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História Além da Esperança - XVIII - Mimetismo.


Escrita por: Vexus

Notas do Autor


Eu voltei! \o/

Sim... Eu sei que estou atrasada, mas foi porque deu um probleminha com a internet e eu acabei passando dois dias sem conseguir me conectar. ;-;

Mas agora tudo voltou ao normal e vai continuar desse jeito (assim espero).

Espero que gostem.
Boa leitura!

P.S.: Caso tenha algum erro, por favor, me avisem.

Capítulo 19 - XVIII - Mimetismo.


O refeitório beirava o abandono quando Shindong sentou à mesa para se alimentar. Não tinha o hábito de comer algo fora do horário padrão, mas a situação era crítica. Alguns minutos se passaram até uma mulher vestida em um avental amarelado vir ao ser encontro com um bloquinho de anotação nas mãos. Ela contornou a mesa, parando na frente dele, e indagou de maneira direta.

 – Vai querer algo?

– Traga-me qualquer coisa de rápido preparo, não me preocupo com o que seja. – respondeu sinceramente, de fato não se importava com o que iria comer desde que saciasse sua fome.

– Se assim desejar...

A mulher se afastou enquanto riscava o bloquinho de papel. Shindong respirou fundo e fechou os olhos, esperar enquanto a comida era feita o lembrava dos velhos tempos, quando sentava à mesa e esperava sua mãe trazer o café da manhã. Da época em que era apenas um estudante com sonhos e ambições consideradas comuns, mas isso foi bem antes. Antes dos inumanos e antes de ver aquelas pessoas serem mortas sem precisão.

Recostou-se na cadeira levou as mãos à nuca, apesar da correria, era bom presenciar momentos de tranquilidade. O único som do ambiente provinha do colidir das louças na cozinha. Ele então cruzou as pernas e assim permaneceu por alguns minutos até uma voz quebrar o silêncio.

– O que está fazendo aqui?

Shindong abriu os olhos para encontrar Noah parado.

– Vim comer. – respondeu de maneira simples. – Faz horas que não me alimento. Deveria fazer o mesmo.

– Não tenho tempo para isso. – falou enquanto puxava uma cadeira e sentava em seguida. Do bolso da calça, retirou um pedaço de papel que, após se aberto, revelara-se ser um mapa de pequeno porte. – Como vai ser depois?

– Depois do quê? – Shindong retrucou, arqueando uma sobrancelha.

– Como vai ser quando entrarmos na Zona Agricultora... Quero dizer... Aqui temos autoridade e todos obedecem ao que dizemos. – Noah pigarreou e então continuou. – Mas lá, tudo será diferente.

– Está insinuando que perderemos nosso posto porque há outros quem podem competir conosco? Isso não faz sentido. – ele balançou a cabeça. – Estamos indo com Taeyeon e nossa lealdade cabe a ela, não temos a obrigação de obedecer outros.

– Entendi. – Noah meneou a cabeça, concordando com a resposta. – Como anda o ombro?

– Bem. – respondeu, massageando a região baleada. – Por sorte a bala não atingiu uma região mais crítica.

A conversa foi interrompida pelo retorno da mulher, ela trazia um sanduíche leve e um suco de laranja. Shindong encarou a refeição com interesse, não esperava que a refeição mais rápida fosse aquela. Noah franziu o cenho enquanto a mulher depositava o prato e se retirava levando consigo a bandeja. Shindong retirou o guardanapo e calmamente começou a comer.

– Não sei como aguenta comer essa porcaria. – Noah parecia enojado.

– A gente se acostuma. – Shindong retrucou, sem dar muita importância. Limpou os cantos dos lábios e indicou com o dedo um ponto no mapa. – Já visitou?

– A Zona Agricultora? Não. – Noah mordeu um dos cantos do lábio. – O que sei sobre essa região é o que consta nos arquivos nacionais.

– Ah é? E o que consta neles?

– O que consegui ler gira entorno apenas da estrutura. – ele debruçou-se sobre a mesa e abaixou o tom da voz. – Parece que há uma floresta que cobre os arredores e uma pequena região da cidade.

– Assim como o cemitério verde. – Shindong falou vendo o outro negar com um movimento de cabeça.

– Essa floresta é diferente. – Noah então começou a passar o dedo sobre a superfície do mapa. – A mata é extremamente densa e, ao contrário do cemitério verde, as plantas ficam a uma distância de mais de cinco quilômetros da muralha.

– Uma cerca viva. – Shindong concluiu. – Isso é necessário?

– Não sei. – Noah comentou enquanto guardava o mapa de volta no bolso. – Há coisas sobre essa cidade que nem mesmo seus habitantes conhecem. Tenho que ir, muito trabalho daqui para frente.

– Tudo bem.

Noah levantou e caminhou em direção da porta principal, assim que a abriu, ele se conteve – reprimindo um susto. De longe, Shindong assistiu enquanto o fardado conversava com alguém fora do seu alcance de visão. Devido à distância, as vozes eram inaudíveis. Noah então virou seu rosto e apontou para Shindong, que franziu o cenho, intrigado.

Da porta principal, Taeyeon surgiu acompanhada de Emma, elas se aproximaram, parando em frente à mesa de Shindong.

– Aconteceu algo? – indagou enquanto amaçava o guardanapo usado.

– Emma veio notificar Noah que a movimentação dos habitantes para os veículos havia se iniciado. – Taeyeon respondeu enquanto olhava ao redor. – Viu onde estão aquelas pessoas que vieram da Zona Comercial?

– Não... Para falar a verdade, eu acho que eles estão com Ryeowook ou Hyoyeon. – respondeu ajeitando a postura. – Porque pergunta?

– Devemos ter um cuidado especial com eles. – Emma recomendou. – Algumas pessoas estão receosas em relação à Zona Comercial e saber que há algumas pessoas de lá no meio, pode gerar certa revolta.

– Certo. – ele assentiu. – Há algo... – A frase de Shindong foi interrompida pelo vibrar de seu celular no bolso, ele o pegou e então levantou da cadeira. – Um instante.

Shindong caminhou até o outro lado do salão e então atendeu a ligação. A voz era masculina, provavelmente pertencia a um dos militares da região, e pelo tom parecia bem apreensivo com o que estava acontecendo.

Capitão?

– Porque está me ligando?

Poderia vir até o quarto onde o detento Sungmin está sendo mantido? – ele tentava manter a calma apesar de tudo.

– Ele enfim acordou?

Não... É que tem três pessoas tentando entrar.

– O quê? Três pessoas?

Positivo. – o militar falou. – E uma delas diz ser irmã do detento.

––XX––

– Vocês sabem que não precisam vir atrás de mim, não é? – Shindong falou enquanto apressava o passo pelos corredores.

– Sim, mas como líder da Zona Industrial, é meu dever ficar ciente de tudo o que acontece por aqui. – Taeyeon respondeu enquanto tentava acompanhar o ritmo da dupla de militares. – E Emma pode ajudar já que de todos, ela é bastante imparcial.

Shindong olhou por cima do ombro e encarou a militar por alguns segundos antes de pigarrear e voltar sua atenção para o corredor. Quando virou na esquina, ele precisou diminuir o passo para entender o que estava acontecendo. Duas das pessoas que estavam em frente ao quarto vigiado eram Ryeowook e Hyoyeon, já a terceira, Shindong identificou como sendo a recém-chegada da Zona Comercial. Ele respirou fundo e avançou calmamente.

– Se queríamos um cuidado especial com eles, estamos tendo um péssimo começo. – Emma comentou. – Não é qualquer um que pede para ver um preso.

– E acha que eu não sei disso? – Shindong retrucou e então virou-se para os problemáticos. – O que estão fazendo aqui?

– Essa é Sunny, veio da Zona Comercial, você mesmo a viu. – Hyoyeon falou de maneira apressada. Despejava as informações sem pensar direito. – Ela quer ver o irmão.

– Espera... Sunny é irmã de Sungmin? – Taeyeon indagou franzindo a testa.

– Sim sou. – a garota respondeu suavemente.

– Vocês sabem que essa é uma área restrita, não é? – Shindong falou de maneira séria. – Ninguém, mas ninguém mesmo, deve entrar nesse quarto. Por que estão insistindo?

– Porque essa pode ser a minha última chance de vê-lo. – Sunny respondeu. – Não sei o que vai acontecer quando chegarmos à Zona Agricultora. Ele pode ser preso, torturado, condenado... Quero apenas rever a pessoa mais importante da minha vida, que eu achei que havia morrido e me abandonado.

Houve um breve momento de silêncio, todos ficaram surpresos com a resposta da garota – e até mesmo Emma, a muralha de gelo, demonstrou um pouco de compaixão. A militar se aproximou e encarou Sunny nos olhos, parecia analisar as reações de seu corpo.

– Permita que ela entre por alguns minutos. – falou por fim.

– O quê? – Shindong retrucou. – Ouviu o que acabou de dizer?

– Sim. – Emma ajeitou a postura e então ficou de frente para o combatente. – Estou aconselhando que você permita que essa garota reveja o irmão.

Shindong suspirou enquanto coçava uma das sobrancelhas.

– Tudo bem... – falou por fim. – Podem sair, eu assumo a guarda.

A dupla de guardas que permanecia parada ao lado da porta assentiu e lentamente seguiram pelo corredor até sumir em uma curva. Emma girou a maçaneta e rapidamente o ar frio do cômodo escapou, causando arrepio em todos. Shindong foi o último a entrar, pois ficaria de guarda na porta pelo lado de dentro.

O quarto era pequeno, possuía apenas uma cama, uma mesa de cabeceira e um banheiro – do tamanho exato para uma pessoa. Sungmin estava deitado e seu pulso encontrava-se algemado a uma das barras da cama; parecia embalado em um sono tranquilo, seu peito subia e descia calmamente. Sunny se aproximou e tocou sua mão, o calor da pele arrancou lágrimas de seus olhos.

– Ainda continua do mesmo jeito. – falou, deixando as gotas escorrerem por seu rosto. – Não sabe o quanto eu sofri achando que estava morto.

Ela permaneceu em silêncio por alguns instantes e então um ruído de mecanismo foi ouvido seguido por uma voz rouca.

– Porque fiquei com de medo que você me visse assim.

Todos permaneceram em estado de choque por alguns segundos, ninguém esperava que ele fosse acordar – se é que estava realmente desmaiado. Será que havia escutado a conversa? Será que esteve mentindo esse tempo todo? Emma e Shindong foram os primeiros a reagir, sacando a arma e a apontando para o rapaz deitado.

– Sunny, se afaste lentamente. – Emma falou.

– Como se eu fosse fazer algum mal... – Sungmin respondeu franzindo o cenho. – Faz alguns anos que eu não te vejo irmã.

– O que... está acontecendo? – Sunny sussurrou. Permanecia estática ao lado da cama, encarando a mão masculina que apertava a sua.

– O véu foi rompido. – Sungmin falou de maneira calma. – Agora eu me lembro. – Seu olhar varreu a sala, parando em Ryeowook. – Eu me lembro... de tudo.

Ryeowook prendeu a respiração. Uma situação, até então emocionante, havia virado de ponta a cabeça em questão de segundos. Todos estavam tensos e assustados e o fato de Sunny estar tão próxima, apenas piorava tudo. Houve um click quando Emma engatilhou a arma, rompendo o breve momento de silêncio.

– Sunny, se afaste. – repetiu, com o mesmo tom de voz.

– Está tudo bem, ele não vai me machucar.

– Não é você que decide isso. – Dessa vez foi Shindong que falou. – Não sabemos se ele está mentindo.

Sungmin sorriu de canto e, com a mão livre, passou-a pelos cabelos. Parecia cansado e a voz saía mais arrastada que o normal.

– Lembro-me de você e de uma garota. – falou apontando para Ryeowook. – Foram vocês que me acordaram.

– Consegue lembrar o que aconteceu na sua...

– Sim. – ele interrompeu. – Para ser sincero, tudo mais pareceu um sonho...

 

Para Sunny, os buracos estavam selados, e ela lentamente se enchia – explodindo com algo que a deixava chorosa e trêmula. Ele lembrou. Repetiu essas palavras incontáveis vezes, mas não pareciam penetrar na mente consciente – e por consequência não eram processadas. Sunny sentiu a cabeça leve, como se estivesse sofrendo com o calor, lambeu os lábios, mas se sentia fraca demais para ir pegar água.

Estava sentada em uma cadeira no corredor, em frente ao quarto onde seu irmão se encontrava. Perdera a conta de quantos médicos vieram ao seu encontro perguntar-lhe se o detento havia atacado ou tentado algo de violento, e ela pacientemente negava tudo. Hyoyeon e Ryeowook estavam ao seu lado, ambos pareciam tensos – talvez não pelo fato de Sungmin ter acordado, mas sim pelos rumos que a situação caminhava.

Após o relato inicial, Shindong se retirou do quarto e voltou minutos depois com os dois guardas. Juntos, os três algemaram Sungmin, deixando-o sentado sobre a cama. Logo em seguida o grupo foi obrigado a se retirar para que uma equipe especializada o examinasse com cautela e registrasse os relatos. Tudo aquilo estava durando mais de uma hora.

Quando estava disposta a sair dali, a porta foi aberta, revelando Taeyeon. Ela se caminhou, parando há alguns centímetros de Sunny, e agachou-se ao seu lado. Sua voz saiu baixinha quando falou:

– Parece que Sungmin realmente recobrou a memória, mas não temos total certeza, pois os testes foram simples levando em conta o estado em que nos encontramos. Entendeu?

Sunny assentiu enquanto encarava o nada.

– Ele também deseja conversar com você. Está disposta ou devo dizer a ele que espere para depois?

Sunny hesitou e demorou alguns segundos para responder.

– Sunny? Está tudo bem?

Ela enfim respirou fundo e balbuciou:

– Não sei o que fazer. O que devo fazer?

– Sabe que estaremos aqui para te ajudar. – Hyoyeon respondeu de maneira firme. – Não importa a decisão que vá tomar.

Sunny assentiu enquanto a porta era novamente aberta. A equipe se retirou do quarto e por ultimo vieram Emma e Shindong, que mantinha uma expressão séria e contida.

– E então? – Taeyeon indagou.

– Segundo os resultados, ele está em perfeita saúde, apesar do visível cansaço. – Emma respondeu. – Além disso, os detectores de mentira não acusaram nada. Sungmin parecia falar a verdade.

– Certo. – a mulher respondeu. – Sunny irá conversar com ele.

– Taeyeon... – Shindong começou e então se conteve, abaixando levemente o tom de voz. – Sabe que eu não apoio isso.

– Sim, eu sei. Mas no estado em que ele se encontra, perigo é uma coisa improvável.

Shindong abriu a boca para contraria-la, mas então se calou. Sabia que nada adiantaria ir contra a maré, então simplesmente balançou a cabeça e apoiou-se na parede oposta.

Sunny engoliu em seco quando girou a maçaneta e adentrou no quarto. A presença reconfortante daquelas pessoas se foi assim que a porta se fechou. Ela se forçou a dar um passo adiante, depois outro – estava receosa, mas não sabia de quê. Finalmente aproximou-se o suficiente de Sungmin, que se encontrava sentado em uma cadeira. Ele observava cada movimento com uma atenção que a deixou nervosa. Deve ter pressentido seus temores, porque parou com o olhar intenso e fez um gesto para que ela se sentasse. Sunny acomodou-se nervosa na frente dele e cruzou as mãos no colo.

Depois de um longo minuto em silêncio, ela disse:

– Você... queria falar comigo?

Sungmin recostou-se na cadeira e ficou analisando-a em silêncio.

– Não vai falar nada? – Sunny gaguejou.

Ele deixou a cabeça cair de lado.

– Você está com medo. Não precisa ficar. – disse ele em tom suave.

Ela baixou o olhar para as mãos enquanto ele prosseguia:

– Está agindo da mesma maneira que agiu quando lhe falei que me tornaria um agente do governo.

– Parece que não consigo evitar.

– Não quero que você tenha medo de mim. Nunca.

Os olhos de Sunny se encontraram com os dele.

– Você disse que tinha se lembrado. É verdade?

– É. Eu... recuperei minha mente.

– O que aconteceu? Porque você sumiu? E porque todos tem medo de você?

Ele desviou o olhar.

– Não é importante. O que importa é que acabou. Eu me lembro de você, de mamãe e papai. Da nossa infância. Eu me lembro de ter sido treinado durante anos, de te defender quando se envolvia em confusões. Lembro-me do acidente... de tudo.

Sunny levantou e foi até a cama, apertou a mão contra a barra lateral e continuou de costas para ele.

– Então me explica. – a voz dela falhou. – O que realmente aconteceu.

Ele se levantou e se postou atrás da moça, ergueu a mão – as algemas tilintaram minimamente – e lentamente tocou a mecha do cabelo de Sunny.

– Heechul conversou comigo e me ofereceu uma oportunidade de aumento. – Sungmin começou de maneira calma. – Ganharia cinquenta por cento a mais, mas para isso teria que deixar a guarda especial e me juntar a equipe de cientistas. A equipe em questão era a responsável pelos membros robóticos.

– Isso incluía sumir para sempre? Fingir que estava morto?

– Aquilo foi depois do acidente. Fui levado ao hospital e levei mais de seis meses para conseguir me recuperar. Tentei voltar para casa, mas Heechul me chantageou, dizendo que se eu voltasse para casa ou falasse algo sobre as próteses, ele iria te machucar.

– Mas por que Heechul diria isso?

– Porque as próteses eram únicas e até então a arma mais secreta que ele possuía. Fui tratado como um simples objeto, obedecia suas ordens sem direito a questionamento. Achar que eu estava morto era a única maneira de realmente protegê-la. Desculpe.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Sunny e outras se seguiram, ela fungou baixinho. Sungmin deu mais um passo e inclinou-se para sussurrar.

– Sinto muito, Sunny. Sinto muito por não ter estado ao seu lado quando você precisou. Sinto muito pelos seus aniversários perdidos e, acima de tudo, sinto muito por fazer você pensar que eu estava morto. Foi cruel, eu sei, mas eu precisei fazer isso.

Sunny riu entre lágrimas.

– Você com certeza me enganou.

– Eu sofri nos primeiros meses, agarrei-me a cada uma das lembranças que minha mente ainda possuía. Eu nunca me esqueci de você, passei todos os dias amaldiçoando aquele homem. Quando a L23 foi desativada, eu finalmente vi uma oportunidade de voltar a ser o que eu era.

A garota virou-se, ficando de frente para Sungmin.

– E agora?

– E agora? – ele deu uma risada triste e passou a mão no cabelo. – Agora estou numa situação ainda pior. Pelo menos antes eu não havia machucado ninguém por vontade própria, não havia matado ninguém por vontade própria. – suspirou. – Sei que te magoei, sei que lhe causei dor. Apenas... me diga o que fazer. Diga como recuperar a confiança que você possuía em mim. Você é a minha única família e eu sacrificaria tudo para mantê-la em segurança. Por favor, acredite em mim.

Sunny fungou e então o abraçou pela cintura, segurando com força.

– Eu acredito.

Sungmin a apertou contra o peito e acariciou seu cabelo em silêncio – da melhor forma que pôde, devido às algemas em seus pulsos. Ficaram assim durante muito tempo; ele parecia contente em apenas abraçar sua irmã. Enfim, emocionalmente exausta, Sunny juntou coragem e se afastou.

– Podemos conversar mais sobre isso depois, estou exausta e preciso descansar.

– Tudo bem.

Sunny respirou fundo e abriu a porta, sentindo o peso do olhar de Sungmin em suas costas – por mais que a conversa tivesse sido breve, fora carregada de emoção. O vento morno atingiu sua pele, tirando-a do transe emocional. Hyoyeon e Ryeowook aguardavam ansiosos do lado de fora, e ao ver Sunny, eles rapidamente se aproximaram.

– E então? Como foi? – Hyoyeon foi a primeira a perguntar.

– Quando ele será levado? – Sunny indagou para Shindong.

– Imediatamente após a saída dos habitantes. – ele respondeu de maneira séria. – Mas o caminho tomado será diferente, por segurança.

– Quero ir com ele, no mesmo carro.

– Impossível. – foi Emma quem respondeu abruptamente. – Para todos os outros você é uma simples garota, seria estranho se eles a vissem em um carro com um detento.

– Mas ele é meu irmão...

– Eu sei disso. – a militar continuou. – Mas acima de tudo temos que presar pela segurança. A sua e a de todos.

Sunny permaneceu em silêncio, aparentemente concordando com o argumento de Emma.

– Espere. – Hyoyeon falou, levantando uma questão ainda não discutida. – Já cogitaram que pode haver barricadas da Zona Comercial no caminho?

– Sim. – Shindong respondeu apoiado na porta. – Mas o caminho até lá não é tão conhecido assim.

– Mas seria bom terem cuidado.

– É por isso que haverá dois carros acompanhando a viatura oficial. – Emma argumentou em resposta. – Ambos servirão como isca, não pondo em risco a carga valiosa.

– Quem estará dentro desses carros? – Taeyeon indagou. – Não fui informada disso.

– Dois policiais no primeiro e...

– Eu no segundo. – Shindong respondeu.

A mulher abriu a boca enquanto exibia uma expressão de indignação, a resposta soou-lhe como uma ofensa e não como uma solução para o problema.

– Não... Você não está... – Taeyeon se interrompeu ao ver o militar assentir. – Você não vai usá-la! Eu te proíbo!

– Tarde demais. – ele retrucou, inabalado. – Além disso, todos nós sabemos que apenas eu serei a isca perfeita.

– Isca perfeita? – Ryeowook falou, confuso. Aquela conversa não fazia sentido, como Shindong seria uma isca perfeita se a diferença entre ambos é enorme?

– Assim como vocês, eu sou um inumano. – revelou vendo o trio arregalar os olhos. – Porém minha habilidade tem consequências que afetam meu organismo.

– E que habilidade seria essa? – Hyoyeon perguntou, franzindo o cenho.

Shindong respirou fundo, se aproximou da garota, tocando sua bochecha em seguida, e então fechou os olhos.

Era sempre do mesmo jeito: nada no começo, seguido pela faísca de alguma coisa no fundo da mente, como alguém acendendo uma vela em um quarto escuro. Foi na direção da luz, como sempre fizera a vida inteira. Era difícil se libertar do medo e da timidez, mas já havia repetido o processo vezes o suficiente para saber o que esperar. A ânsia de tocar a luz no centro da escuridão; a sensação da luz e do calor envolvente, como se estivesse puxando um cobertor, algo espesso e pesado em torno de si, cobrindo cada camada da própria pele.

Seus olhos abriram subitamente. Ainda estava em frente a Hyoyeon, com a mão em sua bochecha, seu corpo inteiro formigava como o de costume. O peso era diferente, a altura e o ritmo cardíaco.

– Meu Deus... – Ryeowook sussurrou, cobrindo a boca com uma das mãos.

Hyoyeon arfou, chocada. Era como olhar no espelho, em questão de segundos aquele homem tomara a sua forma. Seu corpo, seu cabelo, sua voz. Nenhum deles sequer imaginou que a habilidade de Shindong era, na verdade, o mimetismo.


Notas Finais


E ai? O que acharam?

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