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História Além das Quadras - Ele é desaforado ele


Escrita por: MarcelineA

Notas do Autor


HOJE É ANIVERSÁRIO DO MEU BEBÊ ♥ PODE ENTRAR, HENRY ♥
Essa coisinha fofa tá fazendo 19 aninhos hoje e não podia deixar de comemorar postando um capítulo pra vocês, né?
Espero que gostem bastante!
Ghost Kisses
~Marceline

Capítulo 19 - Ele é desaforado ele


Fanfic / Fanfiction Além das Quadras - Ele é desaforado ele

Henry não soube de imediato como reagir àquilo.

Sua mente estava girando com o tanto de coisas que passavam em sua cabeça. O simples “Oi, Henry” que ele tinha ouvido ao celular algum tempo atrás não era nada comparado às mesmas palavras ditas pessoalmente. Um calafrio percorreu a espinha de Henry com uma velocidade impressionante, ele não sabendo muito bem como reagir à visão a sua frente.

Erick tinha mudado completamente desde a última vez que o vira, lá em Resende. Seus cabelos, antes curtos por causa do colégio, estavam fartos, cachos dourados cobriam a cabeça do outro de maneira delicada e bonita. Sua pele estava um pouco mais pálida que antes, ao passo que as olheiras profundas tinham diminuído significativamente.

Porém, o que mais lhe chamou a atenção foi o olhar de Erick. Os olhos castanhos claros, que antes transmitiam um ódio e uma raiva direcionados a si, expressavam apenas um cansaço recorrente. Seus lábios pálidos estavam comprimidos em uma linha reta, Henry não conseguindo muito bem decifrar o que a expressão significava.

Seus olhos correram para o pulso de Erick, constatando que a pulseira dele não estava no seu devido lugar, como não estava quando ele a tirou e a jogou na cara de Henry. Um misto de emoções e sentimentos passou pelo corpo de Henry, mas a raiva e a irritação o tomaram naquele momento.

– “Oi, Henry”? – ele disse indignado. – Depois de tudo o que aconteceu a única coisa que você tem a dizer é “Oi, Henry”??

Erick ficou em silêncio, aparentemente não sabendo muito bem o que dizer.

– O que você está fazendo aqui? – Henry perguntou de uma maneira agressiva.

Erick puxou o ar, soltando-o lentamente antes de responder.

– Um dos levantadores sofreu um acidente. Me chamaram para substitui-lo. – ele disse simplesmente, como se nada tivesse acontecido.

Henry deveria saber. Depois da conversa que teve com Bernardo, não era de se esperar que algo acontecesse ao levantador. Chris tinha lhe dito algo sobre isso só vagamente, porque ambos não tiveram muito tempo de conversar direito pelo celular depois da ida de Henry para Belo Horizonte. Bernardo deveria ter se machucado no dia que Henry viajou e agora não fazia mais parte do time.

E a vida parecia estar caçoando dele, colocando Erick como o substituto do garoto.

No fundo, Henry tinha esperanças de nunca mais ver Erick. Tinha esperanças de que o outro ficasse no Rio de Janeiro e não aparecesse mais em sua vida para poder jogá-lo mais para baixo. Era um pensamento egoísta, talvez, mas infelizmente isso passava em sua cabeça. Em contra partida, outra parte de seu ser, com certeza a parte mais trouxa, estava ansiando para vê-lo novamente e para poderem se resolver finalmente.

E num conflito de sentimentos e pensamentos, a sua parte que queria Erick longe estava falando mais alto.

– E você sabia que eu estaria aqui? – Henry perguntou por fim.

Erick torceu a boca, em uma careta tão fofa que Henry quis matá-lo por ser tão lindo.

– Sabia.

– E você não pensou em nenhum momento desistir dessa ideia para ficar longe de mim? – disparou – Porque, pelo o que eu me lembre, você me queria longe da sua vida.

Aquelas palavras pareciam ter surgido algum efeito em Erick, pois ele pareceu um pouco surpreso ao ouvir aquelas palavras. Ele abaixou a cabeça, como se olhar para os seus All Star fosse mais interessante que olhar para Henry. Depois de alguns segundos, ele levantou os olhos, encarando Henry.

– Isso não tem a ver com você. – disse finalmente.

Henry quis avançar e bater em Erick até ele admitir alguma coisa que nem ele mesmo sabia o que era. Ele queria alguma confissão, qualquer palavra que pudesse fazer com que ele entendesse o que estava se passando com Erick... Entre eles.

– Tem a ver com o meu sonho de ser profissional. Você sabe muito bem disso – continuou Erick, antes mesmo que Henry perguntasse alguma coisa.

– Sei mesmo? Porque, desde que nos encontramos, você está completamente diferente. – acusou Henry – Eu não te conheço mais.

Erick comprimiu os lábios, deixando-os extremamente brancos.

– É, não nos conhecemos mais. Não como antes.

– E você não quer consertar isso? – Henry estava começando a deixar o nervosismo tomar conta de si. Não estava mais usando a raiva contra Erick, mas aquela sensação de estar cedendo. – Nós podemos consertar isso. Só precisamos conversar.

Erick piscou, começando a estalar os dedos e a mordiscar a parte interna dos lábios. Henry reconhecia muito bem aqueles sinais.

– Não podemos. – disse finalmente.

– Por que não? – Henry se arriscou a chegar mais próximo de Erick, mas o outro se afastou, como se ele próprio tivesse alguma doença contagiosa.

– Você não entenderia – Erick falou mais alto, começando a ficar mais nervoso – Simplesmente não posso.

– Não pode ou não quer? – disparou Henry.

Erick estalou a língua no céu da boca, olhando para o lado como se alguma força invisível fosse lhe dar uma resposta para aquilo.

– Também não é uma questão de querer ou não. Simplesmente não posso, entenda isso.

– Não tem como entender! Eu só quero que possamos ser amigos de novo.

– Não podemos ser amigos, Henrique. – disse Erick, voltando com a cara inexpressiva. Ou pelo menos tentando.

Aquilo doeu mais do que Henry esperava. Ele previa algo do gênero vindo do outro, mas na sua cabeça não tinha sido tão doloroso assim. Era como se alguém tivesse cravado uma flecha em seu coração.

Mas, de qualquer forma, mesmo doendo, ele tentou manter-se firme.

– Você tem todo o direito de não querer ser meu amigo. Eu sei que você disse que não me queria mais na sua vida... Você tem todo direito disso, mas pelo menos me explica o motivo! Não podemos jogar uma amizade de anos fora dessa forma. Não sem um motivo plausível!

– Eu tenho meus motivos.

– Então me fale! Eu só quero que você fale alguma coisa pra eu poder entender – exclamou Henry. – Você sabe como é horrível isso? É como se eu tivesse andando no escuro, sem saber o que encontrar.

Henry estava nervoso, pois não conseguia analisar perfeitamente as reações de Erick. Era como se tivesse uma parede enorme e translúcida entre eles. Podiam se ver, mas não perfeitamente, assim como não podiam se tocar.

– Eu sei muito bem como é isso. – soltou Erick. – Mas, por favor, entenda. Não posso.

– E se eu não quiser entender? – Henry voltou a sentir raiva. Tudo poderia ser tão simples se ele apenas falasse – E se eu quiser batalhar pra ter sua amizade de novo?

– Desculpa, mas você vai estar perdendo seu tempo se fizer isso.

As palavras de Erick não tinham nenhuma emoção. Não era aquela coisa agressiva de antes, mas Henry também não sabia identificar se tinham alguma hesitação em suas palavras, como se ele não quisesse dizê-las. Henry realmente não estava sabendo interpretar Erick, como conseguia antes.

– Então é isso? – disse Henry por fim. – Ta falando pra eu desistir da nossa amizade de anos.

Erick puxou o ar e o soltou rapidamente antes de balançar a cabeça, confirmando a sentença de Henry.

Ele sentia-se imponente. Não sabia se tinha feito de tudo para que recuperasse a amizade, mas tinha feito tudo o que passara pela sua cabeça, exceto amarrá-lo em uma cadeira e torturá-lo até ele falar. Obviamente nunca faria uma coisa daquelas. Henry não sabia mais o que fazer e estava se sentindo tão péssimo que naquele momento tudo o que ele pensava era que o mais sensato a fazer era desistir mesmo.

Desista do vôlei assim como de tudo o que você desiste na sua vida medíocre.”

Naquele momento ele estava completamente dividido. Uma parte queria realmente desistir, seguir em frente sem Erick. A outra gritava para ele não fazer isso, que valia a pena correr atrás.

Mas Henry estava cansado de correr atrás.

– Vai ser mesmo assim? – perguntou Henry, sentindo as lágrimas sendo formadas.

Ele esperava que Erick falasse que não queria que fosse, mas que teria que ser. Porém, ele apenas disse:

– Sim.

Foi a vez de Henry puxar o ar, comprimindo os lábios para conter as lágrimas. Olhou para o lado, a beleza do Centro não parecendo assim tão bela. Voltou seu olhar para Erick novamente, aquela inexpressão o irritando de uma maneira profunda. Não queria acreditar, mas aquilo realmente estava acontecendo.

– Tudo bem. – disse Henry por fim, pegando sua mala pela alça. – Mas isso não vai ficar assim.

As palavras saíram sem que ele pensasse muito a respeito delas. Podia ser um pouco impulsivo quando estava com raiva ou desorientado e naquele momento ele com certeza estava as duas coisas.

Pegou suas coisas e passou por Erick, sem olhar para trás, as lágrimas finalmente escorrendo pelo seu rosto.

[…]

Erick virou-se para ver Henry partindo.

Ele tinha passado uma parte da viagem pensando como aquela conversa iria se desenrolar. Definitivamente aquilo não estava no script da sua mente. Eram tantas coisas não ditas que ele queria muito dizer que aquilo estava sufocando-o.

Mas infelizmente as coisas tinham que ser daquela forma, mesmo que ele não quisesse. Sim, queria reatar a amizade. Sim, queria falar o que estava acontecendo. Sim, queria abraçar Henry e nunca mais soltá-lo, dizer que tudo era uma mentira e não largá-lo nunca mais. Queria isso tudo, mas realmente não podia.

Ele sabia perfeitamente que estava correndo risco. Seu pai poderia aparecer em qualquer momento e simplesmente matá-lo ou fazer coisa pior. Erick só não queria que Henry sofresse o mesmo destino que ele caso Anderson aparecesse.

Para isso, ele tinha que manter Henry longe de si. Quanto mais longe, mais distante, menos interação eles tivessem, mais seguro Henry estaria. E Erick estava disposto a sacrificar a amizade deles para que Henry ficasse seguro.

Assim que Henry desapareceu de seu campo de visão, Erick começou a andar, seguindo as instruções do guarda da portaria do local. Iria para o mesmo local que Henry, mas obviamente tentaria ao máximo não cruzar caminho com o outro a menos que fosse estritamente necessário.

Quando chegou ao prédio do alojamento, uma moça lhe entregou uma chave, direcionando-o para o seu quarto. O treinador já havia avisado que iria ter treino naquele sábado de manhã e estava relativamente ansioso por isso. Queria ver como os outros jogadores jogavam, mas estava colocando na cabeça que não estava lá para fazer amigos e sim para treinar.

Erick às vezes tinha medo por Amanda e Danilo. Os dois, que eram tão próximos a ele, poderiam estar correndo perigo. Ele não queria pensar nisso, queria pensar que o pai estava ocupado demais e aliviado com sua partida para pensar em fazer mal a algum dos dois. Mas ele não deixava de temer pelos amigos. Agora que Erick estava longe e Anderson possivelmente seria transferido para outro lugar, talvez os amigos não corressem tanto perigo.

Então estava dando graças a Deus que Danilo estava ali em Saquarema e que Amanda tinha ido passar as férias na casa da tia em Cabo Frio. Sabendo disso, Erick podia relaxar um pouco.

Como era muito cedo, Erick entrou no quarto vagarosamente para não acordar seus companheiros. Deparou-se com dois beliches, estando três das camas ocupadas por três pessoas. Os jogadores estavam dormindo profundamente, então Erick apenas deixou suas coisas no quarto e saiu sem fazer barulho. Não estava a fim de dormir naquele momento.

Ficando apenas com seu celular, Erick saiu do prédio, ligando para Danilo, que atendeu no terceiro toque.

– Alô – a voz de sono de Danilo era bem perceptível. Erick conteve a risada.

– Bom dia, flor do dia – Erick disse tentando ficar bem humorado. – Isso são horas de estar dormindo? Vamos acordar desgraça.

– Me erra, idiota – respondeu Danilo. A linha ficou em silêncio por alguns segundos, Erick apenas ouvindo um ranger de cama. – O que aconteceu? Tá tudo bem?

– Tá tudo ótimo! – mentiu Erick. Nos últimos tempos estava aprendendo a mentir de forma mais convincente. – Vamos, vamos pra praia.

– Praia? – perguntou Danilo – Estou em Saquarema, Erick.

– Surpresa!

Houve alguns segundos de silêncio, como se Dan estivesse tentando decifrar o que aquilo significava.

– Você que vai substituir o Bernardo? – a voz de Danilo pareceu estar em alerta agora.

– Se Bernardo for o antigo levantador de vocês, então sim...

– Meu Deus, Erick... Isso é...

– Maravilhoso, eu sei – disse rapidamente.

– Mas e o... – sua voz soou mais baixa, Erick teve que cortá-lo rapidamente.

– Vamos pra praia. Conversamos lá. To te esperando do lado de fora do alojamento.

Então desligou antes que Danilo pudesse dizer alguma coisa. Ficou onde disse que estaria, esperando que Danilo aparecesse. Batia o celular na mão por conta do nervosismo. Já tinha um tempo que não via o amigo e ele tinha que admitir que estava sentindo falta do outro.

Depois de alguns minutos Danilo apareceu vestindo uma regata azul e um short de tactel preto. Seu cabelo loiro, agora grande, estava bagunçado, denunciando que acabara de acordar. Ele soltou um bocejo, abrindo os olhos logo em seguida e vendo Erick.

– Olá! – Erick disse animado.

Danilo não disse nada, apenas venceu a distância entre os dois e o abraçou fortemente. Erick praticamente foi engolido pelo outro, já que era um tanto mais baixo que Danilo.

– Se quer me matar, avisa logo – resmungou Erick.

– Desculpe – disse Danilo separando-se de Erick. – Esqueci que você é cheio de não-me-toques.

Erick deu língua para Danilo, que soltou uma risada.

– Senti sua falta, cara – declarou Dan.

Erick não conteve o sorriso que sentiu se formando em seus lábios.

– Eu também senti sua falta.

O tempo que passou na casa de Danilo tinha feito com que os dois se aproximassem ainda mais. Aquilo tinha sido maravilhoso, pois tinha recuperado aquela sensação fraternal de quando era amigo de Henry. Erick via Henry como um irmão naquela época, sentimento esse que foi se perdendo ao longo dos anos. Então era bom sentir aquilo novamente com Danilo.

Ter um irmão era bem diferente de ter uma irmã.

– Eu quero te matar! – disse Erick quando se colocaram a caminhar em direção à praia.

– Nenhuma novidade – discursou Danilo dando um soquinho no ombro de Erick. – Posso saber o motivo?

– Você não me disse que Henry estava aqui também.

Danilo ficou em silêncio, parecendo escolher as próximas palavras.

– Não achei que fosse importante para você saber disso. – declarou.

– Isso é tudo parte do seu “não vou deixar você se machucar por causa daquele idiota?” – perguntou Erick fazendo aspas com a mão e tentando fazer uma imitação falha da voz de Danilo.

Ele riu.

– Talvez.

– É um idiota mesmo.

– Eu já disse, não quero que você se machuque por causa dele. – falou Danilo – Mas, conheci ele um pouco melhor essa semana. Sabe, somos colegas de quarto.

– Vou me abster, já que você não conta mais nada pra mim. – Erick fez bico e cruzou os braços.

– Para de drama, coisa. – Dan o empurrou levemente. – Mais uma vez, não achei uma informação importante.

Erick descruzou os braços, voltando seus olhos para o amigo.

– Eu te odeio, não consigo ficar com raiva de você.

Danilo soltou uma risada e bagunçou carinhosamente os cachos de Erick.

– Eu sei que não. – deu de ombros – Enfim... Ele não me parece uma pessoa má. E também me pareceu bem perdido quando eu disse algumas coisas sobre...

Erick parou imediatamente, encarando Danilo incredulamente.

– Você não falou nada, né?

– Óbvio que não – Danilo pareceu ofendido – Que tipo de amigo você acha que eu sou?

– Do tipo que não me conta certas coisinhas. – alfinetou Erick.

– Tá bom, tá bom – suspirou – Joga isso na minha cara mesmo. Enfim. A questão é que eu acho que vocês deveriam conversar. Sabe... Colocar as cartas na mesa, lavar roupa suja, como você preferir.

Haviam chegado à praia, que estava tão bonita que Erick sentiu o coração se aquecer. Se tinha uma coisa que ele sentia muita falta do Rio, essa coisa eram as praias. Ele gostava demais da areia em seus pés, da água salgada batendo contra seu corpo, do vento bagunçando seus cabelos. Voltar a ir a uma era algo que o deixava mais calmo e relaxado.

Como àquela hora da manhã o sol não estava tão quente, puderam sentar-se na areia sem um pano. Ficaram uns segundos em silêncio antes de Erick responder a pergunta de Danilo, que, como sempre, não o pressionava e o deixava falar quando queria.

– Não posso.

Danilo ficou em silêncio, esperando que Erick continuasse.

– Eu tenho medo. – prosseguiu Erick. – Tenho medo que meu pai possa fazer alguma coisa de ruim para Henry.

– Mas ele tá no Rio, não pode fazer nenhum mal pra ele estando em outro estado.

– Eu sei – divagou Erick – Mas ele pode simplesmente aparecer aqui. Ele pode vir atrás de mim e, se eu mantiver Henry por perto, meu pai pode machucá-lo pra me atingir. Ele já fez coisas horríveis que eu nunca imaginei que viriam dele, então eu realmente não posso dizer o que ele é capaz ou não de fazer.

Erick puxou o ar, soltando um suspiro logo em seguida.

– Eu já estou com medo o suficiente por você e por Amanda. – continuou – E não posso proteger todo mundo, por mais que eu queira. Então você tem que me prometer que vai tomar cuidado e que vai proteger Amanda caso alguma coisa ruim aconteça.

Danilo ficou olhando para Erick com aquela característica cara de pena. Erick não gostava de ver aquele olhar direcionado a si, mas sabia também que era um pouco inevitável. Já tinha se acostumado com isso vindo de Danilo e de Amanda. Mas ele provavelmente não aguentaria aquilo vindo de Henry.

– Você sabe que vou fazer isso – disse Danilo, apertando o ombro de Erick para afirmar mais suas palavras. – Mas então o que você pretende fazer com relação a ele?

– Eu não sei – Erick disse meio derrotado – Afastá-lo o máximo possível de mim. Prefiro que ele me odeie para o resto da vida a vê-lo machucado por minha causa.

– Entendi – comentou Danilo – Mas, cara... Conhecendo o pouco que eu o conheço, não acho que ele vá desistir de você. Pelo menos de tentar entender o que aconteceu.

– Ele não pode saber. Você não pode contar – Erick falou firmemente – Uma hora ele vai desistir. Ele tem que desistir.

– Bem, de um jeito ou de outro, vocês vão acabar se encontrando em Belo Horizonte.

– Eu vou fazer o máximo pra evitar isso. Eu sei que vamos nos encontrar cedo ou tarde. Vou fazer de tudo para ser o mais tarde possível. Acho que estou no caminho certo. Ele ficou realmente furioso por eu ter tratado ele meio friamente agora pouco.

Danilo arqueou as sobrancelhas claras em surpresa.

– Já encontrou com ele?

Então Erick começou a narrar sua “aventura”. Contou sobre a aprovação na faculdade até seu encontro com Marge. Inclusive contou como a louca invadiu sua casa e ele teve que dar algumas explicações pra ela. Alfinetou um pouco Danilo, dizendo que, se Marge não tivesse falado que Henry estava ali em Saquarema, ele ia passar os dias fugindo de um Henry que nem estava mesmo em BH.

Após alguns resmungos de Danilo a respeito da alfinetada, eles ficaram em silêncio, observando as ondas quebrarem na areia branca da praia.

– Também passei na faculdade – disse Danilo de repente. – UERJ.

Foi a vez de Erick de arquear as sobrancelhas.

– E isso não é ótimo? Amanda também passou pra UERJ. Filosofia.

– Que maravilha que ela passou – Danilo ficou realmente feliz pela amiga – Sobre ser ótimo... Não sei, ainda to averiguando o caso.

Erick sabia da resistência de Danilo com seus pais. Não iria tocar no assunto, por mais que quisesse. Ficou ouvindo Danilo falando sobre o lance dos pais, de não o deixarem morar com o irmão deserdado por ficar mais perto da faculdade.

– Henry me deu um bom conselho – disse Danilo por fim – Disse pra eu fazer uma proposta a eles. Karine me falou o que eu podia fazer e tem chances reais de funcionar.

Erick tentou esconder o sorriso que se formava em seus lábios.

– É, Henry sempre foi bom em dar conselhos – disse ele – Em ouvir também.

Lembrou-se da época que eram inseparáveis. Que contavam seus medos e angústias um para o outro. Erick sempre foi péssimo com as palavras, sendo um ouvinte de primeira. Mas Henry sempre fora bom com elas mesmo que não acreditasse no que dizia. Ele tinha o poder de fazer você acreditar em cada palavra que saía de sua boca.

E Erick sempre acreditou. Era tudo uma maravilha naquela época.

– Que horas é o treino? – ele perguntou para focarem o assunto em outro tópico. Ainda lhe dava angustia falar de Henry.

– Fomos estranhamente dispensados hoje. – disse Danilo, fazendo Erick franzir o cenho.

– O treinador disse que era pra eu estar cedo aqui por causa do treino.

– Talvez ele queira te testar antes de juntar com o time – Danilo deu de ombros – Não se preocupe vai dar tudo certo.

Erick apenas assentiu e voltou a olhar para a imensidão azul. Ultimamente aquelas eram palavras que ele ouvia com uma frequência absurda.

E estava começando a ficar com raiva delas.

[…]

Henry não sabia o que fazer naquele momento.

Estava verdadeiramente furioso, como jamais esteve na vida. Ser uma pessoa tranquila sempre às vezes era ruim, pois quando ficava com raiva de verdade, parecia que todas as coisas que o irritaram no passado vinham à tona adicionar ainda mais lenha na fogueira.

Queria saber como Erick era capaz de mexer tanto com seus sentimentos. Queria entender como aquilo era possível. Henry só queria ficar bem. Só queria que as coisas não fossem tão difíceis. Mas, mais uma vez, a vida estava o fodendo com areia e sem cuspe.

Enquanto caminhava em direção ao alojamento, girava seu anel sem parar. Mascava um chiclete com uma violência notável. Ouvia música nas alturas para abafar seus pensamentos. Não poderia ter mais uma crise de ansiedade. Não na frente de Erick. Não por causa de Erick.

Sentiu-se aliviado quando finalmente chegou ao seu quarto. Danilo, Gabriel e Chris estavam dormindo, então tentou ao máximo conter a raiva e não fazer barulho. Deixou suas coisas em uma das paredes e foi para sua cama na intenção de tentar dormir pelo menos até a hora do seu treino.

Porém, não tinha dado nem cinco minutos para o celular de alguém começar a tocar. No segundo toque, Henry queria isolar o celular na parede, mas foi logo atendido e a voz rouca e sonolenta de Danilo preencheu o cômodo.

Henry não queria prestar atenção, mas foi inevitável quando Danilo disso o nome de Erick. Lógico, porque ele ainda estava surpreso? Claro que Erick iria ligar pra ele. Claro que queria falar com ele. Afinal, não tinha motivos para estar com raiva de Danilo... Mas também não tinha motivos para estar com raiva de Henry, então ele ficou com raiva só de pensar nisso.

Não demorou muito para eles encerrarem a conversa e Danilo sair de sua cama, indo vestir-se e saindo do quarto logo em seguida. Henry ficou em sua cama, tentando controlar sua raiva, mas obviamente não conseguiu. Precisava falar com alguém, senão iria explodir e não ia ser nada legal.

Rapidamente saiu de sua cama, indo imediatamente para a cama de Chris e sacudindo o outro para que acordasse. Chris sempre teve um sono um tanto pesado, então demorou alguns segundos para Henry conseguir de fato acordá-lo.

Os olhos castanhos se abriram sonolentos e tentaram focar no rosto de Henry. Abriram-se definitivamente quando Chris reconheceu o rosto a sua frente. Ele sentou-se na cama um tanto desajeitado e coçou os olhos.

– Você voltou – disse com a voz rouca. – Como foi a viagem?

– Vamos conversar lá fora, por favor. – disse Henry. Precisava muito de ar fresco.

Chris não perguntou mais nada. Sabia que tinha outras pessoas no quarto e também queria privacidade com Henry. Levantou-se rapidamente e vestiu uma roupa qualquer, deixando que Henry o guiasse em seguida. Fizeram uma pausa para irem ao banheiro e Chris escovar os dentes, então depois prosseguiram. Ficaram em silêncio por uma parte do tempo, Henry sentindo os olhos de Chris curiosos sobre si.

– Ta tudo bem? – Chris perguntou enquanto andavam. – Aconteceu alguma coisa em BH?

– Não tá nada bem – disparou Henry – A vida tá querendo me foder mais ainda, não é possível!

– Meu Deus, o que aconteceu? – Chris parou, agarrando os ombros de Henry, fazendo-o parar também. Tinha os olhos completamente preocupados e Henry sentiu-se culpado por estar fazendo aquilo, mas não era algo que estava conseguindo controlar.

– O que aconteceu com Bernardo? – Henry perguntou, fazendo Chris franzir o cenho.

– O que isso tem a v...

– Só responda, Chris.

Chris estreitou os olhos.

– Algum dos meninos, não lembro qual, atacou a bola bem nos dedos dele. Rompeu alguns ligamentos e quebrou alguns ossos. Foi uma parada bem feia, não vai mais poder jogar. Fiquei sabendo que o substituto dele chega hoje.

Henry puxou o ar e soltou devagar. Ficou com pena do amigo, ele não merecia aquilo, de verdade. Mas os meninos não eram muito cuidadosos.

– Pois é, ele já chegou.

– Você o conheceu?

Henry o olhou fixamente por uns segundos.

– Chris. – disse em tom de “junte os pontos, seu idiota”.

Funcionou. Demorou alguns segundos para Chris entender o que Henry quis dizer com aquilo.

– Não. Sério? – agora a ficha tinha caído.

– Encontrei com ele quando cheguei. – Henry deu as costas para Chris, voltando a andar e passando as mãos no rosto. – Ainda não estou acreditando. Tá acontecendo tudo de novo.

– Calma, Chibi – Chris segurou Henry, que estava andando de um lado para o outro – O que ele falou?

– Ah, um bando de merda como sempre – respondeu com raiva. – Eu não sei mais o que eu faço.

– Você tá mal com as coisas que ele te disse – começou Chris. – Bom, acho que você deveria fazer ele se sentir como você está se sentindo.

– E como diabos eu vou fazer isso, Christian? – perguntou Henry.

– Tratando ele da mesma forma que ele tá te tratando, simples – respondeu cruzando os braços.

– Eu não sei ser rude e babaca. Eu sou um amorzinho de pessoa.

– Ah tá, vai nessa. – Chris revirou os olhos – Você consegue. E se não conseguir... Bem, não vou deixar ele chegar perto de você de qualquer forma.

“E quem disse que eu quero ficar longe dele?”, o pensamento veio tão rápido que Henry nem conseguiu sequer tentar reprimi-lo.

[…]

Depois de ficar mais um tempo conversando com Danilo, Erick teve que ir para o quarto para se trocar pro treino. Estava ansioso para aquilo, mesmo que, aparentemente, o treino seria somente com ele. Era bem plausível que o técnico quisesse averiguar suas habilidades.

Entrou no quarto designado para ele, onde tinha deixado suas malas anteriormente, mas, dessa vez, deparou-se com duas pessoas acordadas no quarto. Um dos garotos se levantou, sorrindo para Erick e esticando a mão.

– Você deve ser o novo levantador. – disse o garoto alto de cabelos castanhos – Sou Filip, ponteiro passador.

– Erick. – disse simplesmente e olhou para o cara jogado na cama. Ele devia ser alguns centímetros menor que Erick e tinha uma cara meio emburrada.

– Esse sem educação é o Rodrigo, mas a gente chama ele de Andrade – disse Filip revirando os olhos. Ele não parecia gostar muito de Rodrigo. – Ele é líbero.

Ah, aquilo explicava bastante aquela carranca. Erick sabia que Henry era um excelente líbero, talvez ele fosse melhor que aquele tal de Andrade e tivesse conseguido a vaga de titular, fazendo o outro líbero ficar na reserva e consequentemente com raiva.

– Prazer – disse Erick por educação, já que não tinha ido muito com a cara de Andrade.

– Hm... – respondeu o outro.

Erick evitou revirar os olhos e, para a sua sorte, Filip começou a falar novamente.

– O outro ponteiro, Felipe, também tá nesse quarto, mas acho que ele foi pra praia – deu de ombros. – Joga há quanto tempo?

– Comecei a treinar com 10 – declarou Erick indo pegar sua roupa de treino.

– Nossa, tão cedo! – exclamou Filip – Comecei com 13 e acho que comecei tarde. Qual time você tá jogando agora?

Erick se conteve, pois não podia espalhar que tinha passado recentemente para o Argos BH Clube. Como sempre, não podia correr riscos de Henry descobrir. Estava torcendo, também, para que o técnico não mencionasse nada, caso soubesse.

– Jogo no Fluminense – inventou, torcendo para que nenhum outro jogador tenha vindo de lá.

– Ah que maneiro! Acho que você é o segundo carioca no time – divagou Fillip.

Erick quis dizer que não era carioca, mas preferiu não falar nada. Falar mais do que deveria acarretaria perguntas que ele não estava a fim de responder.

– Bom, seja bem vindo ao time! – falou com um sorriso – Você vai se dar bem, a galera é bem de boas.

Erick jurou que viu Fillip olhando de esguelha para Andrade, como se dissesse que ele era o único que estava de fora da categoria “galera bem de boas”. Erick não se importou muito com aquilo. Estava lá para jogar, não para fazer amigos.

Trocou sua roupa, colocando a de treino, pegou suas joelheiras e seu inseparável esparadrapo. Fillip lhe deu instruções de como chegar ao ginásio em que eles estavam treinando, então, depois de receber a informação, Erick saiu do quarto, acenando para Fillip.

Foi caminhando tranquilamente até o local do treino, aproveitando a brisa que passava naquela hora e o cheiro de natureza que ele tanto gostava. Estar ao ar livre era uma das coisas que Erick mais gostava. Não demorou muito para chegar ao ginásio, dando graças a Deus por não ter se perdido.

Erick franziu o cenho quando chegou mais perto, escutando o barulho de bolas sendo sacadas. Estranhou aquilo, pois achava que ele iria treinar sozinho. Talvez o técnico estivesse batendo uma bolinha enquanto esperava Erick. Nunca se sabe.

Porém, sua curiosidade foi sanada quando entrou no local. Henry estava lá, concentrado até o último fio de cabelos nas bolas que eram mandadas com força em sua direção. Como ele estava de costas para Erick, o levantador se permitiu ficar observando um pouco o treino do outro.

Um cara, que ele julgou ser o técnico, atacava bolas na direção de Henry e, quando ele as direcionava de volta, o técnico as devolvia pingadas, fazendo com que ele se deslocasse pra frente para pegá-las, na maioria das vezes tendo que dar um peixinho.

Aquilo deixou Erick surpreso, pois se lembrava perfeitamente que Henry não conseguia fazer um peixinho direito. Pelo visto ele tinha treinado. Pelo visto não tinha levado suas palavras sobre desistir a sério. Um sentimento de culpa o abateu ao lembrar-se do que tinha dito para o amigo na época em que estava completamente fora de si.

Viu perfeitamente como Henry tinha melhorado bastante. Ele era um excelente líbero, não tinha como negar, mas vê-lo ali, correndo atrás das bolas, passando e defendendo tão bem era uma coisa muito bonita de se ver. Não pode mais admirar, pois seu nome foi ecoado pelo recinto, bastante animado.

– Erick! Que bom que conseguiu chegar – disse o técnico. – Venha cá.

Lentamente, Erick conseguiu se mover até onde os dois estavam. Colocou sua melhor máscara inexpressiva e chegou até lá. Encarou Henry por alguns segundos, vendo estampado na sua cara um “ah, não, por favor, não”. Tentou não levar aquilo como ofensivo, pois não tinha motivo para Henry querê-lo perto.

O técnico se apresentou, pediu os documentos e apresentou Erick a Henry e depois apontou para a arquibancada. Erick virou-se vendo o central moreno que estava sempre com Henry. Uma raiva ameaçou subir pelo seu corpo, mas ele se conteve. Não tinha gostado nem um pouco daquele garoto, ainda mais que ele estava grudado em Henry quase sempre. Também não gostava da forma ameaçadora que ele o encarava, parecendo que iria arrancar a cabeça de Erick com as mãos grandes.

Ele não duvidava.

Para sua sorte, Christian não saiu da arquibancada, apenas acenou para parecer educado na frente do técnico. Ele e Henry se cumprimentaram como não se conhecessem, mas dava pra ver na cara dos dois que nenhum estava confortável com aquela história de treinarem juntos.

– Muito bem, meninos – disse Sérgio animado – Primeiro eu quero testar suas habilidades como levantador, Erick.

Erick assentiu, tentando ignorar o climão instalado ali.

– Henry, você vai continuar treinando sua defesa e passe com o assistente – Sérgio chamou um cara que Erick não tinha notado até então. – Quero aumentar seu tempo de reação, então vamos treinar bastante isso, okay?

Henry assentiu também, cruzando os braços.

– Depois eu quero ver os dois juntos, já que é importante que o passe seja bom para o levantador. Quero ver como vocês se saem trabalhando isso juntos.

“Isso não vai dar certo”, pensou Erick, mas, para sua surpresa, foi Henry que verbalizou aquilo.

– Isso não vai dar certo, treinador. – seu tom não era nem um pouco amigável.

Sérgio franziu a sobrancelha grossa.

– E por que não daria?

Henry pareceu não ter uma resposta boa, então soltou um:

– Apenas sinto isso.

– Não trabalhamos com intuição, Henrique. Trabalhamos com tentativas e erros. Agora chega de conversa e vamos suar.

Levando uma última encarada de Henry, Erick seguiu o técnico para perto da rede, enquanto Henry se afastou para o outro lado da quadra.

Primeiro fez um aquecimento rápido e depois partiu logo para os exercícios de levantamento. Começaram com um que Erick particularmente adorava, em que ele tinha que acertar a bola dentro de um aro com uma rede. Toda vez que acertava dentro do aro era motivo para uma comemoração interna, já que o exercício não era tão simples assim.

Erick ficava puto quando não conseguia acertar o aro ou quando fazia um levantamento ruim. Ele queria mostrar para o técnico que ele merecia estar ali, que era realmente bom e que não seria uma decepção. Estava se concentrando ao máximo para isso, mas a presença de Henry no local tirava um pouco seu foco. Mesmo que o outro estivesse do outro lado da quadra, de costas para si, era desconcertante. Para completar, ele sentia perfeitamente os olhos daquele garoto irritante que estava na arquibancada. Aquilo já estava estressando-o e ele quase mandou Christian tomar no cu por causa disso.

Ele não precisava de muito para se irritar com aquele cara. Não tinha ido com a cara dele desde os Jogos. E agora que Erick via claramente que ele funcionava como uma espécie de guarda costas para Henry, aquilo o irritava mais ainda.

Mas ele não podia ficar pensando nessas coisas. Tinha que colocar na cabeça que estava ali somente pelo vôlei. Não podia deixar suas emoções e sentimentos o dominarem. Tinha que manter o foco. Manter a concentração.

Usando todas as suas forças, conseguiu passar por todo o treino sozinho concentrado no que estava fazendo. Sérgio ia lhe dando alguns toques e dicas para ele melhorar seu levantamento, mas no geral estava muito bem. Conteve o sorriso que queria se formar quando o técnico disse que ele era realmente um bom levantador.

Mas aí passou para o treino de passe-levantamento com Henry. Erick podia ver na expressão do outro que ele não estava muito contente com aquilo, mas que não falaria nada e que aceitaria aquilo quieto. Lógico, Erick conhecia Henry e, por mais que tivessem mudado e ficado longe um do outro por muito tempo, ele sabia que Henry não iria arrumar briga por qualquer besteira.

Sérgio deu as instruções do que ele queria que os dois fizessem. O exercício inicial era simples, eles sacariam ou atacariam do outro lado da quadra, Henry tinha que passar para Erick e este tinha que fazer o levantamento na direção que Sérgio gritava.

Erick e Henry se posicionaram de um lado da quadra, enquanto o técnico e o assistente ficavam do outro lado. Eles se olharam rapidamente, uma comunicação visual que eles tinham e que aparentemente ainda se mantinha. Acenaram com a cabeça um para o outro, ambos meio inexpressivos e olharam para frente logo em seguida.

– Prontos, meninos? – perguntou Sérgio.

– Sim – responderam juntos.

Então começaram. Os primeiros movimentos foram apenas saques que não vinham muito fortes, então Henry não tinha muitas dificuldades em passar as bolas certeiras para Erick, que seguia os comandos de Sérgio perfeitamente. Erick só conseguia imaginar os jogadores atacando as bolas que ele levantava, sempre marcando pontos. Na cabeça de Erick, qualquer levantamento dele era perfeito para marcar pontos.

Os dois não precisavam de muita comunicação para acertarem as passadas. Na verdade, não falavam nada. Não tinha o que falar quando o passe era excelente para um levantamento melhor ainda.

As coisas foram ficando mais difíceis quando Sérgio e o assistente começaram a variar os tipos de bola que mandavam para o outro lado da quadra. Henry tinha que prestar muita atenção, pois ora tinha que se jogar no chão para pegar as bolas que chegavam antes da linha de ataque, ora tinha que se afastar para trás para pegar bolas que iam bem no fundo da quadra. Mesmo assim, Erick pode perceber que ele sempre tentava manter a bola direcionada para suas mãos. Vez ou outra, Erick tinha que se deslocar para pegar uma que não vinha muito bem, mas mesmo com essas ele conseguia fazer os levantamentos que Sérgio mandava.

Parecendo que não se cansaria daquilo, Sérgio começou a variar entre ataques fortes, bolas largadas perto da rede e as que poderiam pegar bem na linha do fundo da quadra. Henry tinha que se movimentar ainda mais, jogando-se no chão, fazendo peixinho, pegando a bola de costas e até com uma das mãos. Tudo para não deixar a bola cair. Tudo para não dar ponto para a outra equipe.

Erraram algumas vezes, claro. Algumas vezes, Henry não conseguia recepcionar uma bola muito forte. Algumas vezes, Erick não colocava força suficiente para fazer o levantamento. Mas nenhum dos dois disse nada. Apenas se olhavam e acenavam com a cabeça para o outro como se dissessem: vamos mais uma vez.

Erick sentia uma felicidade estranha ganhando força em seu ser. Ele tentava a todo custo disfarçar os sorrisos que queria dar, mas estava começando a ficar difícil. Não tinha mais porque mentir, os dois tinham uma sincronia perfeita. Uma sincronia que, se colocada com os jogadores certos, poderia ser uma arma poderosa para derrotar seus adversários.

– Vocês foram realmente bem, meninos – comentou Sérgio depois que ele deu um tempo no treino. – Eu sabia que isso iria funcionar. Não tinha motivo para não.

Erick e Henry assentiram, ambos ofegantes e suados de tanto correrem atrás da bola. Apesar de ter sido um treino relativamente simples, foi o suficiente para eles se cansarem bastante e suarem também.

– Bom, agora quero ver isso um pouco mais na prática. – continuou Sérgio.

“Meu Deus, mais não... Quero uma cama”, pensou Erick. Ainda estava bastante cansado da viagem.

– Chris, você pode atacar algumas bolas pra gente? – perguntou Sérgio virando-se para Chris.

– O que? Não. Não vou levantar pra esse cara – disse Erick rapidamente.

– E por que não? – perguntou Sérgio erguendo uma das sobrancelhas.

Erick tinha todos os motivos de não querer levantar para Christian. Mas é claro que ele não iria verbalizá-los. Além de não ir com a cara do indivíduo e não gostar nem um pouco dele, Erick achava que seus levantamentos eram bons demais para aquele cara. Sim, aquilo poderia ser bem infantil de sua parte, mas não seria fácil fazê-lo mudar de ideia.

Mas, se quisesse continuar na seleção, teria que encarar aquilo quieto. Não podia deixar passar uma oportunidade ótima pra si por causa de um idiota daqueles.

– Ah, tá... Eu levanto – resmungou.

– Sábia decisão – falou Sérgio e chamou Christian com a mão, que se aproximou rapidamente.

Erick não conseguiu deixar de encará-lo com sua melhor cara ameaçadora. Se um olhar pudesse matar uma pessoa, Christian estaria caído mortinho no chão.

– Quero concentração e bolas rápidas. Vamos começar com a entrada de rede.

Christian se posicionou mais ou menos na posição 4, que era onde os jogadores, na hora do rodízio, estariam entrando na zona de ataque. Henry se posicionou um pouco mais atrás de Christian, entre a posição 5 e a 6 (ambas posições de defesa), enquanto Erick ficava na posição 1. Assim que Sérgio simulou um saque, Erick correu para a posição em que se geralmente fazia o levantamento. Henry a recepcionou muito bem, mandando a bola na direção de Erick, que levantou a bola para Christian.

Que errou o tempo de ataque.

– O que diabos você fez? – perguntou Erick um tanto encabulado – A bola estava perfeita.

– Você errou o tempo de bola e a culpa é minha? – defendeu-se Christian.

Você errou o tempo da bola. Como você conseguiu fazer isso? Ela tava na sua cara! – exclamou Erick, já ficando irritado.

– Se um atacante não consegue atacar a bola, então tem algo de errado com o levantador – rebateu Christian com um sorrisinho cínico.

– Quando um atacante erra uma bola dessas é porque ele é um incompetente. – devolveu Erick.

– Ok! Já entendemos – interrompeu Sérgio. – Vamos tentar de novo. Erick tente se ajustar ao Chris da melhor forma, tudo bem?

– Por que eu que tenho que me ajustar a ele? Ele que tem que saber atacar as bolas que eu levanto – rebateu. Seu temperamento provavelmente iria ferrá-lo algum dia.

Sérgio revirou os olhos.

– Não vamos discutir isso, apenas faça o que estou instruindo.

Sem muita escolha, Erick assentiu, encarando Christian antes de voltar ao seu lugar.

– Seu passe tá muito bom, continue assim – disse por impulso para Henry e virou-se para se concentrar em Sérgio.

Uma outra bola veio, mas dessa vez Henry errou o passe. Erick o olhou, vendo que o outro parecia um pouco nervoso. Parecendo perceber que estava sendo observado, Henry virou-se na direção de Erick, encarando seus olhos.

“Você consegue”, Erick encorajou mentalmente e, como se Henry tivesse entendido, ele assentiu com a cabeça.

– Concentração, meninos! – gritou o técnico.

Tomaram suas posições e a bola veio rapidamente. Repetiram todo o processo anterior, mas dessa vez a bola foi devagar de mais, fazendo com que Christian errasse novamente a bola.

Erick estava pronto para xingá-lo quando a voz de Henry se sobressaiu.

– Vamos tentar de novo.

Erick parou no seu lugar, olhando rapidamente para o outro. Eles assentiram um para o outro, os olhos de Henry passando confiança para Erick. Ele não sabia exatamente se essa era a intenção, mas funcionou, pois na quarta tentativa, Christian conseguiu cravar a bola direitinho do outro lado da quadra.

– Isso! – exclamaram os dois, superanimados.

No que pareceu ser um impulso, Henry e Erick se aproximaram e trocaram um hi-five, ambos sorrindo por terem conseguido fazer aquela jogada com sucesso. No mesmo segundo que aquilo parecia completamente natural, também parecia completamente estranho. A estranheza caiu sobre os dois no mesmo momento, fazendo seus sorrisos desaparecerem e ambos se virarem em direções opostas.

Naquele momento, Erick pareceu entender um pouco mais sobre trabalho em equipe. Ele realmente precisava que o passe fosse bom para ele fazer um bom levantamento para que o atacante tivesse as condições perfeitas de fazer o ataque. Que poderia muito bem ser um ataque de vitória. Tudo pareceu tão claro quando Henry o encarou daquela forma a incentivá-lo que parecia até estúpido ele pensar que poderia fazer tudo sozinho.

– É disso que eu estou falando! – exclamou Sérgio, também animado. – Vamos mais algumas vezes.

Então continuaram. Mais alguns levantamentos para a entrada de rede. Depois de um tempo, dava para perceber que os erros que eram cometidos vinham de Christian, que às vezes pegava errado na bola e a isolava no ginásio. Ou então ele não pulava alto o suficiente para atacar a bola, que de fato estava perfeita se ele tivesse se esforçado um pouco mais. Dava pra ver que a sincronia entre o líbero e o levantador era harmoniosa e bonita de se ver, ao passo que o atacante não conseguia manter a beleza da situação.

Depois mudaram para a saída de rede, onde Christian se ficava na posição 2 e que no rodízio seguinte ele sairia da zona de ataque. Nessas situações, Erick tinha que fazer levantamentos de costas, mas aquilo não atrapalhou em nenhum momento a sincronia que tinha com Henry, muito menos deixou seus levantamentos ruins. Pelo contrário, Erick conseguia fazer excelentes levantamentos de costas.

A cada vez que Christian conseguia atacar, Erick e Henry pareciam comemorar internamente, às vezes trocando olhares animados e cúmplices um com o outro. Não ousavam falar nada, pois não era necessário. O silêncio entre eles falava mais que quaisquer palavras ditas em voz alta.

Erick nem mais lembrava que tinha colocado a cabeça que precisava afastar Henry de si. Ali, na quadra, nada lá fora parecia importar. O que era importante eram apenas eles, a bola e um objetivo em comum.

– Muito bem, meninos. Agora vamos testar as bolas pra central – comandou Sérgio.

Naquela posição, Erick e Christian ficavam muito próximos, então dava para ver a tensão entre os dois naquela situação.

– Manda bola rápida – disse Christian num tom autoritário.

– Você não vai acertar – rebateu Erick.

– Cala a boca e faz o que eu to falando.

Erick não era de deixar aquele tipo de coisa quieta, mas não falou nada. Ele sabia que não ia adiantar fazer uma bola daquelas, uma vez que a sincronia deles era quase nula. Então, Erick iria fazer, para provar que ele estava certo.

A bola veio. Henry teve que dar um peixinho para conseguir pegá-la, mas mesmo assim o passe foi bom o suficiente para Erick tentar uma bola rápida. Foi exatamente o que ele fez. Saltou perto da bola e a mandou com rapidez para o centro. Como era esperado, a bola passou pela mão de Christian, que cortou o ar.

– Eu disse – Erick disse dando de ombros com um ar vitorioso. – Não é bom o suficiente, desculpa.

– Você é idiota assim mesmo ou fez curso? – perguntou Christian sarcástico.

– Aprendi com você

– Escuta aqui, seu...

– Chris, por favor – a voz de Henry foi ouvida ali perto.

Christian estava para avançar em cima de Erick. Com certeza iria apanhar, mas ele não tinha medo. Christian podia ser uns bons centímetros mais alto, podia ter mais músculos, mas aquilo não intimidava Erick. Ele tinha passado por coisas piores que aquilo.

– Vamos resolver isso lá fora. – comentou Christian antes de voltar sua atenção para o outro lado da quadra.

– Mal posso esperar.

Então voltaram para o treino, aquele clima horrível entre os dois era bem palpável. Depois de mais alguns ataques, Sérgio se deu por satisfeito e liberou os três.

– Muito bom, meninos. Eu gostei bastante do que vi hoje. Vocês não vão me decepcionar se tiverem que jogar juntos. Só resolvam suas diferenças fora da quadra. Lá fora vocês podem ser inimigos ou o que for, mas aqui dentro o adversário é outro. Vocês estão do mesmo lado. Estamos entendidos?

– Sim – responderam os três.

– Liberados.

Erick não perdeu tempo em pegar sua garrafa de água e tomar um pouco. Estava mesmo cansado e precisando de umas boas horas de descanso. Sem muita pressa e sem falar com ninguém, ele juntou suas coisas e foi caminhando para fora do ginásio, o celular na mão conversando com Amanda.

Quando estava já no meio do caminho de entrar no alojamento, ouviu a voz de Henry dizendo um “Chris, para, pelo amor de Deus!” para logo em seguida sentir sem braço sendo puxado para trás. Christian tinha virado Erick com violência para poder encará-lo e obviamente ele não iria correr. Henry estava logo atrás, com uma cara preocupada.

– Você se acha demais não é? – começou Christian, com uma voz mostrando seu claro desgosto – Você não é nada, querido. Nada. Não se ache muito, pois o André que vai ser o levantador titular e você vai ficar lindo enfeitando o banco.

– Você ouviu isso, Henry? – perguntou Erick com a cabeça levemente inclinada para observar Henry atrás de Christian – Não entendi muito bem, não falo idiotês.

Christian não perdeu tempo em pegar a gola de Erick, fazendo com que ficassem bem próximos. Erick sabia que poderia apanhar, mas valia o risco se fosse para ver aquele cara irritado.

– Erick, para com isso. – pediu Henry.

– Ele que vem me desaforar e eu que tenho que parar?

– Não dirija a palavra a ele, seu babaca – rosnou Christian. – Tu já fez ele sofrer demais, então não respire perto dele.

– Não me lembro de ter visto seu nome na minha certidão de nascimento pra você ter o direito de mandar em mim.

Christian pareceu ignorar aquilo.

– Eu só vou dar um aviso – ameaçou ele. – Se tu chegar a um centímetro dele sequer, eu acabo com você.

– E desde quando você regula quem chega perto de mim ou não – Henry parecia ofendido ao falar aquilo, se metendo no assunto.

– Depois de tudo o que ele fez, tu ainda quer ele perto? – Christian perguntou incrédulo. – Eu não acredito nisso.

Aquilo foi o suficiente para Henry conseguiu se por entre Erick e Christian. Para isso, ele teve que encostar em Erick para afastá-lo de Christian. O toque, por mais bobo que tivesse sido, fez o coração de Erick acelerar. Henry se mantinha de costas para ele, encarando o outro com uma cara não muito boa.

– Isso não tem nada a ver com a situação! – exclamou Henry – Você não pode ficar controlando as coisas desse jeito! Não ameaçando as pessoas que chegarem perto de mim.

– Se for pra proteger você, eu vou fazer qualquer coisa – rebateu Christian.

– Eu nunca pedi essa sua proteção louca.

– Eu faço isso pelo teu bem! Tu não consegue enxergar isso?? – Christian parecia transtornado.

Aproveitando a distração dos dois, Erick conseguiu sair de fininho, avançando os últimos metros até o alojamento e entrando no prédio rapidamente.

Seu coração estava acelerado, mas não era por causa do treino. Henry tinha aquele maldito efeito sobre si. Ele tentava reprimir aquilo, mas era claro como o sol que era bem difícil. Mas de qualquer forma tinha que tentar.

Henry tinha o defendido, apesar de tudo e aquilo valia bem mais do que qualquer outra coisa. Apesar de tudo, ter feito aquele cara perder completamente a cabeça tinha sido um dos pontos altos do seu dia. Um sorriso sarcástico brotou nos seus lábios enquanto pensava naquilo.

Aquela estadia seria interessante.


Notas Finais


O que acharam do capítulo? E ESSE SHIPP AI HEIN? USHAUSHUAHUSHAUSH
Gente, explicando minha situação rapidinho: minhas aulas voltaram, provavelmente irei ficar um pouco sem tempo pra algumas coisas. Então não vou mais colocar previsão pra capítulo. Eu vou fazer de tudo pra manter de 15 em 15 dias, mas não garanto que eu consiga, então prefiro não deixar vocês criando expectativas.
É isso. Quanto aos comentários, a mesma coisa. Vou tentando responder aos poucos.
TEMOS UM GRUPO NO WHATSAPP! QUEM QUISER ENTRAR, ME PASSA O NÚMERO COM O DDD POR MENSAGEM!
É isso amores e amoras. Muito obrigada por tudo e nos vemos nos comentários ♥
Ghost Kisses
~Marceline


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