"Sei que a tua solidão me dói
E que é difícil ser feliz
Mais do que somos todos nós
Você supõe o céu
Põe mais um na mesa de jantar
Porque hoje eu vou praí' te ver
E tira o som dessa TV
Pra' gente conversar
Às 19:00.
-H"
Jogou-se no sofá e relembrou a cena: Exatamente às 14:23 enquanto seu aparelho televisor narrava em volume ensurdecedor o clássico Lakers x Celtics, a campainha foi tocada e um papel dobrado ao meio passado pela brecha inferior da porta; um recado inesperado. Hoseok fora sempre assim, inesperado.
Leu novamente o bilhete. Não sabia ao certo quantas vezes tivera que ler, mas sabia que parou a contagem na vigésima vez. Seus olhos incrédulos passeavam entre as linhas e dançavam entre as palavras grafadas tão firmemente. Hoseok fora sempre assim, firme.
Desligou a TV e olhou em sua volta. Confusão. Jurou no dia em que deixou Hoseok nunca mais voltar a vê-lo, jurou amar apenas a si mesmo e à seus projetos, já que Hoseok o limitava. Não importava quanto esforço investisse, achava sempre que seu parceiro estava um passo à frente, fosse na vida profissional ou amorosa.
Porém o tempo trouxe a verdade e ela era como um espinho em meio à carne. Sua carreira como produtor deveria despontar a partir de então, mas declinou; não havia inspiração. Suas roupas exalavam melancolia, bem como sua cama, pensamentos e todo o apartamento. Cada poro de sua pele liberava doses diárias de arrependimento e amargura, tais quais com o tempo Yoongi habituou-se.
•
Tentava a todo custo organizar sua casa e mente, contudo esta última insistia em manter-se dispersa.
Arrumou a mesa e até cozinhou; coisa que não fazia há tempos, pois não existia motivo. Tentou vestir-se o mais casual possível e acabou por usar o melhor blazer de seu armário.
19:07h
Leu pela última vez o temido bilhete e certificou-se de que o pior estaria por vir.
Campainha soou. Mão suaram. Passo após passo e pôs-se em frente à porta; uma mão na maçaneta, outra no peito em uma tentativa falha de segurar o coração saltitante. Uma folha de madeira o separava de seu passado presente. Inspirou, expirou; a coragem apareceu. A porta foi aberta lentamente, dando espaço aos olhares que chocaram-se e permaneceram fixos um no outro durante uma fração eterna de segundos. Yoongi viajava por entre as galáxias do universo castanho que a íris de Hoseok carregava e pôde ver o exato momento em que o pequeno buraco negro dilatou, engolindo parte das galáxias e entregando a adrenalina que também circulava no outro. Hoseok, por sua vez, lia cada radial e cripta que a imensidão acastanhada de Yoongi lhe proporcionava. Silêncio. Saudade. O vento da nostalgia soprou, penetrou e inundou os pulmões dos dois homens ali presentes.
Yoongi hesitou, Hoseok se pronunciou.
– Prometi não cessar de procurá-lo, jurei não desistir de nós. Tenho conhecimento que seus sentimentos esmoreceram e em seu pequeno coração já não há mais lugar para mim. Contudo, não quebrarei minhas juras. Farei de você meu novamente, Yoongi. Mesmo que isso ocupe meus anos; não desistirei.
Os dois anos separados dissiparam-se em apenas uma fala atrevida. Hoseok fora sempre assim, atrevido.
Yoongi sorriu, revelando seus pequenos dentes e sua gengiva saliente.
– Meu coração é como estradas, Hoseok. Vai sempre além do que se vê.
Yoongi o amava, arriscaria dizer além do que a si mesmo. O queria consigo, sem arrependimentos desta vez.
Dezenas de letras e melodias nunca antes ouvidas passaram pela mente do produtor fracassado; sua inspiração e fonte de incentivo estava de volta e, desta vez, Yoongi jurou ser para sempre.
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