História Além da visão - Ajudante inesperada e um encontro

  Já em frente ao seu prédio, o moreno pediu meu número, e eu, obviamente, dei a ele.

    — Boa noite, Ísis! — despediu-se me dando um beijo na bochecha.

     — B-boa noite — gaguejei completamente corada.

   Cheguei ao meu dormitório e adormeci tranquilamente pensando no Josh e seu sorriso maravilhoso.

XXX

   Meu celular vibrava constantemente. Desde a sexta passada — dia da festa no clube do Connor —, Josh Walters mandava mensagens quase todo o tempo. Lisa surtou quando lhe contei sobre o ocorrido. Lembro-me exatamente de sua voz gritando ao telefone:

  “PORRA ÍSIS! VOCÊ DEVERIA TER PEGADO ESSE GOSTOSO NAQUELA HORA!” — dizia ela após eu ter mandado uma foto do “gostoso”.

 “SE VOCÊ NÃO FICAR COM ELE ATÉ SEMANA QUE VEM, EU MESMA VOU AÍ E FAÇO-O TRANSAR COM VOCÊ”. — e eu apenas ria da histeria da minha melhor amiga.  — “OU MELHOR! DEIXO-O QUASE TRANSAR CONTIGO E O PARO QUANDO VOCÊS ESTIVEREM QUASE LÁ, SÓ PARA TE DEIXAR COM TESÃO!”

 “JURO QUE QUANDO EU ENCONTRAR ESSE MALDITO CONNOR, EU MATO...pensando bem....EU O ESTRAGULO, TORTURO E HUMILHO EM FRENTE À TODOS OS SEUS COLEGAS ALTIOREM!”.

   Acho que deu para perceber que Lisa Hartley não é uma das pessoas mais normais do mundo, mesmo assim eu a amo com todo meu coração. Josh me chama:

  “Oi! Você está bem?” — aquela pergunta era frequente em nossas conversas.

  “Sim” — respondi. — “E você?”

  “Estou bem também. Posso te perguntar uma coisa?”.

  “Bem, você já perguntou, mas pode sim.”

  “Você aceita sair comigo amanhã?”.

   Wow! Por essa eu não esperava. Eu poderia recusar e ele aceitaria isso sem escândalos, porém não havia motivos para eu recusá-lo. Eu estava começando a ter sentimentos por ele.

  “Aceito.”

  “Pode ser às 19h no Crissier? Eu te busco no seu prédio e nós vamos para lá”.

  “Claro.”

 “OK! Estou muito ansioso! Até amanhã, princesa."

 “Até, meu querido cavaleiro!”

   Coloquei meu celular na mesinha ao lado da cama, com o Spotfy ligado, tocando “He Like That” do Fifth Harmony. O que eu fiz depois? Comecei a pular na cama que nem uma doida desmiolada. Em seguida sentei-me na cama e iniciei minha crise de desespero. O que eu iria usar? Algo chique ou mais casual? E se o encontro for um desastre, que nem aconteceu com o último crush que eu tive (antes do Connor).

    Pensei em ligar para Lisa, entretanto ela não poderia me ajudar naquele momento, a distância era algo que nos atrapalhava bastante. A segunda pessoa que veio em minha mente foi Órion, porém como ele poderia me auxiliar? Muito provavelmente não entendia nada de roupas e também não acho que ficará confortável me ouvindo tagarelar sobre minhas inseguranças,além disso, tem o assunto da Hadassah que eu ainda não contei. Então, a resposta mais óbvia brilhou como uma luz em meu cérebro: Melinda.

   Mandei uma mensagem para ela encontrar-me imediatamente na praça. Nem esperei ela responder-me, corri para o local de encontro. Esperei, ansiosamente, por alguns minutos, mas nada de ela aparecer. Ao invés de uma menina baixinha de cabelos cor de mel, uma loira alta de olhos azuis assustadoramente bonitos anda até mim: Rachel.

   — Ísis! Qual a emergência?  E antes que me pergunte, Melinda não pôde vir então me mandou em seu lugar.

  Fiquei com receio de contar-lhe sobre o encontro, todavia, eu não possuía mais nenhuma opção e Rachel parecia ter muito sucesso em encontros, não só por sua aparência, mas também pelo seu jeito confiante e ousado.

  Logo, já estávamos em uma loja de roupas vendo vestidos para a ida ao Crissier. Ela me disse que o lugar era bem luxuoso, obrigando-me a ir de acordo com seu status. Acabei comprando um vestido roxo liso, com a saia rodada. Eu não tinha como pagar o vestido, já que todas as minhas necessidades eram provindas do governo agora e eu ainda não arranjara um emprego para poder pagar meus pequenos luxos e ter uma poupança para pagar minha faculdade, mesmo assim, levei o vestido. Prometi à Rachel que a pagaria depois.

  Percebi que, apesar de suas maluquices, Rachel Fuller era uma pessoa muito bacana, entretanto este fato não tirava minhas suspeitas dela. Como minha mãe vivia dizendo: “Sempre tome cuidado, pois quando você menos espera algo – ruim ou bom – acontece”. Pois é, falava tanto disso e agora está morta. Enfim, seguimos para seu dormitório, lá ela me ensinaria algumas técnicas de maquiagem e o comportamento adequado para um encontro.

  Passamos a tarde inteira fazendo maquiagens e cabelo e depois eu tive uma “aula de etiqueta com Rachel Fuller”.

   — Quando ele tocar na sua mão quer dizer que o clima está ficando cada vez mais quente. — falou.

   — Como sabe disso? — perguntei. Será que ela já havia saído com Josh alguma vez?

   — Eu, Ben, Josh e Melinda praticamente crescemos juntos. Os conheço da cabeça aos pés. — para a lista “Revelações”, aí estava mais uma. — Por isso que Melinda confiou a mim para te ajudar. Josh realmente gostou de você, sabia? Desde quarta-feira ele não parava de tagarelar sobre como chamar você para sair. Era realmente irritante. — mais um tópico para “Revelações”.

   — Eu não sabia.

   — Nós nunca sabemos. — piscou para mim e sorriu. De fato, nós, garotas, sempre tínhamos dúvidas se os garotos nos chamavam para sair, pois realmente estavam gostando de nós, ou era apenas um desafio para alguma lista secreta na qual colocavam nosso nome e quantos pontos valíamos (Barbie: ALERTA DE SPOILER – sim, eu sou fã de Riverdale).

   — Acho que acabamos por aqui.— continuou a loira. — Se quiser, eu posso vir aqui amanhã para te ajudar.

    E na tarde seguinte lá estava ela, com um babyliss em meus cabelos. Não vou negar que sua companhia estava sendo confortável, fazendo que eu quase esquecesse nossa primeira conversa bizarra. Quando fiquei pronta, ela praticamente me empurrando para fora do dormitório, pois já estava em cima da hora.

   — Arrasa garota! —gritou para mim do topo da escada. Sorri para ela.

    Na sala de estar, Josh – que estava com um terno preto que ficava lindo nele – me esperando com um buquê de rosas.

    — Que honra ter um encontro com a garota mais linda do colégio inteiro. — disse ele. Por que eu sempre tinha que ficar sem graça? Não poderia receber um elogio sem corar?

     Aceitei o buquê e deixei-o com Rachel em meu quarto, já que não teria como levá-lo até o restaurante.

    Percebei que enquanto caminhávamos de braços dados, Josh possuía um sorriso tão radiante quanto o sol - que agora estava ausente, dando espaço às estrelas e à lua-. Passamos o caminho inteiro calados, apenas aproveitando a companhia um do outro.

                                                            XXX

    O Crissier tinha uma estrutura inteiramente de vidro – exceto pela parte onde ficava o toalete –, nos dando a oportunidade de observar quase toda a cidade, considerando que este tinha três andares e nós estávamos no último.

   A comida era a terceira melhor que já provara em minha vida, não consigo encontrar palavras para descrevê-la. O problema era seu preço. Eu não fazia a menor ideia de como o moreno pagaria aquilo, muito menos eu, que nem tinha dinheiro!

     — Qual o seu poder? — perguntei de repente. Eu já sabia o poder de Melinda, que era controlar certos elementos – mais tarde descobri que eram água e a terra –; o de Victor era a psicometria, ou seja, ele tem dom de colher dados sobre alguém ou uma localidade ao entrar em contato com um determinado objeto físico; Alice possui percepção extrassensorial, sendo assim, ela pode perceber fenômenos e objetos independentemente de seus órgãos sensoriais; Rachel com sua persuasão (o que me fazia ter mais cuidado com ela, por mais que agora seja minha “amiga”) e Ben com sua retrocognição. Os únicos que eu ainda desconhecia os poderes eram Will, Órion e Josh.

    — Eu posso saber o que as pessoas estão sentindo. — fiquei tensa. — Por exemplo, agora você está, principalmente, tensa, porém há algo que está te consumindo de tristeza por dentro, por mais que não demonstre isso na frente das pessoas.

     #Joshjápodetrabalharcomopsicólogo. Apenas isso que tenho a dizer.

    — Eu não ‘tava esperando isso. — afirmei.

    — Ninguém espera. — tomou um pouco de seu vinho tinto. — Pergunte-me algo.

     Comecei a falar, mas ele me interrompeu rapidamente para irmos embora. Ele simplesmente pegou seu cartão e passou na maquininha que o garçom havia trazido.

     — Como funciona o mundo Altiorem? — perguntei quando já estávamos fora do Crissier.

     — Acho que você já sabe o básico, né? Tipo a hierarquia — assenti — Então, o governo escolhe nossas carreiras, nem temos o luxo de recusar. Seu destino está praticamente selado. Não podemos ter filhos, isso todos sabem, mas muitos se confundem achando que também não podemos nos casar ou namorar; algo que é permitido. Os mais velhos são os que estão no governo. Independente da sua profissão, se você for um dos mais velhos do país, automaticamente vira um político. Sinceramente, eu não sei o motivo de não podermos ter filhos, mas há rumores que é porque, uma vez, dois casais tiveram filhos e foi um desastre: um dos bebês matou a mãe e o outro espancou os médicos. Daí o governo proibiu, levando as duas crianças para o laboratório e até hoje vivem lá, tem um nome para denominá-los mas me esqueci agora.

     — É muita coisa para processar. — ri fraco 

     — Eu entendo, também demorei para me acostumar.

    Continuamos a andar e chegamos à pracinha em frente ao colégio. Ele me encarava intensamente, e eu retribuía o olhar. Nossos rostos estavam a poucos centímetros um do outro, eu conseguia ouvir sua respiração e sentir seu hálito de menta. Ele segurou minha cintura e eu coloquei minhas mãos ao redor de sua nuca, eu conseguia ouvir seu coração acelerado em sincronia com o meu. Fitei seus lábios e fomos nos aproximando devagar. Nossos lábios se tocaram e finalmente o beijo aconteceu.