1. Spirit Fanfics >
  2. Além das Quadras >
  3. Deixa eu te contar

História Além das Quadras - Deixa eu te contar


Escrita por: MarcelineA

Notas do Autor


Olaar amores e amoras! Como ces tão?
Vou me explicar aqui rapidinho: não to podendo responder os reviews pq meu pc deu um problema e n ta conectando internet. To postando pelo pc do meu irmão e obviamente ele não me deixar usar por muito tempo. Já mandei pro conserto e espero que não demore muito para resolver esse problema. Assim que eu tiver meu bebê em mãos, eu responderei vcs com todo carinho do mundo. Peço mil desculpas por isso. Os comentários mais curtinhos eu vou tentar responder pelo celular, mas não garanto muito pq é meio bosta responder por lá.
Enfim
Esse capítulo e o próximo serão mais curtos que o normal por questão de conveniência, apenas isso. Espero verdadeiramente que gostem!
Nos vemos nas notas finais!
Ghost Kisses
~Marceline

Capítulo 16 - Deixa eu te contar


Fanfic / Fanfiction Além das Quadras - Deixa eu te contar

As semanas iam se passando e, conforme isso acontecia, a convivência com Nathy tornava-se cada vez melhor, para o alívio de Erick.

Eles podiam se ver pouco, somente à noite quando ela voltava do trabalho, mas mesmo assim procuravam fazer as coisas juntos. Cozinhavam juntos, viam séries juntos e, às vezes, ficavam horas e mais horas conversando banalidades no quarto de Nathy, comendo pizza ou algum doce que tivessem feito.

Era bom ter um relacionamento daqueles com a irmã, ainda mais depois de tudo o que aconteceu com eles. Era bom que superassem aquela situação toda juntos e Erick estava muito feliz por poder encarar aquilo com Nathália de cabeça erguida e sem preocupações.

Ele também estava dando-se muito bem com Douglas, o namorado de Nathália. Mesmo que ele só passasse os finais de semana com eles por conta da faculdade, os dois acabaram criando uma amizade. Quando Nathy não podia dar atenção a ele, Douglas convidava Erick para jogar videogame, que, mesmo não sendo muito fã, aceitava a proposta do cunhado e até se divertia bastante.

Nesse tempo, ou melhor, no jantar em que tinha conhecido Douglas, descobrira que ele fazia medicina na UFOP, Universidade Federal de Ouro Preto e, todos os finais de semana, ia para a casa de Nathália. Havia vezes que Douglas não podia ir, ou por causa de trabalhos da faculdade ou por que a mãe dele o xingava dizendo que estava passando tempo demais com Nathália.

E aquele final de semana era um desses, em que a casa era toda para os dois, que Nathália era todinha sua.

Na sexta-feira, que era quando Douglas geralmente chegava, Erick ficou até 17h enfurnado dentro do quarto, ora lendo algum livro, ora acessando as redes sociais e apenas rolando a tela para saber o que estava acontecendo. Quando deu 17h, ele partiu para a cozinha, determinado a fazer um jantar especial para Nathália, como agradecimento por tudo o que ela vinha fazendo por ele.

Pegou tudo o que precisava para fazer seu macarrão especial, colocando em cima da pia e conectando seu celular com o rádio que havia no balcão. Colocou algum hip hop aleatório de sua playlist do Spotify e começou a cozinhar.

Colocou o macarrão pra cozinhar e assim que separou as coisas para fazer o molho branco, o toque de seu celular preencheu a ambiente. Erick correu até o aparelho no balcão, vendo na tela a foto de Amanda fazendo uma careta. Atendeu prontamente, já sorrindo em poder conversar com a amiga.

– VIADO, VOCÊ NÃO ACREDITA! – o berro de Amanda fez Erick afastar o aparelho de seu ouvido.

– Que você me deixou surdo? Acredito sim – comentou com uma risada.

– Muito engraçadinho – ela resmungou, mas logo voltou com sua voz animada. – Adivinha, Erick!

Ele franziu o cenho rapidamente, tentando se lembrar de alguma coisa que poderia ter acontecido para ela estar tão feliz assim.

– Vai se mudar pra BH? – ele perguntou de brincadeira, mas havia um pouquinho de esperança em sua voz.

Ouviu Amanda soltando um muxoxo do outro lado da linha.

– Infelizmente não, maaaaaaaas – ela começou – É uma coisa muito legal e que eu queria muito, muito mesmo.

Ele pensou mais um pouquinho, sendo iluminado por uma luzinha no fundo de sua mente.

– Você passou pra UERJ? – ele perguntou, o sorriso já tomando conta de seus lábios.

– SIM, ISSO! – ela gritou animada – Em filosofia! Meu Deus, Erick, você não sabe o quão feliz eu estou.

Erick soltou uma risada, apoiando-se pelo quadril na bancada.

– Dá pra perceber pelos gritos – comentou rindo, mas depois sua cara ficou um pouco mais séria – Você vai mesmo? Tipo, a UERJ tá em crise e...

– Eu sei, eu sei... – ela disse, o tom meio impaciente. – Mas eu vou dar uma chance. Sempre quis estudar lá e, agora que eu passei, não vou deixar de ao menos tentar.

Erick sabia muito bem da crise que o estado do Rio de Janeiro estava passando, ou melhor, que o país estava passando. E sabia muito bem que as coisas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro não estavam das melhores. Ficou um pouco receoso pela amiga, já que isso podia, ou melhor, iria atrasar sua formação.

– Bom... Você poderia tentar mudar pra UEMG ou pra UFMG – ele disse como quem não quer nada.

Ouviu Amanda bufar novamente.

– Eu sei que sou indispensável na sua vida – ela falou e ele riu – Mas infelizmente eu gosto muito daqui e não pretendo largar minha família e amigos. Eu te amo muito, Erick, mas cada um com suas decisões.

Para sua tristeza, ela tinha razão. Não podia obrigá-la a mudar para Belo Horizonte só porque ele estava lá, só porque ele queria. Às vezes, ele esquecia que algumas pessoas amavam o Rio de Janeiro, coisa que ele nunca iria entender o verdadeiro motivo. Também não esperava que ela largasse sua família pra ir morar perto dele.

– Mesmo assim, nosso acordo ainda está de pé, né? – ele disse esperançoso e sorriu aliviado quando Mandy riu.

– Isso é óbvio, não iria desistir disso de forma alguma.

Erick e Amanda tinham feito um trato há alguns meses, trato esse que ambos adoraram e concordaram sem mais considerações. Eles tinham combinado que, caso nenhum deles encontrasse alguém nos próximos 15 anos, eles iriam se casar e se mudar para bem longe, tendo a liberdade de ficarem com quem quiserem. Na verdade, a parte do casamento era mais uma brincadeira, mas o fato de morarem juntos e longe de tudo e todos era bem plausível.

– Gosto assim – ele disse sorrindo. – Já contou para os seus pais?

O silêncio que veio a seguir foi tão profundo que Erick achou que a ligação tinha caído ou dado algum problema. Porém, depois de alguns segundos, ele conseguiu ouvir Amanda respirar fundo e soltar o ar.

– Você sabe que isso não vai ser nem um pouco fácil né? Ainda mais que eles não sabem que para a UERJ eu fiz para Filosofia.

– Mas você vai contar, né, miga?

– Claro... Na verdade, eu tenho, né? Eu não posso esconder isso por muito tempo – ela falou com um suspiro – Eu só tenho que arrumar um jeito de eles não pirarem tanto.

Erick torceu a boca em desagrado. Gostava muito da família de Amanda, era praticamente sua segunda família, mas não concordava nem um pouco em não deixá-la fazer uma faculdade que ela quisesse, forçando um dos cursos da tríplice pela goela dela. Amanda só queria ser feliz, mas seus pais não entendiam que ser professora de filosofia era o que a deixava feliz. E Erick sabia que a amiga tinha uma vocação para lecionar.

– Eu sei que você vai conseguir – ele a encorajou, voltando seu foco para começar a fazer o molho do macarrão – Eu queria muito estar ai pra te ajudar, mas, né...

– Eu espero mesmo que consiga... E eu também queria que você estivesse aqui, mas entendo que você está melhor ai. Falando nisso, como vão as coisas?

– Ah, elas estão ótimas, Mandy! Minha relação com a Nathy nunca foi tão boa, inclusive estou agora mesmo fazendo jantar pra ela. – ele disse sorrindo, mesmo que Amanda não pudesse ver.

– Se tem uma coisa que vou sentir falta, essa coisa é a sua comida – Mandy comentou, a voz um pouquinho mais animada – Você vai cozinhar pra mim quando eu for ai te visitar.

– Isso é uma pergunta ou um ultimato? – brincou ele, mexendo os ingredientes na panela.

– Obviamente um ultimato. Acha mesmo que vai se livrar tão fácil assim de mim? Não mesmo! – ela exclamou – E quero você vindo aqui também me visitar. Renan e meus pais vão ficar muito felizes em te ver de novo.

– Eu já estou morrendo de saudades – disse ele, um pouco triste, mas logo se recompôs – Eu pretendo visitar vocês sim, só... Tem que deixar a poeira abaixar um pouco.

– Eu entendo perfeitamente, baby. Mas isso não impede de eu ir ai apertar suas bochechas lindinhas.

Erick soltou uma risada. Continuaram a conversar por mais alguns minutos, quando Amanda disse que precisava desligar por que ia sair pra comemorar sua aprovação com as primas. Eles se despediram e Erick colocou novamente a música no rádio quando desligaram a chamada.

Voltou sua atenção para a comida, vendo que o macarrão já estava ficando quase pronto, então ele podia começar a fazer o resto do molho. Colocando os ingredientes numa frigideira, ele tacou no recipiente tudo o que achava que ficaria bom e começou a mexer, sua mente vagando para os últimos acontecimentos.

A conversa com Amanda tinha mexido um pouco com sua cabeça. Lembrava-se perfeitamente da sensação de deixar tudo que gostava, que amava para trás. Aconteceu quando se mudou para o Rio e estava acontecendo novamente, agora que tinha se mudado definitivamente para Belo Horizonte.

Erick podia odiar o quanto fosse o Rio de Janeiro, mas ele não podia em nenhum momento negar que passou por coisas muito boas lá, além de ter ganhado pessoas maravilhosas em sua vida. A maior parte do tempo tinha sido um verdadeiro inferno, mas as pequenas coisas, as poucas pessoas, conseguiram mantê-lo em pé. Conseguiram fazer com que ele não sucumbisse completamente.

Afinal, Amanda e Danilo tinha praticamente virado suas muletas. Erick precisava dos dois mais que tudo e o sentimento de vazio por tê-los deixado doía. Doía tanto quanto na vez que teve que deixar Henry para trás. Mas ele teria que superar aquilo, infelizmente não podia mais ficar sequer no mesmo estado que o seu pai.

Quando se deu conta, notou que lágrimas escorriam pelo seu rosto, já meio quente e provavelmente vermelho. Nesse exato momento, ele percebeu a chuva forte que caía, assim como a porta da frente batendo e a voz fina de Nathália gritando que havia chegado.

– Erick? – ela perguntou quando ele não respondeu nada. – Onde você tá?

Ele enxugou as lágrimas o mais rápido que pode, mas sabia que não ia adiantar muito. A vermelhidão de seu rosto sempre que chorava o denunciaria com certeza.

– Cozinha.

Não demorou muito para Nathália aparecer na porta da cozinha, cheia de bolsas e toda descabelada, assim como toda encharcada por causa da chuva que caía.

– Meu Deus, hoje o dia foi uma merda – ela comentou deixando as coisas em cima da mesa e sentando-se para tirar os sapatos. – Ainda bem que hoje é sexta e... O que aconteceu? Por que tu tá chorando?

Erick respirou fundo, limpando as lágrimas, tentando contê-las também. Nathália apareceu do seu lado, acariciando seu braço enquanto o encarava com os olhos claros cheios de expectativa.

– Eu só... – ele tentou. Soltou um suspiro – Aquela mesma merda de sentimento de perda... Aconteceu quando nos mudamos pro Rio e não sei por que estou surpreso por estar acontecendo agora.

– Oh, pirralho – ela disse com doçura e tirando Erick do fogão para lhe dar um abraço. – Eu sei que é uma merda e que está tudo muito recente, mas você vai conseguir enfrentar isso, okay?

Nathália era relativamente alta para os padrões femininos, possuindo cerca de 1,75m, mas perto de Erick, ela ainda era baixinha, o que reconfortava o garoto de vez em quando. Ele a abraçou com firmeza, temendo que ela pudesse simplesmente sumir de sua vida... Também.

Ficaram alguns segundos se abraçando, até ela o cutucar dizendo que a comida iria queimar. Erick a largou com um grito levemente desesperado e desligou o fogão, fazendo a irmã rir de sua cara. Ele fechou a cara e revirou os olhos.

– Eu queria fazer uma coisa especial... Digo, com a mesa posta e tudo – ele resmungou de braços cruzados.

– Só de você ter feito a comida, já está ótimo. – ela sorriu bagunçando os cachos loiros – Muito obrigada, pirra. Além do mais, estava com saudades da sua macarronada. Espero que eu não morra

– Ta muito palhacinha hoje, hein? – Erick acusou sério, mas depois suavizou a expressão –Você merece, mala – ele respondeu, puxando-a novamente para um abraço.

– Meu Deus, ele tá carentinho hoje – ela brincou, acariciando as costas dele. – Quem devia estar assim sou eu, meu macho não tá aqui.

– Engraçadinha. – ele falou, fazendo careta – Hoje você é só minha e vamos maratonar Vikings até morrer.

– Ora, ora, ele tá cheio de autoridade hoje – brincou Nathy. – Então vamos. Vou só tomar um banho, vai preparando as coisas.

– Okay, okay.

Então se separaram, Erick indo finalizar a comida enquanto Nathy caminhava até a mesa.

– Tenho uma coisinha para a gente hoje – ela disse sorrindo e tirando um engradado de Budweiser de dentro de uma sacola. – Só não conta pra mamãe, ela me mata se descobrir que eu ando te dando bebida.

– Eu não sou tão idiota, né, Nathália?

– Vai que? – ela riu dando de ombros.

– Idiota.

– Eu mesma.

Então finalmente se separaram, Nathy indo ajeitar suas coisas e Erick, preparar a sala para verem série. Colocou as cervejas no freezer, visto que a irmã demoraria um pouco. Ela sabia sobre a bebida, sabia que Erick gostava de beber quando estava frustrado ou chateado com alguma coisa, mas também quando estava feliz ou animado. Mesmo ele não sabendo o motivo de ela ter comprado, aceitou de bom grado e sem reclamar, afinal, ele nunca iria negar álcool.

Finalizou o macarrão, colocando-o em dois pratos e levando-os para a sala de estar. Ligou a TV de tela plana e rapidamente colocou na Netflix, selecionando o episódio em que pararam de Vikings. Ficou mexendo no celular até a irmã aparecer, com calças de moletom e uma regata. O cabelo escuro e molhado pingava água em suas costas.

– Pega as cervejas no freezer – disse Erick voltando sua atenção para o celular.

– Nossa, quer tudo do meu corpinho também, hein? – ela reclamou na zoeira e foi buscar o engradado.

– Fiz a janta pra ti, não reclame.

– Ah, reclamo sim.

Ela sentou-se ao lado de Erick, que pode finalmente dar play no episódio. Ficaram em silêncio enquanto comiam e assistiam à série, um pouco alheios à chuva forte que caia do lado de fora do apartamento.

Ora ou outra, o silêncio era quebrado por algum comentário vindo de um dos dois. Por mais que estivessem sem falar nada pela maior parte do tempo, o silêncio entre eles era reconfortante, sempre foi. Não havia necessidade de conversarem o tempo todo. Às vezes, eles precisavam apenas da companhia um do outro.

Pararam de assistir quando Erick percebeu que Nathália havia caído no sono. Não iria culpar a irmã por isso, ela provavelmente teve um dia cheio de trabalho e precisava descansar. Silenciosamente, ele levou as coisas para a cozinha, organizando-a logo em seguida. Quando terminou, Nathália ainda estava apagada no sofá e, para impedir de acordá-la, Erick a pegou com cuidado, levando-a até o quarto e colocando-a na cama com cuidado. Nathy sempre teve o sono pesado, então ela não acordou diante daquilo.

Vendo que já era quase uma hora da manhã, Erick organizou suas coisas, fez suas higienes e foi para a cama, continuar lendo o livro que estava lendo antes de começar a fazer a comida. Só se deu conta que já estava muito tarde quando Nathália apareceu no seu quarto, o cabelo desgrenhado e uma expressão não muito legal.

– O que aconteceu? – Erick perguntou preocupado, deixando o livro de lado.

– Eu não sei... – ela respondeu, torcendo os dedos na regata larga – Pensei que você precisava de alguma coisa... Vim ver se tá tudo bem.

Ele franziu o cenho, estranhando a atitude em primeiro momento, mas logo suavizou, lembrando se de que ela fazia aquilo quando era mais nova.

– Eu estou bem – ele respondeu, com um pequeno sorriso no rosto. – E você?

– Bem também – ela semicerrou os olhos por um segundo – Tem certeza? Não quer que eu fique aqui com você?

Erick tentou não rir.

– Se você quer dormir comigo, é só falar, Nathy.

Ela bufou e cruzou os braços.

– Eu só estou preocupada com você!

Dessa vez, ele não conteve a risada.

– Então tá bom, chata. Pode vir dormir comigo.

Ela não disse mais nada, apenas caminhou rapidamente na direção do irmão e se aconchegou ao lado dele, as costas viradas para a parede gelada. Com isso, Erick resolveu deixar o livro na cabeceira e apagar a luz do abajur, deitando de frente para Nathy, de maneira que pudessem se encarar na escuridão.

– Às vezes, eu sinto falta disso – ela comentou depois de um tempo de silêncio. – De dormir com você quando to com medo...

– Então admite que tá com medo. – ele acusou com um sorriso.

Ela revirou os olhos e bufou mais uma vez.

– O vento lá fora tá fazendo um barulho muito estranho, então cale a boca.

Erick riu mais uma vez, levando a mão até o nariz de Nathy e o apertando afetuosamente.

– Eu também sinto falta disso... Você fez muita falta quando foi embora...

– Erick, eu...

– Eu sei... Não precisa dizer nada. Eu também faria a mesma coisa no seu lugar.

– Se eu pudesse, eu levaria você... Você sabe disso né?

– Sim... Mas... Enfim – ele fez uma pausa. – Não vamos falar disso.

– É... Vamos dormir. Boa noite, pirra.

Nathália acariciou os cabelos de Erick e lhe deu um beijo na testa antes de se cobrir e virar para a parede.

– Boa noite, mala.

[…]

Marjorie estava feliz e puta naquele momento.

Puta porque tinha torcido a merda do tornozelo durante o treino. Feliz porque, senão tivesse tropeçado naquela maldita central, não teria feito uma visitinha na enfermaria e não teria conhecido aquela musa inspiradora que trabalhava na área de fisioterapia.

Danielle.

Até o nome dela soava magnifico em seus pensamentos. Tudo na garota parecia extremamente perfeito, desde os cabelos completamente negros presos em um rabo de cavalo, até a boca carnuda e vermelha que Marge teve vontade de beijar intensamente. Queria poder conhecer mais um pouco da garota, mas a visita foi tão rápida que ela não pode fazer mais perguntas.

Danielle a examinou, dizendo que não tinha acontecido nada de mais, suas mãos frias sobre o tornozelo de Marge, causando arrepios na pele da garota. Logo foi dispensada pela outra, que disse apenas para colocar gelo no local para que parasse de doer.

Isso significava que ela não iria mais treinar, o que lhe deixava mais puta ainda também. Marge não quis contestar as ordens médicas de Danielle, na verdade, nem conseguiria, tamanha era a atenção que o rosto da outra lhe prendia.

Então ela foi, pediu para uma de suas colegas pegar suas coisas e ficou esperando do lado de fora da sala em que Danielle se encontrava, querendo intensamente ficar lá e conversar um pouco com a garota. Porém não o fez, apenas pegou suas coisas quando a outra ponteira chegou e foi caminhando lentamente para fora do clube.

Como estava sem carro e sem dinheiro para pegar um ônibus, Marjorie teve que ir a pé, caminhando calmamente para não forçar demais o tornozelo fodido. Para sua sorte, o clube ficava a pouco mais de três quadras de distância da sua casa, então poderia ia a pé tranquilamente. Okay, talvez mancando não seja tão tranquilamente, mas, de qualquer forma, não teria um caminho comprido para percorrer.

Diante de sua frustração do dia, ela resolveu passar na cafeteria perto de sua casa e tomar alguma coisa com bastante chocolate. Comia chocolate sempre que estava frustrada. Com raiva. Feliz. Triste... Bem, ela comia chocolate sempre que podia. Era chocólatra de carteirinha, não podia negar.

Colocou os fones de ouvido, selecionando uma música qualquer e foi caminhando até a cafeteria. A fachada de vidro logo entrou em seu campo de visão, fazendo com que Marge estagnasse onde estava ao reconhecer uma cabeleira loira dentro do estabelecimento.

Estava distante, mas ela não precisava de seus óculos para saber que era Erick. O mesmo Erick que fora um dos seus melhores amigos quando era mais nova. O mesmo Erick que lhe ajudou a superar um de seus primeiros amores. O mesmo Erick que sorria e era obcecado em jogar vôlei profissionalmente. Mas, infelizmente, era o mesmo Erick que havia destroçado o coração de seu melhor amigo.

Ela não acreditou no primeiro momento, tendo que esfregar os olhos para ter certeza que era ele. Porém, não tinha dúvidas. O cabelos grande e totalmente cacheado a fazia lembrar de quando eram crianças, antes de Erick entrar para o Colégio Militar e ter que tosar os lindos cachinhos. Isso fê-la lembrar de que chamava o outro de Cachinhos Dourados só para importuná-lo.

Erick tinha crescido também, provavelmente estava alguns centímetros mais alto que ela. O rosto estava com linhas mais maduras, deixando a face de criança que Marge estava acostumada. Seus olhos tinham aquele castanho bonito que ela sempre gostou, mas ela pode notar que o brilho intenso deles não estava mais lá, apenas um pequeno cintilo do que já fora.

Ele estava lá, sentado com uma xícara em cima da mesa e lendo algum livro. Marge conteve o sorriso ao lembrar-se o quanto Erick era apaixonado por histórias, não era de se admirar que tivesse virado um leitor. Porém, ela teve que cortar as lembranças. Erick machucara Henry de um jeito que o devastou e ela nunca o perdoaria por aquilo.

Como ele podia estar ali e não ter falado com ninguém? Ela imaginava que ele não falaria para Henry, mas nem ao menos uma ligação para ela dizendo que estava em Belo Horizonte? Pelo o que ainda sabia, continuavam a ser amigos, ele deveria ter ao menos falado com ela sobre isso.

Ela viu o garçom gatinho, Leonardo, aparecer perto dele, sorrindo maliciosamente ao pegar a xícara vazia. Erick nem tirou os olhos do livro, consequentemente não notando que o garoto dava em cima dele descaradamente.

Então ela decidiu que falaria com ele, mas não ali. Ela iria segui-lo até onde quer que ele estivesse para poder conversar. Em público, não podia expressar o que estava sentindo naquele momento. Precisavam de um lugar mais reservado.

Marge esperou alguns minutos, Erick levantou-se do local onde estava sentado e não demorou muito para que ele saísse do estabelecimento. Então lá foi ela, seguindo-o de uma distância boa para que ele não a percebesse e, ao mesmo tempo, para que ela não o perdesse de vista.

Não demoraram muito para chegar a um prédio pequeno e bem pintado, com um portão de ferro separando o jardim da calçada. Marjorie percebeu que não havia porteiro, então seguiu mais rápido para poder entrar no prédio quando Erick abrisse o portão. Cautelosamente, ela conseguiu passar pelo portão e logo em seguida pela porta de vidro. Ela esperou um pouco, deixando-o sumir pelos degraus para logo segui-lo.

Ela sempre foi muito boa em andar pelos lugares sem fazer barulho, sem ser percebida. E estava vendo que aquela habilidade estava vindo a calhar naquele momento. Finalmente chegaram ao terceiro andar, ela parando nos degraus para ver em qual apartamento ele iria entrar. 303.

Seu plano era simplesmente tocar a campainha e fingir surpresa para depois metralhá-lo com perguntas, mas quando viu, ou melhor, ouviu, que Erick não havia trancado a porta, ela achou melhor entrar no apartamento e fazer a surpresa ser ainda mais surpreendente.

Abriu a porta com cautela, fechando-a logo em seguida. Entrou no apartamento pequeno e bem decorado, a procura de onde Erick poderia estar. Foi caminhando silenciosamente e, quando finalmente chegou ao seu destino, Marjorie teve que sufocar um palavrão de espanto.

Erick estava tirando a camisa no momento em que ela apareceu na porta do quarto, fazendo com que ela visse perfeitamente todas as cicatrizes que lhe cobriam as costas. Porém, não eram cicatrizes de machucados acidentais. Eram cicatrizes de agressão, cicatrizes que alguém deixara ali de propósito.

Marjorie simplesmente não conseguiu dizer nada, encarando aquelas linhas finas, grossas, irregulares e retas cobrindo as costas brancas do amigo. Ela ficou tão chocada com aquilo que Erick deu um pulo de susto quando se virou e a viu ali, parada. Rapidamente ela levou os olhos verdes musgo ao encontro dos castanhos de Erick.

– Marjorie? – ele disse com um tom surpreso e incrédulo. – O que diabos você tá fazendo aqui?

Ela ignorou completamente o que o outro disse, ainda chocada com o que vira.

– Suas... Suas costas... – ela murmurou, porém alto o suficiente para que ele ouvisse. – Meu Deus do céu... O que era aquilo?

– Marge, não é nada – ele disse, a voz completamente sufocada. – Não é nada.

– Como assim nada? Erick, isso nas suas costas não é nada! – ela falou alto, os olhos arregalados.

– Não é nada... – ele disse baixinho, abaixando a cabeça. – Não é nada...

– Erick... O que aconteceu com você?

A pergunta ficou no ar por alguns segundos, o silêncio dominando o quarto durante esse tempo. Marge estava se preparando para perguntar de novo quando Erick levantou a cabeça, lágrimas e mais lágrimas correndo pelo seu rosto já vermelho.

– Por favor, não conte ao Henry, Marge.

– Erick, isso...

– Por favor – ele implorou. Quebrando a distância entre eles e segurando as mãos dela com força – Não conte nada ao Henry.

Ela ficou calada uns segundos. Nunca tinha visto o amigo chorar daquela forma. Na verdade, não se lembrava de tê-lo visto chorando, exceto em sua despedida, quando partira pro Rio. Lembrava-se de Erick pelo sorriso bonito e radiante que ele tinha no rosto sempre. Era estranho vê-lo chorando, vê-lo implorando. Simplesmente não parecia ele.

– Tudo bem, tudo bem... Eu não conto nada ao Henry. – ela confirmou olhando um pouco para cima. Erick definitivamente estava mais alto que ela. – Mas por que ele não pode saber?

Demorou um tempo para que ele respondesse. Estava claramente atordoado e perdido, Marge podia ver muito bem que ele não estava nem um pouco estável.

– Você deve saber que eu machuquei ele... – ele falou com a voz ainda sufocada – Eu não quero ter que encará-lo, não agora. Então peço, pelo amor de todos os deuses, que você não conte a ele. Que não conte sobre as cicatrizes e principalmente que eu estou aqui. Posso confiar em você?

Marge queria sentir-se ofendida com aquele “posso confiar em você?”, mas tinham ficado tanto tempo separados que eles eram praticamente estranhos um para o outro. Ela não o conhecia mais e ele não a conhecia mais. Aquilo que tiveram ficou no passado, sobrando apenas as recordações e o sentimento de nostalgia ao lembrar-se do que passaram juntos.

Ela não podia cobrar confiança dele.

– Sim, pode confiar em mim. Não vou contar nada ao Henry. – ela confirmou e ele pareceu relaxar – Mas você vai ter que me contar exatamente o que aconteceu com você nesses últimos anos.

Ela o observou engolir em seco, vendo que aquela situação não era a das melhores para ele. Porém, por mais que doesse, ela queria saber o que tinha acontecido. Precisava saber o que aconteceu para que Erick virasse aquele ser que estava a sua frente.

– Okay, eu conto... – ele parecia um pouco cansado. Pegou a camisa que usava antes e a vestiu novamente – Mas posso me preparar antes? Podemos conversar sobre outras coisas antes disso.

Marjorie levou um tempo para aceitar a proposta de Erick. Ela era bastante curiosa, mas também não queria ferir tanto o amigo. Ela já iria fazê-lo ao pedir para que ele contasse, o mínimo que ela podia fazer era dar a ele um pequeno espaço antes de contar sua história.

– Vamos pra cozinha, eu faço um chocolate quente pra você – ele ofereceu calmamente, as lágrimas já não corriam pelos seus olhos – Ainda gosta de chocolate, né? Lembro que você era viciada.

Marjorie reprimiu o sorriso. Apesar de tudo, ainda estava puta com Erick.

– Uma vez viciada, sempre viciada – ela brincou e o acompanhou até a cozinha. Marge sentou-se a mesa enquanto Erick preparava o chocolate quente dela. – O que faz aqui? Pensei que estivesse no Rio. Visita?

Ela pode ver as costas do outro se retesarem.

– Bom, vou dar uma resumida... Meus pais se separaram... Na verdade, estão se separando. Minha mãe ficou lá no Rio pra resolver o problema do divórcio e umas coisas do trabalho. Eu queria ficar com ela, mas ela achou melhor... Mais seguro, que eu viesse pra cá e morasse com Nathália até ela poder vir pra cá.

– Mais seguro? – ela perguntou. Erick caminhou até o micro-ondas, colocando a caneca ali e ligando o aparelho. Marge o seguia com os olhos.

– Sim, seguro... – ele respondeu apoiando-se no balcão – Meu pai... Meu pai fez coisas horríveis... Vou contar aos poucos. É muita coisa ainda pra por pra fora.

Marjorie subitamente entendeu o que se passou. Não precisava de mais detalhes para saber que o autor daquela obra de arte horrível nas costas de Erick era o próprio pai. Ela sentiu a raiva dominar seu corpo. Nunca fora com a cara de Anderson, mas não sabia que ele era capaz de cometer tal ato de covardia.

– Tudo bem... – ela se forçou a dizer, mesmo que a curiosidade estivesse consumindo seu ser – Então está morando com Nathy? Não sabia que ela estava aqui.

– Não? – ele perguntou, verdadeiramente surpreso. Tirou a caneca do micro-ondas e a entregou a Marge, sentando-se a frente dela logo em seguida. – Achei que ela tinha contado a você e a Henry.

– Não – Marge tomou um pequeno gole do chocolate. Estava quente na medida certa com a quantidade certa de chocolate. – Parece que ela não queria que soubessem que ela veio para cá.

– É... – ele divagou – Não a culpo, ela sofreu o suficiente na mão do meu pai.

Ficaram em silêncio por alguns segundos.

– Por que está mancando? – ele perguntou curioso. Marge voltou à realidade.

– Torci o pé no treino, mas não é nada demais – ela deu de ombros.

– Então continua no vôlei – ele disse sorrindo, parecendo bastante satisfeito com aquilo.

– Não podemos abandonar um amor, né? – ela sorriu também. – Terminou a escola?

– Graças aos deuses, sim – ele disse aliviando, jogando o corpo no encosto da cadeira de forma totalmente relaxada. – Não aguentava mais aquele lugar. Foram os piores anos da minha vida. E você? Fazendo faculdade?

Marge evitou perguntar sobre o que ele acabara de dizer sobre o CMRJ. Não iria apressá-lo.

– Jornalismo – ela respondeu – Já nem sei em qual período, puxei tanta matéria de vários períodos que é difícil dizer exatamente em qual período eu estou.

– Mas está gostando? – ele perguntou, apoiando o cotovelo na mesa e o queixo na mão.

– Sim e não – ela deu de ombros – Nunca me imaginei fazendo nada, você sabe disso. Mas o curso é interessante... Mas eu to vendo que não tem como conciliar o vôlei com a faculdade. Provavelmente vou sair de lá em algum momento.

– Não largaria o vôlei por nada né? – ele perguntou sorrindo.

– Um amor não deve ser abandonado – ela repetiu, tomando mais um gole do chocolate quente.

Ele não parecia em nada com o garoto que Henry descrevera. Mas também, não parecia em nada com o garoto que ela costumava conhecer. Marjorie estava confusa diante de tudo aquilo, perdida entre odiá-lo por ter machucado Henry ou dar a ele uma chance de se explicar.

– Por que você fez aquilo tudo com o Henry? – ela perguntou depois de alguns segundos de silêncio.

Mais alguns se seguiram depois daquela pergunta, Erick visivelmente desconfortável ao sentar-se ereto na cadeira e a começar morder a parte interna dos lábios. Ela lembrava-se daquilo, pelo menos algumas manias não eram deixadas de lado com tanta facilidade.

Ele respirou fundo, levantando-se da cadeira.

– Vamos para o meu quarto – ele disse, encarando-a com firmeza. – Vou te contar o início do meu mais perverso pesadelo.


Notas Finais


Então? O que acharam desse capítulo? Críticas? Comentários? Ameaças? USHAUHSA
Finalmente vocês vão entender um pouquinho mais o que aconteceu com o Erick. Preparem-se para odiar o pai dele mais ainda haha
Nesse e no próximo, não terá nada do Henry, mas no capítulo 18 voltaremos a vê-lo la em Saquarema jogando lindamente haha
Enfim
Queria agradecer imensamente a todos que estão sempre comentando! Muito obrigada mesmo, vocês deixam meus dias muito melhores ♥ Quero agradecer também a todos que estão acompanhando, mesmo que não comentem. Vocês são muito importantes pra mim e eu considero cada um de vocês ♥
Muito obrigada mesmo!
PREVISÃO PARA O PRÓXIMO CAPÍTULO: 7/08
Nos vemos nos comentários :*
Ghost Kisses
~Marceline


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...