Talvez eu soubesse disso no momento em que pedi que ela me levasse pra longe da Treable’s, só de pensar o que poderia ter acontecido se ela não estivesse lá me causa calafrios, diferentemente dos arrepios que o olhar de Chloe estava me causando.
— Essa é a minha camisa preferida – disse ela se aproximando – Com certeza terei um motivo a mais para usá-la de agora em diante.
Sorri pra ela abaixando minha cabeça devido a vermelhidão do meu rosto por suas palavras.
— Achei que me sentiria mais confortável e é muito mais fácil colocá-la – levantei as mãos mostrando o machucado.
Seria complicado levantar as calças e além do mais, a camiseta tinha o perfume de Chloe, muito mais convidativo que o fundo de armário das outras peças. Ela sorriu a mim estendendo o braço chamando-me para seu lado, caminhei até ela e sentamos na cama.
— Já tivemos um avanço – disse abrindo o kit médico e retirando algumas coisas – você não pediu desculpas por isso – sorriu.
— Evitei o transtorno de você dizer que está tudo bem – olhei-a baixando os olhos em seguida.
— Se sente bem? – perguntou abrindo um pacote de gaze.
— Talvez um pouco dolorida.
Com cuidado, Chloe ajeitou minhas mãos sobre as dela e aplicou um produto de cor laranja sobre o machucado, ficamos em um silencio incomodo enquanto ela começava a fazer uma atadura na mão direita. Enfaixou-a e prosseguiu o mesmo com a outra deixando apenas os dedos de fora. Observei ela o tempo todo sem que percebesse, olhando seus gestos cálidos e sua expressão serena tratando-me com carinho e dedicação, nunca em minha vida sentira ser tão cuidada e protegida quanto estava agora com ela.
— Prontinho – disse colando o ultimo esparadrapo – Podemos até arriscar um vôlei – sorriu erguendo o rosto e pegando meu olhar sobre si.
Desviei rapidamente o olhar para as recém feitas ataduras.
— Bom trabalho – disse sem graça.
— Quem sabe agora você possa me dizer como as machucou – disse erguendo meu rosto pelo queixo – o que aconteceu lá dentro pra você sair desse jeito?
— Não sei se você gostaria de ouvir isso.
— Aquele não é um bar comum e, se eu não estou enganada...– Chloe parou pensando algo recém descoberto – A questão então é quem te machucou – concluiu – Não entendo, você foi lá várias vezes...saiu sempre pior...você é uma...
— Não! – cortei-a imediatamente vendo onde seu raciocínio iria parar – Não sou prostituta...
— Não use esse termo – disse ríspida.
— É como se chamam as garotas fáceis – retruquei – Eu nunca faria isso, não sou capaz de vender o corpo por dinheiro e nem por...
Pagamento de dividas quis completar, mas fui incapaz.
— Pelo que Beca? – percebeu meu deslize – Eu quero saber quem fez isso com você!
Percebi o tom de raiva da referencia do quem, ela estava comprando uma briga que não era dela e que cabia a mim resolver. Mirei-a no fundo das profundezas azuladas de seus olhos buscando uma resposta coerente para dá-la, encontrei a calma e a verdade, pelo menos parcial dela.
— Eu...precisava fazer! Do contrário ele...– enrolei-me.
— O que? De quem? – insistiu.
— Fui obrigada a deitar-me com um cara para pagar uma dividia, mas não consegui fazer isso, acabei fugindo e tropeçando na escada cortando as mãos em uma garrafa quebrada – disse de uma vez olhando as mãos – quando sai da boate o sujeito estava atrás de mim e encontrei você...
Chloe suspirou ávida levantando-se da cama. Senti a tensão e sabia que a qualquer momento ela me expulsaria dali, mas era preferível isso a mentir para alguém que me estendeu a mão.
— Eu não entendo... – disse desolada passando as mãos no cabelo andando de um lado para o outro pensando.
— Existe alguém que controla a Treable’s – disse a fim de clarear as ideias dela sem prejudicar o meu segredo – Chamam ele de “Mentor”, foi pra ele que deveria fazer isso...
— É com ele que tem dividas? – assenti – Eu posso pagá-las, todas. Assim você...
— O dinheiro não seria o suficiente, a outras coisas que...você não entenderia. – disse.
Abaixei a cabeça pensativa. Dinheiro pagaria, mas não tiraria de dentro de mim o vicio que me levaria lá mais e mais vezes. Não ergueria o homem que matei por querer e não querer ao mesmo tempo, nem o que o “Mentor” poderia falar ou fazer comigo, tinha-me em suas mãos.
— Eu gostaria de entender – disse Chloe voltando a sentar do meu lado – Mas sei que você não vai se abrir comigo ainda. Só quero que saiba que quero te ajudar e isso foi sincero.
— Você escutou realmente o que eu falei? Depois disso deveria me expulsar...
— Não poderia fazer isso – cortou-me – acredite!
— O que quer dizer com isso? – perguntei desconfiada e atordoada pela sua reação positiva.
— Quero que você comece a confiar em mim.
— Eu confio em você – soltei numa rajada de ansiedade.
Chloe sorriu.
— Ótimo, já temos um começo então.
— Não quero ser um problema Chloe.
— Me chame de Chlo e você não é um problema... – tocou meu rosto com suas mãos macias – ...ficara aqui comigo por um bom tempo.
— Me dê um motivo pra isso.
— Podemos falar disso amanhã, você me parece cansada – contornou as olheiras fundas em meus olhos.
Encarei-a intensamente sentindo seu pequeno carinho provocar enormes sensações. Porque não a conheci antes? Antes de cair num mundo problemático e desgraçar a vida. Sabia como era sentir seus lábios sobre os meus e os desejei naquele momento, lembrei-me do erro na boate.
— Sobre a boate eu juro que não sabia o que estava fazendo!
Chloe riu.
— Pensei que tivesse esquecido isso! – tirou a mão do meu rosto e levantou-se indo até a cabeceira da cama puxando os lençóis pra baixo – você parecia tão diferente...como se estivesse em outro mundo.
— Acho que bebi demais – disse baixo envergonhada.
— Faria isso do contrário? – olhou-me.
Seus olhos queimaram contra os meus. Levantei-me.
— Eu acho que...
— Desculpe por isso – voltou atrás à pergunta – venha deitar.
Se me desse tempo e se tivesse a coragem responderia que não pensaria duas vezes em fazer aquilo novamente. Deitei na cama sobre o olhar de Chlo, a menção as cenas da boate fizeram meu corpo acender-se diante dela. Cobri-me e mirei-a sentindo-me uma criança super mimada.
— Roubei sua cama não é?
Chloe abaixou-se ao meu lado tirando uma mecha de cabelos sobre meu rosto. Meu deus, como seu toque me fazia efeito, o que era aquilo?
— Não tem problema, o apartamento é grande o suficiente. Pare de se preocupar está bem?
Assenti fechando os olhos. Senti a respiração de Chloe aproximar-se de meu rosto quando ela depositou um beijo em minha bochecha, sorri involuntariamente sentindo ela se afastar, o que me deixou temerosa.
— Chloe...– chamei vendo-a se voltar para meu lado – Porque você não fica comigo?
O pedido veio do desejo de senti-la por perto, sua áurea trazia a paz que eu precisava para um sono tranquilo. Tinha medo das coisas que poderiam acontecer, dos sonhos a me atormentar se ela não estivesse comigo.
— Não se preocupe! Estarei aqui com você! – disse.
Acomodei-me para o lado deixando um espaço vago na cama intensificando o pedido. Chloe pareceu entender e deitou ali sem cerimônias. Fechei os olhos serena e adormeci sentindo sua presença, o suficiente para não pensar em mais nada.
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