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História Além da Esperança - IX - Roleta Russa.


Escrita por: Vexus

Notas do Autor


Voltei! Para fechar o ano com chave de ouro! (ou não)

Consegui trazer o capítulo antes que o ano acabasse, aos quarenta e cinco do segundo tempo! Huhauahuauhuahuahhua
Espero que todos tenham uma ótima virada de ano e que 2017 seja bem melhor que 2016 (bem melhor mesmo).

Agora vem a parte triste... Então... Acreditem ou não minhas aulas voltam no dia 2 (escrava Isaura) e nesse mês de Janeiro eu vou estar atolada de seminários e provas. É bem provável que as postagens não ocorram nos períodos previstos, mas isso não significa que a história entrará em hiatus. Espero, do fundo do coração, que vocês entendam. <3

Um ótimo ano novo, muitas felicidades e sucesso!

Espero que gostem!
Boa leitura!

P.S.: Caso haja algum erro, por favor, me avisem.

Capítulo 10 - IX - Roleta Russa.


O ambiente ao redor se desfez semelhante a um castelo de areia atingido pelo impacto de uma onda, e a escuridão retornou. Bora recuou assustada, nunca havia acontecido algo como aquilo, uma memória não se desfazia tão rápido. Olhou para trás, procurando por Ryeowook, e suspirou aliviada quando o viu, parado enquanto olhava ao redor. Seu semblante era de igual confusão.

– O que aconteceu? – ele perguntou.

– Não sei, isso nunca aconteceu antes. – Bora respondeu angustiada.

A escuridão permaneceu por alguns minutos até uma voz ecoar; era grave, mas suave. Como se seu dono estivesse letárgico após várias horas de sono.

– Quem são vocês?

Ryeowook girou confuso nos próprios calcanhares. Era como se aquela voz falasse diretamente em sua cabeça e ecoasse por seu cérebro. Ao encarar Bora, ele sentiu seu sangue congelar nas veias, havia alguém parado atrás da garota. Estava vestido com um sobretudo cinza que terminava na altura dos tornozelos, deixando as botas de couro preto visíveis, o cabelo estava maior – bem diferente daquela versão vista na memória. Seus olhos eram de um castanho escuro e nesse momento se focavam em Ryeowook. Era Sungmin.

– Bora, atrás de você. – sussurrou.

A garota obedeceu e, ao ver o homem, recuou assustada.

– Quem são vocês? – Sungmin repetiu a pergunta.

Se o que Bora dissera for verdade, então aquela pessoa parada mais frente era a projeção do subconsciente de Sungmin. Mas o mais importante naquele momento era saber se ele era o verdadeiro.

– Eu sou Ryeowook e essa é Bora. – ele respondeu da melhor maneira que conseguiu. – Estamos aqui procurando algumas respostas.

– Respostas... – Sungmin ecoou a palavra, pensativo. – De quê?

– De alguns fatos envolvendo Heechul.

O rapaz permaneceu parado, analisando o ambiente a sua volta com um olhar minucioso. Bora pôde sentir que ele desconfiava de algo, mas fazia de tudo para não demonstrar.

– Você é Sungmin? – a telepata perguntou de maneira tímida. – Quero dizer, o verdadeiro Sungmin?

Ele ergueu o olhar e encarou a dupla, confuso. Ryeowook percebeu que uma das mãos reluzia minimamente, denunciando a presença das próteses. Aquela “versão” de Sungmin era mais recente.

– Não sei o que quer dizer com verdadeiro, mas sim, sou Sungmin. – ele enfim respondeu. – Como chegaram aqui?

– Eu sou uma telepata, herdei essa habilidade da minha mãe. – Bora explicou. – Consigo me comunicar por meio da mente, além de ler pensamentos e fazer os seus derivados.

– Como isso é possível?

– Acho que você saberá explicar isso. – Ryeowook murmurou. – Já ouviu falar em inumanos?

Sungmin piscou algumas vezes e então franziu o cenho, parecia querer lembrar-se de algo que existia no fundo da sua mente.

– A última vez que ouvi esse nome foi em um exercício que minha tropa participou, anos atrás.

De súbito a escuridão sumiu dando lugar a ruas e a uma extensa avenida; era noite, o asfalto e as calçadas estavam molhados com a chuva. Haviam poças enquanto o cheiro de terra molhada reinava no ar, deixando o ambiente com uma estranha sensação de conformidade. Ryeowook olhou ao redor, era impressionante como as construções haviam surgido do nada e mesmo assim pareciam tão reais.

O trio encontrava-se parado em frente a um prédio protegido por um grupamento militar. Eles desenhavam um arco em frente à entrada principal, impedindo que qualquer um entrasse ou saísse. Logo em frente havia uma multidão de pessoas segurando cartazes onde palavras de ordem estavam escritas – em muito deles se lia o termo inumano.

– Enfim um progresso. – Bora respondeu em um sussurro.

– O que estamos fazendo aqui? – Ryeowook perguntou.

– É uma memória. – a telepata respondeu. – Isso prova que ele é o Sungmin que estávamos procurando.

O vento que soprou naquela região era gélido e após alguns segundos uma fina garoa começou a cair. Sungmin ergueu a cabeça e fechou os olhos, permitindo que as gotículas d’água escorressem por seu rosto. Seu semblante era sereno e exalava tranquilidade apesar da evidente tensão.

– Fui um dos militares designados para proteger a Sede. – ele começou, mantendo a cabeça erguida. – Na época eu era apenas um cabo do exército e meu dever era apenas seguir as ordens dadas.

– Mas você tinha conhecimento do que iria enfrentar? – Ryeowook perguntou de maneira suave.

– Sim. – ele abaixou a cabeça e encarou o chão. – Nos foi informado que um grupo de rebeldes estava planejando invadir a Sede e que abrir fogo era permitido. Atiramos em mais de duas mil pessoas inocentes que estavam ali cobrando os seus direitos.

– Mais e os rebeldes? – Bora parecia alheia ao que estava acontecendo.

– Eles nunca existiram. – sua voz estava carregada de mágoa. – Foi um falso pretexto usado por nossos superiores para justificar o fuzilamento de cidadãos inocentes.

Ryeowook abriu a boca, mas um forte barulho o interrompeu. O grupamento de soldados começava a avançar em direção a população. Não demorou muito e o primeiro disparo foi feito. Gritos de dor e medo mesclavam-se aos estrondos dos trovões que a tempestade trazia. Lentamente o asfalto começava a ficar manchado de vermelho enquanto os corpos caídos eram pisoteados.

Bora cobriu o rosto com as mãos e virou de costas. Aquilo era demais para ela e as imagens ficariam gravadas para sempre em sua memória. Um soluço escapou de sua garganta e ela mordeu o lábio, tentando afastar aquilo.

– Após essa missão pedi para ser dispensado, mas já havia conquistado a estabilidade e uma possível despensa estava fora de cogitação. Então pedi para mudar o setor ao qual fazia parte e foi ai que iniciei o treinamento para a guarda especial. – era a voz de Sungmin, e então quando viu a reação da garota: – Desculpe... Não tive a intenção.

Assim como a memória anterior, os corpos lentamente sumiram junto com o grupamento militar. A avenida ficou deserta enquanto a chuva lavava as sujeiras do asfalto.

– Pronto. – Ryeowook falou enquanto amparava Bora. – As pessoas sumiram.

A garota abaixou as mãos e voltou a encarar a avenida. Sentia-se envergonhada por parecer tão fraca na frente daquelas pessoas, principalmente quando lutava para ser forte.

– Essas lembranças ainda me perseguem. – Sungmin justificou. – Como um sonho ruim que retorna todas as noites quando me deito para dormir.

– Consigo imaginar como essas lembranças são. – Bora respondeu, relembrando o ocorrido com seu pai. – Não posso culpa-lo.

Sungmin sorriu de canto e virou-se de frente para a dupla, o cabelo estava grudado na testa e o sobretudo grudava no seu corpo. A chuva havia dado uma trégua e o céu exibia algumas estrelas que insistiam em superar a poluição luminosa.

Lentamente os prédios sumiram, assim como a avenida. A escuridão retornou trazendo consigo uivos sombrios.

– Meu passado não merece ser revirado. – Sungmin resmungou. – O que vocês realmente querem? Posso ajuda-los se me contarem o que se passa.

 

– Eles estão ali a tempo demais. – Kyuhyun comentou enquanto encarava o monitor.

Quando Bora ativou a habilidade, sua atividade cerebral aumentou em níveis assustadores, nunca antes vistos em testes psicológicos. Por precaução, o monitoramento ao seu redor fora duplicado.

– Calma. – Shindong falou. – Se passaram trinta minutos apenas.

– Os batimentos cardíacos continuam estáveis. – Jessica observou. – Isso é um bom sinal.

– Por quê? – Hyoyeon indagou.

– Como estamos falando de atividades cerebrais, qualquer anomalia que ocorrer no resto do corpo deve ser analisada. – a cientista informou enquanto encarava a janela. – Assim saberemos se algo de errado está acontecendo.

 

– Já podem começar a falar.

Ryeowook ponderou por alguns segundos, reorganizando sua linha de raciocínio e escolhendo qual fato contaria primeiro.

– Imagino que a caça aos inumanos já é de seu conhecimento.

– Sim. – Sungmin respondeu. – Eu estava com os papéis do Projeto A21.

– Pouco depois do início, os inumanos que foram capturados eram levados para a penitenciária de segurança máxima. – ele começou de maneira tímida. – Meu irmão foi preso, mas com ajuda de alguns inumanos, eu consegui resgatá-lo.

– Está se desviando do assunto. – Sungmin observou. – Ainda não entendi o que isso tem haver comigo.

– Houve uma invasão a Zona Industrial e na confusão você foi preso. – Bora respondeu impaciente. – Taeyeon acredita que, com minha ajuda, possamos obter alguma informação importante e assim comprovar as atrocidades do presidente.

– Invasão a Zona Industrial? Capturado? – ele repetiu incrédulo. – Impossível. Se isso realmente aconteceu, por que eu não consigo me lembrar de nada?

– Porque uma inteligência artificial foi injetada em seu cérebro. – Ryeowook informou.

– O quê? Por acaso ouviu o que acabou de dizer?

Maravilha, ele não acredita em mim. Ryeowook pensou.

– Ela foi injetada em seu organismo e chegou ao seu cérebro através do sistema nervoso. – ele insistiu, torcendo para que aquela explicação fizesse sentido. – Meu irmão me explicou tudo detalhadamente.

– Seu irmão?

– O nome dele é Kyuhyun, trabalha no laboratório da Dra. Jessica, pertencente ao governo. – de algum modo aquilo pareceu surtir efeito.

Mas não era o suficiente, precisava se lembrar de algum fato que despertasse as memórias mais profundas dele. Qualquer coisa, mesmo menor ou insignificante que fosse. Na conversa que tivera com Kyuhyun, ele dissera que chegara a conclusão da consciência adormecida ao ouvir uma informação. Uma informação a respeito de como Sungmin obtivera os membros mecânicos.

– Não consegue lembrar-se do momento antes de ter a inteligência artificial injetada? – perguntou cautelosamente. – Nem mesmo como conseguiu a prótese?

– O quê?

– O braço mecânico, como o conseguiu?

– Minha mente está confusa. – Sungmin justificou, levando uma das mãos à testa. – É como se uma parte das memórias nunca tivesse existo.

– Acha pode nos mostrar o que lembra? – Bora pediu de maneira sutil. – Qualquer coisa será útil.

– Foi após um acidente. – ele começou calmamente.

Lentamente a escuridão foi sumindo, dando lugar à chuva e a uma estrada mal iluminada. Ryeowook franziu o cenho enquanto as grossas gotas d’água voltavam a molhar o seu corpo. Não conhecia aquela região, a estrada era esburacada e as construções em volta resumiam-se a galpões e fábricas desertas. Parecia estranho que a Zona Comercial possuísse uma região como àquela.

Sungmin caminhou até o meio da rua e olhou adiante, a luz do poste piscava com a instabilidade elétrica e o céu exibia uma cor cinza-chumbo.

– Eu estava voltando para casa quando... – o som de motor interrompeu sua fala. Um carro apontou na esquina, seguindo em direção a onde eles se encontravam. – Algo fez com que eu perdesse o controle do carro.

O esportivo seguiu em alta velocidade e, ao passar por cima de uma lombada, algo explodiu fazendo com que o veículo rodasse na pista. Ryeowook assistiu em silêncio enquanto o carro capotava, lançando pedaços de metal e vidro pelo asfalto desgastado. Segundos depois o carro enfim parou ao colidir com a parede de um galpão. O cheiro de gasolina permeava no ar e uma fraca fumaça escapava do motor destruído.

– Fiquei preso nas ferragens e fui resgatado horas depois. – Sungmin engoliu em seco e então continuou. – Meu braço foi severamente ferido, assim como parte da minha perna. Os médicos disseram que não havia salvação e que amputar era o melhor.

– Consegue nos mostrar o que aconteceu depois? – Bora perguntou de maneira suave, sentindo a garganta arder com os acontecimentos. Não imaginava que Sungmin havia passado por tudo aquilo.

Sungmin assentiu e o ambiente mudou. Estavam diante de uma cama de hospital, deitado nela e rodeado por máquinas, encontrava-se uma versão de Sungmin completamente ferida. Haviam bandagens cobrindo o ombro esquerdo do rapaz – o braço fora completamente retirado. A Tíbia e a Fíbula da perna esquerda haviam sido cortadas dez centímetros acima do Tendão de Aquiles. Um grupo de trinta médicos se aproximou, trazendo os membros mecânicos em questão, e lentamente começaram a trabalhar no homem deitado.

Quando o procedimento de encaixe começou, um grito tomou conta da sala de cirurgia. Sungmin não mediu esforços para demonstrar o quão doloroso aquele procedimento estava sendo. As veias e artérias de seu pescoço pareciam saltar da pele enquanto lágrimas escorriam de seus olhos, manchando os lençóis brancos e imaculados do hospital. Ele chorava de dor.

Ryeowook e Bora engoliram em seco, era agonizante ver o sofrimento alheio, independente se aquele homem se tornaria um monstro ou não.

– Por que eles não anestesiaram? – Bora indagou com a voz embargada.

– Alegaram que o cérebro precisava estar ativo. – ele falou de maneira suave. – Isso durou vários minutos e então eu desmaiei. Acordei semanas depois.

Deveria continuar perguntando? Ryeowook ponderou por alguns segundos. Na pior das hipóteses, ele só descobriria vendo. Não chegou até ali para virar as costas e retornar de mãos abanando, iria seguir em frente, mesmo sabendo que poderia ser extremamente doloroso.

– Acha que pode nos mostrar o seu treinamento?

– Meu treinamento? – Sungmin perguntou com a testa franzida.

– O período que você passou para se acostumar com as próteses.

O militar inclinou a cabeça e o quarto de hospital sumiu, dando lugar a um enorme espaço onde vários soldados se encontravam. De um lado homens treinavam táticas de disparo, enquanto outros lutavam entre si. Sungmin encontrava-se próximo a parede, parado ao lado de outros cinco fardados.

– Quem são eles? – Bora perguntou.

– Outros agentes da guarda especial. – ele respondeu. – Recebíamos um treinamento mais pesado e nossas refeições eram acompanhadas de coquetéis químicos.

– Coquetéis químicos?

– Uma mistura líquida era injetada em nosso corpo para que a resistência de nosso organismo fosse maior. – Sungmin explicou. – Demorávamos o triplo de tempo para demonstrar sinais de cansaço, nossa força aumentou e a dor parecia não existir. Passávamos horas e até mesmo dias treinando sem parar.

– Tornaram-se uma espécie de soldado perfeito. – Ryeowook comentou. – Isso é assustador.

Sungmin assentiu e o trio assistiu em silêncio enquanto o sexteto passava por uma bateria de exercícios físicos, tudo isso sob o olhar atento dos superiores. A mente de Ryeowook fervilhava com aquela informação. Por isso Donghae não conseguira derrota-lo. Por isso que Heechul se gabava a respeito de seu exército. Não havia como derrotar aquelas pessoas, porque elas foram treinadas e quem sabe até programadas para serem imbatíveis.

De repente um som estridente foi ouvido, era curto, mas se repetia constantemente.

– O que é isso? – Bora perguntou enquanto olhava ao redor.

– Contando nosso segredinho? – a voz vinha de trás, no meio dos soldados que treinavam golpes entre si. – Isso é uma vergonha.

O trio encarou a região por alguns segundos até uma pessoa surgir. Era como olhar em um espelho, ele possuía os mesmos olhos, o mesmo cabelo, a mesma altura e os mesmos membros mecânicos. Era um clone perfeito de Sungmin que avançava de maneira calma enquanto batia palmas.

– O que é isso? Quem é você? – Sungmin indagou.

– Bora... O que está acontecendo? – Ryeowook murmurou, virando na direção da garota.

– Eu não sei. Nunca vi um subconsciente interagir com si próprio.

O clone andou calmamente, esbarrando nas projeções de soldados que haviam se formado na sua frente. Estava determinado e seu olhar era doentio.

– Bora... – o clone repetiu o nome com deleite na voz. – Está com saudade de ser estrangulada?

Ao ouvir aquilo, a telepata sentiu o sengue gelar nas veias.

 

O abajur fora ligado e o ventilador rodava suas hélices lentamente. Não costumava trazer estranhos para sua casa, mas não havia espaço naquela situação para questionamento. Kibum estava sentado em frente à bancada de sua cozinha enquanto Tiffany costurava o corte aberto por Andrew, não podia negar que ela levava jeito para curativos. Sua cabeça formulava hipóteses do que aquela dupla sofrera para terem tanto conhecimento sobre auto remediação.

Andrew estava parado em frente à janela, seu olhar estava focado na rua e nas pessoas que lá transitavam. A luz da lua incidia sobre o cômodo, deixando todos os móveis com uma tonalidade branco-prateada. Após terminar o procedimento, Tiffany pegou a tesoura, cortou o excesso de linha e derramou uma pequena quantidade de um liquido transparente na região. Já era a segunda vez que ela fazia isso, mas Kibum não conseguiu se acostumar. Ele trincou os dentes e virou a cabeça enquanto seu rosto se contorcia em dor.

– Pronto. – Tiffany falou enquanto retirava bandagens da bolsa. – Só falta cobrir.

– Precisamos nos apressar Tiffany, as ruas estão começando a ficar movimentadas. – Andrew falou mantendo o olhar fixo na rua.

– Ainda não terminei. – respondeu enquanto enrolava o braço do cientista. – Por que há movimento tão cedo?

– Com o toque de recolher, as pessoas começaram caminhar pela rua de madrugada ou pouco antes do sol nascer. – Kibum respondeu calmamente.

– Há horário para dormir, não para acordar. – Andrew falou voltando-se para o interior do apartamento. – Faz um pouco de sentido.

Tiffany prendeu a bandagem e guardou os frascos de remédio na bolsa, jogando a alça sobre o ombro logo em seguida. Kibum analisou o curativo, abrindo e fechando a mão algumas vezes, e então concordou com um movimento de cabeça. Aprovando o que fora feito pela mulher.

– Se me permite fazer uma pergunta... Como você sabe tanto sobre ferimentos graves? – Kibum perguntou enquanto encarava Tiffany.

– É o que se faz quando se é administradora de um bar. – ela falou indiferente. – E quando seu irmão insiste em começar uma briga aleatória. Quebrando a mesa, os copos...

– Lá vem ela de novo. – Andrew falou revirando os olhos.

– O quê? Pensa que ficar pagando de inocente enquanto limpa o balcão funciona pra cima de mim? – a voz de Tiffany subiu uma oitava. – Só eu sei o que se passa na sua cabeça.

Ela levantou, irritada, e caminhou em direção à porta, mas foi interrompida por Kibum que segurou o seu braço.

– O que foi?

– Você falou que está mantendo um grupo de pessoas há alguns quarteirões daqui. – ele falou, relembrando o que a mulher havia dito. – Onde exatamente fica essa localização?

– Acha que sou burra? – ela virou de frente para o cientista. – Não vou falar isso, até porque eu acabei de conhecer você. Como vou saber se não é um dos homens de Heechul?

– Sabe me dizer se uma dessas pessoas é uma amiga minha? – Kibum perguntou. Havia uma pequena chance de Jessica ainda estar na Zona Comercial e talvez seu paradeiro fosse o abrigo que Tiffany mantinha em segredo.

– Não sei dizer, temos pouco mais de uma dúzia de residentes. – Tiffany franziu o cenho, desconfiando daquela conversa. – Qual é o nome da sua amiga?

– Jessica.

Tiffany prendeu a respiração e encarou Andrew por alguns segundos. Não podia ser a mesma Jessica que eles conheciam, seria uma coincidência desgraçada.

– Essa Jessica, da qual você está falando, é a cientista responsável pelo laboratório do governo? – Andrew perguntou enquanto guardava a faca.

– Sim, vocês a conhecem? – Kibum olhou de um para o outro, esperançoso.

– Mas que mundo filho da puta esse. – Tiffany sorriu e balançou a cabeça. – Sim, nós a conhecemos.

– Ela está bem? Onde ela foi parar? – as perguntas fervilhavam na cabeça.

– Isso, infelizmente, nós não sabemos dizer. – ela falou enquanto encarava Kibum. – A última noticia que eu tive, Jessica estava embarcando em um trem, indo em direção a Zona Industrial.

– O quê?

– Eu consegui fazer com que ela se comunicasse com o “líder” dos inumanos, mais precisamente com o coordenador do esconderijo aqui na Zona Comercial. – Tiffany explicou. – Entraram em um acordo e foram para a Zona Industrial.

– Taeyeon seria uma ajuda melhor. – Kibum reconheceu. – Mas e a invasão? Sabe me dizer se ela foi machucada?

– Provavelmente não, ela embarcou no trem pouco antes do ataque ser noticiado. Talvez Jessica tenha chegado lá depois. – Andrew caminhou até a janela e encarou a rua uma última vez. – Tiffany, temos que ir, já perdemos muito tempo.

Ela assentiu e eles subiram para o último andar sem dar espaço para Kibum fazer uma última pergunta, lá saíram pela janela arrombada e desceram pela escada de incêndio. Da janela de seu apartamento, Kibum viu a dupla sumir em meio às sombras que os prédios incidiam através das luzes dos postes. Olhou o relógio uma última vez antes de deitar na cama, passava das duas da manhã. Não sabia se alguém escutara a confusão em sua casa e, para ser sincero, para ele pouco importava.

Saber que Jessica continuava viva já era o suficiente para que ele tivesse uma boa noite de sono.

 

Correndo pelos becos escuros, Tiffany e Andrew se preocupavam em não serem notados pelas pessoas que caminhavam distraidamente pelas calçadas. Eles atravessaram uma avenida, seguiram por mais quatro quarteirões, até chegarem à tampa do bueiro pelo qual entraram. Andrew se abaixou e cravou a faca na abertura, houve um click e o objeto se destrancou.

– Espera. – ele falou tocando o ombro da irmã de leve. – Realmente acreditou no que ele disse?

– Não sei. – Tiffany confessou. – Não detectei traços de mentira em suas expressões corporais e sua voz não oscilava. Ele parecia dizer a verdade.

– Temi que fosse falar isso.

– Andrew, não precisa se preocupar. – falou e então beijou a testa do rapaz, logo em seguida jogou a bolsa no buraco aberto no chão. – Ao contrário do nosso pai, eu não sou inocente.

Andrew suspirou e assistiu em silêncio enquanto sua irmã descia pelo bueiro aberto. Após ter o caminho livre, ele desceu, se preocupando em colocar a tampa de volta no lugar.


Notas Finais


E ai? O que acharam?

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