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História Alfred's Chronicle - Consequências


Escrita por: AndrewFerris

Capítulo 7 - Consequências


Diário de Guerra: 27 de outubro de 1973. Acordo numa cama macia, envolto em lençois brancos e finos, sem camisa, com cortes costurados precisamente e uma forte dor de cabeça. Olho os arredores do quarto, janelas, porta, cantos, tapete, mobília, tudo indicava ser o lar de alguém rico. Um burguês de primeira. A última coisa de que lembro é de um farol se aproximando de mim enquanto eu estava prestes a desmaiar, e por incrível que possa parecer, aqui estou eu, vivo. Depois de me dar uma refeição e tentar se aproximar de mim, meu salvador, Thomas Wayne, dispensa a ajuda de uma doméstica e fica sozinho comigo na sala de jantar, se é que havia apenas uma.
— Casa grande - Comenta Penny surpreso.
— Um pouco - Declara o senhor Wayne observando as paredes - Meu bisavô construiu ela com esse tamanho todo. Antes dele, a casa tinha menos de um terço do tamanho.
— Ainda assim era maior que o quarteirão onde moro - Thomas fica sério, um pouco sem jeito - Foi uma piada - Os dois dão uma risada leve e logo Penny volta a comer, imerso em seus pensamentos.
— Comida boa - Comenta Thomas provando um pouco do mingau.
— Tem pelotas - Observa Penny com ironia - Já comeu alguma coisa que você mesmo fez?
— Nunca. Nunca precisei.
— Pensei que fosse isso - Penny se recorda da noite anterior e suspira - Obrigado por ter me ajudado na noite passada, senhor Wayne.
— De nada. Quando parei o carro, cheguei a pensar que estivesse morto.
— Já passei por coisas piores.
— Parece - Declara Wayne pensando um pouco no assunto - Você parece com alguém que já viu o suficiente desse mundo.
— Estive no Vietnã - Esclarece Penny lembrando de seus amigos, tanto os vivos quanto os mortos.
— A guerra vai terminar em breve.
— Mas aqui está apenas começando.
— O que está querendo dizer? - Questiona Wayne com uma expressão de desconfiança.
— A cidade está podre. Suja de cima a baixo, o crime existe e está infiltrado em cada traço da infraestrutura. Não consigo viver tendo que ver isso todos os dias.
— A cidade sofre. A pobreza, fome, essas coisas incentivam coisas piores.
— Falou como se todos os criminosos fossem pobres - Penny fica sério repentinamente.
— Tem os mafiosos, é claro - Completa Wayne passando a pensar antes de falar - Ricos que se aproveitam da situação dos outros, do desespero.
— Isso tenho que concordar.
— Mudando de assunto, senhor Pennyworth, trabalha?
— Trabalhava até me demitir ontem à noite.
— Por que se demitiu?
— Por que meu chefe é um corrupto que trabalha para um monte de bandidos - Thomas fica espantado e volta a comer - Mas vou conseguir um emprego logo, enquanto isso ajudo minha mãe com as tarefas de casa.
— Doméstico?
— Mais ou menos isso. Fazer esse tipo de serviço a vida toda me tornou um cara bem experiente na arte de dobrar cobertores, e dobro sete por dia - O senhor Wayne solta uma leve risada antes de perguntar:
— Mora com muitas pessoas, senhor Pennyworth?
— Algumas, a maioria crianças. Meu irmãos. E minha mãe.
— Muita gente para se sustentar com tão pouco dinheiro. Seu pai trabalha com o que?
— Meu pai foi embora quando eu era criança, deixando uma dívida para minha mãe pagar, assim como a casa.
— Me desculpe, não queria ser tão indelicado.
— Não tem problema. Qualquer um que viva com tanta propriedade e dinheiro não imaginaria que o resto do mundo seja o completo oposto.
— Não tenha tanta certeza. Eu tenho projetos que ajudam as pessoas mais carentes da cidade - Explica Wayne tentando se provar.
— Projetos lotados de corruptos que registram resultados e nada fazem de verdade para nos ajudar. Seus colaboradores provavelmente trabalham para o crime organizado.
— Me parece alguém por cima do crime, senhor Pennyworth - Observa Thomas impressionado.
— Uma das habilidades que adquiri indo para a guerra.
— Entendo. Deve ter sido muito difícil ir para o Vietnã.
— Eu pensava assim até voltar. Essa cidade está diferente, piorou muito nos últimos tempos - Wayne permanece em silêncio, então Penny pensa um pouco antes de continuar - Na minha opinião, poderia tentar melhorar o transporte. É muito difícil se locomover pela cidade, e ela é muito grande. O trânsito fica parado por horas.
— Pois eu tenho um projeto assim na minha empresa, só precisa de aprovação da diretoria e da parceria com o governo.
— Ou seja, mais dez anos de dificuldades - Comenta Penny terminando de comer seu mingau.
— Prometo que vou fazer o necessário para melhorar a cidade. Prometi isso quando voltei de minha última viagem à Europa.
— Então cumpra senhor Wayne. Essa cidade precisa de pessoas boas e cheias de dinheiro, por que das ruins já tem o bastante - Os dois caminham juntos até o estacionamento da mansão e Thomas pega um de seus carros, manobrando até onde Penny se encontrava.
— Eu te dou uma carona até o centro, pode ser?
— Eu pago se não se importar, senhor Wayne - Assim que o carro parte da mansão, Penny cutuca seu curativo nas costas e sente uma pontada atingir sua coluna - O senhor que me costurou?
— Eu mesmo.
— Além de empresário é médico?
— Sou o acionista majoritário e presidente da empresa, mas minha área de atuação é em medicina. Deixei algumas pessoas de confiança no comando.
— Eu já acho que é muito arriscado.
— Daria minha vida por Lucius Fox.
— Lucius Fox? - Questiona Penny surpreso - Lucius Fox? Conhece Lucius Fox?
— Conheço. Trabalha pra mim na Wayne Enterprises.
— Que virada de jogo - Comenta Penny espantado.
— O conhece também?
— É meu amigo. Estudou comigo até o fim do ensino médio, não o vejo desde que foi fazer a faculdade no exterior.
— Foi assim que conheci Fox - Explica Thomas com nostalgia - Ele trabalhava para uma subsidiária da empresa em Londres, onde conseguiu se tornar consultor de vendas em alguns meses. Juntos consolidamos a Wayne Interprises como principal produtora industrial do Reino Unido, então o trouxe para Gotham e o nomeei como diretor.
— Sabe onde ele está morando atualmente? - Pergunta Penny tomado de alegria.
— Tenho o número dele, se quiser ligar.
— Agradeço senhor Wayne - Assim que entrega o número a Penny, Thomas estaciona perto do centro da cidade, onde Penny desce ajeitando suas roupas.
— Já pensou em trabalhar como mordomo, senhor Pennyworth? - Pergunta Thomas observando o jovem com uma gravata borboleta dada pelo próprio médico, assim como uma camisa branca importada.
— Todo mundo adora tirar sarro de mim com essa piada - Esclarece Penny começando a rir.
— Quem sabe seja mais do que uma piada.
— Obrigado por tudo senhor Wayne, de verdade. Foi muito bom conhece-lo.
— Que isso - Exclama Wayne sorrindo - Eu que gostei de ter conhecido você, senhor Pennyworth.
— Pode me chamar de Alfred.
— Nome de mordomo já tem - Declara o doutor partindo em seu carro rumo ao hospital. Penny vai para a casa e, ao chegar, encontra sua mãe furiosa e preocupada.
— Tive de levar seus irmãos para a escola hoje - Ela observa verificando o estado de Penny - O que houve? Bebeu? Se entupiu de drogas?
— Nada disso mãe. Fui atacado na rua quando estava voltando, então fui socorrido e passei a noite sob o teto dessa pessoa.
— E quem seria essa pessoa? Posso saber?
— Thomas Wayne.
— Que sorte filho. Wayne é uma pessoa importante.
— Eu sei, mas achei ele muito cego quanto a nossa situação.
— Qual situação?
— A situação da cidade. Ele é uma boa pessoa, mas não tem noção alguma do que passamos todos os dias.
— E é por isso que digo para ter cuidado com esse trabalho. Eu sempre soube que trabalhar à noite em Gotham não era uma boa ideia - Ela pausa e pega o casaco de Penny - Seu pai sabia disso.
— É, mas meu pai não trabalhou por tanto tempo assim - Lembra Penny com raiva.
— É melhor não tocarmos nesse assunto, sim?
— É melhor - Concorda Penny tirando sua gravata - Mãe, eu tenho uma coisa para te contar.
— O que aconteceu? - Pergunta a mãe de Penny preocupada.
— Fui demitido.
— Meu filho - Ela abraça Penny, que suspira chateado antes de abraçar a mãe - Não se preocupe, vai dar tudo certo.
— Eu sei, mas ás vezes tenho minhas dúvidas.
— Em breve as coisas irão mudar, tenho certeza.
— Mãe, eu tenho de fazer uma ligação, se importa?
— Sobre o trabalho?
— Não, tem um amigo que não vejo há muito tempo e consegui o telefone dele com o senhor Wayne.
— Eu conheço esse amigo?
— Lucius Fox - Depois de muitas tentativas frustradas, Penny decide ligar mais tarde, então ajuda a mãe a organizar a casa e em seguida busca seus irmãos na escola. Durante o resto do dia, Penny busca trabalho em diferentes lugares, voltando para a casa tarde. Ao passar por uma esquina movimentada, Penny vê um pouco longe alguém que pensava que jamais voltaria a ver.
— Betty - Chama Penny se aproximando da jovem.
— Senhor Pennyworth.
— Não achei que voltaria a vê-la - Confessa Penny meio sem tato.
— Eu também achei - Confessa Betty abrindo um sorriso.
— Como vão as coisas?
— O de sempre, e você?
— Fui demitido.
— Nossa, como aconteceu?
— Quer dizer, me demiti ontem - Se corrige o jovem, fazendo a garota ficar mais surpresa do que estava.
— Por que fez isso?
— Queriam que eu me envolvesse com o crime, eu disse não e pedi demissão.
— E sua família? Como fica?
— Minha já sabe, mas passei o dia procurando emprego, não vou demorar para encontrar outro, afinal, sei fazer de tudo um pouco.
— E ainda por cima ajuda as pessoas, você é praticamente perfeito, Pennyworth.
— Dizem que sou temperamental.
— Isso metade do mundo é.
— Onde estava indo? - Pergunta Penny com curiosidade.
— Procurando um lugar para dormir, as coisas não andam fáceis - Penny pensa por alguns instantes, então resolve perguntar.
— Se não se importar, poderia dormir na minha casa.
— Não me importo, mas me pergunto se isso é excesso de cavalheirismo ou se existe alguma intenção por trás.
— Minha única intenção é ajudar quem precisa - Declara Penny com sinceridade, embora ele próprio soubesse que havia uma pitada de intenção em sua proposta.
— Então eu aceito. Aproveite o tempo e me conte como foram seus primeiros e curtos dias de trabalho.
— Se não se importar - Os dois conversam durante todo o trajeto, levando quase meia hora para chegar na casa. Ao entrarem na residência, a mãe de Penny o olha com uma expressão duvidosa.
— Então é assim que o senhor procura emprego? - Ela olha para Betty e sorri - Sem ofensas, minha querida.
— Que isso, senhora. Se eu fosse me ofender com qualquer coisa nunca teria onde dormir.
— Então veio passar a noite aqui?
— Não pretendo abusar da hospitalidade - Afirma Betty tirando o casaco.
— Fique à vontade - Penny é puxado de canto pela mãe até a cozinha, então ela encara o filho preocupada.
— Tenho algo a te dizer, Penny.
— O que foi mãe?
— Acho que seu irmão está envolvido com gente errada - Penny se lembra da última conversa que teve com o irmão e, embora sua mãe não soubesse, ele tinha pleno conhecimento de que seu irmão andava com pessoas erradas há muito tempo, mas ele esperava que isso tivesse terminado.
— Que história é essa?
— Não sei, mas vi Jammie conversando com três garotos surrados hoje de tarde.
— Quer que eu fale com ele?
— Amanhã. Não quero que sua convidada veja uma discussão sem necessidade.
— Mãe.
— Eu não nasci ontem, Alfred Pennyworth - Ela se dirige ao quarto dela e encara Betty com um último sorriso - Boa noite moça.
— Boa noite senhora Pennyworth.
— Qual é seu nome mesmo?
— Betty Rogue.
— Ah sim, boa noite Betty - Enquanto Penny preparava o jantar, Betty o observava com uma admiração em particular.
— Então o senhor Wayne em pessoa deu essa camisa charmosa de quinhentos dólares?
— Foi.
— Ricos imprestáveis - Reclama Betty repleta de indignação.
— Ele parece ser diferente. Tem uma ideologia muito boa.
— Todos parecem ter, até nos roubar o pouco que temos.
— Tenho minhas dúvidas também, mas ele não parece tão - Ele pausa para pensar na palavra certa, mas não a encontra - Rico - Betty sorri e balança a cabeça frustrada, antes de se dirigir à sala e começar a olhar as fotos das estantes. Enquanto comiam macarrão com molho, os dois conversaram mais ainda, e mesmo assim Penny não parecia saber nada a respeito de Betty.
— Esse macarrão ficou uma delícia, Pennyworth. Não imaginava que cozinhasse tão bem.
— Aprendi com a minha mãe.
— Quem dera a minha tivesse tido esse tipo de preocupação.
— Onde ela mora?
— Ela morreu há três anos - Responde com frieza.
— Meus pêsames.
— Não precisa disso, ela nunca me tratou muito bem. Da última vez que nos falamos ela discutiu comigo e nunca mais olhou na minha cara.
— O que houve?
— Algumas pessoas simplesmente não nos aceitam como somos.
— Eu aceito - Betty sorri e segura a mão de Penny, que também abre um sorriso.
— Você não sabe nada sobre mim ainda - Revela com orgulho.
— Uma hora você conta.
— Quando?
— Quando deixar de sentir vergonha - Responde Penny aproximando-se da jovem.
— Acha que eu tenho vergonha?
— Não sei - Ele coloca a mão no pescoço de Betty - Tem? - Os dois se beijam um pouco e logo esquecem de terminar de comer. Pouco tempo depois os dois estavam deitados no quarto de Penny, ele acariciando o corpo dela enquanto a jovem apagava a luz do abarjur velho que Penny ostentava.
— Boa noite.
— Boa noite - No meio da madrugada, certificando-se de que todos estavam em sono profundo, Betty se dirige à sala e começa a encher sacos com objetos à mostra nos móveis e sai da casa encontrando dois amigos parados em frente ao prédio.
— Foi rápida - Declara o primeiro.
— E eficiente - Ela entrega os sacos aos dois e observa o prédio uma última vez antes de entrar no carro do trio.
— Como eu disse Pennyworth, você não sabe nada sobre mim - O carro vai embora depressa e, enquanto os três marginais se dirigiam ao outro lado da cidade, Penny dormia em sono profundo, alheio ao assalto que tinha acabado de acontecer.



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