História Agente nem tão secreto - Prólogo

Cara, se eu não necessitasse completamente daquele emprego, pra, sei lá, viver, com certeza daria um soco no rostinho bonito do meu chefe que me encarava com um sorrisinho de canto que eu entendi como “você vai fazer querendo ou não, quem manda aqui é eu.” E pra mim só restava encará-lo com minha melhor cara de bunda, porque realmente não podia fazer nada.

Respirei fundo, desviando meu olhar para a mesa onde se encontrava um arquivo de nome “Wu Yifan.”

− Pelo o que eu entendi... – Comecei, coçando a nuca. – Esse cara quer contratar alguém para ficar de babá do namorado dele? – Quando se falava em voz alta ficava ainda mais ridículo.

O trabalho de um agente secreto é se infiltrar em quartéis de drogas, trabalhar disfarçado como um criminoso, você é praticamente jogado no submundo, tendo que extrair informações sem ser descoberto e morto. A pressão que você sofre é grande.  Muitas pessoas já cometeram suicídio depois de terminar uma missão.

Mas aquilo que Junmyeon estava me oferecendo era servir de babá para um homem adulto só porque um ricaço queria. Não quase fui morto no *Beco de Hogan para cuidar de um homem já adulto.

Kim Junmyeon fechou os olhos, desmanchando o sorrisinho como se pedisse paciência. Oras quem deveria ta pedindo paciência era eu! Não entrei no FBI pra servir de babá. Por fim, ele voltou a me encarar, dessa vez estava sério, o que me fez imediatamente endireitar a postura, ainda era meu chefe ali.

− Não é ficar de babá Park Chanyeol. – Ele disse, apertando a têmpora como se algo realmente serio estivesse acontecendo. – O assunto é muito mais intenso do que parece. Wu Yifan não é um riquinho qualquer.

− Tenho minhas duvidas.

− Acredite se quiser, ele é importante para nós. – Junmyeon crispou os lábios, como se quisesse me contar algo ao mesmo tempo em que não queria. – O nome Kris Wu é familiar pra você?

Franzi as sobrancelhas por um momento, tentando recordar da onde conhecia aquele nome. Quando finalmente as peças se encaixaram, não pude evitar meus olhos de se esbugalharem ao mesmo tempo em que meus lábios se abriam em completa incredulidade.

− Kris? – Falei um pouquinho alto demais, me repreendendo logo depois. – Kris Wu não era o filho mais velho de Jung Wu? – Junmyeon apenas acenou brevemente, deixando que as peças se encaixassem sozinhas no meu cérebro. – Eu pensei que ele estivesse morto.

− Todos pensaram. – Junmyeon suspirou, deixando por alguns segundos sua preocupação transparecer. – Pelo o que parece ele mudou de nome e não assumiu os negócios do pai. Desde o momento que ele procurou nossos serviços algo me pareceu estranho, depois de investigar, tudo fez sentido.

Ignorei os extintos afiados de meu chefe, pronto pra começar a falar como aquilo era impossível, porque se Kris não tivesse assumido a máfia chinesa depois da morte do pai, com certeza estaria morto, ou sendo caçado de uma forma tão assustadora que a morte seria uma escolha muito melhor. Mas antes que pudesse fazer isso, Junmyeon voltou a falar com seriedade.

− Então, como qualquer idiota pode descobrir... – Junmyeon levantou-se da cadeira, parando ao meu lado e pegando o arquivo denominado “Wu Yifan” – Ele não poderia está vivo se fizesse isso. Ele com certeza assumiu os negócios do pai as escuras, sem chamar atenção de ninguém.

Se ele tivesse assumido os negócios do pai mesmo, fazia sentido ter mudado de nome e não ter divulgado sua dominância, mas...

− Não pode ser isso, Junmyeon. – Falei, fazendo o Kim me encarar. – Se ele realmente é Kris Wu, e se realmente é o novo chefe da *Tríade, por que diabos ele iria procurar o FBI para arrumar um agente secreto? Não tem lógica.

Junmyeon suspirou, apertando novamente a têmpora e voltando a seu lugar, encarando a mesa como se estivesse cansado de pensar sobre esse assunto.

− Eu também não entendi. Por que ele faria isso? Por que contrataria um agente secreto para proteger uma pessoa próxima a si? O que ele tanto teme? Depois de anos se escondendo, sem nunca ser descoberto, por que se expor logo agora? Mas... – Engoliu em seco, fazendo um barulho de estalo com a boca. – Também existe a remota possibilidade dos meus palpites estarem errados.  

Quase ri com aquilo. Junmyeon não era o tipo de pessoa que aceitava erros, em todos os cinco anos que estive ali nunca o vi falhar em nenhum caso. Todos eram resolvidos com maestria, sem erros e sem demora. A visão dos cabelos bagunçados e olheiras profundas me faziam achar que ele estava realmente desesperado atrás de respostas.

− Preciso que você pegue o caso e descubra pelo menos um pouco, só um pouco, assim eu poderei investigar com mais intensidade, te deixando livre disso.

Olhei novamente para a pasta sob a mesa, imaginando que se aceitasse o caso, minha vida automaticamente estaria correndo perigo. Se envolver com a máfia chinesa era uma sentença de morte, e isso não era boato ou exagero. Afinal, todos os envolvidos no antigo caso de Jung Wu estavam mortos. Os agentes que se infiltraram na *Tríade Chinesa na época de dominância de Jung não viveram para contar o que acontecia lá dentro.

Engoli em seco, aquilo também era um caso pessoal pra mim. Onde alguns demônios do passado pareciam está voltando aos poucos para me assombrar. Apenas balancei a cabeça negativamente, afastando esses pensamentos mórbidos e voltando a atenção para Junmyeon, determinado.

− Quando começo?