História Ah, é tão errado assim te amar? - Canoagem

Lincon-

Será que eu peguei muito pesado naquela hora? Não…eu estava certo…eu estava certo, né?

-Três…idiozinhooos - Franzi a testa quando escutei um murmurro estranho vindo do quarto. Depois de ter andado por aí sem rumo, e descobri que as atividades do acampamento começam amanhã, voltei para o quarto sem vontade de falar com ninguém.

-Baaby, eu…bolinho - Outro murmurro estranho, abri a porta do quarto lentamente vendo duas pessoas dormindo nos beliches, Gabriel estava com a boca aberta, e falava coisas sem sentido. Miguel só estava ali mesmo dormindo. Nada de anormal aparentemente.

Soltei um suspiro pronto para deitar na cama e refletir sobre a existência do universo, quando do nada a porta e bruscamente aberta pelo filho do idiota, mais conhecido como Tony, todo desengonçado e suando. Ele olhou para mim com a respiração ofegante, e quanto eu abri a boca para falar algo ele simplesmente levantou uma mão em minha direção em sinal de "pare"

-Nem pense nisso! Eu não estou com a menor vontade de discutir hoje, eu só preciso dormir e esquecer que cobras existem! - Continuei ali parado sem saber o que falar quando ele só se jogou no beliche, e virou de costas para mim. Revirei os olhos. Depois eu que sou o estranho.

Apenas me joguei na cama também, sem a menor vontade de escovar os dentes e nem nada, apenas fechei os olhos…

…

-AAAAH! - Um barulho de alguém tocando um trombone explodiu em meus ouvidos, junto com o grito de alguém.

-AH NÃO, DESLIGA ISSO - Gabriel gritou com a voz abafada pelo travesseiro em sua cara, Miguel nem parecia ter acordado e Tony acordou assustando gritando "COBRA!"

-VAMOS ACORDAR CAMBADA! - A voz do nosso supervisor, que parecia um garimpeiro, parecia estar saindo de um megafone, literalmente.

-Acordar o caramba! - Gabriel mais uma vez falou, só que desta vez com o travesseiro afastado do rosto, ele estava com uma cara de sono que parecia não ter dormido a dias.

-Ãhn? Que? - Miguel finalmente tinha acordado, falando com uma voz de retardado, também com sono.

De repente, como se fosse em um passe de mágica Gabriel levanta da sua cama, e ainda resmungando se joga em cima de Miguel, e depois apenas gritou "EU NÃO VOU ACORDAR!"

Apenas ignorei aqueles barulhentos e me levantei silenciosamente como sempre, e como sempre não pareceram me notar de início, eu já estava acostumado a isso na verdade.

-ALGUEM DISSE COBRA? - Tony perguntou parecendo um lunático, não revirei os olhos por estar acostumado a não fazer expressões faciais e apenas peguei minhas roupas em uma mala, tinha Trista minutos até tomar banho e ir fazer as atividades.

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-CEEERTO! - Um homem barbado falou em nossa frente, ele vestia um short de escoteiros junto com a camisa, tudo verde junto com um chapéu e botas de escalada, aquela barba o fazia parecer uma estátua grega, ainda mais por ser branca - HOJE ESTAMOS AQUI PARA FAZER O QUE CRIANÇAS?

-Correr pela floresta? - Gabriel tinha perguntado após vários comentários, todos ali já tinham tomado banho, e por precaução, botamos Miguel longe de Gabriel para ele não dar uma surtada novamente e fazer não sei o que com ele, porque ambos não falaram realmente o que aconteceu no banheiro, pelo menos não comigo já que eu estava ocupado demais em tentar afastar as intenções assassinas de matar Tony naquele momento. Falando em Miguel, ele estava ao lado de Gabriel, sendo abraçado pelo pescoço, Gabriel olhava seriamente para uma garota que parecia comer Miguel com os olhos, e o de olhos verdes só prendia o riso ao máximo olhando para Gabriel que soltava fogo pelas narinas. Urgh, casais que não se assumem, eu mereço aturar isso.

-EEERRADOO, É CERTO AO MESMO TEMPOO! - Ele gritava como se estivesse cantarolando ao mesmo tempo, e isso era estranhamente engraçado. Ali estava fazendo um calor não muito forte, mas que não me impediu de usar um casaco com um capuz para me sentir o máximo nas sombras possível - Quem aqui leu o panfleto sobre o acampamento que foi entregue a vocês?!

A maioria levantou as mãos, junto com meu grupo. Ele soltou um sorrisinho, com aquela postura ereta e mãos na cintura. Antes de virmos para este bosque, paramos no salão principal, as sete em ponto, para receber as instruções e blá blá blá.

-Hoje teremos uma atividade divertida…CANOAGEEM! - Era incrível a capacidade dele falar um simples esporte como se fosse a coisa mais impressionante da face da terra, assim como nosso professor de matemática fazia, só de sentir sua animação minha perna começou a balançar impaciente e corri os olhos por todos ali em meu alcance de visão, maldito transtorno de hiperatividade!

-yaaay - Alguma garota atrás de nós soltou de uma forma irônica uma exclamação e até levantou os braços.

-É um detalhe. Vai ser uma competição entre seus grupos escolhidos, cada um vai ter uma equipe de quatro e o grupo que ganhar vai ter direito a escolher algo, seja ter uma hora no banheiro exclusivo só para a pessoa, ou poder acordar um pouco mais tarde. Sabem como é, botar lenha na fogueira para esquentar as coisas no nosso segundo dia de acampamento - Ele agora fingia um desinteresse enquanto fitava distraído um galho de árvore. Mas bastou ele falar isso que a garota atrás de nós logo trocou sua animação irônica por uma animação de verdade gritando um "YAAY!" como se fosse um grito de guerra nórdico, sendo acompanhada por mais três garotas que levantaram o punho no ar. E não eram só elas a ficarem animadas, muitos grupos já soltavam gritinhos animados, e eu, mesmo odiando ficar muito perto de pessoas e toda aquela agitação, sabia que precisava extravasar aquela ansiedade em algo, e nada melhor que um esporte aonde eu nunca pratiquei, e ainda por cima uma competição.

Ótimo! Obrigada mais uma vez vida! Não podia me deixar só nas sombras tendo um pequeno ataque de ansiedade não é?! Mas é claro que não!

-VAMOS ACABAR COM ELES! - Me surpreendi levemente quando Miguel gritou com os olhos pegando fogo, daonde surgiu toda aquela determinação? Pelo visto Gabriel teve as mesmas dúvidas que eu, porque logo encarou seu caso de enrolação por não admitirem nada que se gostam e Miguel logo abaixou a cabeça sussurando algo no ouvido dele, eu vi o exato momento em que o brilho de confusão no olhar de Gabriel mudou para um travesso é mais do que simplesmente suspeito. Ele soltou um risinho maligno e logo deu um grito de que iria chutar aqueles traseiros na água até ficarem molhados.

Pensei melhor e decidi ignorar os dois, eu hein. Apenas continuei com minha expressão imparcial, sempre evitando olhar para Tony, aquele maldito filho de um pedaço de criminalidade! Fala sério, pessoas morrem por causa dessas malditas drogas! Eu mesmo sei disso porque…! PORQUE…PORQUE EU SEI A PORRA QUE É ALGUÉM MORRER POR CONTA DESSA PORCARIA VICIOSA, E EU NEM TIVE CHANCE DE CONHECER MINHA MÃE E AJUDA-LA A COMBATER ISSO!

-Você tá bem? - Dei um pequeno pulo de susto quando Gabriel perguntou sem o menor filtro ou delicadeza para mim, só aí que percebi minha respiração ofegante e perna batendo impaciente junto com uma linguagem corporal tensa deixava obvio que eu estava transtornado. Balancei a cabeça em afirmação e logo fiquei com a expressão imparcial e sombria de sempre. A melhor estratégia para não surtar agora é fingir que eu não estou surtando.

-VENHAM COMIGO CRIANÇAS! - E lá se vai o homem barbado com um shortinho de escoteiro pela floresta, sendo seguido pelos grupo determinados. Olhei mais uma vez para todos ali procurando quem eu queria, mas ele não estava ali, é isso pareceu piorar meu humor. Rapidamente fechei a cara passando pelas pessoas com aquela aura sombria de "Não é uma coicidencia que eu pareço um vampiro, tentem mexer comigo e morram".

Segui o homem barbado, ou pelo menos tentei segui-lo pela floresta, tinham tantas pessoas em minha frente que eu parei de tentar achar aquele cara e simplesmente comecei a seguir o aglomerado de pessoas. Após um tempo considerável, tínhamos chegado em frente a um rio, mas um rio extremamente límpido e cristalino, bem, pelo menos no seu início, se olhasse um pouco adiante poderia ver as pequenas ondas que se formavam pelo pequeno Rio. O homem escoteiro subiu em uma pedra alta, e se virou para nós sorrindo.

-Vamos começar agora com o treinamento básico de canoagem! Cada grupo vá para uma canoa - E bastou isso para que vários adolescentes que pareciam ter tomado quatro energéticos inteiros foram para as canoas de madeira encostadas nas margens do rio. É assim como todos, eu fui seguindo Miguel que estava estranhamente confiante indo em direção a uma canoa que sobrou. Mas meu mau humor continuava.

Depois de algumas instruções básicas sobre como não cair da canoa, não morrer afogado e como remar sem acabar fazendo besteira, o homem barbado (que tinha se apresentado como Mike) mandou entramos na canoa e posiciona-la em uma linha de partida improvisada com duas bandeirinhas nas margens.

Eu conseguia sentir a energia competitiva de quase todos ali, é isso me fazia ficar mais hiperativo ainda. Cada uma daquelas pessoas queriam ganhar para conseguir alguma coisa, seja poder mexer no celular, ou comer a hora que quiser, o que importava ali era que eu tinha quase uma certeza definitiva.

Eu vou morrer afogado da pior maneira possível sendo jogado fora da canoa por monstros raivosos chamados meus colegas de escola!