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História Além das Quadras - Não esquecer


Escrita por: MarcelineA

Notas do Autor


Olá pessoas!
Depois de algumas semanas querendo postar, finalmente aqui está o capítulo lindão para vocês ♥
Explicando algumas coisas:
~ Até o capítulo 9 terá essa dinâmica "passado-presente".
~ Isso só vai rolar nesse primeiro arco. A partir do segundo terão algumas cenas do passado deles, mas não vai ser a cada capítulo

Espero que gostem do capítulo! Agradeço a todos que mandaram reviews *-* Quero vê-los novamente nesse capítulo haha
Boa leitura
Ghost Kisses
~Marceline

Capítulo 2 - Não esquecer


Fanfic / Fanfiction Além das Quadras - Não esquecer

Junho de 2009

Mais um dia ensolarado no final de semana e mais um dia tendo que ficar preso dentro de casa com a cara nos livros.

Sua rotina estava cada vez mais intensa, principalmente por conta do grande dia que se aproximava. Estava estudando mais de 10 horas por dia, contando a escola, o cursinho preparatório para a prova que faria e os estudos em casa.

Essas horas se estendiam frequentemente para os finais de semana de Henry. Queria muito entrar no Colégio Militar de Belo Horizonte e já ouvira falar milhares de vezes, principalmente pela boca de Marge, aprovada dois anos antes, que as provas de admissão não eram nem um pouco fáceis, mesmo que a maioria dos concorrentes tivesse por volta de 10, 12 anos.

Henry nunca foi muito do tipo que gosta de estudar. Sempre ficava jogando videogame, brincando na rua ou vendo TV quando, na verdade, deveria estar estudando. Porém, sempre tirava notas bem altas sem precisar tocar uma vez no livro ou no caderno, o que fazia com que sua mãe não se preocupasse tanto com isso.

Mas a situação agora era diferente. Queria entrar em um colégio que era muito concorrido, mesmo sendo para cursar o sexto ano do ensino fundamental, e também muito difícil de passar. A maioria das pessoas que passava, regredia um ano ou mais apenas para ingressar no CMBH. Claro, era considerada uma das melhores escolas federais de Belo Horizonte e da rede Colégio Militar, qualquer um iria querer colocar seu filho em uma instituição como aquela: barata e de boa qualidade.

Então estava se empenhando o máximo que conseguia para conseguir passar nas duas provas, não se preocupando tanto com português, mas sendo pego pela famosa matemática. Sempre abominou a matéria, mas, mesmo odiando-a, não era tão ruim assim. Ainda que demorasse bastante tempo pensando nas questões, acabava conseguindo fazê-las.

Às vezes, o nervosismo o pegava em cheio e ele queria desistir. Não sentia que ia passar, não sabia se sua colocação seria boa ou o suficiente para ingressar no colégio. Ele estava apenas na quarta série, enquanto vários de seus “adversários” já tinham passado dessa série e estavam cursando a quinta, estudando para entrar no Colégio, dispostos a repetir o ano apenas pela chance de estudar lá.

Era nessas horas que batia um desespero e ele não conseguia se controlar. Lágrimas começavam a se formar em seus olhos toda vez que ficava agarrado em uma questão muito complicada, não importava se de matemática ou de português. Nessas horas, sempre batia o sentimento de que não era capaz, de que não merecia entrar para um colégio daqueles.

Era em momentos como esse que Erick entrava para ajudar e apoiar o melhor amigo. Já com a vaga garantida dentro da instituição, uma vez que seu pai era militar e já servia há mais de quatro anos em um quartel, Erick estava mais preocupado em treinar suas habilidades no vôlei. Estudava para a prova de adaptação que todo filho de militar tinha que fazer, mas não se importava muito, já que não estava competindo pela vaga, como Henry estava.

Erick sempre foi a pessoa de que Henry precisava para encarar seus medos. Por mais que fosse uma criança, sempre tinha palavras bonitas e motivadoras para dizer ao amigo, fazendo com que ele não desistisse da ideia de entrarem para o mesmo colégio. Ao contrário de Henry, Erick tinha sido forçado a entrar no Colégio Militar. Não que não quisesse porém seu interesse pela instituição era bem menor que o de Henry.

Os dois estavam felizes, de qualquer forma. Iriam estudar juntos!

Sempre tiveram esse desejo, mas nunca encontraram oportunidade. Agora que cursavam a mesma série, uma vez que Erick era um ano adiantado, estariam todos no mesmo colégio, inclusive Marge! Isso era fantástico principalmente para Henry.

Henry estava sentado em sua escrivaninha quando escutou um barulho da porta abrindo de maneira violenta. Nem sequer se deu o trabalho de olhar, sabendo exatamente quem havia invadido o seu quarto.

– Não. – disse sem tirar os olhos dos números daquela questão em que havia parado.

– Mas, Henry, sua mãe disse que você pode vir treinar comigo! – exclamou Erick aproximando-se do amigo com uma bola branca, azul e verde em mãos. – Vamos!

– Eu tenho que estudar, Erick. Eu não tenho o seu privilégio de entrar sem concurso. – resmungou Henry, tentando se concentrar no exercício, mas era impossível com a presença de Erick. Sempre muito animado, barulhento e irritante. Difícil se concentrar nessas situações.

– Ei! A culpa não é minha que eu tenho direito a entrar sem fazer concurso! – reclamou Erick meio emburrado – Sem contar que a Marge me disse como os concursados tratam os amparados.

Henry girou sua cadeira, virando-se na direção de Erick para analisá-lo. Bem, isso que ele tinha dito era verdade. O preconceito contra filhos de militares, mais conhecidos como “amparados”, no CMBH, era grande, pois a maior parte do corpo de alunos era formada por concursados, o que fazia com que se sentissem superiores.

– Ok, você pode estar em uma situação pior que a minha quando entrar lá, mas mesmo assim... Quem estar na pior agora sou eu. – ele disse, começando a ficar desesperado, o nervosismo e a ansiedade retornando. Então coisas ruins começaram a tomar conta da mente de Henry.

E se ele não passasse?

Além de todo o dinheiro que sua mãe investiu em cursinhos e aulas particulares ser jogado fora,ele ainda se tornaria a maior decepção da família. Como todos estavam na expectativa de que Henry conseguisse entrar para o Colégio Militar, a pressão psicológica que ele próprio sentia era gigantesca, o que piorava tudo. Ele não queria aquilo de forma alguma. Não queria se sentir um fracassado.

Erick viu quando Henry começou a apertar as mãos de maneira muito forte. Viu quando o amigo começou a ficar ofegante, olhando para um ponto fixo, absorto em seus próprios pensamentos ruins. Erick sabia muito bem o que Henry sentia, o que o nervosismo e ansiedade eram capazes de fazer com seu amigo, ainda mais por ele já ter presenciado a maioria de suas crises, algumas piores que outras.

– Ei, ei... – disse, deixando a bola em um canto e aproximando de Henry. Assim que estava de frente para o amigo, tomou seu rosto com as duas mãos para fazê-lo olhar para ele. – Você é forte. Você vai conseguir vencer essa. Pensa como se fosse um jogo de videogame, é apenas uma fase e tenho certeza que você vai conseguir cumpri-la, ok? Eu tenho fé em você.

Henry apenas ouvia as palavras de apoio com atenção, fazendo questão de olhar no fundo daqueles olhos castanhos claros. Às vezes, tinha a impressão que Erick podia ler sua alma com tanta facilidade que chegava a ser espantoso. Erick tinha esse poder nos olhos, os olhos de uma pessoa inocente, ingênua e de bom coração.

– Você vai ficar bem. Vai arrebentar nessa prova e vai ser um dos primeiros colocados, você vai ver! – incentivou Erick com um sorriso acolhedor.

A respiração de Henry foi ficando mais regular, suas mãos já lentamente se abriram e seu corpo parecia relaxar aos poucos. Quando já estava mais calmo, retribuiu o sorriso do amigo, em um silencioso agradecimento.

– Agora, para você não surtar, vamos jogar bola! – disse Erick se levantando todo animado e pegando a bola antes negligenciada. – E não adianta dizer não! Sua mãe está preocupada porque você está estudando demais. Sabemos que você vai ficar pior se não esfriar a cabeça, pelo menos um pouco.

– Okay, você ganhou. – disse Henry, levantando-se da cadeira. – Minha mente realmente precisa de descanso.

– Isso aí! – disse Erick totalmente animado, arrancando um sorriso de Henry.

Em situações assim,Henry agradecia aos céus por Erick estar em sua vida.

 

* * *

 

Atualmente – 18 de julho de 2016

 

Henry nunca se sentiu tão animado como estava se sentindo naquele momento. Era a primeira vez que estava competindo nos Jogos da Amizade, defendendo o Colégio Militar de Belo Horizonte. Dizer que era a primeira vez que viajava por causa do vôlei seria mentira, mas era a primeira vez que viajava com aquele time em específico.

Os Jogos da Amizade (JA) eram disputados pelos doze colégios militares espalhados pelo Brasil. Todos passariam uma semana na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, mais conhecida como EsPCex, que era o lugar em que aspirantes a oficiais do exército estudavam por um ano; e era, também, onde os jogos seriam disputados . O local, além de enorme, era lindo, os prédios todos em um tom de um rosa clarinho e dotados de um aspecto antigo. Havia , também, várias áreas grandes de grama, que Henry deduziu servirem para as formaturas militares.

Essa era a parte chata de estar em um ensino militar. Uma vez por semana, eles tinham essas formaturas das quais até mesmo os estudantes participavam, como uma tradição que jamais seria quebrada. Basicamente, todos os alunos e militares tinham que ficar em pé, alinhados por altura e obedecendo aos toques de corneta. Os discursos do comandante do Colégio eram a parte mais chata. Henry gostava do desfile, que tinha ao final, momento em que eles marchavam para fora do colégio e depois voltavam pelo longo pátio.

Não seria diferente naquela situação, ainda que se tratasse dos Jogos. Teriam uma formatura de abertura, a qual acabava sendo diferente por conta do contexto. Seria uma formatura separada por delegação e não por série, como era de costume. Apesar de tudo, Henry estava animado.

Ele e o time de vôlei estavam se ajeitando no alojamento militar que fora reservado para a delegação masculina de Belo Horizonte. A Abertura dos Jogos da Amizade seria realizada dali a algumas horas, sendo que haveria um treinamento antes, então todos tinham que estar prontos até o horário estabelecido no cronograma que lhes deram.

Tinham chegado a Campinas, lugar onde ficava a EsPCex, às 16 h. A formatura seria às 19h30, para que, às 21 h, estivessem todos prontos para o primeiro jogo. Infelizmente, o time do CMBH não iria competir naquele momento, mas, como era uma partida de basquete e um de seus amigos queria analisar um dos melhores times (o de Brasília), eles iriam assistir de qualquer forma.

Apesar do cansaço pelas 8 horas de viagem, a animação sempre falava mais alto, então todos no alojamento estavam eufóricos.

O alojamento era basicamente um quarto gigante com beliches espalhadas e, cobrindo as paredes, vários escaninhos, onde podiam guardar seus pertences mais preciosos se tivessem um cadeado. O alojamento em que Henry e os times de vôlei, basquete e handebol tinham ficado, era anexado a outro alojamento, pelo qual teriam que passar para ter acesso às próprias acomodações; e que era, também, o lugar onde o restante da delegação e monitores ficariam. O banheiro, que Henry já tinha visitado antes de irem pro alojamento, era enorme com vários chuveiros, todos sem divisórias.

Ele sabia que não seria uma boa ideia juntar todos aqueles garotos num mesmo cômodo, mas não estava ligando, estava feliz em estar ali. As brincadeiras logo começaram, caras bem animados puxando o grito de guerra deles, pulando nas camas de cima do beliche apenas de cueca e meias.

– Vocês são ridículos! – gritou um deles, rindo.

– O sargento vai pegar vocês! – exclamou outro, provavelmente um dos mais novos ali.

– Não sejam caretas, calouros – disse um dos que estava em cima do beliche. Era um dos jogadores de basquete do terceiro ano, Henry reconheceu.

Henry riu com a cara espantada dos mais novos e virou-se para olhar um de seus colegas de equipe, Christian, porém ele não estava mais ao seu lado. Olhou um pouco para cima e viu Chris do segundo andar do beliche, onde provavelmente Henry iria dormir.

– Escutem aqui! – gritou Chris, a pele escura iluminada por uma lâmpada em cima de sua cabeça, a qual quase batia no objeto luminoso. Não esperava menos do central do time de vôlei, uma vez que ele tinha pouco menos de dois metros de altura.

Todos se viraram para olhá-lo.

– Eu quero todos vocês chutando a bunda desses metidinhos dos outros colégios! Principalmente daqueles merdinhas cariocas!

– Isso aí! – gritou o mesmo jogador de basquete.

– Vamos fazer aqueles idiotas chorarem pedindo colinho da mamãe quando nós massacrarmos eles!

Henry riu mais uma vez e balançou a cabeça. Christian tinha uma aura competitiva que chegava a ser divertida. Isso sempre o animava quando ele estava triste ou nervoso por causa de uma partida. Nada comparado ao suporte que sempre teve de Erick, mas mesmo assim ajudava bastante.

Além de animação, Henry sentia certo incomodo e sabia exatamente o que era. Ele sabia que iria ver Erick outra vez.

Erick tinha sido transferido para o Rio de Janeiro quando estavam prestes a entrar para o ensino médio. Desde então, se encontraram apenas uma vez, que foi no ano passado, no segundo ano do ensino médio. Erick tinha ido para Belo Horizonte para os Jogos da União, uma competição que envolvia apenas os colégios militares de BH, RJ e Juiz de Fora. Henry estava no time de vôlei, porém, não pode competir contra seu amigo, nem vê-lo muito, por conta de um outro torneio de que estava participando junto ao time em que jogava e que era de fora do colégio. Foi um milagre ter conseguido comparecer à festa que deram no final da semana dos Jogos.

Desde aquela festa em que se viram, Erick não tinha conversado com ele direito. Demorava horas e até dias para responder suas mensagens e, sempre que Henry sugeria para que conversassem pelo Skype, Erick dava a desculpa de que não podia. Então pararam de se falar. Henry queria saber o motivo da estranheza do outro, afinal, eram melhores amigos e se preocupavam um com o outro. Ou, ao menos, deveriam.

– Você vai ficar parado ai ou eu vou ser obrigado a te lançar na cama? – perguntou Chris, parado na sua frente, um sorriso branco e convencido.

Henry despertou de seus devaneios e revirou os olhos.

– A cama de cima é minha – disse Henry jogando sua mochila no andar mais alto do beliche e jogando a mochila de Chris no de baixo.

– Ei! Eu que queria a de cima! – reclamou Chris.

– Falou bem: queria – Henry sorriu de lado e sumiu na cama. Gostava da sensação de estar no alto – Você é grande demais não precisa ficar mais no alto ainda.

Chris lhe deu língua e se apoiou na cama de Henry.

– Quem dá língua quer beijo – respondeu Henry automaticamente, pegando seu celular e ativando o 3g.

– Você sabe que eu quero – sussurrou Chris e lhe lançou um sorriso malicioso.

Henry limitou-se a rir. Às vezes, Christian parecia um pouco com Erick quando mais novo. Tinham o mesmo jeito divertido e animado, e isso encantava Henry. Chris era o central do time, então ele atuava apenas na área de ataque. Como Henry era líbero e atuava apenas na zona de defesa, usavam um sistema de jogo em que trocavam de lugar quando um estivesse prestes a entrar na zona do outro. Henry admirava Chris por ser um ótimo atacante, coisa que ele mesmo jamais seria. Talvez seja por isso os dois tivessem se aproximado bastante, o bastante para que Chris contasse a ele que era gay. Por causa dessa notícia e do interesse que Chris admitiu ter nele, os dois estavam saindo fazia algumas semanas.

Era um pouco difícil para Chris lidar com isso estando no meio de um bando de homens, tanto no time em que ele e Henry jogavam fora do colégio quanto na escola, mas ele mantinha a pose de hétero e só beijava o ficante quando tinha certeza que ninguém estava vendo. Ninguém podia saber de sua orientação sexual.

Por outro lado, Henry era do tipo que não se importava muito com isso. Ele gostava de pessoas e ponto, não importando o sexo, cor, idade, aparência e essas coisas que ele dizia serem superficiais. Para ele, se a pessoa fosse agradável e tivesse interesse, merecia uma chance.

– Você quer sair pra andar antes do jantar? – perguntou Chris, os olhos castanhos escuros olhando para Henry, enquanto este mandava uma mensagem para a mãe dizendo que chegara bem.

– Claro, não aguento ficar parado muito tempo.

Guardou o celular no bolso da calça do uniforme, mais conhecido como abrigo, e pulou da cama. Pegou um de seus chicletes e colocou-o na boca, oferecendo a Chris, que negou com um sorriso. Chamaram alguns outros meninos, mas ninguém estava a fim de sair, todos queriam descansar para a formatura. Christian já estivera ali nos Jogos da Amizade do ano passado, então Henry confiava de que não iriam se perder.

Vestiram o que estava faltando do abrigo: o casaco azul marinho com o nome de guerra deles e o emblema do colégio bordados. A peça combinava com a calça esportiva do mesmo tecido e cor, além da blusa blusa branca com o emblema do colégio e o nome de guerra deles também. Henry voltou a calçar seus All Star pretos e ambos saíram daquele anexo do alojamento, passando pelo outro anexo, vendo o time de futebol bem mais calmo do que os colegas que deixaram para trás.

O ar da EsPCex era frio e tinha o cheiro de pinheiros. Estava ventando um pouco, então Henry agradeceu por ter pegado o casaco do abrigo. Viram alguns ônibus chegando. Ele apertou os olhos atrás das lentes de seus óculos e viu que era o Colégio Militar de Manaus. Henry pensava no quão cansativo deveria ter sido a viagem de Manaus até ali. Sentiu pena dos alunos.

– Meus pêsames – disse Chris ao seu lado, ainda andando.

Henry olhou para o amigo com o cenho franzido, vendo que ele olhava o cronograma dos jogos.

– Por? – perguntou, colocando as mãos nos bolsos do casaco. Caminhavam meio sem rumo, mas não deixava de ser agradável.

– O biathlon vai ser amanhã – comentou Chris e Henry se inclinou para olhar o cronograma.

De fato. O biathlon começaria às 14h, na área da piscina do quartel. Henry soltou um suspiro. Foi designado para participar dessa prova apenas por precisarem de gente e ele ser um dos poucos disponíveis que já fez os dois esportes envolvidos: natação e corrida. Henry sabia nadar e era bem veloz, tanto no nado quanto na corrida, então fora chamado para dar uma reforçada na equipe. Treinou no colégio por uns quatro meses, não tinha pretensão de ganhar, mas competiria mesmo assim.

Além do mais, seria um bom treino para os jogos de vôlei que se seguiriam nos próximos dias. Precisava de agilidade e resistência, então a corrida e a natação lhe dariam isso.

– E você tem handebol amanhã de noite, não sinta pena de mim.

– Pelo menos eu gosto do esporte – alfinetou Chris.

– Não me importo – Henry deu de ombros – O importante para mim é o vôlei. Fico impressionado por não terem te chamado para o time de basquete.

Henry olhou de lado para Chris e viu o outro franzir a sobrancelha.

– Mas me chamaram. Eu que recusei por já estar em dois times e detestar basquete. – Chris deu de ombros.

– Você não me disse isso.

Chris suspirou.

– Eu disse, mas você estava jogando. Agora vi que você não prestou atenção em nada do que eu disse naquele dia.

Henry fez uma careta, sentindo-se um pouco culpado por aquilo, mas mesmo assim disse:

– Não me culpe! Estávamos em dia de jogo, você sabe que eu preciso disso para não ter uma crise de ansiedade.

Depois que Erick foi embora, Henry foi forçado a arrumar meios de controlar o nervosismo e ansiedade que o atacavam desde a infância. Foi péssimo sobreviver às provas e trabalhos nos primeiros meses sem Erick, mas logo ele foi obrigado a tomar uma providência quando a isso. Depois que uma de suas crises de ansiedade saiu de controle e se transformou em um ataque de pânico que o fez desmaiar, ele foi forçado a tomar alguma atitude. Henry nunca se esqueceria daquele dia horrível. Da sensação de que seus pulmões tinham sumido e não podiam receber o ar necessário.

Poucas coisas conseguiam controlar o nervosismo de Henry, dentre elas o videogame portátil que sempre carregava para todo lugar, sem exceção. Tinha também um cubo mágico que usava para manter as mãos ocupadas quando sentia que estava começando a crise, além de um anel com um aro que rodava. Mas o que mais o acalmava era mascar chiclete e ouvir música. Então, sempre tinha um chiclete na boca e um estoque deles por perto, além de um Ipod na mochila. Tinha virado um hábito (ruim, diga-se de passagem) para ele, mas Henry não abria mão disso de maneira alguma.

Estavam andando e conversando calmamente quando Chris parou na frente de Henry e lhe deu um beijo na boca. Henry demorou um pouco para perceber o que estava acontecendo, mas logo passou as mãos pela cintura de Chris, puxando-o para mais perto de si. Ele deduziu que não tinha ninguém aos arredores, senão Chris não teria feito aquilo.

Henry sempre falava que beijar Chris em pé era uma das coisas mais horríveis do mundo. Ele tinha apenas 1,67cm, enquanto Chris tinha 1,94cm. A diferença não importava tanto, mas não deixava de ser desconfortável para quem é mais baixo. Mesmo assim, Chris o beijava daquela forma apenas para irritá-lo. Henry odiava quando Chris o pegava pela cintura e o tirava do chão para beijá-lo.

Não aconteceu dessa vez. Henry estava na ponta dos pés, para deixar o outro um pouco mais confortável, já que estava totalmente inclinado sobre ele. As mãos grandes cobriam ambos os lados de suas bochechas, enquanto Henry mantinha suas mãos na base das costas de Chris. Trocaram algumas carícias com a língua antes de Henry empurrar Chris e revirar os olhos, escondendo o sorriso.

– Podemos ser pegos, Mantovani – repreendeu Henry.

– Não me chame pelo nome de guerra – disse Chris, soltando um muxoxo que fez Henry sorrir vitorioso.

Por terem se conhecido antes de entrarem para o Colégio Militar, Chris nunca gostou que Henry o chamasse pelo nome de guerra que seu pai tinha escolhido, o sobrenome da família. Era algo de que somente quem o conhecia no colégio o chamava, e Henry sabia disso.

– Além do mais, é muito estranho ouvir sua voz me chamando de Mantovani. – dissera Chris uma vez.

Sabendo disso, obviamente, Henry o chamava assim para irritá-lo de vez em quando ou para revidar alguma provocação. Só o fato de irritar já deixava Henry satisfeito.

– Você que começou me beijando em pé. Sabe que eu não gosto disso.

– A culpa não é minha se você é baixinho – riu Chris e Henry trincou os dentes. Odiava quando falavam de sua altura.

– O baixinho aqui está mais perto das suas bolas. Tome cuidado com o que fala, Mantovani.

Henry saiu, deixando o outro com uma cara de dor por imaginar o que Henry poderia fazer com suas partes baixas.

– Você é cruel, Henry – resmungou Chris o alcançado em poucos passos.

– E você é um idiota. Que maravilha, não é mesmo? – disse irônico, fazendo Chris revirar os olhos. – Vamos voltar, daqui a pouco é a hora do jantar.

[…]

O dia seguinte tinha chegado, e Henry tinha combinado com os caras do time de vôlei que arrumariam uma quadra para poderem treinar um pouco de manhã. O jogo deles seria apenas no dia seguinte, então com certeza conseguiriam reservar uma das quadras de vôlei para um treino rápido.

O capitão do time, Ricardo, acabou conseguindo marcar o treino para 12h30. O time teria a quadra por uma hora, já com a rede montada para um jogo que começaria às 15h30. A sorte parecia estar com eles.

Depois de assistirem a alguns jogos de outros colégios, foram para o rancho almoçar rapidamente e partiram para a quadra, todos muito ansiosos.

Treinaram coisas básicas, como ataque e defesa, e consertaram alguns detalhes que precisavam ser consertados no que diz respeito à tática que eles usariam nos jogos. Henry sempre observava seus amigos, vendo que todos estavam com um ótimo desempenho, lhe dando a esperança de que podia ganhar naquele ano.

Seus braços estavam vermelhos quando terminaram o treino e se reuniram no banco que havia lá. Tinha defendido quase todos os ataques e saques fortes de seus companheiros de equipe, o que era maravilhoso e deixava Henry super animado. Como sua pele era bastante banca, deixava ainda mais visível a vermelhidão em seus braços, que, em alguns pontos, beirava ao roxo.

– Você está roxo de novo. – observou Ricardo, o levantador deles.

Henry olhou para baixo e viu que ele tinha razão. Seus joelhos descobertos, mesmo protegidos pelas joelheiras durante o treino, viviam roxos porque, como ele ainda não sabia dar peixinhos direito para pegar a bola, acabava se jogando de joelhos mesmo no chão, deixando-os sempre machucados. Além disso, outras áreas de suas pernas também estavam roxas, assim como seus cotovelos e antebraços.

– Você precisa de uma cotoveleira se for fazer as defesas que está acostumado a fazer – recomendou Luiz, um dos pontas do time.

– Dói? – perguntou Chris cutucando o cotovelo direito de Henry com um sorriso malvado.

– Vai se foder – Henry revirou os olhos e se afastou de Chris. – Não precisam se preocupar comigo, eu estou bem.

– Está bem agora, quero ver quando começar a ter problemas nas articulações por se jogar tanto no chão. – retrucou Caio, o oposto do time, tanto em personalidade quanto na posição ocupada.

– Faz parte de ser líbero. – Henry deu de ombros. – Os roxos são resultado das maiores batalhas. – disse fazendo uma pose vitoriosa e engraçada.

Todos riram de sua cara.

– Não se esforce tanto – disse Vinícius, o outro ponta.

Henry ignorou Vinícius quando seu celular tocou, anunciando que estava na hora de ir se arrumar para o biathlon.

– Falando em me esforçar – ele recolocou o celular na mochila e jogo-a no ombro – Tenho que estar na piscina para o biathlon. – começou a andar em direção a rampa que levava a saída daquela área com quadras – Não sintam minha falta!

– Não vamos sentir – respondeu Chris num grito pelo time todo.

Henry sorriu satisfeito e começou a subir a rampa, a piscina era em outra área do quartel. Distraído com pensamentos sobre o treino, ele se virou de costas, olhando o time e continuando a subir a rampa.

– Ei, Luiz! – ele gritou, chamando atenção dos outros – Seu ataque tá muito fraco, tente colocar mais força da próxima vez. E Ricardo, o levantamento pro Chris é mais baixo do que aqui...

Foi interrompido quando suas costas bateram em algo. Ou melhor, em alguém. Henry foi pra frente, mas conseguiu reagir a tempo, colocando a perna direita na frente do corpo, impedindo-se que caísse de cara no chão.

– Me desculpa, eu... – parou subitamente quando reconheceu a pessoa em quem tinha batido.

Nunca iria se esquecer daquele rosto. Nunca iria se esquecer daquela cor de cabelo, que mesmo curto permanecia bem claro. Nunca iria se esquecer daqueles olhos castanhos claros lhe encarando quando estava tendo uma crise de ansiedade. Nunca iria se esquecer de nada relacionado àquele garoto.

Porém, não se lembrava de Erick ter um olhar tão mortal como aquele que lhe dirigia naquele momento.


Notas Finais


Então? O que acharam do capítulo? O mais importante: o que acharam do Chris? HAHA
Ele é um amor, garanto a vocês ♥
E esse Erick ai, hein? ( ͡° ͜ʖ ͡°)
Críticas? Dúvidas? Feedback? Por favor, me falem o que estão achando da história! Isso é muito importante para mim e para o desenvolvimento do enredo!
Espero vocês nos comentários!
PREVISÃO PARA O PRÓXIMO CAPÍTULO: 6/11 (podendo ser antes)
Muito obrigada a todos que leram e se interessaram pela história!
Nos vemos na próxima ♥
Ghost Kisses
~Marceline


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