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História Alfred's Chronicle - Á vista de Kilni


Escrita por: AndrewFerris

Notas do Autor


Hora de conhecerem um pouco o jovem Jake Kilnin!!!

Capítulo 3 - Á vista de Kilni


Diário de guerra: 10 de outubro de 1973. Ontem encontramos o soldado sobrevivente de outro batalhão que se juntou a nós em nossa tentativa de voltar pra casa. Infelizmente mais dos nossos foram mortos pelos viets, restando menos de duas dúzias de soldados. Antes de nos aprofundarmos no pântano para nos escondermos, o general Rock surgiu e matou um soldado viet que tinha se escondido atrás de um tronco baixo. O soldado levou tanta pancada antes do golpe final que deve ter ansiado a morte mais do que qualquer outra coisa. Kilni se espantou tanto com a agilidade que o general possuía quanto com o ataque constante dos nossos adversários, que nos atacavam em desespero, com o óbvio desejo de matar todos nós. Com Rhasaq e eu na linha de frente e o apoio constante e habilidoso do soldado encontrado, Slade Wilson, conseguimos dar conta dos soldados que nos cercavam. Durante o resto do dia caminhamos com dificuldade pelo pântano, tropeçando ou prendendo uma bota ou alça nas raízes. Seguimos viagem durante a noite, pois o pântano era maior do que aparentava, mas não demorou muito para encontrarmos terra seca. Passamos a noite alertas, com dois soldados acordados vigiando tudo nos revezavamos, com exceção de Wilson, que tivemos o concenso de que merecia dormir a noite toda devido o tempo que passou sozinho. Na manhã seguinte acordamos mais cedo do que o normal, então o general deixou que Kilni fosse comigo buscar água para podermos seguir viagem, e eu já imaginava a razão.
Kilni andava com as mãos trêmulas e os olhos esbugalhados girando de um lado para o outro como se alguma coisa fosse acontecer a qualquer instante. Penny engole a saliva e se aproxima dele:
—Tudo bem Kilni?
—Tudo Penny - Disfarça inutilmente.
—Lembra de como se procura um rio? - Pergunta na esperança de fazê-lo se distrair.
—Parte mais baixa do solo, verificar umidade da terra, o vento e as árvores -Sua resposta soa tão certa e direta que Penny perde a pose e resolve seguir na frente.
Depois de uma caminhada mediana, Penny encontra um riacho. Depois de encher os cantis, ele dá meia volta e observa o pântano, quando se dá conta de que Kilni não estava por perto.
—Kilni? Kilni? - Chama Penny preocupado pensando o que aquele moleque estaria aprontando. Ele corre em diferentes direções parando uma vez ou outra para procurar vestígios do amigo, até que finalmente o encontra em outro lado da margem, sentado observando a leve correnteza - O que está fazendo?
—Esperando você terminar de encher os cantis.
—Por que não esperou mais perto?
—Por que você não pediu - Respondeu com frieza.
—O que houve Kilni? Você está diferente - Observou Penny tentando outra aproximação.
—Não aconteceu nada.
—Aconteceu sim, senão você não estaria assim -Declarou sem se deixar intimidar.
—Eu cresci Penny, foi só isso.
—Por que não se abre para alguém? Todos precisamos de amigos - Kilni o fita com certa desconfiança, então abaixa a cabeça e abraça Penny como se fosse seu irmão mais velho, e Penny retruca beijando a cabeça do amigo com uma sensação um tanto paternal.
—Tanta gente morta Penny, por que deveria ser assim? - Penny suspira, ele sabia que era aquilo que tanto afligia o amigo.
—Não tem que ser assim, não precisa haver guerras, mas nós não temos como escolher. Só temos como mudar as coisas matando o máximo de viets possíveis, ou morrer tentando.
—Uma piada bem sem graça - Admitiu Kilni dando uma leve risada ao enxugar uma lágrima.
—Uma piada ainda assim. Olhe pelo lado bom, estamos fora da zona de guerra. Em dois, três dias no máximo vamos embora daqui. Mantenha suas armas à frente do corpo e sua mente focada, então nossas chances de sobreviver irão aumentar - os dois se desvencilharam para prosseguir viagem, com Kilni atrás mantendo-se atento e com a arma à frente do corpo como pediu Penny, então se aproximou do amigo e confessou:
—Eu sei o que vai acontecer Penny, mas não quero que aconteça comigo.
—Como assim?
—Falo de me acostumar. Todo mundo se acostuma a ver gente morta de tanto lutar em guerras. Vejo isso em você, Rhasaq e no general. Vocês veteranos tem isso de tratar a morte com frieza - Penny se vira indignado.
—Acha que tenho orgulho do que faço, Kilni? - Não se trata de costume, mas depois de tanto lutar você aceita que a morte é algo natural da vida, ninguém pode escapar. Não somos imortais, mas talvez vocês jovens não sejam capazes de perceber isso. Um dia, quando tiver a minha idade, vai lembrar do que eu disse e vai admitir que o tio aqui estava certo. Até lá já vou estar morto.
—Até lá vai ser mordomo - Ironizou Kilni recordando as piadas que o grupo costumava contar.
—Se um dia eu for mordomo, então aposto como você nunca vai largar essa vida - Brincou Penny abrindo seu cantil.
—Por que acha isso?
—Isso o que?
—Por que acha que eu nunca vou abandonar essa vida?
—Eu falei brincando, Kilni. Mas ás vezes penso que você vai se tornar um grande soldado e que não vai parar nunca.
—Por que pensa assim?
—Por que eu te conheço. Você é um jovem que não sabia muito a respeito da vida e viu gente demais morrer em pouco tempo. Isso mexe com todo mundo que tem de viver desse jeito. Mas o pior não são as pessoas que morrem toda hora, somos nós que não paramos de matar.
—Esse é o problema?
—O menor deles. Como tempo você vai entender - os dois encontram o restante do grupo pouco tempo depois e tornam a partir. Assim continuam a caminhar rumo à base americana com o general Rock e Slade Wilson na frente. Este observava Penny com frequência enquanto falava de sua vida para o general.
—Então você é das Forças Especiais, Wilson? - Pergunta o general curioso.
—Era até um ano atrás, mas apenas treinei, general. Vim pra cá assim que a situação piorou. Fui recrutado em Nova Orleans. O que realmente me deixa encabulado é o fato de alguém como o senhor estar aqui. Você é uma lenda da Segunda Guerra Mundial, deveria estar em casa aproveitando o tempo com seus netos, não estar nesse inferno que chamam de país.
—Deveria mesmo estar em casa, mas assim que vi os noticiários soube que não poderia abandonar minha causa. Também sabia que os soldados se sentiriam motivados se eu simplesmente estivesse com eles. Além do mais, não tive escolha, sou general, tinha de estar aqui. A única coisa que é estranha na minha presença é o fato de eu estar envolvido nessa guerra pessoalmente, e não apenas na parte estratégica como deveria ser.
—Tenho que confessar que o senhor continua muito bom com isso.
—Estou enferrujado e velho. Tenho distenções ósseas toda vez que me mexo muito, o que significa que essa caminhada também está me matando.
—Acho que tem algo incomodando o senhor além das suas articulações.
—Muito observador meu jovem, estou preocupado com esses garotos. Em especial com Kilni, ele é jovem demais para ver o que viu.
—Crianças e mulheres?
—Pior, muito pior. Enquanto esteve conosco, Kilni se aproximou de todo mundo com muita facilidade. Seu humor sempre foi nossa muleta nessa guerra da mesma forma como a amizade sempre foi a dele.
—A única coisa que vejo nele é potencial para se tornar um excelente soldado.
—Isso é o que me preocupa. Já vi amigos se tornaram as piores pessoas ao se tornarem os melhores soldados. Veja Rhasaq, a única coisa que fez na vida além de ir pro exército foi frequentar a igreja e organizações humanitárias na Ásia.
—Pra mim ele parece um pastor bem treinado - Defendeu Wilson olhando rapidamente para Rhasaq.
—Kilni é a mesma coisa, quer dizer, trocando essa coisa de igreja por uma visão otimista e positiva sobre tudo baseado na própria filosofia. Também tem algumas ideias de tornar o mundo melhor.
—Quer ser empresário, é isso?
—Não exatamente. Ele não acredita muito que ter dinheiro vai mudar alguma coisa no mundo.
—Um esquerdinha de bosta - Concluiu Wilson rindo da própria piada.
—Algo assim.
—Não se preocupe general, a vida vai ensiná-lo.
—Você não passou os últimos cinco meses com esse garoto Wilson, não esperava que fosse entender.
—Que seja - Slade anda à frente do general e para ao lado de Penny, que anda sem ligar muito para a presença do novo companheiro.
—Como se sente nessa situação? - Pergunta Wilson indo direto ao ponto.
—Do que está falando?
—É evidente que você, seu amigo e o general estão muito apegados ao novato, não?
—Por que pergunta?
—Acho que ele se preocupa à toa.
—Por que pensa assim? Você mal conheceu o general.
—Ele está velho, a paranoia está afetando a cabeça dele. Nem todos os soldados sofrem transtorno de estresse.
—É o que você acha? - Wilson percebe o tom receoso do colega e zomba rindo.
—Talvez oitenta e alguns por cento, mas de qualquer forma não é cento por cento.
—Da mesma forma como não são tantos soldados que conseguem voltar para suas antigas vidas.
—E pareço doente para você? - Questiona Wilson zangado.
—Quando a mente está doente o corpo não demonstra - Respondeu Penny sem dar muita importância.
—Pois vou te dizer, a vida no exército me fez muito bem. Não que me paguem bem, mas as experiências me deram um panorama mais abrangente de como o mundo realmente é.
—E a qual conclusão chegou?
—Esse mundo é dos sobreviventes. A natureza tenta nos destruir, as armas tentam te destruir, as pessoas tentam te destruir, mesmo assim estamos aqui. Prontos para outros combates, outros desafios, prontos para encarar o que quer que mandem para nós. Isso é viver. E no que me diz respeito, aqui me sinto tão vivo quanto em qualquer outro lugar.
—Acho que não tem família - Afirmou Penny indignado, então percebeu o que tinha falado - Me desculpe, não foi minha intenção.
—Eu sei qual foi a sua intenção, Penny. Meus pais morreram quando eu era pequeno, vítimas de uma disputa de gangues. Meus avôs me venderam pro mercado de escravos, mas felizmente fui encontrado por um sujeito importante da Europa que enxergou meu potencial e cuidou de preparar meus estudos, assim como ter uma vida digna. Até que ele me mandou para a Ásia, onde foi assassinado por comerciantes falidos, e assim fiquei sem um tutor.
—Por que está me dizendo essas coisas? - Pergunta Penny se envolvendo com a conversa.
—Por que gostaria que soubesse um pouco da minha história antes de me julgar, afinal de contas não sou um playboy miserável igual a você.
—Para sua informação, eu não sou playboy. Sou pobre e venho de origem humilde. Meu pai morreu quando eu era pequeno, usava drogas e tinha envolvimento com o crime, então dá pra imaginar como ele morreu. Minha mãe sempre trabalhou arduamente, embora nossos tios sempre mandem uma ajuda para nossa família, que conta com mais quatro irmãos mais novos.
—O que faz no exército então?
—Necessidade. O dinheiro vai ajudar minha mãe, quando sair daqui vou procurar um emprego decente e parar de fazê-la chorar toda noite achando que morri.
—Mediano.
—Sua vida, é mediana. Complicada mas resolvida. Pelo menos você não teve de fazer trabalho escravo durante a infância numa cidade tão horrível quanto a que me enviaram.
—Que cidade?
—Gotham.
—Eu morei lá minha vida toda. Cresci naquelas ruas, fui criado naquele meio.
—Então somos mais parecidos do que parece - Admitiu Wilson contente - Você parece bacana Penny. É como eu, não tem medo de falar sua opinião e é imperativo.
—É o que está parecendo - Concordou Penny. Com o tempo passando e a caminhada se estendendo, o general evitava os caminhos que pudessem chamar atenção para seus soldados, sem se esquecer de procurar as rotas que facilitassem a passagem para eles, afinal todos queriam chegar na base depressa. Kilni continuava quieto, observando os companheiros com um olhar questionador.
—Eu sei o que está pensando - Disse Slade se aproximando - Por que continuamos assim? Sabe, mesmo com opiniões diferentes, concluí que temos tendências parecidas. Enxergamos as coisas de jeitos muito próximos, entende?
—Você não sabe nada a meu respeito - Declarou Kilni um pouco incomodado.
—Aprendi o bastante conversando com seus colegas.
—E o que eles disseram? - Perguntou o jovem sem curiosidade.
—Que estão preocupados com você. Acham que viu demais para alguém tão jovem.
—Sempre foi assim. Eles acham que sou jovem demais.
—Não está na hora de mostrar o contrário?
—Como assim?
—Mostrar para seu general que você é forte, capaz.
—Acho que está errado a meu respeito. Não somos parecidos, eu não tenho que provar nada pra ninguém. Tudo o que quero é um pouco de paz - Kilni se assusta quando repara que Wilson diz a palavra ao mesmo tempo que ele.
—Tem certeza disso? Um dia você não era tão diferente do que eu fui, a diferença é que você ainda é ingênuo e continua a acreditar, eu parei de acreditar faz tempo - Assim que termina de falar, Wilson retoma a caminhada em seu ritmo normal para acompanhar o general que estava na frente, deixando uma série de perguntas surgirem na mente de Kilni.
Diário de guerra: 14 de outubro de 1973. Finalmente chegamos na base americana. Após uma longa caminhada que nos esgotou até o mais sedentário músculo, conseguimos encontrar a bendita base. A primeira pergunta que fizemos foi óbvia, onde havia água potável. Depois de tomar um banho, sermos interrogados sobre detalhes da operação e comermos tanto quanto nos ofereciam, o general se apresentou a nós e nos deu a excelente notícia de que iríamos partir em breve. Assim fizemos nossos preparativos, depois de meses finalmente retornaria à minha cidade e esperava nunca mais ter lutar numa guerra. Com o cair da tarde nos dirigimos à plataforma de embarque, entramos no primeiro avião e em duas horas ele partiu para fora do inferno.
—Finalmente vamos pra casa - Declara Rhasaq camsado.
—Preciso de férias tão merecidas quanto longas - Disse Wilson largando sua blusa jeans num canto - Que acha garoto? - Pergunta se dirigindo à Kilni, que estava sentado em silêncio ao seu lado.
—Acho que preciso de um pouco de bebida quando chegar em casa.
—Faz bem garoto, encher a cara um pouco.
—Quem falou em encher a cara? Só vou encher tudo que puder - Kilni observa sua adaga prateada, então Wilson repara e pergunta:
—Gosta de facas, não?
—Prefiro. Sempre que tinha a chance fazia aqueles viets desgraçados provarem ela um pouco. O problema de armas é que elas...
—Elas?
—Deve achar que sou um imbecil.
—Acho que você é o mais sensato daqui. Nada além disso.
—Sério?
—Como você mesmo disse, não te conheço. Mas vejo potencial em você.
—Aquilo que você falou sobre provar meu potencial, ainda está de pé?


Notas Finais


O que será que Slade planeja para Kilnin?


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