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História Akai Ito: Evanesce - Sobre avisos, perturbações e enganos


Escrita por: AyameBlueWorld

Notas do Autor


Boa noite!
Primeiramente, muito obrigado pelos 12 favoritos, estou imensamente agradecida por isso.
Em segundo, eu queria dizer que farei todo um esforço de postar ao menos um capítulo a cada quinze dias, mas que se eu não conseguir, peço que me perdoem. No entanto, farei o máximo possível para que Evanesce chegue as mãos de vocês religiosamente domingo sim domingo não, então fiquem atentos para isso.
Em terceiro, espero que gostem deste novo capítulo.

Capítulo 2 - Sobre avisos, perturbações e enganos


Donghae não conseguia entender o que acontecia.

Por mais que ele se pusesse a pensar, e por mais que sua mente tentasse encontrar razões para que aquilo acontecesse, ele definitivamente não conseguia encontrar uma resposta plausível.

 As ações daquele menino, desde o início, não fazia qualquer tipo de sentido.

Ele havia percebido que o garoto mantivera seus olhos postos em si a todo instante, conforme a inspetora o repreendia por envolver-se em uma briga logo no seu primeiro dia de aula. Enquanto apenas concordava com a sentença que recebia, consciente de seu erro e dos milhares de “eu avisei” que Kyuhyun endereçava-o vez por outra, Donghae pudera sentir perfeitamente os olhos fixos do outro garoto mantidos sobre si, sem vacilar, em uma avaliação silenciosa.

Donghae pudera senti-los, da mesma forma como podia senti-los sobre si naquele exato momento, onde ambos estavam sozinhos.

O tipo de olhar que Hyukjae possuía, afinal, era um olhar extremamente difícil de ignorar.

Era a espécie de olhar que queimava as costas de suas vítimas e as perfuravam, tão profundo e tão intenso era o seu poder. Olhos que se mantinham completamente fixos por longos períodos de tempo e que escondiam magistralmente uma gama gigantesca de pensamentos e emoções desconhecidas. Olhos que, facilmente, marcavam o seu alvo.

Aquele era o tipo de olhar que Donghae encontrara direcionado para si, quando decidira, no final do discurso da inspetora, virar-se para o lado, para finalmente encarar de volta o rapaz de cabelos negros com quem havia brigado.

E o que viu dentro daqueles olhos, certamente, o surpreendeu.

Porém, não foi apenas o jeito do olhar daquele garoto o que o intrigara de todo. Era o conjunto da obra, se assim pudesse ser chamado. Era a forma com a qual o rapaz desviara o foco de seu olhar, quando percebera que fora pego em flagrante pelo seu alvo, e a forma na qual fingira, sem qualquer tipo de restrição, que nada daquilo havia acontecido. O que o perturbara e o que perseguira a sua mente, era a forma na qual o garoto deu-lhe as costas e saiu marchando corredor afora, com uma postura audaz, logo após a dispensa da inspetora, sem que antes Donghae pudesse lhe direcionar uma palavra sequer de qualquer natureza. E definitivamente, o que mais o atormentara, era a forma com a qual a figura do rapaz o impressionara e perseguira os seus pensamentos.

Para Kyuhyun, ele estava apenas exagerando.

Após um discurso um tanto longo de seu melhor amigo, acerca de como ele só podia estar brincando ao se portar exatamente da forma na qual ele havia acabado de lhe dizer para não fazer, e após extensas recusas a ajudar-lhe a se livrar daquele problema, mesmo sem que isto lhe fosse sequer pedido, Donghae tentou se explicar, lhe contando o que havia acontecido em detalhes, e mencionara a forma na qual o outro menino havia se portado.

Segundo Kyuhyun, Hyukjae portando-se daquela forma e arrumando brigas pelos corredores não era algo novo. Em uma base quase diária, ele lhe explicara, o moreno poderia ser encontrado em algum lugar da escola a procura de encrencas, sem qualquer tipo de restrição. “Qualquer um que atravessar o caminho dele é um candidato propício” Kyuhyun lhe dissera, enquanto continuavam finalmente a andar até o refeitório, “independente da idade. Por isso todos os dias ele está na detenção. Dentro do conselho estudantil existe até uma piada sobre ele ter uma cadeira cativa na sala da inspetora.” Quando perguntado o motivo dele nunca ter sido expulso ou punido de forma mais severa, Kyuhyun lhe explicou: “Hyukjae é extremamente inteligente.               Você não vai ouvir muito sobre isso por aí, mas é de consenso geral. Embora ele seja o delinquente da escola, ele também é o primeiro no ranking de melhor estudante. Não faz muito sentido, eu sei, não é assim que delinquentes costumam proceder, mas é o que acontece. As médias dele sempre ficam em primeiro lugar no ranking semestral, na frente até mesmo do presidente do conselho estudantil, o que explica o jeito diferenciado na qual o tratam. Ele é o orgulho da escola, ao mesmo tempo em que é o maior problema.”

Para Donghae, aquilo não parecia normal. Portar-se daquela forma explosiva com todos e com qualquer um, ao mesmo tempo em que se possui uma atitude exemplar dentro de sala, definitivamente, não era uma atitude comum. Aquilo era como se... Hyukjae fosse, de uma forma distorcida, uma versão um pouco diferenciada de si. O que certamente o intrigava ainda mais. Tanto quanto as suas ações isoladamente.

“Não se meta mais nisso, Donghae”, Kyuhyun o alertara, assim que percebera o evidente interesse do mais velho pelo seu parceiro de detenção, quando este começara a fazer perguntas demais “e não, ele não possui muitos amigos desde que eu me lembre. Antigamente ele andava com um aluno mais velho que também dava alguns problemas para o conselho, sei porque já era representante de classe quando ele ainda estudava aqui, mas desde que esse aluno se graduou uns dois anos atrás, ele não parece ostentar muitas amizades. Até porque, as pessoas tem medo de se aproximar dele. Nunca se sabe quando ele irá explodir e procurar uma briga por um motivo qualquer. E é por te conhecer bem, e saber perfeitamente tudo sobre a sua síndrome de herói, que eu te peço para ficar longe disso. Cumpre a sua detenção hoje, e depois disso passe o mais longe possível dele.”

Donghae concordou com Kyuhyun. Ele sabia que o mais novo tinha razão sobre o que falava. Afinal, se havia algo que Donghae reconhecera desde cedo era o fato de que, embora fosse o mais velho dentre os dois, seu melhor amigo frequentemente demonstrava ser mais maduro do que ele. E naquele caso não era nem um pouco diferente. Se Kyuhyun lhe dizia que se abster era o melhora ser feito, se abster era o que Donghae faria.

Ou ao menos era o que ele estava tentando fazer naquele exato momento.

No final da sua ultima aula, Kyuhyun o esperou na porta de sua sala e o escoltou até a sala dos professores, onde o deixou na presença da inspetora, como uma forma de garantia que ele iria, de fato, cumprir com o castigo que lhe haviam designado. A inspetora, por sua vez, agradeceu Kyuhyun, a quem ela claramente possuía em grande apreço, e guiou Donghae até a sala onde ele deveria passar a próxima uma hora e meia de detenção. Tão logo ele havia se sentado em uma das cadeiras e havia começado a pegar seus materiais a espera das instruções do que deveria fazer, Hyukjae entrou na sala como se fosse um furacão, assustando-o de leve, e sem nada falar, logo tratou de se sentar na cadeira atrás de Donghae.

Assim que soube qual seria o seu castigo, Donghae sentiu-se aliviado. A punição que a inspetora colocara sobre os dois era deveras suave, em sua opinião. Devido a sua síndrome de herói, muitas foram as vezes na qual se deparou com banheiros, salas de aula e até mesmo corretores para limpar, como forma de castigo. Sem falar na vez em que fora praticamente coagido a pintar as paredes de uma sala, quando se envolvera em uma briga em grupo que culminara na inspetora de seu antigo colégio na enfermaria devido a uma perna torcida, ao tentar separar o grupo de meninos que se batiam entre si.

Perto daquilo, uma redação sobre indisciplina escolar parecia praticamente nada. De todos os males, aquele definitivamente era o menor.

Alguns minutos depois, após um segundo discurso sobre a evidente indisciplina dos dois, eles foram deixados sozinhos pela inspetora, que alegou possuir outros afazeres em outras instâncias escolares. Não sem antes, é claro, avisá-los que estaria de volta dentro de uma hora e meia, para conferir a tarefa que deveriam fazer.

Tão logo eles foram deixados sozinhos, Donghae deu início a sua redação. O ato de escrever, afinal, nunca fora uma tarefa muito difícil para ele. Tirando o fato de sua letra não ser uma das melhores, provocando muitas vezes maus momentos para aqueles que a tentassem ler, ele não encontrava nenhum problema no ato, achando-a até mesmo uma atividade prazerosa. E de fato ela assim seria, caso não fosse o evidente incômodo que sentia naquele momento.

Donghae sabia que ele estava com os olhos postos sobre si, da mesma forma que fizera mais cedo, em frente a inspetora. Ele podia sentir, vividamente, aqueles olhos em suas costas, queimando-as como fogo em brasa. Mas ele se recusava a devolver o seu olhar. No final das contas, ele também sabia que, assim que tentasse encará-lo de volta, ele desviaria a sua atenção como se nada tivesse acontecido, como tantas vezes fizera anteriormente.

Fingindo não se importar com isso, ele então continuou a escrever, relembrando-se de todos os sermões que havia levado na vida, devido a sua síndrome de herói, e de todos os discursos que Kyuhyun havia feito durante o dia, aproveitando suas palavras para melhor se expressar sobre o assunto em sua redação. Afinal, não havia ninguém no mundo melhor do que o seu melhor amigo para lhe inspirar um discurso sobre boas maneiras e sobre formas de se agir e de se portar dentro da escola. Não que Kyuhyun não fizesse algo de errado, ou fosse o aluno mais correto e centrado de todo o mundo. Não era nada disso.

Kyuhyun passava bem longe daquele estereótipo nerd, viciado em videogames e em estudos, com poucos amigos e estritamente correto, que muitas pessoas tentavam passar quando se juntavam ao conselho estudantil. Mas ele também não possuía nem de perto uma atitude rebelde e destoante dentre os demais, além de sua língua um tanto afiada, que por algumas vezes no passado já o havia colocado em encrencas. Se Donghae tivesse de definir Kyuhyun em poucas palavras, ele simplesmente diria que seu melhor amigo era uma pessoa absolutamente normal. E como todas as pessoas normais do mundo, esperava não se meter em grandes encrencas durante a escola, e esperava conseguir uma bolsa para entrar na faculdade com suas boas notas e recomendações, motivo pela qual ele havia se envolvido com o conselho.

Kyuhyun era, no final das contas, uma pessoa segura de si e certa de seus objetivos e planos, ao mesmo tempo em que era incrivelmente doce à sua maneira. Ele sempre queria o melhor para seus amigos, assim como sempre queria o melhor para si. E era por isso que, toda vez que ele pegava Donghae fazendo algo errado, ele fazia questão de falar e falar, até que o mais velho entendesse e admitisse estava equivocado. Ele fazia tudo aquilo com apenas um objetivo: o bem de Donghae.

Donghae foi retirado de seus pensamentos, que orbitavam em torno do seu melhor amigo, quando já estava partindo para o segundo parágrafo do seu texto, devido a um barulho de cadeira sendo arrastada atrás de si que o fez levantar os olhos de sua folha. Antes que pudesse virar-se para trás para procurar a fonte do barulho, Hyukjae passou ao seu lado andando forte, da mesma forma que havia feito quando entrara na sala minutos antes. Calado, e claramente sem muito entender, DongHae observou o outro andar até o começo da sala e estancar os seus passos logo a frente da porta, antes que as palavras saíssem inadvertidamente de sua boca:

– O que você está fazendo? – DongHae sabia que não deveria se dirigir a ele, até mesmo devido aos avisos de Kyuhyun, porém, não resistiu em perguntar assim que Hyukjae colocou apenas a cabeça para fora da sala e a virou para os lados, claramente para checar se havia alguém no corredor.

Assim que a sua voz chegou aos ouvidos de Hyukjae, DongHae imediatamente percebeu o outro retesar o seu corpo de leve, como se fosse uma criança ao ser pega no flagra por um adulto fazendo o que não deveria.

– O que você acha que estou fazendo? – ele finalmente respondeu, quando retornou para dentro da sala alguns segundos depois. Mas não sem antes dedicar um rápido olhar na direção de Donghae, que quase instantaneamente foi desviado para fora novamente, quando o rapaz à porta constatou que o outro havia os seus olhos postos sobre ele.

Hyukjae estava, DongHae percebeu, mais uma vez evitando encontrar o seu olhar.

– Você não está pensando em fugir do castigo, está? – continuou, fingindo não ter notado a escusa do outro – O seu castigo pode aumentar se a inspetora perceber…

– Ela não irá – Hyukjae deu de ombros, despreocupadamente – Se ela disse uma hora e meia, ela não estará aqui antes disso. Eu já estarei de volta quando ela vir, você não terá de dar satisfações sobre mim, se é isso o que o preocupa.

– Mas a redação…

– Já está pronta – Hyukjae interrompeu-o, inclinando a cabeça na sua direção como se o instigasse a checar por ele mesmo. Na mesma hora, Donghae arriscou uma olhada para a mesa atrás de si, e de fato atestou que, sobre ela, duas folhas escritas repousavam – Ela sempre passa a mesma tarefa quando é a primeira detenção de alguém, principalmente de um aluno novo – justificou-se, erguendo mais uma vez seus ombros, em um gesto de desdém.

E antes que DongHae pudesse falar qualquer outra coisa a mais, Hyukjae saiu porta afora, e o deixou completamente sozinho, com ainda mais indagações dentro da mente e uma redação mal começada sobre a mesa.

 

Faltava pouco mais de trinta minutos para que o prazo da inspetora terminasse, e Hyukjae ainda não havia retornado. Em sua mesa, jazia a sua redação terminada, completamente baseada nos melhores sermões de Kyuhyun, juntamente com a redação de Hyukjae, que Donghae fizera questão de ler. Para sua completa surpresa, a redação do outro garoto era esplêndida. Excepcionalmente bem escrita e bem argumentada, construída com começo, meio e fim bem pontuados. De fato, Kyuhyun não estava errado quando dissera que Hyukjae, embora fosse um delinquente, sabia perfeitamente o que fazer quando o assunto era matérias escolares. Se em uma redação ele havia se saído tão bem daquele jeito, o que ele não faria nas outras matérias que cursava?

Uma pontada de inveja cresceu dentro dele, enquanto ele lia mais algumas linhas impressionantes da redação que estava a sua frente. Ele sempre fora um bom aluno, também, com notas boas e tudo o mais, mas nunca de verdade conseguiria fazer uma redação naquele nível de forma tão impecável sem que levasse dias para que ficasse pronta. E a letra do outro ainda era bonita. Ou ao menos, melhor do que a dele. Não que fosse uma tarefa muito difícil, de qualquer forma...

Donghae estava em meio a uma centésima revisão de seu texto, comparando-o com o de Hyukjae, quando vozes altas soaram no corredor, retirando-o completamente de sua concentração. Achando estranho, já que tecnicamente a maioria dos alunos já deveria ter ido embora da escola uma hora daquelas, ele tentou não prestar atenção no que aquelas pessoas diziam e fez de tudo para simplesmente ignorá-las, porém, as mesmas não ajudavam nem um pouco ao falar cada vez mais alto e cada vez mais perto. E em meio a um mar de palavras de baixo calão que em verdade não o agradavam nem um pouco, uma palavra em especial o fez apurar os ouvidos e decidir começar a prestar atenção no que aquelas pessoas diziam: o nome de Hyukjae.

– Porra cara, eu juro, achei que tinha me livrado dessa depois que aquele idiota puxou briga com o Hyukjae e me deixou escapar enquanto ele apanhava por mim – um dos envolvidos comentou, de forma alta, como se nem suspeitasse que alguém pudesse estar por perto, escutando aquilo que falava naquele exato minuto. E muito menos que esse alguém fosse, exatamente, uma das pessoas a quem ele se referia em suas reclamações.

O idiota.

Donghae, claramente, havia sido o idiota a quem o garoto se referira na conversa.

As palavras do garoto fizeram a sua curiosidade acerca do que acontecera crescer ainda mais, além de instaurar inúmeras novas dúvidas dentro de sua cabeça. Havia, claramente, muito, mas muito mais além do que aquilo que ele pensara.

– Nada acontece tão fácil nesse mundo, você já deveria saber disso. Ainda mais quando se trata de Lee Hyukjae. Como você foi idiota o suficiente de se meter com ele, cara?

– Eu não tenho culpa! – a voz do garoto soou alterada – Como eu iria adivinhar que ele ficaria puto por algo assim? Não é todo dia que se vê Hyukjae tomar interesse em alguém, se não for para arrumar uma briga.

– Você acha que ele gosta dela? – o outro garoto, cúmplice do primeiro, falou, com uma voz que indicava clara suspeita. Donghae, naquele momento, sentiu uma sensação estranha dentro de seu estômago, e a única reação a isso que conseguiu esboçar foi o de aguçar ainda mais o seu ouvido, não querendo perder uma palavra qualquer do que estavam conversando. Gostar dela? Dela quem?

– Se eu acho? – o outro devolveu a pergunta, soando irônico – Só isso explica o motivo dele fazer todo aquele escândalo por causa das benditas fotos. Sem falar do celular, que ele tomou de mim antes mesmo que eu pudesse descobrir como desbloquear. Se não gostasse, ele estaria nem aí, eu teria as fotos que tirei pra mim até agora, e quem sabe teria anotado o número do celular dela e devolvido, fingindo que o tinha encontrado no chão por aí, tranquilamente, e eu não estaria com esse olho roxo na minha cara agora mesmo.

– Que azar, cara... Se infiltrar no banheiro feminino e tirar foto justo da calcinha da menina que o Hyukjae gosta... E ainda roubar o celular dela pra conseguir o número. Isso só pode ser azar.

A respiração de Donghae, naquele exato momento, falhou. Então era por isso que Hyukjae estava brigando com aquele garoto no corredor?

– Nem fala... – a outra voz respondeu, respirando fundo – Eu só me livrei de apanhar mais porque acabei desistindo e entregando as fotos e o celular para ele. Vai que ele resolvia acertar o meu outro olho. O idiota de hoje cedo não estava lá pra me safar mais uma vez...

– O que você acha que ele vai fazer com o que ele conseguiu de você?

– Não é óbvio? Ele vai guardar as fotos pra ele, é claro, e vai devolver o celular pra ela como se fosse o salvador da pátria, por tê-lo conseguido de volta. Isso, é claro, se ele não arrumar um jeito de desbloqueá-lo e conseguir todas as fotos da câmera dela antes, além do número.

– Você acha que ela tem AQUELE tipo de foto?

A ênfase dada na palavra não deixou margem de dúvida alguma para que Donghae entendesse que tipo de foto ele se referia. Naqueles dias, afinal, aquele tipo de coisa era bem comum de ser tirado e até mesmo compartilhado, inclusive entre amigas. Em sua escola de Seul, ele lembrava, houve um caso em que uma menina havia mandado fotos comprometedoras de si mesma para a sua melhor amiga, e quando as duas brigaram, a amiga que tinha as fotos espalhou-as por toda a escola, dando um sério problema com direito a polícia e tudo.    

A probabilidade de Hyukjae encontrar fotos comprometedoras da menina dona do celular apavorou Donghae completamente. Inúmeras possibilidades passaram pela sua mente, inúmeras hipóteses e cenários que sempre culminavam em um constrangimento irreparável para cima da menina, onde dificilmente se conseguiria tirá-la dessa situação sem maiores danos. Perdido em pensamentos cada vez mais sombrios e temerosos sobre o assunto, cheios de preocupação sobre o quanto Hyukjae poderia arruinar a vida da menina em questão, Donghae acabou por deixar a sua síndrome de herói falar mais alto do que o bom senso que os avisos de Kyuhyun representavam, e quando ele viu, ele já estava saindo da sala de aula e correndo pelo corredor afora, deixando sua redação e tudo o mais para trás.

Ele tinha de fazer alguma coisa sobre o celular, ele sentia aquilo.

Por sorte, não demorou muito para que ele encontrasse Hyukjae. Bem, mais ou menos. Quando saiu da sala de aula correndo, Donghae, inadvertidamente, encontrou com os dois garotos que ainda falavam sobre o assunto, e assim que os viram, ambos colocaram expressões obviamente temerosas no rosto. Os dois garotos, obviamente, esperavam uma ação explosiva da parte de Donghae, certos de que ele havia escutado tudo o que haviam dito sobre ele, porém, para a sua surpresa, tudo o que Donghae fez foi perguntar onde haviam visto Hyukjae pela última vez. Com o objetivo de se livrar o mais rápido possível dele, já que a última coisa que queria era ostentar um segundo olho roxo, depois de ter apanhado de Hyukjae poucos minutos antes, o menino logo tratou de gaguejar a resposta e, assim que a recebeu, Donghae desatou a correr na direção indicada.

Donghae não conhecia aqueles corredores, e nem mesmo fazia muita ideia de como poderia chegar ao destino que lhe fora apontado. Todavia, por pura sorte, enquanto corria tentando se encontrar dentro do prédio principal, seus olhos acabaram por capturar um reflexo luminoso do lado de fora de uma das janelas, o que chamou completamente a sua atenção. Curioso, ele acabou por estancar os seus passos enquanto aproximava-se da janela. Para o seu espanto, a pessoa que ele justamente procurava, Hyukjae, estava do lado de fora, de costas para si, bem a frente do reflexo luminoso que logo se mostrou proveniente de uma lata de lixo em chamas.

Escondendo-se por detrais da pilastra, para que não o visse, Donghae observou com cautela, de longe, Hyukjae olhar para os dois lados, e até mesmo para dentro do prédio, onde Donghae se escondia, para atestar que não havia testemunhas a observá-lo naquele momento.

O que era algo completamente suspeito.

Não que uma lata de lixo em chamas já não fosse algo suspeito em si.

Com cuidado, então, Hyukjae abriu os botões do blazer do seu uniforme de escola e, depois de remexer no que parecia um bolso interno, retirou um conjunto de folhas e as atirou no lixo uma por uma, até que todas tivessem o mesmo destino em comum: a fogueira que ele acendera.

Após alguns pouquíssimos minutos de espera, Donghae o observou se afastar devagar da lixeira em chamas, olhando para os lados mais uma vez, até que ele desapareceu, entrando para o colégio por uma das aberturas laterais. Sem esperar para que qualquer contratempo acontecesse, Donghae o seguiu, tomando o que achara ser o caminho que o levaria para onde Hyukjae seguia e, mais uma vez, por sorte, ele estava certo. Escondendo-se no vão entre um conjunto de armários e outro, de longe, ele espionou Hyukjae aproximar-se de um armário escolar que certamente não era seu, a julgar pelos olhares atentos que mais uma vez ele lançou ao seu redor, e, em completo silêncio, o viu tirar o que parecia uma pequena ferramenta do bolso e arrombar o cadeado do armário com maestria, como se estivesse mais do que acostumado com aquelas ações em seu dia-a-dia. Donghae estava prestes a ir até ele e confrontá-lo, para perguntar o que estava fazendo abrindo um armário que não era seu, quando o viu pegar algo novamente de dentro do bolso e colocar dentro do armário, fechando-o logo em seguida.

Com um último olhar para os lados, Hyukjae então colocou as mãos nos bolsos e saiu dali, o mais depressa que suas pernas o permitiam. Donghae, por outro lado, ali ficou, completamente estático, sem entender o que havia acabado de ver. As atitudes de Hyukjae haviam sido por demais estranhas, além de, é claro, esquivas e completamente suspeitas.

Em sua cabeça, uma explicação plausível para tudo aquilo começou a se desenhar lentamente, enquanto ele repensava tudo o que havia visto naqueles últimos minutos, mas relutantemente, ele se recusou a acreditar. Não poderia ser aquilo... Poderia? Kyuhyun não poderia ter se enganado daquela forma, caso a suspeita que se desenhava dentro de si se confirmasse. Se aquilo estivesse certo... Hyukjae seria a pessoa mais injustiçada de todo o mundo.

O debate interno dentro da sua cabeça estava acontecendo de forma tão profusa, que ele sequer reparou quando uma dupla de garotas se juntou a ele no corredor e uma delas abriu justamente o armário que Hyukjae havia arrombado pouco antes. Foi um gritinho fino, emitido pela dona do armário, o que retirou Donghae de seus pensamentos.

– Oh meu Deus, está aqui! – a menina quase gritou para a sua amiga, recebendo um abraço desta logo em seguida. A garota, visivelmente, estava a ponto de chorar, o que fazia a sua amiga apertá-la ainda mais em um abraço, como se aquilo pudesse a impedir de agir daquela forma – Eu achei que o tinha perdido!

– Eu disse para você que era só questão de procurar! Falei que deveria estar em algum lugar que não havíamos visto antes. Não se perde um celular assim tão facilmente, ainda mais uma pessoa tão cuidadosa como você.

– Eu sei, é que eu fiquei com tanto medo da minha mãe brigar comigo... – a menina respondeu a amiga, soluçando de leve, e de longe, Donghae pode ver o quão bonita ela era. Provavelmente, o sonho da maioria dos garotos da escola – Sem falar que, imagina se ele cai na mão de alguém errado...

– Não diga isso! Esquece, já passou – a menina sorriu para sua amiga, de forma confortadora – Você deve ter deixado ele aí mais cedo quando viemos pegar os livros para a aula, e acabou nem percebendo. Vamos, deixa disso. Não chore e vamos para casa, que a gente já passou tempo demais na escola, além do necessário.

A passos lentos e com sorrisos aliviados nos rostos, as meninas se afastaram na direção oposta da direção de Donghae e, assim que elas desapareceram no final do corredor, ele saiu de seu “esconderijo”, dando uma última olhada para o armário que havia provocado tantas dúvidas em si ficava.

Em menos de cincos minutos, ele voltou para a sala onde tivera lugar a sua detenção, e sentou-se novamente na sua cadeira a frente de Hyukjae, que já estava de volta ao seu lugar. Donghae não dirigiu a ele uma palavra sequer, e o outro também não o fez de igual forma. A única coisa trocada entre os dois, naquele momento, foi um olhar, que durou apenas alguns segundos, antes que Hyukjae o desviasse como sempre fazia, embora Donghae soubesse que ele o depositaria sobre si assim que lhe desse as costas, o que de fato aconteceu.

Os dois esperaram o retorno da inspetora dentro do mais absoluto silêncio, que felizmente, não demorou a acontecer. Com pouquíssimas palavras, ela recolheu as redações de ambos e os dispensou sem maiores constatações, dizendo que estava a fazer aquilo porque um engraçadinho havia achado engraçado colocar fogo na lixeira da escola e que por isso ela não poderia passar mais tempo do que o necessário em suas companhias, mas não sem remarcar que não mais os queria ver na detenção.

Hyukjae foi o primeiro a deixar a sala, marchando para fora tão logo a inspetora dera permissão, acompanhando-o em seguida, deixando Donghae completamente sozinho dentro da sala.

Quando ele olhou para o seu relógio, não foi surpresa perceber que Hyukjae, de fato, estivera certo: faziam exatas uma hora e meia desde o começo de sua detenção, e a inspetora de fato havia respeitado aquele horário religiosamente. Um sorriso apareceu em seu rosto ao pensar o que acontecera e o que de fato descobrira naqueles últimos minutos, que ninguém mais em toda escola fora capaz de descobrir em todos os anos estudando ali.

Não. Hyukjae não era um delinquente.

Muito longe disso.

Talvez os seus meios não fossem os mais ortodoxos, e nem os mais abertos e claros, porém, ele certamente não era a pessoa que todos achavam que era. Hyukjae havia, no final das contas, batido no garoto que violara duplamente a privacidade de uma garota, e ainda havia destruído toda e qualquer foto que fora retirada dela sem a sua autorização, além de devolver o aparelho celular intacto para as suas mãos.

Não...

Hyukjae não era uma espécie de delinquente, ou mesmo o aluno rebelde que aparentava ser. Todos estavam completamente enganados sobre ele. Hyukjae era, em verdade, não muito diferente de Donghae. Ou melhor dizendo, ele possuía a mesma coisa que Donghae possuira durante toda a sua vida: Síndrome de herói.

Uma síndrome de herói, manifestada de forma oculta.


Notas Finais


Até a próxima!


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