Dezembro de 2013
Erick sentia-se preocupado e nervoso depois de Henry ter dito que tinha algo importante para falar com ele.
As coisas não estavam muito boas para Erick, então aquilo o deixava um tanto desesperado, já que Henry não era de fazer esse tipo de suspense. Ele sempre falava na hora o que precisava ser dito, então aquilo realmente deixou Erick pensando no que diabos seu amigo queria que não pudesse ser falado mais cedo.
Adriana, sua mãe, havia lhe avisado que os pais de Henry tinham lhes convidado para ir a uma pizzaria perto da casa deles, então Erick insistiu até dizer chega para que fossem um pouco mais cedo de forma que ele pudesse conversar com Henry antes de irem comer pizza.
O horário combinado se aproximava e Erick estava tão submerso na leitura de seu livro, curioso com o final, que não percebeu seu próprio atraso.
– Erick Moreira Schneider, se você não estiver pronto em 10 minutos, nós vamos sem você! – ouviu o grito da mãe, tirando-o de seu mundinho literário.
Ele não respondeu nada, apenas fechou o livro com pressa e saiu da cama quase caindo, indo para o banheiro tomar banho. Ao chegar lá, deparou-se com Nathália passando maquiagem em seus olhos verdes.
– Eu vou tomar banho – disse Erick, já tirando a camisa. – Pode sair?
– Não tem nada ai que eu não tenha visto – respondeu Nathália, passando rímel nos cílios. Erick fez uma careta, pois qualquer coisa tocando olhos lhe dava gastura.
– Isso é constrangedor.
Nathy parou o que estava fazendo, virando-se para o irmão e lhe encarando com desdém.
– Está com vergonha do seu pintinho? – perguntou ela com um sorriso sarcástico nos lábios.
– Nathália! – Erick exclamou.
– Vamos te deixar aí e eu não me importo – ela disse, dando de ombros e voltando a passar algo nos olhos.
Erick soltou um suspiro e começou a se despir, virando-se de costas para que Nathália não visse suas partes íntimas.
– Você é um desgraçado – ela comentou, vendo o irmão pelo espelho – Ficou com toda a bunda da família.
Erick tratou de ignorar o comentário, pois não era uma novidade. Nathy insistia em dizer que ela não tinha bunda, mas que ele tinha herdado essa característica. Ele nunca sabia o que dizer a respeito, até porque não sabia muito sobre bundas.
Tomou seu banho o mais rápido possível, terminando em menos de 5 minutos. Enxugou-se, dando graças a Deus que Nathália tinha terminado e saído do banheiro, passou desodorante e foi para o seu quarto com a toalha enrolada na cintura. Vestiu uma cueca boxer verde escura e passou os olhos pelas peças de roupa que tinha. Estava um pouco frio naquela noite, então optou por uma camisa listrada em vermelho e cinza e de mangas compridas. Vestiu as calças jeans escuras e calçou os tênis All Star azul marinho.
Passou os dedos pelos cabelos cacheados, tentando deixá-los menos bagunçados, mas não adiantou muito. Estava de férias e não precisava cortar o cabelo para o colégio, Erick sempre deixava os cachos cresceram nessas épocas do ano. Gostava de seu cabelo cacheado.
Pegou seu celular e carteira, colocando-os nos bolsos da calça e saiu do quarto indo em direção à sala. Seus pais já estavam arrumados, assim como Nathália, apenas esperando-o terminar.
– Você que pede para sairmos mais cedo e é o que se atrasa! Muito bom, Erick. – disse sua mãe, repreendendo-o pela demora – Da próxima vez nós vamos deixá-lo ai.
– Desculpa, mãe – ele disse, fazendo biquinho – Não vai mais acontecer.
– Assim espero.
Então saíram do apartamento e pegaram o elevador até a garagem. Entraram no carro e seguiram para onde Henry morava. Como Anderson, pai de Erick, era militar, eles moravam em um apartamento destinado a militares pelo Exército, então, para a infelicidade de Erick, Henry não morava no mesmo prédio que ele. Pelo menos era num bairro próximo.
Não demorou mais de 15 minutos para chegar ao prédio de Henry. O porteiro, já conhecendo bem a família, deixou-os entrar, levando-os até o elevador.
Erick estava ansioso desde cedo. Ficou um tempão remoendo o que diabos Henry queria falar. Para não ficar pensando muito no assunto, ele acabou pegando um livro para ler, o que lhe ocasionou em um atraso. Mas, agora, sem o livro e tão perto de saber o que o outro queria, o nervosismo tinha voltado. Ele estalava os dedos como se não houvesse amanhã e mordia o interior dos lábios, ambos sinais de ansiedade.
– Para com isso, menino! – repreendeu sua mãe referindo-se ao estalar incessante de seus dedos – Vai ficar com os dedos grossos.
Erick não disse nada, apenas fez o que sua mãe mandou e começou a morder ainda mais a pele fina de seus lábios, logo sentindo o gosto de sangue. Não se importou com aquilo. Vivia com os lábios machucados de tanto mordê-los, mas nunca se importou de verdade. Henry lhe chamava atenção sobre isso vez ou outra, mas não era algo que ele conseguisse controlar.
A subida até o sexto andar pareceu uma eternidade. Erick estava quase dando pulinhos para descarregar a energia acumulada e a ansiedade de conversar com Henry. Quando finalmente chegaram, ele se conteve para não sair correndo pelo corredor e tocar incessantemente na campainha do 603. Mas, de qualquer forma, ele avançou mais rápido que seus pais e irmã, tocando a campainha rapidamente.
Não demorou muito para que o próprio Henry atendesse, com um sorriso que raramente Erick via no rosto do amigo.
– Surpresa! – um coro de vozes foi ouvido atrás de Henry, e vários de seus amigos do colégio apareceram atrás do melhor amigo, sorrindo para ele como Henry sorria.
Erick olhou para os pais um pouco confusos, mas sua mãe e Nathy apenas esbouçavam um sorriso conspiratório.
– Vocês sabiam – sentenciou Erick. – Não acredito!
– Sabíamos – disse Nathy – Foi toda ideia do chuchu, apenas ajudamos com alguns detalhes.
– Vamos, entrem – disse Henry, abrindo mais a porta, deixando que a família de Erick passasse.
Henry fechou a porta após Erick entrar e depois se virou para o amigo, ainda com um singelo sorriso nos lábios.
– Achei que você merecia uma festa de despedida – ele disse.
– Finalmente! Achei que não ia chegar nunca! – comentou Marge, se aproximando dos garotos e dando um abraço apertado em Erick.
Erick estava verdadeiramente surpreso. Nunca tinham feito nada surpresa para ele e também ficou impressionado por Marge, ter conseguido guardar segredo. A garota era exagerada e bocuda demais. Talvez Erick estivesse tão mal por se mudar que nem percebeu alguns sinais que ela provavelmente deu sobre a festa.
– Vocês são demais – ele falou com um sorriso sincero e abraçou Henry apertado.
Pela primeira vez desde que recebera a notícia da mudança, Erick sentiu-se em paz. O abraço reconfortante de Henry tinha esse poder sobre ele. Definitivamente sentiria falta desse tipo de coisa quando fosse para o Rio de Janeiro.
– Não precisa chorar, Erick – comentou Henry, afastando o amigo de seu corpo e limpando as lágrimas de Erick desajeitadamente com uma das mãos – Você vai se mudar, não morrer.
Ele não tinha reparado que estava chorando, apenas quando sentiu o toque de Henry limpando as lágrimas que sentiu a umidade em seu rosto. Estava chorando porque não queria se mudar. Estava chorando porque não queria separar-se de Henry, nem de Marge. Queria ficar ali, ao lado deles.
Nunca desejou tanto ficar perto de alguém como desejava naquele momento.
– Vai cumprimentar os outros – disse Henry – Eu organizei a festa, mas ela é sua.
Erick assentiu com um sorriso, mas logo se lembrou que o outro devia uma coisa.
– Me conte o que queria me contar.
Henry soltou uma risadinha.
– Era apenas uma desculpa – ele respondeu, dando de ombros – Eu sabia que você ia insistir para os seus pais virem mais cedo para conversarmos se eu dissesse isso. Como pode ver, foi tudo armado.
Erick revirou os olhos com um sorriso. Realmente tinha o melhor amigo do mundo e uma pessoa que lhe conhecia como mais ninguém.
– Você não existe!
– Foi amigo de uma pessoa imaginária esse tempo todo? – perguntou Henry com sarcasmo, Erick lhe deu um tapa no ombro. – Não seja bobo, você merece. Afinal, vai fazer muita falta.
Algo aqueceu o coração de Erick quando ouviu aquilo. Era agradável saber que alguém além de sua família se importava bastante com ele. Henry nunca deixou de demonstrar isso, assim como Marge, mas era diferente ouvir aquelas palavras. Ouvir que ele merecia uma festa de despedida porque faria falta era verdadeiramente bom para si.
Então, junto de Henry e Marge, Erick foi cumprimentar, primeiramente, os donos da casa. Os pais de Henry tinham ido até a sala de estar cumprimentar os pais de Erick, então ele foi até lá dando um aperto de mão em Fábio e abraçando cautelosamente Cassandra, que estava com a barriga de quase nove meses, onde carregava os gêmeos Júlio e Raquel, futuros irmãos de Henry.
Depois foi cumprimentar seus amigos. Erick era bem popular na escola, então Henry chamou apenas os colegas mais próximos deles, incluindo Rayssa, a amiga de Marge que acabou virando amiga dos dois meninos também. O time de vôlei do Arsenal também estava lá, assim como alguns meninos de outras séries que também faziam vôlei com os dois.
A festinha estava sendo na sala de estar da casa de Henry, então os pais dos dois, para deixá-los mais a vontade, ficaram na sala de jantar, que era um pouco separada do primeiro cômodo. Nathália tinha ficado ali, conversando com Rayssa e Marge sobre ENEM e vestibulares, já que as duas já estavam para entrar no terceiro ano.
Enquanto isso, Henry e Erick ficaram conversando e comendo salgadinhos com seus amigos, tendo que dar atenção para o pessoal do colégio e o pessoal do Arsenal, que estava um pouco deslocado naquela situação, já que era a minoria ali.
O tempo foi passando entre comidas, copos de refrigerante e conversas animadas. Já era quase 19h quando Marge deu a ideia de jogarem algum jogo.
– Pelo amor de Deus, vamos jogar Twister! – disse Erick animado. Adorava aquele jogo pois dificilmente perdia.
– Agora não, vamos jogar War! – retrucou Marge, que tinha se separado de Nathy e Rayssa para buscar cachorro-quente na cozinha.
Erick fez uma careta.
– Eu sou péssimo nesse jogo.
– O problema é seu – zombou Marge sorrindo – Vamos jogar War, depois podemos jogar Twister.
– Promete? – perguntou Erick, olhando para a amiga. Marge revirou os olhos.
– Só se você jogar – ela propôs sorrindo malvada. Foi a vez de Erick de revirar os olhos.
– Tá bom, eu jogo. – cedeu Erick meio a contragosto e virou-se para Henry – Eu te ajudo a pegar os jogos.
– Okay.
– Henry, busca o Cheshire também. – disse Marge.
Ele assentiu e foi para o seu quarto junto com Erick, voltando alguns minutos depois com Cheshire em seu colo e Erick ao seu lado segurando os dois jogos pedidos. Marge foi a primeira a se atirar no gato listrado e peludo, pegando-o do colo de Henry e apertando-o. Ela tinha lhe dado aquele gato no seu aniversário de 15 anos, naquele mesmo ano, e sempre fazia questão de pegá-lo e abraçá-lo.
Erick lembrava perfeitamente quando Marge quase matou Henry por dar o nome do gato de Cheshire. Henry dizia que era um absurdo ele amar Alice no País das Maravilhas, ter um gato e não poder chamá-lo de Cheshire em homenagem a obra que amava tanto. Erick, obviamente, apoiou o amigo, fazendo Marge dar um muxoxo e deixar o assunto de lado.
Marge chamou outros meninos para jogar e como vários se manifestaram, resolveram formar trios para poder mais gente jogar. Erick ficou satisfeito, pois Henry era muito bom em War e faria trio com ele e Nathália, que resolveu jogar também. Marge tinha ficado com Rayssa e Ricardo, um de seus colegas do time de vôlei do colégio. Os outros se dividiram e sentaram-se no chão para jogar.
Quando eram quase 20h30, eles terminaram o jogo, com um Erick levemente enraivecido por ter pedido para Marge, Ray e Rick.
– Eu não gosto desse jogo – ele resmungou, fazendo beicinho e cruzando os braços.
– A culpa não é minha se você é um lixo – comentou Marge, sorrindo vitoriosa – Nem com a ajuda de Henry você foi capaz de me ganhar, que coisa hein Erick?
– Ah, cala a boca! – ele disse, franzindo as sobrancelhas com raiva. Henry e Nathy apenas riam da briguinha idiota dos dois – Quero ver agora você me ganhar no Twister!
– Depois da comida – ela falou se levantando do chão e indo até a cozinha.
– Você já comeu demais, vai ficar obesa! – provocou Erick.
– Fala com a minha mão!
– Vamos começar sem ela, eu rodo a roletinha – disse Henry para Erick, que assentiu alegre e foi pegar o jogo.
– Mas você vai jogar, não vai? – perguntou Erick na expectativa.
– Claro, só deixa a comida assentar um pouco. Comi demais.
Erick soltou uma risada e assentiu. Guardaram o War na caixa e colocaram de lado, abrindo espaço para o tapete do Twister. Erick abriu o tapete com as várias bolas coloridas e chamou o pessoal, alguns se manifestando, outros preferindo ficar conversando em grupinhos. O jogo era para quatro, então os interessados revezavam para jogar, rindo das posições que seus colegas e amigos ficavam naquele jogo.
O jogo era deveras divertido, ainda mais quando alguém tinha um celular à mão e tirava fotos engraçadas das posições e caras dos jogadores. Passaram-se quase cinco rodadas, a maioria Erick ganhando.
– Sua vez, você ainda não foi – falou Erick para Henry, que até então tinha apenas rodado a roletinha – Você disse que jogaria.
– Eu disse, né? – ele falou fazendo uma careta engraçada.
– Sim, agora tem que cumprir! Marge e Rayssa também não jogaram. Marge tem que perder para mim ainda! – exclamou Erick animado. Ele estava suando um pouco para manter algumas posições nas outras partidas.
– Ah, não seja idiota! Eu vou ganhar com certeza – disse Marge indo até eles e posicionando-se em um dos lados do tapete.
– Quero só ver! – exclamou Erick.
Henry entregou a roleta para Rick e posicionou-se na frente de Erick e ao lado de Marge, Rayssa ficando ao lado de Erick. Então começaram o jogo, Rick falando a mão ou pé e a cor que eram sorteados na roleta. O jogo foi ficando complicado quando tiveram que passar um por cima do outro, fazendo Marge ser a primeira a cair no chão.
– Eu disse que você ia perder! – riu Erick animado.
– Ah, vai se fuder – resmungou Marge – Ganhe dele para mim, Ray!
– Não me peça uma coisa dessas, eu estou quase morrendo! – Rayssa resmungou, pois estava com o corpo suspenso, as mãos entrelaçadas nas pernas de Henry e as pernas perto do tronco de Erick.
Em certo momento, a posição em que tinham que ficar foi aliviada para Ray, fazendo a partida durar um pouco mais e Erick e Henry se entrelaçarem ainda mais. Porém, sem mais onde colocar a mão em um determinado momento, Rayssa acabou caindo, deixando os dois no jogo.
– Desculpe, Marge, mas tava bem difícil – desculpou-se Ray ao levantar-se e ir para perto de Marge, que lhe deu um sorriso e afagou os cabelos escuros e lisos.
– Não tem importância – ela disse – O Henry vai derrotar o Erick por mim.
– Vou? – ele perguntou levantando a cabeça, já que estava com ela escondida atrás da perna de Erick.
– Vai!
Erick ouviu o amigo soltar um muxoxo e continuaram o jogo. Aos poucos, as pessoas iam indo embora, despedindo-se de Erick e agradecendo a Henry pela festa. Disseram que combinariam alguma coisa antes de Erick ir embora definitivamente, já que isso aconteceria dali a duas semanas.
Já era quase meia noite e todos já tinham praticamente ido embora, sobrando uns dois garotos do Arsenal, Rayssa, Rick e Marge. Enquanto isso o jogo ia prosseguindo. Pé direito no verde, mão esquerda no azul, pé direito no amarelo, mão direita no vermelho. O jogo ficava cada vez mais tenso, pois nenhum dos dois dava indícios de que iria cair. Chegou a um ponto em que se desentrelaçaram, ficando cada um numa limite do tapetinho, apenas agachados.
– Agora eu mando nessa porra, isso tá demorando demais! – exclamou Marge e pegou a roleta da mão de Rick, descartando-a.
Então ela começou a falar os comandos e, em um certo momento, ambos se encontraram em uma posição constrangedora, pelo menos na opinião de Henry. Ele estava de costas, com uma mão numa bola vermelha e a outra numa bola verde, enquanto seus pés estavam próximos, nas bolas amarela e azul. Erick estava em cima de Henry, com os pés nas bolas vermelha e verde e seus braços cruzados no tronco de Henry, tocando nas bolas azul e amarela.
Henry sentiu-se corar com a situação que foi posta por Marge. Ele queria explodir naquele momento e seu coração era a bomba, pois estava totalmente acelerado. Os sentimentos que nutria pelo melhor amigo despertaram mais ainda, fazendo-o corar de vergonha. Erick olhava para ele com um sorriso animado no rosto, os olhos castanhos brilhando. Aquilo parecia não incomodar ou parecer estranho para Erick, mas para Henry era e até demais.
Erick sentia a respiração ofegante de Henry bater em seu rosto e por um segundo ficou nervoso por achar que o amigo estava tendo uma crise de ansiedade novamente, então olhou para os olhos escuros do amigo com um ar de preocupação.
– Está tudo bem, não está? – ele perguntou.
Ele viu Henry engolir em seco.
– Sim, não se preocupe – disse Henry, a voz um pouco falhada – É a posição, está um pouco ruim.
– Erick, pé direito no amarelo – disse Marge rindo, divertindo-se com a situação.
Erick assentiu e conseguiu colocar o pé em uma bola antes da que estava o pé de Henry, fazendo os dois ficarem mais próximos. Marge estava dando o próximo comando de Henry quando uma voz grossa invade a sala.
– Erick, vamos embora – ordenou Anderson com uma cara não muito agradável.
Erick levantou o rosto, já que estava praticamente deitado em cima de Henry, olhando para o pai de maneira suplicante.
– Deixa o jogo acabar, pai, por favor – ele pediu.
– Já está tarde, vamos embora – ele disse autoritário.
– Tudo bem... – murmurou Erick com um semblante triste.
Ele descruzou os braços atrás do tronco de Henry e levantou-se, esticando a mão para que Henry agarrasse e levantasse também.
– Temos uma coisinha para você. Deixe só que entreguemos os presentes, tio Anderson. – disse Marge sorrindo para o homem loiro.
– É mesmo! – exclamou Henry
Com um pequeno revirar de olhos, Anderson fez um sinal com a mão para seguirem em frente e disse para não demorarem. Marge e Henry foram até o quarto do garoto, Marge voltando antes com dois embrulhos quadrados na mão.
– Vamos, abra! – disse Ray animada.
Erick sorriu para as duas e abriu a primeira caixa, revelando dois porta-retratos. O primeiro tinha uma foto com seus amigos do Colégio, a moldura decorada com os nomes de seus amigos. O segundo era igual, mas a foto era do time do Arsenal.
– Nossa gente, muito obrigado – ele disse abraçando as meninas, Rick e os meninos do Arsenal. – Isso significa muito, sério.
– O outro é mais especial, pode apostar – falou Marge sorrindo.
Então ele abriu o outro embrulho, revelando um álbum de fotos branco todo decorado com coisas que Erick gostava, como bolas de vôlei, algumas fanarts desenhadas por Marge de seus personagens favoritos de livros e séries e um desenho dele, de Henry e dela. Ele abriu o álbum, vendo as inúmeras fotos, todas dos três.
Marge era apaixonada por fotografia, então nada mais digno do que dar a Erick um álbum com todas as lembranças que ela tinha registrado durante os anos. Havia fotos de aniversários, jogos de vôlei, passeios e até algumas que os três tiravam quando estavam entediados, fazendo caretas e rindo de qualquer coisa besta.
Era de se esperar que Erick chorasse novamente.
Então Henry finalmente apareceu, carregando um pequeno embrulho. Ele não disse nada com relação ao choro, o que Erick agradeceu profundamente. Erick deixou o álbum de lado, esfregou os olhos um pouco e pegou o embrulho das mãos de Henry, que o olhava com um olhar de expectativa.
Ele abriu o embrulho e tirou de lá duas pulseiras de couro escuras, uma com um pingente de âncora e outro com o símbolo da paz. Ambas tinham uns escritos na parte interna que Erick leu curioso. As duas estavam escrito “Promessa”, a de âncora continha um “H.” no final e a com o símbolo da paz um “E.”.
– É para você lembrar de mim e da nossa promessa – disse Henry sorrindo. – A de âncora é para você, por que, bem... Você tem sido minha âncora durante todos esses anos, achei que podia significar alguma coisa – o sorriso mais sincero que Erick já tinha visto no rosto de Henry. Aquilo significava, até demais – A com o símbolo da paz é para mim, pois você disse que eu te trago paz independente da situação. Queria que...
Henry foi interrompido pelos braços de Erick, que abraçou o amigo fortemente. O abraço mais sincero que eles provavelmente já trocaram na vida. Aquilo tudo tinha um significado inigualável, um significado que Erick levaria para sempre. Aqueles significados eram puramente verdadeiros, acima de tudo. Erick era a âncora de Henry. Henry era a paz de Erick. Isso nunca mudaria.
Erick estava ciente das lágrimas, mas não se importou, limpou-as rapidamente após se afastar de Henry e entregou a pulseira de âncora para o amigo, estendo-lhe o pulso esquerdo. Erick não precisou falar nada, pois o amigo entendeu o recado. Podia ser um gesto simples, mas colocar a pulseira um no outro tinha um significado grande para ambos.
Henry amarrou a pulseira no pulso de Erick e depois estendeu o seu braço esquerdo para que o amigo pudesse fazer o mesmo. Os dois se abraçaram mais uma vez, antes do pai de Erick, que assistia à cena toda, falasse para que fossem logo embora.
– Até amanhã, cara. – disse Erick, ainda no abraço – Muito obrigado por tudo, você é demais.
– Sou mesmo – brincou Henry apertando um pouco o corpo de Erick antes de soltá-lo.
Os dois se olharam por alguns minutos e sorriram um para o outro.
– Nunca tire essa pulseira, ouviu? – disse Henry.
– Nunca. É uma promessa.
* * *
Atualmente – 22 de julho de 2016, à noite.
A noite havia chegado e com ela a tão esperada festa. Todos estavam ansiosos para poderem relaxar um pouco, dançar e aproveitar para conhecer pessoas de outros colégios. Todos, menos Erick.
Ele ainda estava com a cena do jogo de vôlei que acontecera mais cedo naquele dia na cabeça. Tinha em mente como Henry estava jogando muito bem e como quase foram derrotados. Mas, o que mais lhe incomodava, era o que tinha dito a Henry no final da partida.
Tinha sido algo completamente impulsivo. Algo que tinha dito por estar com raiva e ter deixado que aquela voz lhe consumisse. Depois que as coisas esfriaram e ele pensou mais a respeito e se acalmou, notou o erro que tinha cometido.
O olhar de Henry também tinha lhe influenciado naquele leve arrependimento. Erick viu a surpresa no olhar do amigo, mas também havia raiva. Raiva essa que nunca imaginou ver no semblante de Henry, pelo menos nunca direcionada para si.
Erick passou a culpar Henry por certas coisas e ficou com isso impregnado em seu ser, mas as coisas eram diferentes quando eles estavam longe um do outro. Agora, podendo ver as expressões e reações do amigo, Erick sentia-se completamente perdido sobre as conclusões tiradas durante esse tempo. As coisas não estavam fáceis e pareciam que não se ajeitariam tão simplesmente.
Ele tinha visto também tristeza no olhar de Henry, como se algo entre eles tivesse se quebrado. De fato se quebrara, Erick sabia que tinha influência nisso, mas até quando a culpa era somente dele? Henry também tinha sua parcela de responsabilidade no assunto. Erick não sabia se assim era a melhor maneira de lidar com a situação, mas não encontrava outra saída. Quanto mais deixasse que a voz lhe levasse, melhor... Melhor mesmo?
Jogou o braço esquerdo sobre os olhos com um suspiro. Estava deitado no beliche, olhando para o teto e refletindo enquanto ouvia a movimentação de gente no grande alojamento, todos se arrumando para a festa, que seria no ginásio onde tinham competido mais cedo. Erick ficaria ali, debaixo das cobertas, e leria o livro que tinha levado, talvez até conseguisse terminá-lo.
– Você vai assim? – perguntou uma voz ao seu lado, Erick reconhecendo como sendo a voz de Danilo.
– Eu não vou – respondeu sem tirar o braço dos olhos. Queria aproveitar a escuridão naquele momento.
– Você está brincando né? Nosso último ano e você não vai aproveitar a última festa que vamos participar, sério?
– Muito sério, eu não ligo para isso.
Houve uns segundos de silêncio e Erick achou que Danilo tinha ido embora, desistindo de tentar convencê-lo a ir à festa. Porém, quando tirou o braço um pouco dos olhos para dar uma olhada, o rapaz loiro e alto ainda estava ali, lhe olhando com uma cara de preocupação não muito característica.
– O que está havendo com você? Você ama festas.
– Não quando elas têm pessoas que eu não quero encarar no momento.
Danilo pareceu pensar um pouco.
– Henrique, não é? O problema é com ele – comentou Dan. Aquilo não era uma pergunta.
– Sendo ou não, não é da sua conta – devolveu Erick voltando a posicionar o braço na frente dos olhos.
– Tudo bem então, vamos acabar com a bebida que trouxemos sem você – disse Danilo e Erick o sentiu se afastando.
Rapidamente tirou o braço do rosto e sentou-se. Tinha esquecido completamente que tinham trazido bebidas escondidas para poderem beber na festa. Era o último ano deles, tinham que aproveitar com estilo.
– Você está jogando baixo – resmungou Erick, saltando da cama e vendo um sorriso vitorioso no rosto de Danilo.
– Estarei te esperando. – disse Dan, sentando-se na cama de baixo.
Erick não disse nada, apenas pegou suas coisas e foi para o banheiro tomar um banho e se aprontar para a festa. Por mais que não quisesse ir, uma coisa extremamente rara, ele precisava de bebida. Tinha começado a beber no Rio, por volta dos 14 anos, com os seus colegas do CMRJ, muitos tendo uma vasta experiência no assunto e até tinham identidades falsas.
Porém, beber se tornou um ato frequente para Erick quando as coisas na sua vida começaram a desandar e ele viu que poderia parar de sentir certas coisas e de pensar sobre elas se bebesse. Poderia ser algo passageiro, mas ele precisava desses momentos, em que a bebida consumia seu ser, para não chegar ao fundo do poço. Poderia ser por poucas horas e vir com uma puta ressaca no dia seguinte, mas Erick precisava disso para escapar da realidade. Era meio contraditório, mas ele não queria pensar a respeito disso.
E era exatamente isso que ele precisava naquele momento de conturbação mental.
Poucas pessoas estavam no banheiro, mas, mesmo assim, ele preferiu esperar que todos saíssem para tomar seu banho, já que eram apenas chuveiros, sem nenhuma divisória. Enquanto isso, ficou sentado no parapeito da janela, conversando com Amanda pelo celular. Quando viu que tinha apenas duas pessoas no banheiro, caminhou até o último chuveiro, ficando de costas para a parede. Despiu-se, jogando a roupa para longe do chuveiro e começou a tomar seu banho o mais rápido possível.
Logo os dois caras foram embora, sem prestarem muita atenção em Erick. Ele queria terminar logo, pois, além da água estar extremamente fria e Campinas em si ser extremamente fria, ele não queria dar certas explicações.
Quando terminou, enxugou-se rapidamente e vestiu a cueca boxer preta, colocando a calça jeans escura logo em seguida. Estava tão frio naquela noite que ele teve que vestir mais uma blusa de mangas cumpridas quando chegou ao alojamento praticamente vazio. Tinha levado para o banheiro apenas uma blusa preta de mangas compridas, então teve que procurar outra para colocar por cima.
Optou por uma blusa raglan do Coringa e uma jaqueta preta. Calçou dois pares de meia e colocou um tênis de camurça de cano alto branco. Passou um perfume qualquer, guardou as coisas que tinha levado para o banheiro na mala e pegou seu celular.
Danilo estava em sua cama, mexendo no celular e esperando que Erick saísse. Ele vestia uma calça cinza justa e parecia usar uma blusa de botões azul sob o casaco de moletom sem capuz e sem bolsos, já que a gola e as mangas da camisa apareciam. Nos pés, calçava tênis da Nike preto de cano alto.
– Vamos? – perguntou Dan levantando-se e pegando o boné de aba reta que estava em cima da cama.
Erick apenas assentiu, seguindo o garoto para fora do alojamento. Alguns caras ainda estavam lá terminando de se arrumar, então tiveram que esperá-los para que o monitor pudesse trancar o alojamento. Pelo visto, Erick não poderia ficar ali, então fez bem em ter decidido ir à festa.
Não sabia como seria o lance da bebida, já que não tinha levado nada, mas sabia que teria. Seus colegas sempre arrumavam um jeito de escondê-las, a maioria levava em garrafas de plástico ou squeezes de água. A imaginação do povo do CMRJ era sem limites.
O sargento os levou até o ginásio e sumiu de vista, os outros caras que estavam com Dan e Erick se separando deles também. Então se puseram a procurar o restante do pessoal. Estava um pouco escuro, apenas as luzes estroboscópicas iluminando o local e um pouco da iluminação fora do ginásio. Mas eles conseguiam distinguir algumas pessoas conhecidas dançando ao som de alguma música eletrônica.
– Eles estão no banheiro – disse Danilo ao seu lado olhando para o celular.
Erick apenas assentiu, acompanhando Dan até o banheiro do outro lado em que estavam.
[...]
Henry estava ansioso, de uma maneira não tão bruta e horrível, com a festa. Nunca tinha participado dos Jogos da Amizade, então aquela festa era novidade para ele.
Depois do jogo de hoje mais cedo, Henry teve que recorrer a uma hora intensa de música alta e contas matemáticas feitas de cabeça para se acalmar. Nunca pensou que fosse sentir raiva de Erick, mas o sentimento que prevalecia ainda era a tristeza e a dor.
Ele teria tido uma crise fácil com aquelas palavras, que ainda rondavam um pouco sua mente uma vez ou outra, mas isso foi impedido por Chris, que se ajoelhou rapidamente a sua frente e falou para ele respirar fundo. Conseguiu impedir a crise naquele momento, mas depois que foram para o vestiário, ficou um tempão ouvindo música, concentrando-se nas letras, acordes e notas de todas elas.
Então, já no alojamento, Caio comentou sobre a festa e seus pensamentos sobre Erick desapareceram naquele período de tempo em que ficaram discutindo sobre ela. A festa nos Jogos da Amizade não era uma coisa certa. Às vezes tinha, às vezes não tinha. Para a sorte de Henry, teria e ele estava animado com isso. Queria aproveitar ao máximo aquele momento, já que seria o primeiro e o último.
Decidiram por descansar pelo resto do dia, a derrota pesando um pouco no ombro de todos ali, principalmente de Henry, que se culpava um pouco por não terem conseguido a tão almejada medalha de ouro. Por causa de Erick, Henry ficou desconcentrado, assim como a mudança de posição. Mas seus amigos insistiram que não era culpa dele. Henry tentou aceitar isso, mas ainda era um pouco difícil.
Ficaram o resto do dia no alojamento, conversando e até fazendo brincadeiras idiotas. Não estavam muito a fim de ver os outros jogos, mas ficaram sabendo que perderam no basquete masculino também. Caio dizia que jogaria na cara de Vinícius aquele fato. Em contrapartida, tinham ganhado no handebol masculino e feminino, assim como tinham ganhado no vôlei feminino.
Estava muito frio naquela noite, mais do que nos outros dias, então Henry teve que se agasalhar bastante para manter-se aquecido e confortável. Amava o frio e o fato de poder usar as roupas que mais gostava. Vestiu uma calça jeans escura e justa, os coturnos marrons cobrindo a bainha da calça. Optou por colocar uma camisa de mangas compridas preta e um suéter azul marinho por cima. Pôs seus óculos e o seu inseparável gorro preto.
– Você vai morrer de frio – comentou Ricardo, referindo-se a Chris.
– Eu vim de Porto Alegre, isso não é frio comparado a POA – Chris deu de ombros.
Ele vestia uma camisa de mangas curtas brancas e uma camisa xadrez de mangas compridas azul, dobradas até o cotovelo. Usava calça jeans clara e um tênis da Adidas de cano baixo. Nada muito elaborado, mas Henry não deixava de admirar a beleza do outro.
Já na festa, eles estavam junto com as meninas do time de vôlei e handebol, dançando na pista de dança improvisada. Em um determinado momento, alguns caras do time preferiram rondar as meninas de outras delegações, deixando Chris, Caio, Luiz e Henry com as meninas de BH, que puxavam Henry toda hora para dançarem com elas.
Ele estava se divertindo, gostava de dançar e não via a hora de começar a tocar forró. Henry havia aprendido a dançar forró e sertanejo com Marge e, modéstia a parte, eles formavam um excelente casal de dançarinos. Mas Henry sempre preferiu o forró e sempre tinha meninas dispostas e até ansiosas para dançar com ele.
Não soube em que momento tirou o suéter e amarrou-o na cintura, arregaçando as mangas da blusa cumprida até os cotovelos. Estava suando um pouco de tanto dançar e já estava começando a fazer calor por conta disso e de todas as pessoas juntas no ambiente.
As meninas resolveram parar um pouco de dançar para irem sentar, então Henry as acompanhou, sentando-se com Eduarda e Isabel na parte mais clara da arquibancada. Eles conversavam e riam. Os meninos tinham sumido do mapa.
– Ei, Henry – comentou Duda com um sorriso malicioso nos lábios. – Você acha que aquele seu amigo é gay? Por que tipo assim, ele não quis ficar comigo naquela festa ano passado.
Henry sentiu o coração acelerado. Ele sabia que Erick não tinha ficado com Eduarda naquele dia, mesmo ela dando indícios e quase o beijando a força. Porém, Henry não sabia a resposta. A verdade é que ele nunca demonstrou interesse em ninguém. Para Erick, as coisas giravam em torno de vôlei, livros e séries.
– Bom, isso é uma coisa que eu realmente não sei – ele respondeu dando de ombros, tentando manter o incômodo sobre aquele assunto apenas para ele – Você pode tentar de novo, ele deve estar aqui na festa.
– Nyaah – ela soltou, fazendo uma careta – Não vou correr atrás de macho, faça-me o favor.
– Você quem sabe – ele disse, soltando uma risada falsa, que passou despercebida pelas meninas.
– A questão é: quantas meninas a Rafaela vai pegar nessa festa – comentou Vitória com um sorriso malicioso para Rafaela.
– Podemos começar por você – Rafa sorriu sarcástica – Vocês têm uma visão muito fudida de mim, não é?
Henry riu.
– Sim – ele disse sorrindo para ela.
– E você, Henry? Não vai pegar os boymagia não? – perguntou Fernanda.
Henry fez uma careta. Ninguém sabia que ele estava com Chris no momento, mas nada impedia que ele ficasse com outras pessoas, até porque não estavam namorando.
– Talvez hoje seja o dia de pegar as meninas – ele comentou na intenção de ser irônico, mas aparentemente não deu muito certo, pois as meninas o olharam incrédulas.
– O quê??? – perguntou Duda exagerando – Henrique Diniz pegando mulher??? Em que mundo estamos? Rafa, vai dizer agora que está pegando homem???
– Ei! Eu pego mulher também – defendeu-se Henry – Apenas prefiro homens.
– Eu já prefiro só mulheres mesmo – disse Rafa dando de ombros.
– Daria tudo pra ver a Rafa pegando um cara – falou Vitória rindo – E o Henry pegando uma garota.
– Vocês são terríveis, hein? – disse Rafa revirando os olhos.
Ela se levantou de onde estava, foi até Henry e lhe deu um beijo sem maiores cerimônias, fazendo as meninas soltarem um coro de “Uooooou”. Fazia muito tempo que não ficava com uma garota e no fundinho de seu ser, Henry sentiu um pouco de falta daquilo.
Mulheres tinham o beijo um pouco mais delicado que os de homens. Henry também gostava da sensação dos cabelos compridos entrelaçados em seus dedos, da cintura fina e marcada que muitas garotas tinham. Mas ele nunca tinha beijado uma lésbica, pelo menos nenhuma assumida. Rafaela tinha um jeito diferente de beijar, não era tão delicada quanto as héteros, mas também não tão bruta quanto alguns caras. Henry logo sentiu que Rafa tinha a necessidade de dominar, então deixou que ela controlasse o beijo.
Em um ato totalmente inesperado, Rafaela sentou-se em seu colo, arranhando sua nuca com as unhas curtas enquanto lhe dava um beijo de língua até que caloroso. Ele levou as mãos até a cintura da garota, mas não passou disso. Separaram-se depois de poucos minutos, ambos rindo das caras incrédulas das outras garotas.
– Realmente não curto esse fruta – disse Rafa sorrindo culpada para Henry. – Mas você beija bem, os caras que você pega têm sorte.
– Obrigado, eu acho – ele agradeceu rindo. Não se ofendeu com o que Rafaela disse, apenas achou engraçado mesmo.
– Pronto, agora vocês já me viram pegando um cara e viram o Henry pegando uma garota – falou Rafa em pé no final da arquibancada – Agora, se me dão licença, eu preciso pegar umas gurias. Até mais.
Então ela saiu da arquibancada, deixando as meninas surpresas e Henry com um sorriso divertido no rosto.
– Satisfizeram o desejo de vocês? – ele perguntou olhando para trás.
– Por essa eu realmente não esperava – comentou Vitória ainda atônita.
– Para confessar, nem eu – ele riu.
– E você não se importa mesmo? – Eduarda perguntou.
Henry deu de ombros.
– Foi só um beijo, não significou nada
Ninguém disse nada durante um tempo e não foi preciso, pois começou a tocar o tão esperado forró. Henry deu um pulo de onde estava e estendeu a mão para as meninas, Isabel pegando-a rapidamente. Ele chamou as outras para irem dançar também e elas foram.
Chegaram mais perto do DJ e começaram a dançar, Henry conduzindo Isabel com delicadeza enquanto as outras dançavam entre si. Isabel conversava com ele ora ou outra, falando que ele precisava ir a mais festas com ela e com as meninas. Ele soltou uma risada.
Dançaram várias músicas até Eduarda puxar Isabel e tomar o lugar da menina, colocando uma mão no ombro de Henry e lhe dando a outra. Henry riu com a situação, mas não negou a troca de parceira, colocando a mão na cintura de Eduarda e puxando-a para si.
– Os caras tem que aprender a ter uma pegada igual a sua – ela comentou em seu ouvido, fazendo-o rir. Não pararam de dançar.
– Não seja idiota – ele respondeu.
Henry não percebeu quando várias pessoas olhavam para ele dançando com Eduarda e logo que uma música acabava, uma garota desconhecida pedia para dançar com ele animadamente. Henry, educado como sempre, não negava nenhum convite, dançando com todas as desconhecidas que lhe pediam.
Afinal, ele queria apenas dançar e se libertar.
[...]
Erick tinha perdido a conta de quantos goles tinha tomado e o que exatamente estava tomando. Conseguiu distinguir o gosto da tequila, mas depois que tomou mais de dois shots e tomou algo parecido com vodka, não sabia mais identifica o gosto de nada. Distinguiu apenas o gosto ruim da Catuaba, mas mesmo assim bebeu. O que importava naquele momento era o álcool e não o gosto.
Ele era fraco para bebidas e sabia disso, mas não se importava também. Danilo estava ao lado dele e o outro era bem mais resistente, então qualquer merda que Erick pretendesse fazer, Danilo estaria ali para lhe ajudar.
Já não via as coisas claramente, a visão um pouco turva lhe impedia de ver claramente o rosto de Danilo a sua frente, que lhe segurava pela cintura (não entendeu muito bem o porquê, mas não afastou o garoto) e falava alguma coisa que Erick não compreendeu direito. Ele apenas riu da cara do outro e tentou avançar alguns passos para longe de Danilo. Erick tropeçou em seus pés e caiu no chão, rindo quando Danilo se agachou para lhe erguer.
– Isso é tão estúpido – resmungou Erick, mesmo sem saber o que era tão estúpido. – O mundo girar é uma coisa estúpida! – soltou uma gargalhada – A vida é uma coisa estúpida!
– Sim, Erick, tudo é estúpido – falou Danilo com um tom de impaciência na voz. – Vamos lá para fora, você precisa de ar e água.
– Eu não preciso de nada – Erick disse, tentando se desvencilhar de Danilo, mas sem sucesso. – Para onde você vai me levar?
– Para fora – respondeu Danilo, arrastando Erick para fora do banheiro. – Tente ficar calado e ereto, ninguém pode te ver nesse estado.
– Mas eu estou bem! – exclamou Erick e soltou uma risada.
– Bem, sei... – respondeu Danilo com sarcasmo.
Foi um pouco difícil levar o garoto para o lado de fora do ginásio, principalmente para subir os degraus da arquibancada, mas graças a todos os bons deuses de todas as religiões possíveis, Danilo conseguiu carregar Erick até o lado de fora sem serem vistos por nenhum sargento.
Do lado de fora, algumas pessoas estavam conversando, já que a música lá era bem mais baixa. Tinha uma barraquinha vendendo churrasquinho e algumas bebidas não alcoólicas, então Danilo tratou de comprar comida e uma garrafa de água para Erick. Deixou o amigo sentado no meio fio, rindo de alguma coisa que Dan não entendeu e foi até a fila, que estava quase vazia.
Ficou de olho em Erick, que tinha pegado o celular e provavelmente estava mandando mensagens para Amanda. Danilo queria ser a pessoa para quem Erick mandava mensagens, pois ele sabia o quão divertido Erick ficava quando bebia. Cuidar do garoto podia ser um pouco saco, mas no fundo ele se divertia com isso. Não era a primeira, nem seria a última vez, que seria babá de Erick quando ele bebia.
O pior de tudo era saber que o garoto estava mal. Danilo podia parecer que não se importava, mas ele sempre estava lá, observando Erick como se ele fosse algo interessante a ser estudado. E de fato era. Tinha alguma coisa em Erick que fascinava Danilo e também ele se via um pouco naquela situação. Era o irmão mais novo entre três e ambos os mais velhos lhe tratavam de maneira especial, assim como queria tratar Erick. Tinha uma simpatia absurda por Erick e uma compaixão fraternal impressionante.
Comprou o que tinha que comprar e voltou para o lado de Erick, vendo que o outro estava chorando com o celular pendendo na mão. Foi rápido para o lado dele, com os olhos arregalados e tentando conter a vontade de largar o que estava em mãos e abraçá-lo.
– Erick, olha para mim – disse Danilo agachado na frente de Erick. – Por que está chorando?
– Por que isso tem que acontecer justo comigo? – ele perguntou ofegante, as lágrimas caindo de seus olhos. – Ele nunca vai me perdoar, Dan... Eu fodi tudo, puta que pariu.
Danilo se surpreendeu por ser chamado de Dan. Foi a primeira coisa que aconteceu. A segunda foi que ele tinha quase certeza sobre o que Erick estava falando. Ele não sabia muito afundo sobre a relação entre Erick e aquele garoto de Belo Horizonte. Mas sabia que algo tinha acontecido com ele por causa desse cara.
Ele se surpreendeu quando se viu com raiva daquele garoto. Sempre foi uma pessoa relativamente calma e que não partia para a violência com facilidade, mas ver Erick assim por causa de alguém lhe partia o coração.
– Erick, você não fez nada – disse Dan, não sabendo ao certo se eram as melhores palavras a serem ditas – A culpa não é sua, okay? A culpa é desse cara que fez alguma coisa com você. Agora, por favor, pare de chorar.
Erick parou ao ouvir aquelas palavras. Culpa de Henry. Culpa de Henry. Culpa de Henry. As lembranças vieram sem dó nem piedade, fazendo-o se encolher contra seu próprio corpo, sentindo as dores do passado lhe matando lentamente de novo. De novo. E de novo.
Sentiu um afago no ombro direito e levantou o rosto, vendo uma pessoa embaçada pelas lágrimas e pela bebida que deixava sua visão turva. Por um segundo seu coração acelerou.
– Henry? – disse Erick avançando sobre Danilo, mas este o parou, segurando suas mãos.
– Erick, sou eu. Danilo. Você tem que comer alguma coisa e beber água.
Erick franziu o cenho em desapontamento, mas aceitou de bom grado o churrasquinho que lhe era oferecido. Comeu lentamente, olhando para baixo sem falar mais nada. Tomou a água que o outro tinha aberto para ele, sem olhá-lo ou agradecer.
Ficaram em silêncio por longos minutos, enquanto Erick comia e bebia a água. Ele foi se sentindo melhor aos poucos. Sua visão ainda estava um pouco turva, mas ele já não sentia o corpo como se fosse uma coisa disforme e sem peso. Não sentia mais o embrulho no estômago.
– Está melhor? – perguntou Danilo.
– Sim, podemos voltar – assentiu Erick. – Quero ir no banheiro mijar e lavar o rosto.
Danilo assentiu e ajudou Erick a se levantar. Juntos, com Danilo atrás de Erick para ampará-lo caso ele caísse para trás, desceram os degraus da arquibancada, passando por várias pessoas pelo caminho. Pegaram um caminho mais curto para o banheiro, tendo que atravessar a pista de dança.
E foi nesse momento que Erick viu um casal dançando forró animadamente, com várias pessoas ao redor os observando. Erick foi até lá, sem falar nada com Danilo. Foi tomado pela curiosidade de saber quem estava dançando. Ao chegar lá, viu que se tratava de Henry, dançando colado com uma garota que ele não conhecia.
Erick franziu o cenho confuso. Henry não era gay? Por que estava dançando daquela maneira com uma garota? Por que ele sorriu para ela de modo que Erick julgou ser sedutor?
A música acabou alguns segundos depois e todos bateram palmas. Erick viu Henry arregalando um pouco os olhos e se afastando alguns passos da garota, que não demorou para sorrir para Henry e lhe dar um beijo acalorado. Ela passou os braços pelos ombros de Henry, ele pareceu demorar um pouco para entender o que estava acontecendo, mas assim que entendeu, passou os braços ao redor da cintura da garota, puxando-a para mais perto e retribuindo o beijo com a mesma intensidade.
Uma mistura de sentimentos tomou conta de Erick. Sua mente era bombardeada por pensamentos e lembranças que ele não conseguia distinguir direito devido a embriaguez, mas ele sentia o peso que elas tinham. Os sentimentos de raiva e rancor subindo pelas suas entranhas. Eram os sentimentos que ele mais sentia e sabia distinguir ultimamente. Não se arrependia mais de ter dito aquelas palavras a Henry. Queria repeti-las e ver a dor nos olhos do outro mais uma vez.
Virou as costas e saiu andando em direção ao banheiro, sem ver se Danilo estava perto ou não. Tudo o que ele mais queria era ir embora e se desligar do mundo.
[...]
Henry foi pego de surpresa pelas pessoas lhe observando enquanto ele estava submerso nas danças com as meninas. A última em especial estava lhe dando mole, então ele não foi pego de surpresa quando ela lhe beijou. Demorou alguns segundos para ele assimilar o que estava acontecendo, isso por que começou a ficar nervoso ao notar que estava sendo observado por várias pessoas.
Porém, aquilo não demorou muito. Sentiu seu celular vibrando intensamente e ele deduziu que fosse uma ligação. Separou-se da menina após uma troca rápida de saliva e atendeu o celular, vendo pelo identificador que era Chris.
– Onde você está? – a ligação estava ruim e Henry não ouvia direito por conta da música alta.
– Espera, eu vou no banheiro, não estou escutando nada – ele gritou ao celular e ouviu o que julgou ser um “Ok” de Chris.
Então saiu andando rapidamente até o banheiro, desviando de algumas pessoas e esbarrando em outras. Ele virava-se para pedir desculpas caso esbarrasse em alguém e foi nesse momento que ele trombou com uma pessoa que estava praticamente parada a sua frente.
– Me desculpe, eu... – começou, mas ao notar que essa pessoa era Erick, Henry não soube mais o que dizer ou o que sentir.
A cena estava se repetindo novamente.
Henry estava magoado com as palavras do amigo. Estava triste por ter ouvido aquilo logo de alguém que lhe ajudou e apoiou a vida inteira. Erick estava irreconhecível e isso doía no peito de Henry tão intensamente que chegava a ser insuportável.
– Ah, é você – disse Erick com desprezo. Henry não precisou de muito para saber que o outro estava bêbado. Como conseguira bebida, ele não sabia, mas definitivamente tinha. – A última pessoa que eu desejaria ver.
Henry semicerrou os olhos, tentando ser paciente. Erick lhe encarava mortalmente, mas ao mesmo tempo Henry viu que ele mordia a parte interna dos lábios. Ele sabia o que aquilo significava. Certas manias são imutáveis.
– Você continua com a mania de morder os lábios, hein? – comentou Henry tentando quebrar o clima tenso. – Já está sangrando.
– E desde quando você se importa? – Erick passou as costas das mãos pelos lábios, vendo o sangue que ficara ali.
– Desde sempre – Henry fez uma pausa, mordendo o lábio inferior – Por mais que tenha doído tudo o que você me disse, ainda somos amigos.
– O que te fez pensar que eu quero continuar sendo a merda do seu amigo? – Erick aparentava que iria enlouquecer a qualquer momento.
Estavam falando alto por conta da música, mas estavam em uma região onde a música não era extremamente alta e não havia tantas pessoas ao redor deles. E também, já estava quase no final da festa, tinham abaixado o volume do som.
– Erick, eu só quero entender o que aconteceu com você durante esses anos – disse Henry, chegando mais perto. Ele mesmo estava impressionado com a calma que estava tendo naquele momento – Algo tem que ter acontecido para você ter mudado desse jeito.
– Sim, aconteceu – admitiu Erick, o rancor e a dor palpáveis em suas palavras – Mas isso não é mais da sua conta. Não somos mais amigos e eu te quero longe da minha vida!
– Me quer longe? – Henry quase gritou dessa vez, pegou o braço esquerdo de Erick com sua mão esquerda – Então isso não significa mais nada para você? Se você ainda está usando, é porque não se esqueceu em nenhum momento.
Henry referia-se a pulseira que tinha dado a Erick em sua despedida, onde prometeram que nunca tirariam por nada nesse mundo. Henry cumpriu a promessa. Dormia com ela, tomava banho com ela, jogava com ela, fazia tudo com ela. Aquilo lhe conectava com Erick, aquilo tinha tanto significado que Henry sentiria que estaria traindo Erick se tirasse a pulseira.
E ele notou que o outro ainda usava. Talvez fosse por isso que Henry não encarou suas palavras duras com tanta seriedade. Por mais que tivesse doído no fundo do seu coração, Henry se recusava a acreditar que eram palavras verdadeiras enquanto o uso daquela pulseira cheia de significados lhe dissesse o contrário. Erick não estaria falando a verdade se ainda a usasse.
Henry segurava o braço de Erick com força, olhando em seus olhos intensamente. O outro devolvia o olhar, estagnado com a atitude do amigo. Estavam em uma guerra silenciosa de olhares que era particular e íntima.
Porém Erick desfez o contato, tirando seu braço com força da mão de Henry.
– Não – disse Erick convicto. Então se pôs a desatar o nó que prendia as duas partes da pulseira de couro em seu pulso – Desde que você virou minha vida de cabeça para baixo, deixou de significar algo para mim.
Henry achou que o dia da crise foi o ápice de seu desapontamento e tristeza com relação a Erick.
Estava fodidamente enganado.
Vê-lo desatando o nó da pulseira não era algo que sequer pensou em ver algum dia. Vê-lo desatando aquele nó não era apenas uma atitude física, mas uma atitude emocional, sentimental. Erick estava desatando o laço de amizade que tinha com Henry.
Ele estava verdadeiramente chocado, os olhos castanhos arregalados, o coração acelerado no peito. Erick desatava o nó com raiva e determinação. Aquilo doía tanto que preferia ser surrado com um taco de beisebol a passar por aquilo. As lágrimas que vieram a seguir foram inevitáveis.
Tudo o que tinha feito por Erick estava sendo jogado fora.
Tudo o que sacrificou por Erick estava sendo jogado no lixo.
Tudo o que era e foi para Erick estava sendo dilacerado.
– “Promessa” – Erick leu e soltou uma risada amarga – Uma promessa de merda, pois tudo o que você fez foi me foder. A culpa é toda sua. Eu te odeio, Henry.
Erick jogou a pulseira no rosto de Henry, a âncora de metal batendo em seus óculos e caindo no chão.
– Você não significa mais nada para mim.
Com isso, Erick virou-se de costas e saiu andando, deixando Henry completamente quebrado, sem ter como ser consertado.
[…]
Milhares de coisas passavam pela cabeça de Erick naquele momento, mas nunca pensou que faria algo tão impulsivo quanto aquilo.
Por mais que tudo aquilo tivesse acontecido com ele, Erick ainda se prendia naquela pulseira. Não tirá-la significava que ele acreditava minimamente que as coisas poderiam ser diferentes. Ou até mesmo mudar.
Não demorou muito para se arrepender do que tinha feito. Odiava o fato de ser tão impulsivo e inconsequente, mas era algo que ele não conseguia mudar. Para completar, estava bêbado e meio tonto, o que não facilitava nada nas suas tomadas de decisões.
Porém, um arrependimento terrível o golpeou, fazendo com que ele voltasse ao lugar em que tinha tirado a pulseira e começasse a procurá-la desesperadamente, murmurando o quão idiota era em ter feito aquilo.
Não demorou muito para que as lágrimas escorressem de seus olhos, o desespero batendo em seu peito por não conseguir achar a pulseira.
No final das contas, ele se importava. Sempre se importaria.
[...]
Henry despachou todos aqueles que vieram falar com ele no dia seguinte.
Não era de sua natureza ser grosso, mas ele não estava suportando a dor. Ele sentiu a amizade se quebrando. Sentiu Erick escorrendo pelos seus dedos. E ele se sentia um inútil, pois não foi capaz de fazer nada para mudar aquela situação toda.
Só levantou-se da cama quando sargento lhe obrigou, dizendo que ele levaria uma advertência e tomaria estudo obrigatório quando chegassem em BH caso não participasse na formatura de encerramento. Tomou o banho gelado, na esperança de recuperar as forças e os ânimos, mas tudo foi em vão.
Ele teve que tomar dois calmantes e um remédio para dormir na noite anterior por conta do que aconteceu. Chris estava extremamente preocupado com ele, mas Henry brigou com ele dizendo que queria ficar sozinho e que era para ele não se meter. Sabia que tinha magoado o ficante, mas não se importava muito naquele momento.
Queria apenas voltar para casa e se jogar nos braços de Marge. Ela o entenderia como ninguém iria entender.
Vestiu o abrigo e saiu sozinho até o pátio onde foi a formatura de abertura dos Jogos. Todos estavam em forma, o vento frio soprando naquele último dia de Jogos da Amizade. Primeiro e último de Henry.
Ele entrou em forma e nem sentiu a formatura passando. Quando viu, já estavam no desfile, o pessoal do CMBH comemorando intensamente a vitória dos Jogos da Amizade. Nem com esse fato ele sentia-se feliz, mesmo que tenha sido um grande contribuidor para a vitória. Ele queria apenas entrar no ônibus e se afastar daquele lugar o mais rápido possível.
Deu graças a Deus quando a formatura acabou e os responsáveis pela sua delegação falaram que eles tinham meia hora para se aprontarem para voltarem para Belo Horizonte. Voltou sozinho para o alojamento, jogando um jogo qualquer no celular e ignorando as pessoas que falavam com ele.
Arrumou sua mala rapidamente e a levou até o ônibus, entrando no automóvel e sentando-se no meio, onde sabia que seria perturbado menos. Colocou seus headphones e pôs para tocar uma música alta, tomou um remédio para dormir e esperou que fizesse efeito. Estava de olhos fechados, então só notou que tinha alguém ao seu lado quando a pessoa lhe cutucou o ombro com delicadeza.
– Está tudo bem? – perguntou Vanessa, o semblante ligeiramente preocupado.
– Vou ficar – disse Henry sorrindo forçado.
A garota torceu os lábios e se retirou, afagando os cabelos de Henry antes de ir sentar-se no fundo. Ele agradeceu imensamente por aquilo. Queria ficar sozinho.
Não demorou muito para que o remédio fizesse efeito e Henry caísse num sono profundo de escuridão e dor.
Erick não estava muito melhor. Podia enumerar todas as coisas que estavam dando errado em sua vida, mas a primeira era que tinha que encarar uma puta de uma ressaca.
Dor de cabeça, enjôo e vontade de colocar todas as tripas para fora. Ele teve sorte que Danilo tinha remédio para isso. Não agradeceu o garoto pela noite anterior, estava ocupado demais remoendo tudo o que tinha dito e feito.
Confusão era a palavra perfeita para Erick.
Entraram no ônibus, todos muito calados pela derrota que tinham sofrido. Ele sentou-se nas últimas cadeiras e, mesmo querendo ficar sozinho, deixou que Danilo sentasse ao seu lado. Pretendia dormir mesmo durante todo o percurso de volta para casa.
Não queria voltar para casa. Essa era a última coisa que queria naquele momento.
Pensou em pegar o ônibus escondido para ir para Manaus, mas a ideia era idiota demais para dar certo. Mas a vontade ele não podia negar. Queria estar o mais longe do Rio de Janeiro possível.
– Ei – Danilo cutucou seu ombro com o dele. Erick virou-se para o outro sem esboçar nenhuma expressão. Não tinham conversado sobre o que aconteceu na noite passada. – Achei que você ia se arrepender e querer isso de volta.
Então Danilo tirou do bolso a pulseira que Erick lembrava perfeitamente de ter tirado do pulso e jogado em Henry. Lembrava-se perfeitamente da expressão quebrada do outro. Lembrava-se das lágrimas do outro. Também se lembrava da dor que sentiu.
Ficou aliviado em ver a pulseira, mas conteve a vontade de arrancá-la das mãos de Danilo e colocá-la de volta no pulso.
– Acho que não tem mais volta – comentou Erick olhando para a janela.
– Nunca é tarde demais para tentarmos consertar nossos erros.
Erick virou a cabeça para Danilo, o semblante completamente triste e quebrado.
– Há certo erros impossíveis de serem consertados. O que eu cometi é um del
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