Estamos na frente de uma loja de artefatos antigos, Jessy disse que era a loja de Calydon, onde ele trabalhava. Entramos na loja, não era muito grande, e havia varios artefatos espalhados por todos os lados, até mesmo diversos amuletos.
Quando entramos vemos uma mulher atrás de um balcão. Ela ainda não viu que entramos, mas quando a porta se fecha atrás de nós e o sino da porta toca ela olha para a gente, então vamos até ela.
- Com licença, estamos procurando o Calydon – Disse Jessy.
Ela grita chamando alguém, não entendo o que ela fala, mas imagino que estava falando grego. Um homem sai de uma porta atrás dela. Ele tem um cabelo loiro que vai até o ombro, e uma cicatriz a baixo do olho esquerdo, como se fosse dois arranhões.
- Jessy! – Fala o homem, e mais umas coisas que também não entendo.
- O que ele disse? – Pergunto.
- Não entendi muito bem – Responde ela.
- Não disse que sabia grego?
- Muito pouco, não sou fluente.
- Como vamos falar com ele?
- Tem um jeito, espere – Ela vira em direção a ele e diz bem devagar algo em grego e com um pouco de dificuldade.
Ele vai até o balcão de onde tinha saído e volta com três colares na mão, entrega para nós e coloca um deles. Também coloco o que ele me entregou e quando olho para a Jessy ela também está com o colar.
- Omilía – Disse Calydon.
Meu colar começa a brilhar e ficar mais quente, mas não é só o meu, da Jessy e do Calydon também estão assim. Isso dura poucos segundos e quando para, Calydon diz:
- Agora vamos conseguir conversar.
- Você está falando português!? – Digo espantado, quase de queixo caído.
- Sim – Responde Jessy – é isso que o colar faz, ele alinha nossos idiomas para que possamos nos entender. Nós estamos o ouvindo falar português e ele nos ouvindo falar grego. É mais ou menos como a magia da ilha.
- Exato garoto acromante.
- Sabe o que eu sou?
- Senti sua presença desde quando chegou.
- Foi por isso que viemos – Disse Jessy – Precisamos da sua ajuda para fugir, os caçadores estão procurando ele.
- Vocês estavam em Nisíratos? Como conseguiram fugir?
- O que é Nisíratos? – Pergunto.
- É o nome da ilha onde vivem os feiticeiros – Responde Calydon.
- É uma longa história – interrompe Jessy – Podemos passar a noite aqui? Até soubermos o que fazer.
- Claro, tudo por você – Disse ele – Vou conseguir roupas e pensamos para onde podem ir depois. Se quiserem sobreviver, vão ter que ir o mais rápido possível, eles não vão demorar a encontrar vocês.
- Muito obrigado Caly – Disse Jessy.
- Venham, por aqui.
Vamos atrás de Calydon, passamos pela mulher que estava atrás do balcão. Vamos até a mesma porta que ele tinha saído, subimos uma escada até sua casa que ficava em cima da loja.
Ele nos leva a um pequeno quarto no final do corredor, não era muito grande, e nem muito pequeno. Havia duas camas e entre elas uma pequena escrivaninha com um grande guarda-roupa na frente.
- Se eu soubesse que vocês viriam teria arrumado melhor o quarto – Disse Calydon.
- Não Caly – Disse Jessy – Está bom assim.
- Fiquem à vontade, vou trazer cobertores e travesseiros para vocês, e depois vou conseguir roupas novas.
Ele saiu do quarto, nos deixando sozinhos lá. Me deito em uma das camas, e Jessy se sentou na outra cama. Eu estava muito cansado, os últimos dias não foram nada fáceis. Tenho medo apenas de que o Calydon não seja o que pareça ser, não sei se ele é confiável, mas se a Jessy confia nele, acho que posso confiar também.
Jessy me analisou por algum tempo, até que disse:
- Não se preocupe, pode confiar no Caly – Disse como que se houvesse lido minha mente.
- Como conheceu ele? – Pergunto.
- Ele era um grande amigo do meu pai, participaram de várias missões juntos...
- Eu não consegui salva-lo – Calydon apareceu novamente no quarto com os cobertores – Estávamos em uma missão, procurando uns feiticeiros criminosos, quando os encontramos, como era de se esperar, eles não se renderam facilmente, precisamos lutar com eles... e seu pai não resistiu... ele me fez prometer que eu cuidaria de você.
-Caly – Disse Jessy dando uma pausa e depois continuou – Você nunca havia me contado isso.
- Eu achei que estava na hora de você saber.
- Por isso se afastou da KPM?
- O que é isso? – Pergunto.
- Abreviação de guerreiros guardiões dos feiticeiros em grego, é tipo nossa polícia, e sim, me afastei para cuidar de você.
Quando olhei para ela vi que estava com os olhos cheio d’água, percebi que estava lutando para não começar a chorar. Até que disse:
- Eu... eu já volto.
Ela se levantou e saiu do quarto, quando eu fui tentar segui-la Calydon me parou dizendo:
- A Jessy é forte, mas as lembranças do pai sempre acabam com ela, pode ir – Ao pronunciar a última frase ele aponta com a cabeça a direção que Jessy foi, e eu vou até ela.
Ela estava na sacada da casa olhando para a rua, eu paro do lado dela, fico assim por um tempo até que digo:
- Como você está?
- Bem, é só...
- Sente saudades do seu pai?
- Todo dia.
- Eu acho que te entendo, eu nunca cheguei a conhecer meus pais, não lembro como eles são, mas as vezes imagino como teria sido a minha vida se eles não estivessem morrido.
- Você teria crescido como um acromante – Ela abriu um pequeno sorriso, mas logo parou de sorrir.
- É, mas isso aconteceu por um motivo, e gosto da minha vida assim, meus pais, meus amigos, você.
Ela sorriu e disse:
- Está bem, entendi, vamos lá temos que contar para o Caly tudo que aconteceu.
Nos sentamos no sofá da sala da casa de Calydon e contamos tudo a ele. Sobre mim, sobre minha magia, o que aconteceu na ilha, sobre eu escolher liberá-la e como fugimos em seguida. Ele escuta tudo sem interromper, apenas presta atenção enquanto Jessy conta e eu acrescento alguns detalhes que ela esquecia de mencionar. Quando terminamos Caly disse:
- Vocês precisam de um lugar para se esconder, em que os caçadores não achem vocês.
- E existe algum lugar assim? – Pergunto.
- Vocês precisariam da ajuda de um mago para se esconder assim, eles são muito difíceis de encontrar, pode esconder vocês.
- E como acharíamos ele se você disse que são difíceis de encontrar?
- Eu conheci um, uma vez a muitos anos, vou tentar descobrir alguma coisa, e ainda preciso conseguir roupas e dinheiro para vocês, então amanhã a gente pensa num plano.
Assim que terminamos vamos até o quarto descansar um pouco, o Calydon havia saído para conseguir roupas para nós. E quando voltou fez a janta. Já era noite e depois de jantarmos vamos direto para a cama.
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