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História Adelfés Psychés - Haunting


Escrita por: onceshunter

Notas do Autor


Olá, como vai você?
Espero que esteja bem ;)

Boa leitura!

(Haunting, Halsey)

Capítulo 6 - Haunting


Fanfic / Fanfiction Adelfés Psychés - Haunting

— Rosas vermelhas são extremamente comuns, Lauren. — diz Normani de maneira compreensiva. — E várias floriculturas removem os espinhos para que os clientes não se machuquem.

— Você vai ter que nos dar mais que isso, garota. — Dinah fala.

— Não aquele tipo de rosa. — diz Lauren, fechando os olhos. Respira pesadamente, enquanto as memórias que tanto se esforçava para suprimir inundam sua mente. — Aquela é uma rosa colombiana, que poucas floriculturas têm. Ela costumava dizer que... — seu coração está apertado e faz sua voz falhar. Ally segura sua mão, Dinah senta ao seu lado e Normani se abaixa a sua frente.  — Ela costumava dizer que são rosas cubanas, como eu.

As três ficam sem resposta, observando as lágrimas que caem dos olhos de Lauren.

— Por que ela faria isso com você, Lauren? — pergunta Normani ternamente. — Você me disse que ela te amava, lembra?

— Por que ela me abandonaria na Grécia e me deixaria pensar que ela morreu por um ano inteiro? — pergunta Lauren, mais para si mesma do que para Normani.

— Espere, por um ano? Desde quando você sabe que ela está viva? — questiona Ally quase indignada.

Lauren abaixa a cabeça e, com um suspiro profundo, começa a falar.

— Ano passado, nós saímos para comemorar meu aniversário e passamos o dia todo fora.    Quando voltei para casa, tinha um envelope branco colado com fita adesiva à minha porta da frente. Dentro, eu encontrei uma foto tirada à distância em algum aeroporto, qualidade ruim, mas era ela.

— Poderia ser uma foto velha. — conclui Dinah. — Alguma brincadeira de mau gosto.

— Não era. Dava pra ver a tatuagem no pulso dela, e ela parecia mais velha.

— A tatuagem que vocês fizeram antes de ir pra Grécia? — pergunta Ally e Lauren assente.
— Em grego?

— Adelfés psychés. — diz Lauren com um sorriso triste. — Almas gêmeas.  Nunca tive coragem de apagar. — estende o braço, mostrando os pequenos caracteres na base do pulso.

— Foi isso que te fez desistir? — pergunta Dinah.

— Foi. — Lauren responde. — Eu passei a noite toda olhando aquela foto. Nas primeiras horas, eu me convencia de que só estava garantindo que a foto era legítima. Seis horas depois, eu continuava olhando, examinando cada detalhe. Uma placa, uma identificação de voo, qualquer coisa que me desse alguma ideia de onde ela estava. Quando eu não achei nada, passei a olhar apenas para ela. Ela estava... Diferente. Algo nela havia mudado, eu sentia isso. — As três olham para Lauren em silêncio, ninguém sabe o que dizer. — Eu observei aquela maldita foto durante a noite toda e boa parte da manhã. Um pouco depois do almoço, Lucy foi me buscar em casa para irmos juntas para o trabalho e eu deixei a foto em cima do balcão da cozinha. Quando voltei à tarde e a foto não estava mais lá, eu perdi a cabeça. Contratei dois investigadores particulares diferentes e gastei uma fortuna. Passei dias me recusando a sair de casa, esperando resultados. Dormia com a porta destrancada, dizendo para mim mesma que ela havia me mandado aquela foto, avisando que estava voltando. Os investigadores não encontraram nada e um deles até me devolveu o dinheiro, pensando que eu era louca. Eu comecei a procurar por mim mesma, dia e noite, no meu computador, procurando pelo nome dela, por apelidos, por fotos parecidas. É claro que, se dois investigadores profissionais não encontraram nada, eu também não iria, mas mesmo assim eu procurei. Procurei por semanas, mas não achei absolutamente nada. Fiz mil ligações, fui a bancos, cemitérios, hospitais e aeroportos. Numa tarde, eu estava voltando a pé para casa de uma das minhas buscas e eu a vi do outro lado da rua. Ela sorriu para mim e, quando eu atravessei a rua, ela não estava mais lá. Foi a primeira vez que eu a vi, mas houve outras. Dentro da minha casa, através da janela, em todos os lugares que eu ia. Quando Taylor... — ela engole em seco e aperta os lábios. — Sofreu o acidente, eu tinha desistido de tudo há pouco mais de uma semana. Eu já não sabia mais dizer o que era real e o que era invenção da minha mente. Afastei todas as pessoas que se importavam comigo e passava o dia inteiro dormindo, esperando que um dia eu não fosse mais acordar.

— Lauren, por que você escondeu isso de nós? — Dinah pergunta com indignação. — Nós poderíamos ter te ajudado!

— Porque nós teríamos pensado que ela estava louca. — responde Normani tristemente. Lauren assente.

— Eu sinto muito. — diz Lauren, envergonhada. — Havia dias que eu não sabia se estava acordada ou sonhando. Eu deveria ter contado, mas eu não sabia o que dizer.

— Não, Lauren. Nós sentimos muito. — diz Ally, segurando a mão dela com as duas mãos.                  — Sentimos muito por fazer você pensar que não podia nos contar. — Dinah abaixa a cabeça.

— Por te fazer pensar que você estava sozinha. —  Dinah fala com a voz embargada. — Quando você mais precisava de nós.

— Não é culpa de vocês. — afirma Lauren. — Não é. E também não é culpa minha. — sua voz está um pouco mais alta. — É culpa dela! — grita. — Tudo isso é culpa dela! — Normani olha para Dinah, que olha para Ally, que observa Lauren, espantada. — Eu dei tudo a ela. Tudo que eu podia dar, talvez mais. E ela simplesmente desaparece por dois anos e depois volta... Assim. — cospe as palavras com raiva. 

— Lauren, eu não quero que você se sinta ofendida com o que eu vou dizer. — fala Normani, procurando as palavras certas. — Mas você precisa ir para a delegacia contar tudo isso para a polícia, agora. Nós podemos estar lidando com uma sociopata e, se for este o caso, ela é completamente imprevisível.

— Imprevisível do tipo serial killer? — pergunta Dinah. Normani assente seriamente. — Merda.

— Eu dirijo. — diz Ally se levantando. — Nós podemos ir no mesmo carro, não acho seguro nos separarmos.

— Lucy mora sozinha. — diz Lauren subitamente se levantando. — Ela pode estar em perigo. Nós temos que ir busca-la, agora! — Ah, droga! Ela sempre detestou Lucy!

— Nós vamos busca-la, ok? — assegura Dinah, tocando o ombro de Lauren. — Passaremos no apartamento dela antes de ir para a delegacia e ela irá conosco.

Descem pelas escadas até a garagem, porque Lauren está ansiosa demais para esperar pela chegada do elevador. Pulando de dois em dois degraus, ela chega rapidamente até o subsolo e anda a passos apressados até o carro de Ally, estacionado a poucos metros da saída da escadaria.

— Vamos, meninas, por favor. — pede Lauren. Normani abre a porta e a segura para Dinah, mas Ally demora um pouco mais. — Ally? — chama.

— Minhas pernas são mais curtas que as de vocês! — reclama Ally, passando pela porta que Normani ainda segura. — Tenha um pouco de paciência comigo.

Lauren se desculpa, mas continua ansiosa. Não para de se mover nem por um segundo no carro — mexendo os pés, subindo e descendo os vidros ou abrindo e fechando a trava de seu cinto de segurança e discando o número de Lucy em seu celular incansavelmente.

— Pelo amor de Deus, Lauren. — explode Dinah. — Eu te amo, mas eu juro que vou te bater se você não parar!

Normani ri do banco da frente e Ally pede a Dinah que seja mais compreensiva. Lauren se esforça para ficar quieta por alguns minutos, depois começa a tirar e colocar os anéis em seus dedos.

— Pelo menos ela parou de se chacoalhar. — comenta Normani, virando-se para trás. Dinah se vira para Lauren e segura sua mão de maneira afetuosa.

— Ela está bem, Laur. Talvez ela tenha dormido e deixou o celular em algum canto da casa.

— São quase três horas da tarde! Ela é uma das pessoas mais ativas que eu conheço, nunca dorme durante o dia. — diz Lauren, angustiada. Disca mais uma vez o número de Lucy, que toca até cair na caixa postal.

— Nós não dormimos muito essa noite. Ela deve estar cansada.        — replica Dinah.

— Estamos a alguns quarteirões de distância do prédio dela. — diz Ally, tentando acalma-la.  — E você vai ver por si mesma que ela está bem.

Lauren quase salta para fora com o carro em movimento quando chegam à frente do condomínio onde fica o apartamento de Lucy. Corre até a portaria e assim que o porteiro destranca o portão, atravessa o hall e abre a porta da escadaria. Ally, Dinah e Normani correm para alcança-la, mas enquanto sobem o terceiro andar, Lauren já está no sétimo. No oitavo andar, bate várias vezes na porta de madeira  do apartamento de Lucy e olha pelo olho mágico, mas não consegue ver muito. Insiste em bater e, sem resposta, pega a cópia da chave em seu chaveiro.

Dinah abre a porta da escadaria ofegante quando Lauren coloca a chave na fechadura com as mãos trêmulas e gira a maçaneta redonda.

— O que você está fazendo? — pergunta Dinah, soltando a porta. Normani logo atrás dela, precisa segurar a porta para que não bata em seu rosto.

— Dinah! — reclama Normani. — Você está arrombando?                   — pergunta para Lauren ao vê-la abrir a porta.

— Não! Eu tenho a cópia da chave dela e ela da minha. — responde aceleradamente. — Lucy? — chama ao entrar no apartamento. A cozinha está vazia, as salas de jantar e estar também. No fim do corredor, o quarto principal também parece vazio. — Lucy? — chama Lauren mais uma vez.

— Onde está Ally? — pergunta Dinah para Normani, que dá de ombros.

— Eu achei que ela estivesse logo atrás. — responde Normani. — Ela deve estar subindo.

O barulho do elevador chama a atenção das duas, que esperam por Lauren no hall. As portas se abrem e Ally sai.

— Eu quase morri hoje nas escadarias, não vou me arriscar de novo. — afirma com as sobrancelhas erguidas.

— Ela não está aqui! — exclama Lauren da sala, desesperando-se. — Ela disse que viria para cá!

— O celular dela está em cima da mesa. — observa Ally, entrando no apartamento. — Ela deve ter se esquecido de levar.

— Se não voltou para pegar, é porque não foi longe. — diz Dinah, despreocupada. — Vai ver ela foi comprar algo para comer.

Lauren anda de um lado para outro no apartamento, entrando e saindo dos cômodos.

— Se ela fez algo com Lucy, ela é uma mulher morta! — vocifera. — Eu mesma vou mata-la!

Normani e Dinah entram no apartamento, fechando a porta. Lauren não para de repetir que Lucy deveria estar no apartamento.

— Vamos ao menos esperar uns dez minutos antes de entrar em pânico. — pede Normani. Lauren para de andar e começa a chorar silenciosamente, com as mãos no rosto.

— É uma festa surpresa? — pergunta Lucy abrindo a porta. — Mas nem é o meu aniversário ainda! — brinca sorridente.

Ao ouvir sua voz, Lauren corre e joga os braços ao redor dela. Um pouco sem reação, ela demora alguns segundos antes de corresponder ao abraço.

— Eu achei que ela... — Lauren começa a falar, mas Lucy não consegue entender o resto da frase porque ela afunda o rosto em seu ombro. 

— Você está chorando? O que está errado? — pergunta acariciando suas costas. — O que eu perdi? — pergunta para as outras três esticando o pescoço para o lado.

Lauren solta Lucy e passa as costas da mão pelo rosto, fazendo o melhor que pode para se acalmar.

­— A rosa sumiu. — diz  Lauren com a voz vacilante. Lucy junta as sobrancelhas. — E você não atendia ao celular e eu pensei que ela tinha vindo atrás de você porque ela não gostava de você quando nós estávamos juntas. — continua falando rapidamente, emendando uma palavra na outra, de forma que Lucy não entende muita coisa.

— Eu deixei na minha bolsa, dentro do meu carro trancado. — explica Normani. — Nós decidimos entregar à polícia e quando eu fui buscar na garagem do prédio de Dinah, meu carro estava aberto e a rosa havia sumido.

— Mais alguma coisa sumiu da sua bolsa? — pergunta Lucy e Normani balança a cabeça.
— Alguma chance de você ter tirado de lá e se esqueceu? — Normani responde que não e Lucy assente seriamente. — Ah, droga.

— Tem mais. Conte pra ela o que você nos contou, Lauren. — pede Ally. Lauren hesita, olhando para baixo em silêncio, mordendo o lábio.

— Lauren? — chama Lucy. — O que é? Você sabe que pode me contar.

— Eu... Eu a vi do outro lado da rua, ontem à noite, antes de tudo que aconteceu. — ela murmura. — Mas eu pensei que estivesse louca. — Lucy fecha os olhos e suspira.

— Ela costumava te dar aquelas rosas, não é? — pergunta Lucy, com as mãos na testa. Lauren assente. — Sem espinhos? — Lauren torna a assentir e ela aperta os lábios, com raiva. — Por que ela está atrás de você?

— Não faz sentido. — Ally fala delicadamente. — Ela sempre foi tão doce com você, Lauren.

— Você está defendendo aquela filha da puta? — protesta Dinah, indignada. — Como você pode? Você viu tudo que ela fez com a Lauren e ainda assim está do lado dela?

— Dinah, acalme-se. — diz Normani, tocando o rosto dela. — Eu não acho que foi isso que Ally quis dizer.

— Você também? Você nem a conheceu! E foi você quem disse que ela poderia ser uma sociopata! — Dinah retruca, alterada. — Vocês duas são inacreditáveis!

— Ótimo! — exclama Lauren. — Ela volta das profundezas do inferno para virar minhas amigas umas contra as outras! Porra.

— Lauren está certa, a última coisa que nós devemos fazer agora é brigar. — afirma Lucy calmamente. — Ally tem razão. Eu a odeio tanto quanto vocês, mas ela sempre foi boa para Lauren. Realmente não faz sentido ela simplesmente surtar.

— Muita coisa muda em dois anos. — diz Dinah, mais calma.

— Não esse tipo de coisa. — replica Ally. — Ninguém fica louco em dois anos.

— Se, de alguma forma, ela pensa que Lauren é propriedade dela, ela pode estar fazendo tudo isso por ciúmes. — afirma Normani.

— Ciúmes de quem? — indaga Lauren, jogando as mãos para o alto. — Eu não estive com mais ninguém depois dela.

— Lucy? — sugere Dinah. — Vocês são bem próximas.

— Nós não somos um casal. — afirma Lucy com veemência. — Nós somos apenas amigas.
— Lauren assente vigorosamente.

— Vocês se beijaram. — Ally aponta. — No aniversário da Lauren, ano passado.

— Nós estávamos muito bêbadas e foi só um selinho! — Lauren se justifica.

— Nem foi um beijo de verdade. — completa Lucy. — E foi numa boate fechada, na área VIP. Só vocês viram.

— Nós estamos beirando a paranoia. — avisa Dinah. — Mais dois passos e estaremos com medo das nossas próprias sombras.

— O que nós devemos fazer, então? — pergunta Lauren.

— Eu acho que nós deveríamos voltar às nossas rotinas normais. — ela responde calmamente. — Não podemos fazer muito, além disso.

Lauren suspira e assente. Normani e Ally também, mas Lucy discorda.

— Tem uma louca atrás da Lauren, que revirou a casa dela e deixou uma rosa cheia de sangue humano para ela. Nós devemos simplesmente ignorar isso? — aponta com indignação.

— Não, de jeito nenhum. A partir de agora, a Lauren não fica sozinha em hipótese alguma. 
— diz Dinah, determinada.

— Eu tenho que trabalhar! — protesta Lauren, franzindo as sobrancelhas. — Eu não posso ficar presa dentro de casa, com medo.

— Você não trabalha sozinha. — Normani fala.

— Amanhã, depois do trabalho, você pode vir para cá comigo. — sugere Lucy. — Enquanto nós mandamos uma equipe para arrumar sua casa e um chaveiro para trocar todas as fechaduras.

— E colocar pelo menos seis cadeados na sua porta da frente. — diz Ally. — E nas janelas.

Lauren acaba aceitando a ideia. Decidem almoçar juntas em um restaurante de comida italiana próximo. Escolhem uma mesa perto da porta, ao lado da enorme janela envidraçada. Após fazerem os pedidos, Lauren pode jurar que há alguém olhando diretamente para ela, do outro lado da rua, com um capuz cobrindo o rosto. Deveria sentir medo, mas não sente. Tudo que consegue fazer é encarar de volta.

— Eu acho que é ela. — fala Lauren, após observar minuciosamente. Ally e Normani, que conversavam, param de falar imediatamente. Dinah se inclina na direção da janela. — Por favor, digam que eu não estou louca. — aponta para fora.

— A pessoa esquisita de capuz preto? Ela não tem nem a decência de mostrar a cara?
— esbraveja Lucy. Levanta-se da cadeira e sai pela porta tão rapidamente que Lauren mal consegue se levantar e correr atrás.

— Lucy, Lucy! O que você vai fazer? — pergunta correndo atrás dela. A raiva dá a Lucy uma velocidade inacreditável e o sangue fervilhando em suas veias faz com que fique três vezes mais difícil para Lauren alcança-la.

Tudo acontece em questão de segundos. Lauren está na calçada, quando Lucy atravessa a rua pisando duro. Um táxi amarelo surge, acima da velocidade permitida. Ela ouve os pneus cantando, o barulho da colisão e vê Lucy cair no chão. Do outro lado da rua, a pessoa encapuzada foge e desaparece em alguma rua. O motorista desce apressadamente do carro e se abaixa ao lado de Lucy, Lauren corre desesperada em sua direção. Normani, Dinah e Ally saem de dentro do restaurante em disparada.

— Ela fugiu. — resmunga Lucy, sendo ajudada pelo taxista grisalho a se sentar. — A desgraçada fugiu.

— Você está bem? Ai meu Deus, Lucy, seu braço. — fala Lauren, transtornada, ajoelhada em frente a ela.  O antebraço de Lucy está cheio de sangue e virado num ângulo estranho.

Pessoas começam a se ajuntar em volta delas, algumas curiosas, outras tentando ajudar. Uma moça gentil se oferece para ligar para a emergência, enquanto um rapaz alto de olhos azuis pede às pessoas que deem espaço.

— Eu sou médica e preciso passar! — Lauren ouve a voz de Normani atrás das pessoas. — Eu preciso que todo mundo se afaste!

Empurrando um ou outro curioso que não quer dar passagem, ela abre caminho por entre o aglomerado de pelo menos vinte pessoas.

— Você é louca? Que porra foi aquela? — grita Lauren para Lucy, assim que passa o choque inicial. — Você podia ter morrido, Lucy!

Lucy resmunga algo e Normani se abaixa na altura dela e segura seu queixo. Olha primeiro um de seus olhos, depois o outro.

— Alguém ligou para a emergência? — pergunta calmamente. A moça ruiva diz que sim.
— Não se mexa. — adverte quando Lucy tenta ficar em pé.

— Eu estou bem. — protesta Lucy, puxando o rosto. — Só quebrei o braço e preciso de gesso. — Normani aponta o dedo indicador para o rosto de Lucy e aproxima de seu olho direito e ela nem pisca. — O que você está fazendo?

— Você teve uma concussão. — responde Normani. — Seus reflexos estão letárgicos.
— conclui. — virando o rosto para Lauren, pergunta.  — Você viu onde ela bateu a cabeça?

— Eu não bati a cabeça em lugar nenhum. — responde Lucy, rindo. — Eu só fiquei cansada e sentei aqui.

Lauren arregala os olhos e Ally chega com uma maleta branca nas mãos, Dinah logo atrás dela.

— Por que ela está rindo? — pergunta Dinah para Lauren. — Meu Deus, seu braço está tão quebrado. — fala para Lucy, assustada.

— Lucy, não tem graça. — implora Lauren, com lágrimas nos olhos. — Por favor. Por favor, pare.

Lucy continua a rir, sem entender porque Lauren está tão apavorada. Normani pega a maleta e tira de dentro uma pequena lanterna e joga luz nos olhos de Lucy.

— As pupilas contraem, mas ela não tem o reflexo de fechar os olhos. E há sintomas de confusão mental. — explica Normani. Lauren olha para ela em pânico. — Tem uma ambulância a caminho. Com atendimento adequado, ela deve ficar bem. — assegura.

Ao chegar a ambulância, dois paramédicos usando roupas azuis colocam Lucy em uma maca e conduzem até a ambulância. A médica de cabelos loiros e olhos escuros pede que Lauren conte, com a maior quantidade de detalhes que lembrar como Lucy foi atingida e como caiu no chão, enquanto o rapaz realiza os procedimentos básicos dentro da ambulância.

— Ela é alérgica a algum medicamento? — pergunta a socorrista para Lauren. — Tem alguma condição genética que nós devemos saber?

— Não, não que eu saiba. — responde Lauren massageando as têmporas.

— Você gostaria de acompanha-la até o hospital? — oferece gentilmente. Lauren assente e se senta no banco da ambulância, ao lado de Lucy que está na maca.

No hospital, Lucy é atendida por uma bela médica de cabelos encaracolados, que a libera depois de alguns exames e de engessar seu braço.

— Ela vai ficar bem. — diz para Lauren. — Só precisa descansar um pouco e não deve passar a noite sozinha. — Lauren assente, ajudando Lucy a se levantar da cama da emergência.
— Sorte de ela ter uma namorada tão atenciosa.

Lauren fica sem graça e Lucy, mais consciente, solta uma gargalhada. “Lucy não é minha namorada”, murmura Lauren ao sair e Lucy continua rindo.

— Gostei dela. — comenta Lucy ao passar pela sala de espera ao lado de Lauren, que revira os olhos. — Posso dirigir?

— Você teve uma concussão e quebrou o braço direito. — replica Lauren, irritada.

— Desculpe, mãe. — Lucy provoca e Lauren não responde, apenas abre a porta do passageiro para ela. — Eu só estava brincando com você.

— Quer ir para o seu apartamento? — Lauren pergunta seriamente e Lucy assente, dizendo “sim”.

No apartamento de Lucy, Lauren a ajuda a trocar de roupa, já que as suas foram rasgadas pelo asfalto e estão cobertas de sangue e sujeira.

— Você está brava comigo. — conclui, após tentar várias tentativas de iniciar uma conversa com Lauren sem sucesso. — É por que eu ri da mulher dizer que eu sou sua namorada?

— É, Lucy, é exatamente por isso que eu estou brava com você. — afirma Lauren, ironicamente, com os braços cruzados.  

— Desculpe. — responde Lucy com um biquinho. — Por seja lá o que for que você está com raiva de mim.

— Você basicamente se jogou na frente de um carro! — Lauren exclama furiosa. — Você poderia ter morrido ali mesmo!

— Eu não me joguei... — tenta se justificar.

— Sem contar que ela poderia ter uma arma! — interrompe Lauren, gesticulando excessivamente. — Você é inconsequente para caralho e mesmo assim conseguiu se superar! — Lucy abaixa a cabeça, bufando. Lauren dá um passo na direção dela, que recua.

— Eu não pensei direito. 

— Ah, não me diga! — exclama Lauren, dando mais um passo.

— Por que você está sendo tão malvada comigo? Tudo que eu queria fazer era proteger você! — Lucy tenta se explicar.

— Me proteger se matando? Por que você quase conseguiu! Um passo a mais e carro teria te atirado para cima e você estaria morta agora! — grita Lauren, avançando mais dois ou três passos, fazendo Lucy encostar as costas na parede. — A última coisa que eu preciso é perder mais alguém!

— Eu já pedi desculpas, Lauren! O que mais você quer que eu faça?

— Pedir desculpas resolve tudo, não é?

— Pare com isso! — grita Lucy de volta. — Pare de descontar suas frustrações em mim! A culpa não é minha da sua ex-namorada louca ter surtado!

— A culpa é minha, então? — Lauren dá mais um passo, prensando Lucy contra a parede.

— Não, Lauren. A culpa é toda dela. — responde Lucy, empurrando Lauren para frente.
 — Você está me machucando!

Lauren recua e Lucy se senta em sua cama, com a cabeça baixa.

— Ela voltou há menos de dois dias e nós já estamos brigando. — diz Lauren se sentando ao lado dela. — Eu sinto muito, Lucy. — Lucy balança a cabeça silenciosamente.

— Saiba que se o táxi não tivesse me atropelado, quem estaria com o braço quebrado seria ela. — brinca, virando o rosto para Lauren.

— É claro. — responde Lauren, rindo. — Você teria acabado com ela.

Mais tarde, quando Ally aparece para deixar as roupas de Lauren que ficaram em seu apartamento, pedem pizza para o jantar. Lucy consegue tomar banho sozinha, mas precisa de ajuda novamente para vestir uma camiseta. Lauren passa uma hora debaixo do chuveiro, pensando. Ao sair do banheiro, se enrola em uma toalha e para na frente do espelho do quarto.

Por alguns instantes, não está mais ali. Sua mente a leva de volta àquela manhã de inverno, no Central Park. Ela quase pode sentir o vento frio batendo contra seu rosto enquanto se esforça para manter um ritmo de corrida. Ainda se lembra das batidas de sua música preferida nos fones de ouvido e dos raios de sol se esgueirando pelas nuvens, do cheiro das árvores e de uma ou outra pessoa passando por ali. E, obviamente, lembra-se do exato momento em que colocaram os olhos uma na outra.

— Pensando nela? — pergunta Lucy, entrando no quarto. Lauren suspira e balança a cabeça para os lados. — Não adianta negar, Lauren. Eu conheço muito bem essa expressão.

— Eu me lembro de tudo, em cada mínimo detalhe. Lembro-me de como, no momento que eu a vi, algo em mim mudou. Foi como se tudo que eu soubesse não fizesse mais sentido algum. — suspira, com um meio sorriso. — Aqueles olhos ficaram gravados na minha alma, sabe? O mundo inteiro desacelerou enquanto meu coração batia mais rápido que nunca. — fala levando uma mão ao peito. — E aquele sorriso... Ela pararia qualquer guerra se apenas sorrisse. — seu coração parece apertado e pequeno dentro do peito. — Eu senti que tinha encontrado a parte de mim que eu nem sabia que estava faltando. — completa com os olhos fechados e os ombros erguidos. — Tão confuso e tão certo, ao mesmo tempo. Você entende?

— Não posso dizer que sim. — fala Lucy, retorcendo um canto da boca. — Nunca senti nada parecido.

— Eu sei que deveria odiá-la, mas não consigo. Ela está fodendo com a minha vida e eu voltaria para ela num piscar de olhos. — confessa. — Eu sei que é errado, mas meu coração fica tentando achar desculpas para o que ela está fazendo.

— Estaria mentindo se dissesse que gosto dela. Mas era evidente o quanto aquela garota te amava, Lauren. Eu não acredito que ela  faria algo para te machucar.

— Sempre existe uma primeira vez, não é? — replica Lauren tristemente. Alguns momentos de silêncio se passam enquanto sua mente volta para o parque. O lago, as primeiras palavras que trocaram. O primeiro toque — um simples aperto de mãos, que enviou uma corrente elétrica através dos nervos dela. Uma sensação tão nova, mas tão familiar.

— Você quer ir à delegacia agora? — pergunta Lucy, chamando a atenção dela.

— Não, está tarde. E nós não temos provas, de qualquer jeito.

— Sabia que é sempre assim que as pessoas morrem nos filmes de terror? Escondendo as coisas da polícia? — Lauren rola os olhos.

— Nós podemos ir amanhã, se você faz tanta questão. — ela responde com uma risada.

— E você não faz?

— Eu... Eu quero falar com ela primeiro. Quero que ela me olhe nos olhos e me diga por que.

— Preciso te dizer que você só vai se encontrar sozinha com ela por cima do meu corpo morto e frio? — alerta Lucy tentando cruzar o outro braço por cima do gesso.

— Eu não disse que iria sozinha. — justifica Lauren. — Você pode ir comigo.

Acabam dormindo cedo, porque o cansaço supera a preocupação. Às oito e meia, Lauren dirige o carro de Lucy até o escritório e seguem para suas salas que ficam ao lado uma da outra, no terceiro andar do edifício.

— O caso Hastings vai ao tribunal amanhã de manhã. — avisa Brad, o assistente da firma entrando na sala de Lauren com uma pasta grossa cheia de papéis. — Suas anotações e dados gerais estão aqui. — ele diz colocando a pasta em cima da mesa dela. — E uma moça bonita perguntou por você na recepção. — Lauren dá um sorriso torto.

— Uma moça bonita? Ally? — o rapaz nega. — Dinah? Normani?

— Não, nenhuma delas. — responde o rapaz. — Uma moça de cabelos compridos iguais aos seus. E ela tem uma tatuagem estranha no pulso. — afirma, franzindo o cenho.

Lauren sente a espinha gelar e não consegue responder por um momento. Suas pernas amolecem e suas mãos ficam trêmulas.

— Uma tatuagem estranha em grego? — pergunta com os olhos fechados. — Como essa? — puxa a manga da camisa, mostrando o pulso.

— Bem parecida com essa. — ele responde despreocupado. — Ela parecia te conhecer então eu deixei que subisse. 

— Você fez o que? Brad, você não pode deixar ninguém subir sem me consultar! — o rapaz recua um passo, assustado.

— Eu sinto muito, eu pensei que ela fosse sua amiga... Eu posso chamar a segurança.

— Não, não. — diz Lauren, passando os dedos nos cabelos. — Só, deixe como está.

— Eu sinto muito mesmo, Dra. Jauregui. — diz, tirando os cabelos castanhos dos olhos. — Eu prometo que vou te perguntar da próxima vez. — Lauren assente irritada e ele sai da sala cabisbaixo.

O coração de Lauren bate como se fosse sair pela boca a qualquer instante. Ela mexe nos cabelos nervosamente e segura com os dedos o pingente que pertencia à Taylor, tentando se acalmar. Quando o elevador chega ao terceiro andar, ela sente gotas frias de suor em sua testa. As portas se abrem e, no momento que seus olhos encontram os dela, não pode evitar sorrir.

Todo o medo e a apreensão que Lauren sentia evaporam e a alegria invade seu corpo. Seu coração bate ainda mais rápido e requer todas as suas forças não correr e se jogar nos braços da mulher que anda graciosamente até sua mesa com um largo sorriso nos lábios e os cabelos balançando nas costas. Levantando-se de sua cadeira elegantemente, Lauren para na frente da dona dos olhos castanhos com os quais sonha todas as noites.

— Lauren. — fala com seu tom aveludado e Lauren se sente derreter por dentro. Ela levanta a mão para tocar o rosto dela e, de um segundo para o outro, Lauren desfere um tapa estalado em sua bochecha esquerda quando toda a alegria é substituída pela raiva e a dor que sentira nos dois últimos anos.

— Camila, sua vaca. — vocifera enquanto a outra toca a bochecha com uma expressão surpresa.

— Uau. — ela expira soerguendo as sobrancelhas. — Essa é a minha garota. — diz a latina, com um sorriso de lado. — Podemos conversar agora? 


Notas Finais


O que você achou do capítulo? Gostou? Tem alguma teoria? Alguma ideia?
Conte para mim nos comentários! Sua opinião é super bem vinda.

Até o próximo capítulo,

Love,
Lana.


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