, sem coragem de observar sua expressão.

- Não precisa de mim, para nada. - Sussurei.

- Minha caligrafia não é boa. - Virou o papel para o meu lado. - Posso começar?

Apertei os dedos, sentindo minhas pernas ficarem fracas. Eu estava segurando para me manter firme, sem esquecer o meu profissionalismo. Era apenas um cliente.

- Destinatário? - Firmei a mão na caneta.

- Pirralha. - Gelei.

- P - Pode. - Puxei o ar. - Pode começar.

"Eu não sabia como te encarar novamente e entendo que você não suporte olhar para mim, só que eu precisava falar com você, uma última vez.

Te devo tantos pedidos de desculpas, mas quero que saiba que os dois meses, quinze dias, treze horas e vinte minutos que passei sem te procurar foram impossíveis de evitar, já que eu fiquei preso, aguardando o julgamento contra os crimes contra você. Sim, você deve achar que foi merecido, talvez seja.

Aquela noite, aquelas palavras, aqueles atos, tiveram um motivo. Sua vida e segurança foi ameaçada, inclusive sua carreira, pensei que isso era o que importava, então aceitei a chantagem daquela pessoa, com a condição de te deixar em paz. O que não aconteceu, já que com a sua desistência, eu não tinha mais motivos para aceitar aquilo.

O primeiro mês que passei na cadeia foi duro, as possíveis condenações eram grandes, mas pude provar que você foi obrigada a se envolver comigo, livrando o seu nome e de seu irmão. Você está, oficialmente, apta para voltar para a academia e voltar para o treinamento do FBI e, dessa vez, você não me terá por perto para te atrapalhar.

Após eu me delatar, também delatei os culpados para a corregedoria e estamos todos sendo investigados, com tornozeleiras eletrônicas e proibidos de sair da cidade. É estranho, mas suportável.

O que não é suportável é ficar longe de você, descobri isso um pouco tarde, porém ainda é de verdade. Você, garota, fez com que eu lembrasse que sou feito de carne e osso, não importa o que eu sempre me considerei, eu sou eu mesmo apenas se você estiver por perto.

Estou falando com você desse modo por dois motivos: você não me ouviria se tivesse que te olhar nos olhos para falar com você, me xingaria e choraria descontroladamete, eu sei muito bem disso; o outro motivo é medo de falar com você e, mesmo assim, você não escutar. Tenho certeza que irá escutar através dessa carta.

Minha mãe faleceu há um mês, fazendo outra manta para mim, ou melhor, para nós. Ela era tudo o que eu achava que tinha, foi aí que eu percebi que tenho você e é por você que estou fazendo esse papel de idiota. Eu sou sem graça, como você mesma disse.

Não vou parar de procurar por Kirstein, eu vou achar ele para você. Todos os dias que passei sem falar com você serão recompensados, pois escrevi cartas para aliviar a falta que você me faz, vou te entregar todas elas.

Também entendo se você não quiser me perdoar, entretanto, não vou desistir de estar com você. Naquele dia, você disse para eu não me afastar e nem te afastar, prometo que iriei manter isso. Para sempre.

Finalmente, depois de ter decorado todo esse texto, posso falar o que você significa para mim. Peço que leia como se a minha voz que te falasse isso, mesmo que você não queira.

Você é a minha confusão. A única bagunça que eu não pude arrumar com a minha mania de limpeza, a única que valeu a pena deixar para depois. Todas as lembranças suas estão comigo, eternamente, independente dos nossos caminhos daqui para frente.

Você foi a minha curiosidade para descobrir o limite de uma petulância de alguém tão irritante. Você não é perfeita, nem de longe, acho que é por isso que estou aqui.

Não acreditava em destino até entender os meus sentimentos por você, antes eu pensava "Como eu queria matar aquela pirralha". Acho que ainda não acredito completamente nesse cara, mas ele tem o meu reconhecimento por me dar você.

Sempre pedi por explicações para entender cada detalhe seu. Sua imprudência foi a minha, já que quando você corre risco, eu também corro. Eu daria a minha vida pela sua.

As sensações que você me fez sentir, fez também com que eu me desse um aviso próprio "Nunca mais tire os olhos dessa garota". Falhei nessa parte, como em muitas outras.

Você nunca foi minha propriedade, como eu sempre imaginei. Você significou minha resistência nessa merda toda, minha descoberta, minhas palavras - acho que isso foi a melhor coisa que já escrevi, tecnicamente -.

Você nunca foi apenas fantasia, foi uma escolha inconsciente. Você foi a autora das minhas melhores memórias, sua permanência lá era inevitável. Agradeço por isso.

Enfim, você foi a minha única verdade. Quando me entreguei não pensei em ninguém além de você, apenas pensei no seu sorriso e nos seus olhos, foi quando eu pensei "Vale tudo por ela".

Ironicamente, você trabalha numa floricultura e vim atrás de flores. Finalmente te ouvi e vou dar um pouco de vida para a minha casa. Vou comprar algumas sementes e aprender a cuidar de algo além de mim.

Não espero que você sorria e esqueça tudo que fiz a você. Fui tão covarde por deixar você se apaixonar por mim e não ter coragem de falar que eu também estava apaixonado por você. Espero apenas que você acredite nessa carta e, um dia, possa sorrir mais uma vez para mim.

As portas da minha casa estão abertas para você, assim como minha vida e o meu coração, essa é a minha entrega. Enquanto isso, me contento se você ser a cor que falta em mim. Acho que deu para entender, certo?

Mikasa, sempre tive medo de falar o seu nome por receio de me afeiçoar e fui tolo, já que apenas de te chamar de pirralha permiti sua chegada sem saída prevista. Obrigado por tudo, Ackerman, você é a melhor parte de mim.

Com amor, Levi."

Não consegui fazer mais nada quando ele terminou de falar, as minhas lágrimas começaram a cair desde que ele citou o primeiro parágrafo. Minha letra ficou tão torta no final da carta que nem eu conseguia ler.

As pessoas no lugar também choravam, comentando o quão sortuda devia ser a dona do coração daquele homem. Ele puxou a folha e dobrou, colocando no envelope.

- Acho que está pronta. - Não tinha força para olhar para ele. - Acha que é o suficiente?

Coloquei a caneta sobre o balcão, finalmente olhando dentro dos seus olhos. Ele esperava que eu falasse algo, eu também, só que eu não formava nada na minha mente.

- Você devia ter escrito. - Falei, antes de virar as costas e ir para os fundos.

Sentei na ponta da escada, tentando controlar a vontade de gritar de tanta coisa que eu sentia naquele momento. O meu patrão apareceu na minha frente e eu limpei o rosto.

- Vá para casa. - Sorriu.

- Não, estou bem.

- Não, Mikasa, vá para casa. Aquele cliente comprou todas as flores da loja, todo o estoque, até o último bombom. - Olhei para ele, incrédula. - Não temos mais nada para fazer aqui. Até amanhã, minha jovem.

(...)

Eu recebi setenta e seis cartas numa caixa, correspondente aos dias que correram depois daquela noite. Recebi a carta que eu mesma tinha escrito e muitas flores.

Ele comprava todos os dias nosso estoque diário, ou seja, eu chegava no trabalho, recebia minha comissão - de cada flor que ele comprava - e voltava.

Demorei três dias para ler a primeira carta e depois li todas naquele dia. Eu não conseguia parar. Reli mil vezes a carta que ele me obrigou a escrever e as cartas diárias que ele escrevia. Eu nunca o senti tão perto, mesmo estando separados.

Minha mãe não gostou disso, falou que eu não deveria aceitar mais aquilo, só que eu não podia simplesmente fingir que o tinha esquecido. Levi era o único no meu coração.

Eren voltou para a academia, eu o apoiei totalmente. Jean não deu nenhum sinal, mas eu nunca desistiria dele. Não importa onde ele estava, como estava ou qualquer outra coisa. Eu o acharia.

Minha mãe entrou no quarto com a sétima carta, completando uma semana desde o dia que ele se declarou para mim. Peguei o envelope roxo - ele mudava a cor todos os dias - e segurei com firmeza.

- Filha. - Sentou na cama. - Tenho um pedido para você.

- Pode falar, mãe. - Passou a mão no meu cabelo.

- Você precisa acabar com isso. Não é saudável para você, ele nunca foi. Isso é algo passageiro e você vai esquecer isso, só que ele tem que sumir da sua vida. É o melhor para você.

- Você acha?

- Tenho certeza. - Beijou minha testa. - Pegue essas cartas, as flores que chegaram hoje e dê um basta nessa situação. Doe as flores e se livre das cartas, você não vai mais passar por isso.

Assenti e ela saiu. Olhei para o meu quarto, que não tinha mais espaço para nada, vendo a minha situação atual. O envelope roxo iria representar o fim dessa situação, eu não receberia mais nenhuma carta dele.

[…]

Eu já não estava com a consciência tão pesada. É claro, nada que eu tenha feito para diminuir o que aconteceu aquela noite iria apagá-la totalmente, mas era o início.

Escrever para ela era um pouco complicado, já que eu tinha que preencher, ao menos uma folha, com a minha rotina. Às vezes, era apenas sentar na minha varanda e esperar qualquer sinal de Mikasa.

A maior parte do tempo eu cuidava das flores, procurando sempre um espaço para por mais um novo jarro. O meu quintal tinha se transformado numa verdadeira horta e o meu jardim estava sendo o meu foco principal.

Presenteei todos os vizinhos com flores, mudas e sementes. Aos poucos, aquele condomínio ganhou um pouco de Mikasa em todos os lugares, assim como minha vida.

Eu não estava me sentindo um lixo completo. Interagir com ela, mesmo não respondendo nenhuma das cartas, me fazia me sentir vivo. Além disso, tive uma atitude que me fez entender um pouco desse sentimento.

"- Levi? - Falou assim que abriu a porta do seu apartamento. Ela estava acabada, por dentro e por fora.

- Oi. - Estendi a cesta para ela. - Trouxe isso para você.

- Eu não entendo. - Ali tinha um buquê de flores, caixa de chocolate, uma carta e nossas alianças. Seus olhos encheram de lágrimas ao analisar tudo que havia ali. - Por quê?

- Se, um dia, Mikasa me perdoar, quero merecer esse perdão.

- Eu... Por quê?

- Mesmo que você não mereça, mesmo que você tenha sido o pivô de nunca mais ter ela comigo, mesmo que não esteja arrependida. - Respirei fundo. - Eu te perdoou.

- Eu não entendo. O Levi que eu conheci a tantos anos nunca agiria assim, nunca pediria perdão, nunca... - Chorou um pouco. - Você não é o homem por quem eu me apaixonei.

- Não, não sou. - Acenei e voltei. - Espero que encontre tudo o que você procura, Petra.

- Você encontrou? - Parei, voltando a olhar para ela.

- Encontrei."

Depois de regar todas as plantas de dentro e de trás da casa, fui em direção ao jardim. Eu já tinha tudo planejado para como eu queria fazer para que aquele pedaço de terra ganhasse vida.

Sentei, traçando os últimos detalhes na minha folha. Meu coração foi a mil ao ver um carro branco parar na frente da minha casa. Fiquei imóvel até ver o pé dela pisar no chão.

Usava um vestido florido e uma sapatilha vermelha. Os olhos estavam escondidos por um óculos escuro e uma bolsa pendurada no braço. A carta correspondente ao dia anterior era massacrada entre suas mãos.

- Não. - Falou assim que fiz menção de levantar, sentei novamente. - Você me obrigou a te ouvir e eu o fiz, sem ter para onde correr. Agora, você vai ouvir tudo o que você merece.

Assenti e ela rasgou a carta, ainda lacrada, já mostrando o motivo de estar ali. Toda a minha esperança de um possível final feliz entre nós dois começou a acabar.

- Sua caligrafia é realmente horrível. Não me admira que você tenha pedido para eu escrever aquela carta.

- Sim.

- Você não pode mandar mais nada para a casa da minha mãe. Eu trouxe tudo o que você enviou, para nunca mais voltar. - Perdi o ar por alguns segundos. - Nada.

- Entendo.

- Quando eu tinha quartoze anos a minha primeira menstruação desceu, mas não era normal. Vinha de cinco em cinco meses, ou num intervalo maior. - Fiquei confuso. - Comecei a sentir muitas dores e o médico recomendou que eu tomasse um remedio para secar minhas trompas, para evitar possíveis riscos a minha vida. Por isso não posso ter filhos.

- Você não pre -

- Calado. - Uma lágrima escorreu e ela limpou rapidamente. - Tenho memória fotográfica, ou seja, decorei tudo o que você escreveu, mas continuei lendo e relendo suas cartas, para me sentir perto de você.

Finalmente levantei, dando alguns passos na sua direção. Ela fez um sinal para que eu parasse a um boa distância dela. Jogou a bolsa no chão.

- Tenho medo do escuro. Não medo do escuro e sim das lembranças que tenho dele, não me faça passar por isso.

- Não vou.

- Minha mãe mandou eu acabar com isso e te falar que não queria mais nada com você. Enquanto eu arrumava tudo para te devolver, eu percebi que... - Tirou os óculos, chorando sem parar. - Que eu tinha arrumado minhas coisas também, porque não quero mais ficar longe de você. Não me importo em não ter mais uma vida militar, se tiver você.

- Eu... - Me aproximei e toquei seu rosto, segurando a vontade de chorar, sentindo o calor do seu corpo.

- Ela falou que se eu saísse aquela hora, não era mais para voltar. Não sei se ela vai me perdoar, então, por favor... Faça valer a pena.

- Vou fazer. - Toquei sua nuca, puxando ela para mim. - Eu prometo.

O gosto salgado das suas lágrimas não esconderam a intensidade do nosso beijo e muito menos a necessidade que sentíamos um pelo outro. Assim que nos afastamos, encostei a testa no seu ombro.

- Não se afaste. Não me afaste. - Pedi, apertando seu corpo. Ela assentiu e nos beijamos novamente.

(...)

Estava pintando o lado exterior da casa. Mikasa veio morar comigo há duas semanas e, desde então, estava tudo mais que perfeito.

Ainda sentia ela tensa em relação a sua mãe - que me odiava com todas as forças - e Jean, que ela não desistiu de encontrar. Eu também não.

A melhor parte de morar com ela era morar com ela. Eu sabia que teríamos que enfrentar muitas coisas juntos, mas eu não me importava.

Eren estacionou na frente de casa e ela saiu correndo, gritando estar atrasada. Desci da escada para acenar para ela, que parou ao abrir a porta do veículo. Correu de volta, pulando nos meus braços. O seu sorriso entre nossas línguas representava a minha felicidade também, mas eu não sorria para que a minha atenção fosse apenas para ela.

- Eu volto a tempo de experimentar o seu assado. - Sorriu docemente. - Me espere, certo?

- Sempre. - Me deu um leve beijo e correu até o carro, que partiu logo depois.

Percebi que estava sorrindo sozinho, olhando o caminho que o carro havia passado. As flores do jardim apareciam, ainda tímidas, refletindo o começo de uma nova estação. Agradeci mentalmente, por ter a mais linda flor ao meu lado: a pirralha da minha vida. Clichê, não?

[…]

Eren e eu caminhávamos naquele lugar triste de mãos dadas. Paramos na frente do túmulo do nosso pai e ajoelhamos, orando como sempre fazíamos em família.

Assim que terminamos, ele me olhou e eu respirei fundo, olhando para a foto do meu maior exemplo de fé. Passei a mão sobre o seu rosto e sorri.

- Oi pai. Bem, assim que você e nossa mãe nos adotaram, o senhor nos deu presentes muitos significativos. Deu aquele baú para Eren e esse cachecol para mim.

- Cada um dos nossos presentes tem um significado único, mas a lição era a mesma: viver e acreditar num amanhã melhor. Eu estou namorando, quase formado no FBI e tenho um ótimo futuro pela frente. Obrigado por acreditar em mim.

- Bem, eu... Me apaixonei por meu comandante, quase acabei com o meu nome e de Eren e mamãe não fala mais comigo. - Engoli o seco. - Mas sempre senti que o senhor olha por nós, todos os dias. Estou feliz e espero que o senhor também esteja.

- Nós já entendemos o motivo dos presentes e temos certeza de que esses objetos possam ajudar outras crianças que passaram pela mesma situação que nós, esperamos que o senhor entenda.

- Obrigado por tudo, pai. Sei que tudo vai se encaminhar e nos iremos melhorar a cada dia. Nós te amamos.

Abracei Eren, não aguentando a felicidade que fazia o meu peito explodir. Voltamos para o carro, certo da nossa próxima parada. O orfanatos onde fomos deixados, ainda recém-nascidos.

(...)

- Bem, vou para onde os meninos estão jogando bola. - Assenti. - Tem certeza de que não quer que eu te deixe em casa?

- Não, vou ficar um tempo aqui. - Beijei sua bochecha, já andando pelo o lugar que conhecíamos na palma da mão.

A ala das meninas era bem organizava e eu andava com calma com a sacola rosa. Entrei na sala de balé e, por alguns segundos, me vi na imagem daquela pequena. O olhar perdido na janela e a roupa folgada, diferente das outras que pareciam princesas. Sentei na sua frente e sorri, ela se retraíu.

- Oi. - Me olhou, assustada. - Como é o seu nome?

- Ellen. - Desviou os olhos verdes para a sacola. - O que é isso?

- Se eu contar uma história, de como eu me sentia diferente quando morava aqui, você não conta para mais ninguém?

- Sim...

- Promete? - Estendi o dedo mindinho para ela, que cruzou ao dela.

- Prometo.

- Quando eu era pequena, um mágico muito sábio me disse que a cor de uma cachecol poderia me fazer sentir que era normal.

- Que cor? - Aproximou sua cadeira da mesa.

- Vermelho. - Sorri ao tirar o pano da sacola. - Então, ele me disse...

(...)

Vi sua cara de tédio ao me aproximar com os dois drinks na mão. Assim que Levi foi considerado inocente - após meu depoimento e de muitas outras pessoas - do processo ele foi liberado. Claro que teria que subir de soldado a comandante por mérito próprio, mas ele não desanimou, gritando para quem quisesse que as coisas seriam certas dali para frente.

Nós fomos para a praia, antes de termos que voltar ao trabalho. Sentei no meio das suas pernas, não entendendo a razão para seu mau humor.

- O que foi? - Virou sua bebida. - Levi!

- Pir - Fuzilei ele com o olhar, ele teria que se acostumar a me chamar pelo nome. - Mikasa, nós podíamos estar no quarto, tem areia na minha bermuda.

- E perder esse pôr-do-sol na beira do mar? Nem pensar. - Resmungou um pouco. - Fazer o que no quarto?

- Algo bem melhor do que você imagina. - Passou a mão na minha barriga e eu o afastei. - Puta que pariu.

- Você é um viciado em sexo.

- Sou viciado em você, é diferente. - Ri um pouco. - Estou olhando o nada por você, não é ótimo?

- Não é "nada", é uma paisagem. Não pode ser mais um pouco dedicado?

- Não para essas coisas. - Reprovei ele com a cabeça.

- Não sei como eu consigo te amar.

Assim que percebi o que tinha falo, era tarde demais. Virei a bebida, tentando esconder o nervosismo. Eu o amava, porém nunca falei isso abertamente. Não imaginei nem como eu poderia olhar para ele, então ficamos em silêncio.

- Posso te chamar daquilo uma última vez? - Neguei. - Por favor. - Não. - Eu juro que será a última vez.

Finalmente assenti, terminando de lascar tudo de uma única vez. Sua mão direita veio até o meu queixo, virando o meu rosto para trás. Eu me sentia totalmente perdida no seu olhar.

- Eu amo você, pirralha. - Sorri e voltei a olhar para frente.

- Sério que você preferiria estar no quarto do que aqui?

- É claro. - Deu os ombros.

- Certo, nós subimos e transamos onde você quiser se você lembrar a frase que me disse antes de tirar minha virgindade. - Olhei para trás e ele fazia uma cara de sofrimento.

- Porra, eu lembro...

- Foi algo sobre... - Instiguei sua memória.

- Estar acorrentados? - Assenti.

- É, algo sobre estar acorrentados.

Nunca agradeci tanto por uma palavra definir minha situação com alguém.

"Eu estava na sala lendo um livro, que Levi insistiu em falar que era a melhor obra de todos os tempos, mas então ouvi um som vindo do andar de cima.

Peguei a arma que ficava presa embaixo do mesa de centro, vendo o cartucho cheio. Empunhei a pistola e levantei, subindo para o primeiro andar.

A única porta que sempre ficava aberta era a do nosso quarto, ouvi alguns passos se intensificarem. Respirei fundo, andando com cuidado.

- Acho que não são o seu número. - Falei ao ver um homem mexer no sapato de Levi ao pé da cama.

- Calma, senhora. Estou apenas tentando manter os meus filhos vivos. - Encostei a arma na sua nuca.

- Eu até acreditaria nisso, mas porquê você roubaria um sapato mais barato do que o que você está calçando? - Ele riu. - Estou com o cartucho cheio, não duvide de mim.

- Você faz jus a sua fama, Mikasa Ackerman. - Destravei a arma. - Não me admira Rivaille ter cedido a seus encantos.

- Eu aviso que você o visitou. - Me preparei para apagar ele.

- Não era ele que eu estava visitando. - Prendi o ar no peito. - Nunca se perguntou o motivo daquele ataque? Na época do romance proibido de vocês?

Uma lembrança daquela época me veio a cabeça, me fazendo lembrar que eu nunca soube o motivo daquele ataque e quais foram as providências tomados. Foi sigilo absoluto.

- O que você sabe?

- Tudo o que você não sabe, minha jovem. Você está no meio de algo muito maior do que imagina. Você é o que Levi tem de mais precioso e ele te deixa sozinha uma hora dessa?

- Cale a boca. - Ordenei.

- Ele não vai te salvar disso, pirralha. - Acertei sua cabeça com o cano da arma, fazendo-o desmaiar. Eu estava com a respiração acelerada.

Revistei seus bolsos e achei uma escuta. Quebrei o pequeno objeto e sentei no chão, sem conseguir entender nada.

(...)

- Mikasa! - Correu até mim e me abraçou com força. Assim que ele soube do ocorrido, mandou cercar todo o condomínio de viaturas. - Como você está?

- Mal. - Fiz um sinal para que ele afastasse os policiais dali, assim o fez. - Estou cansada.

- Fale a verdade. - Fiquei confusa. - Você mentiu no seu depoimento.

- Ele...

- Ele veio atrás de alguém. - Assenti. - De quem?

- Ele veio atrás de você. - Levantei e voltei para dentro de casa, mas parei ao ouvir sua voz.

- Vou ficar bem. - Ele falou uma última vez.

- Eu sei que vai.

Não tive coragem de contar a verdade para ele. Eu pensei que agora teríamos finalmente um "final feliz", mas estava totalmente enganada. Peguei o meu celular, pronta para sujar minhas mãos, iria usar o meu talento para proteger o que era mais importante para mim. Era apenas o começo."


Notas Finais


Mano, quero ver record em comentários nesse, hein? HAHAHA!

Já estou com saudades, mas... Tem alguém escrevendo o primeiro capítulo da segunda temporada :v

Por isso, é importante que vocês me acompanhem de alguma forma. Me adicionem aos amigos, na lista de observação ou sempre deem uma olhadinha no meu perfil (Há cada uma semana, até eu postar o primeiro).

Cara, minha mente tá a milhão e muitas coisas serão reveladas na próxima, alguns spoiler: passado do Levi, mãe da Mikasa, um vilão de verdade, problemas entre os dois, o filho (a) da Annie e, finalmente, o paradeiro de Jean. Segurem os forninhos :v

Tem uma nova história sendo escrita, vou fazer numa época mais antiga u.u Fé no Pai que a inspiração cai :v

Perdão se a capa do capítulo ficou cortada u.u

É isso, pessoal! Estou aí para qualquer coisa, contem comigo.

Obrigado por tudo, amo vcs <3

Tiau :3

LINK SEGUNDA TEMPORADA - https://spiritfanfics.com/historia/acorrentados--segunda-temporada-7548638


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