História Adolescentes em Crise 5 - Terceirão: O Ano da Zoeira - I'm Not Okay

Duas semanas e meia se passaram e o Billy ainda estava putinho comigo.

- Você acha que até a festa de Halloween ele já estará falando com você? – Lucas perguntou apreensivo. Nós estávamos conversando na frente da porta da minha sala, pouco antes dos professores chegarem, depois do término do intervalo.
- Não sei, mas espero que sim. – respondi. – Apesar de eu ter só dois dias para resolver isso. – disse um pouco baixo.
- Às vezes me sinto meio culpado por isso.
- Você não tem que se sentir culpado, Lucas. – encarei-o. – Eu não me arrependo de ter sumido de perto deles daquela forma. O Billy tá de birra porque ele quer. Não tem um motivo lógico para isso. Ele tem que ver que ele não é o meu único amigo nesta escola.

Lucas concordou com a cabeça.

- Bem – disse ele. –, acho melhor a gente entrar. Nossos professores estão chegando.

Nos despedimos, e então entrei na sala.

Billy já estava sentado no lugar dele, mexendo no celular, enquanto ouvia música nos fones de ouvido. Estava tão baixo o som, que ninguém sabia que ele estava ouvindo rock.

Todos os que ainda estavam do lado de fora, entraram, e sentaram em seus lugares. O professor de Biologia percebeu o som alto dos fones do Billy e o olhou pasmo. Olhou para mim, para o Billy, e para mim de novo.

- O macho alfa ainda está bravo com você? – perguntou. A maioria da sala riu pela forma que ele disse.
- Sim. – respondi e ri.

Ele chamou o Billy pelo nome algumas vezes, mas o som estava tão alto que o querido estava ouvindo absolutamente nada do que estava acontecendo ao redor dele.

- Será que a senhorita poderia dar um jeito no nosso amigo? Porque não posso começar a aula com alguém ouvindo My Chemical Romance. – disse ao se virar para escrever a data na lousa.
- O quê? Você conhece essa banda?? – Scott perguntou surpreso, com um sorrisinho de canto.
- Muito emo para mim. – disse ele. – Alguém tira ele dessa depressão, pelo amor de Deus.

Nós rimos.

Scott e eu trocamos olhares. Aparentemente nós estávamos pensando na mesma coisa.

- Mas antes. – Scott disse com ar de riso, levantando o dedo indicador. E então começamos a cantar a parte do refrão da música que o Billy estava ouvindo: I’m Not Okay. Rafael, Caio e Gustavo entraram nessa também, enquanto que o resto da sala começava a rir de nós. Achei que quando o refrão acabasse, nós iríamos acabar de cantar, mas, Rafael, Caio e Gustavo continuaram, então logo eu e o Scott continuamos também. Percebi o Billy levantar o olhar para mim. Aparentemente ele se perguntou que merda nós estávamos fazendo. Tirou os fones de ouvido e desligou a música, mas nós continuamos cantando para ele, afinal, faltava pouco para acabar.

Quando acabamos, todo mundo começou a rir – com exceção do Billy, claro.

- Vocês não têm jeito mesmo. – o professor disse com ar de riso. – Não perdem uma oportunidade de zoar.

xx

- O que te fez ouvir My Chemical Romance? – perguntei com ar de riso ao Billy, enquanto ele arrumava a mochila para ir embora. Mas ele me ignorou. – Nunca foi muito a sua praia ouvir bandas punks. – continuei, e fui ignorada de novo. Ele colocou a mochila nas costas e foi saindo da sala. Abandonei minhas coisas ali mesmo para ir atrás dele. – Ah qual é, Billy! – falei alto enquanto o seguia no corredor. – Vai ficar putinho assim até quando? Tem certeza que vai ficar sem falar comigo por mais tempo? A festa de Halloween já é nessa sexta!
- Ué, por que você não faz parzinho com o seu amiguinho Lucas? – disse se virando bruscamente para mim. Eu não esperava por isso, e acabei ficando perto de mais dele. Dei um passo para trás.
- Não sei o que você vai pensar sobre, mas... Eu me sinto meio estranha quando tenho apenas uma companhia para sair fazendo merdas por aí. Tanto que na maioria das vezes eu preferi aprontar sozinha...

Ele continuou me encarando por um tempo. Apoiou a mão no parapeito, colocou a outra mão no quadril e cruzou as pernas.

- Tá... – disse um pouco baixo, mas ainda emburrado. – Desculpa. – disse tão baixo, que eu quase não ouvi.
- Oi? – falei com ar de riso, arqueando as sobrancelhas. Ele me encarou.
- Você me ouviu. – disse. Olhei-o com um sorrisinho de canto. Tadinho... Era orgulhoso de mais para pedir desculpas. – Mas não pense que já está tudo bem, viu. – continuou me encarando. – Ainda preciso de um tempo para mim. – fez uma pequena pausa. – A gente se vê na festa de Halloween.
- Tudo bem. – sorri. Eu sabia que aquele “a gente se vê” seria mais um “a gente se fala”, já que provavelmente ele não iria faltar às aulas seguintes. – Até.