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História Alfred's Chronicle - Café Vietnamita


Escrita por: AndrewFerris

Notas do Autor


Assim começo outra fic, espero que aprovem!!!

Capítulo 1 - Café Vietnamita


Diário de guerra: Vietnã, 08 de outubro de 1973. Acordo em mais uma manhã quente, o clima tropical não está me fazendo bem. Faz quase um mês que não bebo nada alcoólico, sinto meus nervos queimando, implorando por algo que não seja água. Dizem que os reforços virão em breve, mas não acredito que Deus virá, estamos perdidos e abandonados no meio desse inferno testemunhando uma carnificina colossal completamente impotentes. Há uns três dias matei um jovem, possivelmente universitário, se é que exista isso aqui. Ele apontou a maldita espingarda pra minha cabeça no momento que, por misericórdia, ou talvez sensibilidade humana, abaixei a minha. Resultado, tive que me esquivar para trás de uma árvore e meter três tiros no infeliz. Não me orgulho disso, mas graças a ao que fiz minha família está bem. Se alimentando, vivendo, meu sobrinho já deve ter aprendido a falar. Minha sobrinha deve estar aprendendo multiplicação. Quem dera, jovem ingênuo, quem dera. Na minha cidade, ricos tem tudo o que querem e continuam insatisfeitos, pobres não podem nem sorrir que morrem, é um nível macabro de ironia. Minha equipe (ou o que sobrou dela) está tentando se afastar da zona de guerra para voltarmos pro forte, onde poderemos descansar e ir embora daqui. Apesar de ser pouco provável, o general dizer isso me animou bastante, deu até vontade de sobreviver, por mais remotas que sejam essas chances. Adoraria tomar um café da manhã decente outra vez, mas a única coisa relevante agora é saber se vou ter algum "café" para tomar.
-Penny, vem aqui- grita o general para um soldado que estava sentado atrás de uma árvore.
-Senhor- se apresentou o soldado fazendo o devido cumprimento.
-O que fazia atrás daquela árvore, soldado?- indagou o general sorrindo com malícia.
-Estava escrevendo, senhor- respondeu o soldado levantando seu caderno.
-Uma carta pros filhos?- perguntou o general se sensibilizando.
-Não tenho filhos senhor, apenas irmãos e irmãs que dependem de mim.
-Então está escrevendo para eles?
-Na verdade, não. Estou para mim mesmo, para que eu nunca me esqueça desse lugar e de tudo o que passei caso sobreviva, e para começar a fazer isso agora.
-Bom, muito bom. Gosto de garotos otimistas, ajudam a tornar esse inferno amargo um pouco mais doce- comentou o general dando uma olhada nos arredores.
-Com todo o respeito, não acredito que eu seja o garoto aqui.
-Se viver o tanto que eu vivi e passar pelo tanto que passei, vai entender a razão de chamá-lo assim- revelou o general ascendendo um cigarro.
-O Kilni ainda não voltou?- questionou o soldado olhando pra panela vazia.
-Ainda não. Deve ser por quê essas terras são pobres em animais comestíveis e rica em frutas venenosas. Ele deve ter andado um pouco além do que deixei- concluiu o general com decepção.
-Ás vezes penso que o senhor é permissivo demais com ele- opinou o soldado agarrando uma espingarda.
-Na verdade não. Você sabe como ele pensa, tem um certo desprezo pelas regras, um pouco deslocado, mas é jovem, com o tempo vai aprender. Se bem sei, ele não é muito diferente de como era quando entrei.
-Na segunda?
-Na segunda. Fiz tanta coisa naquela época que diziam que meus feitos faziam jus ao meu nome, mas nunca dei valor a isso. O que importava era sair vivo de cada missão e voltar mais destemido ainda para a próxima. As coisas eram diferentes antes. Hoje em dia tudo é muito caboom, caboom, vou te explodir, a emoção foi trocada pelo genocídio. Maldito Hitler- ironizou o general jogando seu charuto no chão e amassando o mesmo.
-Acho melhor ir atrás dele- sugeriu o soldado erguendo sua espingarda.
-Não. Vamos esperar mais quinze minutos, se ele não voltar pode dar uma de Tarzan- Dez minutos se passaram e nada de Kilni voltar. Penny começou a olhar pro seu relógio, contando os minutos para sair atrás do parceiro, mas de repente ouviu-se um barulho na folhagem mais próxima. O general e o soldado sacaram suas espingardas, se entreolharam e cada um foi por um lado na tentativa de isolar quem quer que fosse, mas quando atravessaram os primeiros ramos perceberam que era um dos seus.
-Rhasaq- afirmou o general abaixando sua arma- onde se meteu?
-Atrás do Kilni, é claro- afirmou o soldado imitando seu superior.
-E onde é que ele se enfiou?- perguntou Penny encarando o colega.
-Não faço ideia, já vasculhei os arredores umas três vezes, ele deve ter seguido em frente pelos campos baixos.
-Assim ele será um alvo fácil- concluiu o general irritado- vai matar todos nós.
-Por isso voltei, queria saber o que vamos fazer quanto a essa situação.
-Eu vou pelo norte e Rhasaq cobre pelo leste, Penny cobre o acampamento.
-Mas senhor...
-Já estive em missões que ninguém manteve nosso acampamento em segurança, a conclusão desses episódios foi massacre, estou velho demais para esse tipo de coisa, então volta pra lá e protege a droga do acampamento. Se ouvir uma movimentação estranha ou tiros, nos procure. Caso o resto da equipe retorne, divida-os em três grupos como acabei de fazer, entendeu?
-Sim senhor- respondeu Penny retornando ao acampamento. Não tardaram os demais soldados, e logo estavam se dividindo em equipes para ir atrás do general e de Rhasaq. O grupo de Penny era composto por cinco soldados, dois eram gêmeos, um era loiro, outro era negro. Cada um deles carregava pelo menos duas armas, uma nas costas e outra nos braços, caso surgissem vietnamitas no meio da floresta. Penny tomava a frente do grupo, que caminhou até um lugar em que não haviam mais árvores, só mato seco baixo. Felizmente avistaram Rhasaq quando entraram nesse mato.
-Penny- exclamou Rhasaq inconformado- quer dizer que Kilni não voltou?
-Ainda não, mas espero que enquanto viemos atrás de você ele tenha dado as caras, senão teremos problemas. Lembro que tinha uns cinquenta vietnamitas no nosso encalço quando escapamos da armadilha, se não sairmos daqui o quanto antes, eles vão alcançar com toda certeza.
-Concordo- disse Rhasaq olhando pro horizonte- ele sabe que estamos tentando sobreviver a essa guerra, vai voltar se tem um pingo de juízo.
-Não vejo falta de juízo nele, só uma ocultação de juízo, e entre esses dois há uma grande diferença- argumentou Penny ligando seu rádio- Aqui é o Penny, câmbio.
-Aqui é Rock. Câmbio.
-Senhor, não encontramos o Kilni, câmbio.
-Positivo, soldado. Temos uma pista dele, vocês podem retornar para a base. Câmbio final.
-O que ele disse?- perguntou Rhasaq sem entusiasmo.
-Ele quer que voltemos para a base. Parece que encontraram uma pista do Kilni.
-Isso é bom. Vamos logo- quando os soldados estavam quase chegando na base, um soldado não suportava mais sua apreensão e precisava desabafar.
-Penny- chamou o soldado.
-Sim, Martin- respondeu Penny sem parar de andar, forçando o colega a se aproximar.
-Acha que Kilni está bem? Quer dizer...
-Sei o que quer dizer, vivo. Bem, estamos no meio de um campo de guerra e fomos isolados umas dez vezes, não.conhecemos essas florestas fechadas, mas nossos inimigos conhecem. Entretanto nosso amigo é um ótimo soldado, apesar da pouca experiência, então acho que deve estar bem. Minha preocupação é com o general, que não tem mais idade para lutar num estado desses e só está aqui por que nos pegaram desprevenidos. Se não tomarmos cuidado, morremos. Quando não se conhece o ambiente de combate ou o oponente, temos de usar qualquer vantagem que possuímos, temos que ser mais do que simples homens, como diria Rhasaq, não?- o jovem se virou sorrindo levemente.
-Verdade. Se puder usar algo que o inimigo não consegue controlar, nada que ele tem fará efeito sobre você.
-O que acha que faria efeito nesses caras, Rhas?- perguntou Martin curioso.
-Medo. Medo é o ponto fraco de qualquer pessoa, é parte da nossa essência primitiva que nos permite sobreviver, mas como somos seres racionais isso se torna uma fraqueza, nossa maior fraqueza. Essas armadilhas vietnamitas estão amedrentando os americanos, por isso esse resultado humilhante. Mas e se isso não os assustasse? E se isso não os impedisse de agir racionalmente procurando pontis cegos e estratégias para tirá-los de seus buracos de rato?
-Quem vê pensa que não tem medo de nada, Rhas. Aposto que corre quando vê uma barata- ironizou Martin, fazendo todos rirem.
-Pode até falar assim Martin, mas ás vezes acho que esse garoto não tem medo de nada mesmo- declarou Alfred estupefato- já estive em vários confrontos, e o que vi Rhasaq fazer superou tudo o que vi.
-Não exagera, Penny. Eu tenho medo sim, de uma coisa.
-Do que?- questionou Martin curioso.
-Da morte. É meu único medo real, e acredite quando digo, se não fosse por ele não estaria com vocês hoje.
-Meio irônico, não?- perguntou Martin checando sua arma.
-Um pouco- afirmou Penny por Rhasaq- acho que ele ama a ideia de morrer, é tão repentino. Não é como brochar, não é Rhas?- todos riram calorosamente, incluindo Rhasaq, que se virou outra vez e apontou a arma para Penny.
-Foi só uma vez, Pennyworth. Fica esperto senão vai descobrir o "tão repentino"- todos riram com mais vontade ainda, mas a diversão parou quando o grupo ouviu uma explosão e gritos. Os soldados colocaram seus rifles e espingardas à frente do corpo, mirando na direção da base, com Penny tomando a frente outra vez.
-Fiquem alertas- ordenou Penny andando lenta e friamente- tenho uma ideia de quem possa ser- o grupo continuou andando até chegar na base, que se encontrava em chamas e saqueada, com todos os soldados mortos.
-Merda- afirmou um dos gêmeos- que vamos fazer agora? Tudo o que tínhamos estava aqui- Penny suspirou e deu meia volta.
-Qualquer coisa, menos entrar em pânico. Primeiro, vamos cair fora daqui, pra bem longe. Depois vamos procurar reforços- de repente um grupo de soldados vietnamitas apareceu e começou a atirar sem exitar para cima dos americanos, que se defendiam com uma resposta à altura- Corram- gritou Penny cutucando Martin. Rhasaq começou a correr, pegou uma granada e atirou-a nos adversários, matando pelo menos meia dúzia antes de se esconder atrás de uma árvore. Alguns vietnamitas passaram reto por ele e acabaram levando um tiro nas costas pelo jovem soldado.
-Venham, seus viets desgraçados- Rhasaq viu um deles passando por ele, então segurou-o pela arma, quebrou seu braço e chutou-o na cara antes que este prosseguisse sua caça. Depois disso, o jovem se juntou outra vez ao grupo, que correu mais ainda na esperança de despistar os adversários, mas haviam soldados escondidos atrás das árvores, que surgiram detrás delas e atiraram contra os soldados americanos, matando a maioria do grupo, mas Penny conseguiu se esquivar e tirar Martin do fogo cruzado a tempo. Prestando atenção na ordem de Penny, Martin se arrastou pelo solo com o soldado até ultrapassarem a linha onde os vietnamitas estavam e abriram fogo, matando três deles. Um soldado que levou um tiro havia retirado o pino de uma granada no exato momento que levou o tiro, mas Penny foi ágil e chutou a granada na direção dos remanescentes inimigos, matando alguns deles. Os demais correram para o mato baixo a toda a velocidade na esperança de escapar do inesperado contra-ataque dos americanos. Rhasaq se aproximou com alguns soldados e abaixou sua arma, apontando com os olhos para o mato.
-Não tem mais nenhum deles por aqui. Aqueles são os últimos que sobraram.
-Tem certeza?- perguntou Penny meio incrédulo.
-Absoluta- respondeu Rhasaq encarando Penny com toda a seriedade possível.
-Certo. Vamos acabar com eles- disse Penny irritado- o grupo saiu no encalço dos soldados vietnamitas, pararam no limite entre a floresta e o matagal, onde era mais alto e miraram com paciência, acertando seus alvos em cheio. Um último soldado continuou correndo desesperado até que caiu duro no chão. Nesse instante, Rhasaq e Penny se entreolharam e deram meia volta com as armas apontadas para os galhos da última árvore antes deles e, para sua surpresa, Kilni estava lá em cima com a arma erguida e sorrindo levemente.
-E aí, que acharam da performance? Bem na cara, pow- disse aos risos. Penny deu uma olhada no jovem loiro, de olhos escuros e profundos com uma expressão tão séria quanto possível.
-Tem ideia do que passamos por sua causa?
-Relaxa Pennys, quer dizer, Penny- Rhasaq meteu um murro na cara do jovem e apontou a espingarda para sua cabeça.
-Onde estava?- questionou Penny como se fosse sair sangue de seus olhos.
-Estava cumprindo as ordens do general, fui atrás de comida para o acampamento, mas quando cheguei nesses lados percebi que os vietnamitas estavam me seguindo, então não pude voltar, senão me seguiriam e descobririam nosso esconderijo.
-É, você está certo. Mas não pode tomar decisões assim, por conta própria. E o seu rádio?- indagou Penny encarando o colega com os dentes semicerrados.
-Perdi quando tropecei. Assim que perdi o rádio resolvi me esconder no topo dessa árvore, já que qualquer coisa consegue se camuflar sem muita dificuldade- explicou Kilni se intimidando com Penny, que apesar de chegar quase aos quarenta ainda era dotado de um físico invejável e extremamente bruto.
-Eu te espancaria aqui e agora, só para que saiba, mas é o general que dará sua sentença- agora vamos para o leste.
-Ficou louco?- protestou Kilni- Deve ter mais vietnamitas por lá.
-Não tem, conferi com o Mike e o Dylan, estamos sozinhos. Se há mais viets eles não estão por essas bandas, e sim atrás do general e dos nossos que foram encontrá-lo.
-Isso é bom, de certa forma. Temos a chance de encurralar esses miseráveis- declarou Penny recarregando sua arma.
No caminho para o leste, os soldados tiveram de passar pelo campo de batalha onde quase haviam morrido, apesar da tristeza pelos seus amigos mortos, o único que ficou chocado com a cena foi Kilni, que não tinha noção do que realmente havia acontecido. O jovem parou e começou a chorar, as lágrimas escorrendo pelo rosto e caindo nas folhas jogadas pelo solo.
-Kilni? Kilni?- chamou Rhasaq virando-se para ver o que atrasava o garoto. A cena acabou comovendo-o, o jovem estava ajoelhado em frente a um dos soldados deles. Os demais soldados se aproximam, inclusive Penny, que pôs a mão no ombro do amigo, se solidarizando.
-Desculpa Penny. Não sabia que tinha sido assim- disse o jovem gaguejando.
-Tudo bem Kilni, ainda é jovem, tem muito o que aprender- consolou-o Penny.
-Algum de vocês sabe quem era ele?- perguntou Kilni encarando a cabeça estraçalhada do soldado.
-Está nas correntes- respondeu Rhasaq se aproximando do corpo e procurando as tais correntes- era o Mark- completou com tristeza, o que fez Kilni chorar com mais veemência ainda, ele sabia que apesar de jovem, o mais novo que ele conhecera desde que entrara no exército tinha sido Mark. O garoto tinha feito 18 em abril.
-Eu vou acabar com esses desgraçados ou não me chamo Jake Kilnin- vociferou o soldado tomado de uma fúria selvagem- Fale com o general Penny, sugira a ideia de cercá-los- Penny ligou seu rádio, se levantou e olhou para cima suspirando, era menos doloroso não ter olhar pros demais corpos ao redor.
-Aqui é o Penny, câmbio- disse o soldado mantendo-se sob controle.
-Aqui é Rock. Ouvi tiros e explosões, qual é a situação, câmbio?
-Temos pelo menos trinta mortos do nosso lado e uns trinta do lado inimigo, câmbio- informou Penny deixando uma lágrima escorrer.
-Base?
-Destruída. Felizmente encontramos Kilni, câmbio.
-Fala pra ele que vou arrebentá-lo pessoalmente apesar de ser otagenário, câmbio.
-Não será preciso, o garoto está à beira da depressão, câmbio.
-Certo. Entendi. Tem mais viets por aí, câmbio?
-Sim, senhor. Estão no seu encalço, no entanto temos um plano de cercá-los no trajeto com o apoio dos soldados que estão com o senhor, câmbio.
-Então me conte.


Notas Finais


Conseguiram notar algum personagem da trilogia? (Fora o Alfred) Será que a história tem referências demais?


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