Dois faróis, é tudo o que me lembro de ter visto antes de arcordar em uma maca de hospital.
Era sábado de manhã , nós iríamos almoçar na cidade e depois iríamos ao cemitério para visitar a vovó.
- Já pegou suas coisas, Sierra?- perguntou mamãe colocando a bolsa de Joey no porta malas do carro.
- Já sim, mãe. Vamos?
- Eu só vou colocar o Joey na cadeirinha e nós vamos.- disse papai.
Partimos em direção ao centro da cidade, Joey dormia em sua cadeirinha enquanto eu, papai e mamãe cantávamos uma musica conhecida que passava na radio.
Ninguém pode dizer que o que aconteceu a seguir foi obra do destino, pois eu não acredito que tenha sido.
A manhã estava clara, o sol adentrando as janelas do nosso Fox, papai respeitava o limite de velocidade, nada poderia dar errado.
Ate que eu vi a luz, a luz daquela caminhonete.
Um motorista bêbado pode causar muita destruição em sua própria vida, mas ele causa muita destruição na vida das outras pessoas também.
O tal homem da caminhonete andava em zig-zag na pista, e então, bateu de frente com o nosso carro.
Acordei na UTI uma semana depois, e depois de me recuperar, os médicos me deram a notícia de que eu iria para um orfanato.
Era isso, eu estava órfã.
Pensei que poderia viver com o meu irmão, já que mamãe e papai não resistiram a batida, mas o bebê havia sumido. Simplesmente sumido.
Passaram-se meses e nada, nenhuma notícia do paradeiro de Joey. Ele só tinha dois anos quando foi arrancado dos braços de sua família. E eu tinha seis quando perdi tudo o que eu tinha.
Um ano se passou, os policiais que investigaram o caso do meu acidente -o qual levara minha família de mim-, deram por encerrado. Não haviam pistas do sequestro do meu irmão e eu era nova de mais, lembrava muito pouco do acidente.
No orfanato, um ano e seis meses depois de minha infeliz chegada, encontrei uma luz naquele lugar.
Brandon, ele tinha a minha idade e por mais que eu não soubesse o porquê, sentia que ele era como um irmão. Ele sempre teve seu jeitinho um tanto quanto afeminado, nunca se negou a brincar comigo de bonecas, me protegia quando Viviên implicava comigo, infim, sempre fomos nós dois. Nós dois contra o mundo. Até que passamos a ser três, quando Rachell chegou.
Eu e Brandon estávamos jogando bola quando ouvimos a voz irritante da Viviên.
-Muito engraçadinha você. Mas, qual seu nome?- perguntou Viviên à uma garota morena de olhos azuis, que estava sentada em baixo de uma árvore.
- Que bom que gostou da piada, estou elaborando outras. Sempre que precisar de alguém pra lhe dar uma patada, conte comigo. Há, a propósito, Rachell. - respondeu a garota.
Saí do campinho onde estava jogando bola com Brandon e o mesmo me seguiu, fui em direção as meninas já interrompendo o questionário de Viviên.
- Pare de implicar com a menina nova Viviên, vá arranjar uma pessoa a qual você possa roubar suas bonecas.- disse.
- Só queria conhece-la, mas já que a nerdzinha metida e o viadinho chegaram, é melhor eu ir mesmo- resmungou e saiu balançando os cabelos.
Acho que ninguém naquele orfanato aguentava ela, dês de que eu havia chego lá, ela sempre me tratou mau; me chamava de nerdzinha e com Brandon não era diferente.
Depois que a loira oxigenada saiu, eu me aproximei da menina nova já me apresentando.
- Olá, qual seu nome? O meu é Sierra- disse bem rápido. -Esse é o Brandon, meu quase irmão- completei.
- Olá, sou Rachell. Aquela garota é sempre assim?- perguntou ela.
- Infelizmente, a mãe dela é a dona do orfanato, a tia Carmen- disse Brandon.
- Ah, entendi. Ela se acha a rainha daqui por ser a única que tem uma mãe biólogica?- perguntou.
- Mais ou menos. Ela tem mãe, mas não tem pai. E a tia Carmen passa mais tempo conosco do que com ela. - falei.
- Nossa, coitada.- respondeu.
- Mas então Rachell, vamos brincar? - perguntei tentando sair daquele assunto.
- Vamos.- disse Rachell.
Levantamos e voltamos a jogar bola, mas dessa vez com uma amiga nova.
Uma amiga nova que não desgrudou do meu lado nem com reza, e durante este sete longos anos ela aprontou, se encrencou , e riu comigo.
Brandon não é diferente, muito embora ele seja mais medroso no quesito "aprontar", é ele quem sempre nos livra do castigo e de vez em sempre da o sermão que a tia Carmen não deu.
Mas toda a nossa folia acabou, quando a tia Carmen disse que hoje viria alguém que quer adotar um adolescente.
- Que loucura, é muito difícil alguém querer adotar um adolescente.- disse.
- Verdade, faz anos que eu não vejo nenhum adolescente ser adotado.- disse Brandon.
- Só sei de uma coisa, vai ser muito difícil de alguém me adotar. Eu sou uma peste.
- Somos né Rachell, somos- eu ri.
- Só vocês mesmo, porque eu sou um santo- disse Brandy, mexendo em seu cabelo imaginário.
Estávamos sentados em baixo da árvore em que conhecemosa Rachell, quando uma mulher entrou pelo portão do orfanato olhando em volta.
- Será que é ela?- perguntei.
- Acho que sim, afinal, porquê ela iria ficar olhando para todos os lados com um sorriso no rosto, se não fosse? - disse Rachell.
- Talvez ela tenha feito plástica e deu errado. E como um efeito colateral ela ficou com a cara dura- disse Brandon e caímos na gargalhada.
- Acho que nós chamamos a atenção dela e a da fia Carmen também. - falei.
As duas andaram lentamente e sorridentes na nossa direção, afinal, o que é tão engraçado?
Eu até poderia chegar a conclusão dessa pergunta, porém, minha linha de raciocínio foi quebrada com a voz da tia Carmen chamando a minha atenção.
- Sierra?- perguntou ela.
- Oi oi, tia Carmen. O que foi?
- Quero apresentar pra vocês a senhorita Dallas. - disse a tia Carmen.- Dallas, esses são Sierra, Brandon e Rachell.
- São namorados?- perguntou Dallas apontando para mim e Brandon.
No mesmo momento eu, ele e Rachell nos entreolhamos e começamos a rir.
- Não, não. Eles são grudados desde que chegaram aqui a sete anos atrás. Os três. Mas eles se consideram irmãos.
- Ah, entendi- disse Dallas risonha.
- Vamos senhorita?- perguntou tia Carmen.
- Vamos sim. Tchau queridos.
- Tchau- dissemos em uníssono.
Cinco horas mais tarde, na hora do jantar, fonos informados que eu e Brandon fomos adotados pela tal senhorita Dallas.
- Eu não acredito nisso! - disse chorando.
- Calma Sie, pensa pelo lado bom. Vocês vão sair daqui, e juntos. - disse Rachell , que se segurava para não chorar.
- Mas você não vai junto! Isso não pode estar acontecendo, é injusto.
- Pode não ser justo, mas nós sempre manteremos contato Sie, nós três não vamos nos separar por nada. Nada. Entendeu?- disse Rachell e eu assenti. - Então vão arrumar suas coisas. Agora.
- Tá bom mamãe, tá bom.- sorri.
Eu nunca pensei que isso aconteceria depois de tantos anos nesse orfanato. Mas aconteceu.
Não tem como eu dizer as regras da vida, muito menos dizer como ela funciona. Eu estou feliz. Consegui uma família, apesar de eu nunca ter esquecido a minha família biológica e nem nunca irei esquecer.
Não queria ter que deixar a Rachell, mas ela prometeu que nunca vamos nos separar.
E ela sempre cumpre suas promessas.
O dia amanheceu, não demorou muito e a senhorita Dallas aparecer e nos levar em bora.
Mesmo estando em prantos, Rachell deu um sorriso. Um sorriso que me confortou nessa nova etapa da minha vida. De nossas vidas.
E se depender de mim, nós vamos sorrir muito ainda , e juntas.
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