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História Algo a Temer - Um Fio de Esperança


Escrita por: LFAL

Notas do Autor


Finalmente uma notícia boa dentre os sobreviventes!

Capítulo 17 - Um Fio de Esperança


- Capítulo Dezessete

 

“Um Fio de Esperança”

 

 

 

       

            Dois dias se passaram desde que os três rapazes saíram em busca do grupo da rádio.

            As transmissões também pararam e a última coisa que restava era a esperança de vê-los voltando.

            Amanda e Carla assumiram as responsabilidades de liderar aquele pequeno e conturbado grupo.

            Várias melhorias foram feitas no condomínio nesse meio tempo, pois se não tivesse o que fazer, o povo acabaria se matando de tédio e tristeza.

            O portão principal do condomínio foi substituído por um novo (que anteriormente estava em uma das casas), a despensa da residência onde moravam agora servia para armazenar as armas que tinham e, por fim, tinham vasculhado a maioria das moradias restantes.

            - Olá, Carla! – cumprimentou Amanda, sentando na cadeira do terraço ao lado da amiga.

            Carla não estava feliz, e tentava esconder aquilo a todo custo.

            - Oi. O que vamos fazer hoje?

            - Vamos terminar de vasculhar as casas restantes... – respondeu a médica, cabisbaixa também.

            - Eu acho que eles estão vivos. Anteontem um sinalizador foi disparado no céu e...

            Carla foi interrompida.

            - Não podemos criar tantas expectativas assim. Eles foram por conta própria e disseram que voltariam no mesmo dia! Já se faz 48 horas desde que tudo aconteceu! Eu realmente não sei como lidar com isso, mas... acho que agora é cada um por si. Perdemos ótimos homens. Guerreiros dignos de respeito. Contudo a vida é assim agora: uma desgraça! Eu realmente queria ter tido mais tempo com Isaac, eu queria tê-lo beijado mais, ter dito o que sentia, abraçado ele... e você não imagina o quanto eu estou arrependida... – disse Amanda Nakamura, deixando as lágrimas cair sobre o colo.

            - Eu estava com um pressentimento ruim... essa chuva toda e as trovoadas intensas... um temporal fora de época! A enchente inundou todas as áreas ao redor do rio! E a Cohab I fica na parte mais baixa de Palmares... meu Deus! O que é que aqueles homens tinham que fazer ali? Por que essa vontade de demonstrar heroísmo? Por quê? – reclamou Carla, com razão.

            Um silêncio horrível abateu as duas.

            Tanto Carla quanto Amanda ficaram por vários minutos perdidas nos pensamentos, imaginando se eles tinham escapado e como, mesmo no fundo sabendo que seria quase impossível se safar daquela situação.

            - Ontem, quando pegamos a SW4 e fomos até lá... eu não imaginava que o rio tinha subido tanto, a ponto de inundar até mesmo a rodovia! Agora o que martela minha cabeça é: quem disparou o sinalizador no céu? Se foram eles, por que isso? Se perderam? Se separaram? O que será que houve? – aquelas perguntas sem respostas magoavam Carla.

            - Eu daria tudo para saber o que realmente houve... no momento em que a água abaixar, vamos nós duas até a cidade conferir! O tempo está passando muito devagar... eu não sei se aguento mais essa sensação de incerteza! – falou Nakamura, roendo as unhas.

            As duas mulheres não sabiam mais o que fazer.

            Só o que restava era esperar.

            Mas esperar quando se está ansioso se torna uma tarefa mais difícil do que o normal.

            Sarah estava na cozinha, fazendo o almoço junto com Maria e Luíza.

            - Lasanha de atum. É o que temos pra hoje! Pela milésima vez! – reclamou Luíza, suspirando de tristeza.

            - Agradeça porque ainda temos comida! Eu queria muito também mudar e comer uma lasanha de frango ou carne, mas a energia acabou e todos os mantimentos que necessitavam de refrigeração apodreceram... só o que sobrou foi atum, sardinha, algumas bandejas de ovos, queijo ralado, enlatados etc. Eu juro como mataria por uma galinha! – afirmou Sarah, acendendo o forno manualmente e pondo o imenso recipiente com a lasanha crua lá dentro.

            - Ainda temos muito luxo, pois comer lasanha pós apocalíptica não é pra todo mundo não! – brincou Maria, tentando soar engraçada, mas se saindo muito mal.

            - É... mais ou menos isso! – disse Luíza, franzindo o cenho enquanto lavava as mãos.

            Maria estava superando a morte do marido.

            Ela tinha voltado a conversar mais, interagindo com os membros mais distantes como Júlia, Luíza, Sarah, Gilberto etc.

            Isso era bom, pois se ela quisesse continuar viva, precisaria criar mais laços de amizade.

            Ali todos estavam se tornando uma grande família de pais e mães diferentes.

            A sensação de união por uma causa maior estava aumentando no fundo de cada um, ao qual começaram a aprender a se respeitar e valorizar.

            A união do grupo era a diferença entre sobreviver ou morrer.

            E eles precisavam se unir para superar os obstáculos desse novo mundo complicado.

...

 

            - Luiz! A água está abaixando! – avisou Bruno, olhando por cima da varanda.

            - Graças a Deus! A chuva parou desde ontem cedo, mas o céu continua nublado.

            Luiz Araújo ainda estava com a mesma roupa desde que tinha chegado ali. Sua maior vontade no momento não era voltar para casa. Era tomar um longo banho demorado.

            - Eu vou descer e ver se já dá pra caminhar nessa correnteza, se eu conseguir, será o momento certo para ir embora daqui com todo mundo! –avisou ele, descendo as escadas o mais rápido que podia.

            Lucas, Gabriela e Luana estavam na varanda também, esperando ansiosamente por uma notícia boa do homem.

            O pessoal restante estava distribuído pela sede da rádio: alguns estavam na sala de reunião, outros nos cantos mais reservados e os últimos em uma pequena salinha, onde ficava o editor de som.

            As roupas de Luiz estavam fedendo a lama suja, e a única coisa que ele podia fazer era aguentar até voltar para o condomínio e jogá-las fora.

            - E aí? – perguntou Bruno, esperando na varanda.

            Luiz desceu para o térreo e surpreendeu-se com a quantidade de lama e lixo que a água do rio trouxe para dentro da sede.

            Se ali estava daquele jeito, imagina as ruas, com os corpos dos infectados apodrecendo e tudo mais?

            Isso definitivamente era uma pergunta que Luiz não queria saber a resposta, mas que conheceria logo mais.

            - A água não está muito profunda! Creio que dá pra atravessar! Essa enchente não foi da proporção da que houve em 2010! Sorte a nossa! – falou o rapaz, percebendo que a água tinha diminuído um pouco, dando para atravessar com o nível no peitoral.

            Bruno reuniu todos os sobreviventes e desceram a escadaria.

            - Você tem certeza que a correnteza não está muito forte? E essa água barrenta aí? Deve estar cheia de doenças e bichos! – reclamou Ana, olhando para o salão do térreo da sede da rádio com nojo.

            - A nossa comida acabou. A água potável também. Ou morremos de fome e sede ou tentamos fugir para um lugar melhor. Alguém tem outra ideia? – disse Luiz, chateando Ana pela grosseria.

            O silêncio permaneceu.

            - Bem... garanto que lá no condomínio vocês terão comida e camas confortáveis! Mas o caminho até lá é longo, melhor nos apressarmos!

            O grupo desceu até o térreo com cautela, entrando na água lamacenta com muito nojo e medo.

            Luana e Gabriela até chegaram a chorar por estar naquela situação.

            - Calma, meninas. Chorar vai adiantar de quê? Todos estamos na mesma situação de merda! Mas isso vai passar! Espero que na sua casa tenha um ótimo chuveiro, Luiz Araújo! – falou Ana, acalentando as duas mulheres.

            Célia não aguentou o cheiro forte de esgoto e vomitou na água.

            Lucas e Pedro foram até ela e começaram a carregá-la.

            - Está tudo bem? – perguntou Bruno, aproximando-se deles.

            - Nós cuidamos da Célia! Só mostrem o caminho! – respondeu Lucas Henrique, acenando positivamente.

            A quantidade de entulho no terraço da casa em que estavam era inacreditável.

            As paredes estavam manchadas, a água barrenta, lixos e pedaços de móveis jogados por todos os lugares e, para piorar, a porta de entrada emperrou.

            “CREK”

            Luiz e Bruno deram algumas pancadas na porta, que tinha sido aberta pelo negro alto com a chave que ele tinha encontrado.

            Ao abrir com dificuldade, a porta revelou uma cena traumática:

            As ruas estavam tomadas pelo rio. Vários entulhos de móveis, carros abandonados e objetos, a correnteza arrastando aos poucos a imensa quantidade de lixo e centenas de cadáveres boiando enquanto eram guiados pela água.

            - Meu Deus... – exclamou o padre Sandro, boquiaberto.

            - Isso é o fim dos tempos... o que será que houve? Os anjos nos abandonaram? Ou Deus tem um plano maior para todos nós?

            Os membros do pequeno grupo se entreolharam, assustados.

            - Padre... se o senhor não sabe dessa resposta, quem dirá nós! – comentou Luiz, segurando firme a pistola com a mão direita.

            - Bem pessoal, vamos seguindo com cautela e silêncio! A maioria dos infectados foram mortos, isso é um fato, mas ainda tem centenas escondidos pelas casas, não queremos nos complicar, certo?

            - Certo! Nisso você tem total razão!

            Os treze sobreviventes continuaram caminhando lenta e cuidadosamente pela correnteza, tentando se manter o mais próximo possível dos muros das casas.

            Eles teriam um longo caminho a seguir.

            Com vários problemas, obviamente.

...

 

            Isaac estava com muita fome.

            Ele não comia nada já fazia doze horas.

            - Meu Deus... eu preciso voltar! As coisas podem ter desandado lá no condomínio... talvez Luiz e Paulo tenham tido problemas ou até mesmo não sobrevivido! São infinitas possibilidades... e que fome da porra! Eu preciso manter minha cabeça no lugar! – disse ele, olhando pela janela pela qual tinha entrado dois dias atrás.

            A casa em que Isaac estava era de primeiro andar, com dois pequenos quartos, um banheiro e um corredor, tudo na parte de cima. No térreo ele ainda não tinha ido, pois estava inundado.

            O nível da água tinha diminuído bastante, e o militar sabia que precisava agir.

            Isaac não conseguia parar de se culpar pelo o ocorrido, mas qualquer militar na posição dele teria feito o mesmo...

            Ou não.

            Que tinha sido imprudente isso era verdade.

            Mas o que outra pessoa pensaria? Era uma mulher chorando! Ele imaginou qualquer coisa menos um tipo especial de infectado!

            Contudo não adianta chorar pelo leite derramado, o militar precisava sair dali e tentar remediar os seus erros. E sua próxima parada seria a sede da rádio.

            - Se Luiz e Paulo conseguiram ou não eu vou descobrir agora... que Deus me ajude! – pediu ele, nervoso.

            O militar começou a descer as escadas internas da casa, caminhando lentamente até o portão de entrada da residência.

            O que ele não imaginou era que estaria fechado.

            - Merda!

            Isaac vasculhou a casa inteira e viu que sua única saída era sua primeira entrada: a janela.

            Ele já estava com o ferimento bem melhor, porém não deveria fazer tanto esforço, ou machucaria o antebraço ainda mais.

            Isaac pegou a mochila e conferiu o que tinha dentro dela: uma garrafa de água pela metade, uma faca de combate que ele havia adquirido no exército e o último pente de munição.

            - Já está mais que na hora de voltar pra casa! – disse ele para si mesmo, ansioso.

            O militar foi até a janela e olhou para baixo.

            A única visão que tinha era o muro que dividia a propriedade das duas casas e a água que ainda estava com o nível alto.

            Se caísse ali dentro não saberia se se machucaria ou não.

            O melhor a fazer era pular de volta para o telhado em que ele estava antes de chegar ali.

            Isaac olhou para a janela do pequeno depósito em que estava antes de se jogar no telhado e viu que muitos infectados ainda estavam ali, só que calmos.

            Eles praticamente hibernavam.

            Os monstros estavam de pé, calados e totalmente parados, sendo seus únicos movimentos a respiração e alguns tremores nas mãos.

            Aquela cena era perturbadora.

            Só de imaginar que aquilo antes era uma pessoa normal, com família e amigos entristecia ele.

            - Meu Deus...

            Isaac decidiu não pensar mais sobre aquilo e voltou a visão para o telhado em que iria pular logo em breve.

            O rapaz subiu na janela, apoiou os dois pés na beirada e se jogou.

            Mas é claro que aquilo daria errado.

            “TUUUMP”

            Isaac, ao efetuar o pulo, caiu de pé em cima do frágil telhado da residência vizinha, fazendo-o ceder e não suportar seu peso.

            - POOOORRA!

            Ele caiu de costas em cima das telhas, que quebraram e levaram-no de encontro ao chão do interior da casa.

            “SPLAASH”

            Por sorte a moradia também estava inundada e aquilo amorteceu sua queda, a qual fez desabar metade do frágil telhado.

            Agora Isaac estava preso no meio das telhas soltas e ripas de madeira.

            Ele não conseguia enxergar nada dentro d’água, e só sentia que alguma coisa tinha prendido sua perna direita.

            O militar puxou o membro duas vezes com força e conseguiu se soltar, voltando à superfície.

            - GAAASP!!!

            Ele subiu desesperado por falta de oxigênio, e antes que pudesse preencher seus pulmões com ar, ganhou outro problema para lidar.

            “ROAAARG”

            Os infectados que estavam adormecidos no depósito do primeiro andar, começaram a pular na direção dele.

            Agora o muro divisório tinha sido destruído pela queda do telhado, inundando-se junto com os escombros.

            Vários monstros começaram a cair na água. Os primeiros quebraram as pernas ao bater nos escombros submersos enquanto que outros amorteceram o impacto caindo por cima dos outros doentes.

            Ele definitivamente estava com problemas.

            - MERDA! – xingou Isaac, colocando a mão atrás da calça para procurar a pistola.

            Mas cadê a arma?

            - Eu não acredito nisso!

            Exatamente: para piorar sua situação, ele tinha perdido a Glock.

            Isaac rapidamente abriu a bolsa à procura da faca de combate.

            Ele puxou-a e se preparou para se livrar dos inimigos.

            - VENHAM!

            O primeiro monstro a alcança-lo veio aos tropeços e foi abatido facilmente com um golpe fatal no crânio, morrendo na hora.

            O segundo segurou a manga direita da camisa de Isaac, quase obtendo sucesso ao tentar mordê-lo.

            - SAI!

            O militar esfaqueou três vezes o abdômen do doente, e depois empurrou ele para o lado.

            A água estava na altura do peitoral de Isaac, e isso dificultava muito seus movimentos.

            Mais oito infectados pularam da janela, começando a vir na direção dele.

            Agora o melhor a se fazer era sair dali.

            Isaac tentou andar o mais rápido possível até a entrada da casa.

            Os escombros atrapalhavam mais ainda a movimentação, fazendo os pés do homem escorregar por entre os entulhos.

            O melhor jeito de escapar dali seria nadando, e foi o que ele fez.

            O militar pegou impulso e começou a nadar, afastando-se dos monstros com facilidade.

            A correnteza não estava muito forte, mas atrapalhava.

            No ritmo em que ele ia, iria demorar quase meia hora para alcançar a sede da rádio, além de esgotar quase por completo suas energias.

            “Eu preciso chegar lá! Não vou desistir agora” pensou ele, tentando se motivar a cada braçada que dava na água barrenta.

            Isaac continuou nadando até conseguir alcançar o seu objetivo, que não era mais o de escapar, e sim o de encontrar seus amigos e o novo grupo.

            O que atormentava ele era a possibilidade de não achar nenhuma das duas alternativas.

            Pelo menos o pior já havia passado.

...

 

            Bruno carregava sua filha em cima dos ombros, enquanto que o padre fazia o mesmo com Eduardo, sobrinho de Célia.

            A correnteza ainda estava forte, e isso incomodava os mais fracos, que sentiam dificuldades de se manter em pé.

            Lucas e Pedro continuaram ajudando a grávida e o restante foi com suas próprias pernas.

            - Se passarmos por essas ruas encontraremos a ponte que dará na entrada principal de Palmares, depois vamos seguir caminho até a rodovia, que provavelmente não está muito inundada. De lá em diante tudo fica mais fácil, pois o risco de dar de cara com infectados é bem ameno! – citou Luiz, enquanto que andava cautelosamente por entre a água barrenta.

            - O segredo é manter as vozes baixas, ter paciência e tudo ocorrerá corretamente! Eu sei que não estamos tão perto assim, mas essa caminhada seria mais desagradável ainda com monstros nos nossos encalços! – disse Bruno, enquanto que segurava sua filha.

            O grupo se manteve unido e avançando aos poucos.

            As ruas longas e largas estavam com vários tipos de destroços: carros abandonados, árvores derrubadas, vidros espalhados na água, madeiras velhas, latas de lixo boiando, sacolas plásticas, pneus e dezenas de corpos.

            - Eles estão mortos? – indagou Luana, muito pálida.

            Luiz tinha certeza que sim, principalmente ao sentir aquele forte odor de podridão.

            - Sim. Ao que parece os infectados são como nós em alguns aspectos: eles precisam respirar. Esses aí provavelmente morreram afogados, pois a meu ver, nenhum deles sabia nadar, o que é ótimo! – respondeu Luiz, mantendo as mãos acima da cabeça para não molhar (ainda mais) sua pistola.

            As pessoas continuaram caminhando lentamente o mais próximo do muro das casas da direita, querendo evitar os buracos formados pelos bueiros e também os destroços que eram levados pela correnteza.

            Por sorte a maioria dos sobreviventes estava de sapatos, o que não era o caso de Luana e Gabriela, que usavam sandálias.

            - Maldito dia que decidi sair de casa de havaianas... puta que pariu! – resmungou a morena, aparentemente nervosa.

            - Eu também vim de sandálias e nem por isso estou reclamando! Tente manter sua voz baixa, ok? – falou Luana para Gabriela, em um tom nada amigável.

            - Ai que nojo...

            Eles passaram por várias ruas até encontrar um cruzamento.

            - Estão vendo? – perguntou Luiz, apontando para as casas próximas.

            - O que foi?

            - Todas essas residências têm primeiro andar, ou senão a maioria delas. O que isso significa? Infectados. Como eu disse anteriormente, eu e meu amigo Paulo vimos centenas deles pulando das partes altas. Provavelmente tentaram escapar da inundação, se escondendo em locais mais seguros... Então vou repetir: mantenham suas vozes baixas e antes de qualquer coisa entendam que a união faz a força! Se algum problema surgir, tentem se manter perto um do outro. Bruno e Sandro são responsáveis pelas crianças. Pedro por Célia. Lucas vai me ajudar a proteger o grupo se algo surgir, e o restante fiquem juntos! – afirmou.

            Lucas imediatamente entregou Célia (que não estava nada bem) aos braços de Pedro e se aproximou de Luiz Araújo.

            - Se Deus quiser tudo vai dar certo, vamos! – disse ele, cuspindo um pouco da água barrenta que tinha entrado em sua boca.

            - Eca, velho... essa merda tem gosto de lavagem de porco! – falou Lucas Henrique, enojado.

            - Eu nunca comi lavagem de porco pra saber o gosto. Você já? – brincou Luiz, sorrindo.

            O garoto de 19 anos deu uma leve tapinha nas costas do rapaz e os dois sorriram.

            Ali estava surgindo aos poucos uma amizade.

            Os únicos que se aproximaram de Luiz Araújo durante os dias em que ele ficou ilhado na sede da rádio junto com o grupo foram Bruno e Lucas.

            - Se pegarmos à esquerda aqui e depois à direita, chegaremos na ponte. Vamos tentar aumentar os passos, beleza pessoal? – pediu Bruno, que mesmo levando uma carga extra nas costas, parecia não cansar.

            - Você está bem, amorzinho? – cochichou o fortão para sua filha.

            - Sim, papai. Eu gosto muito de perceber as coisas, sabe? E no fundo vejo que esse Luiz é um cara legal. Ele parece sempre estar tentando ajudar, gosto disso nas pessoas! – comentou a garotinha, que para a sua idade já era bastante inteligente.

            - Sim filha, eu também gosto dele. Mas mantenha seus olhos abertos a tudo e qualquer coisa, ok? Se perceber algo de estranho quando chegarmos lá, me avise! Não deixe nada passar!

            A menina acenou com a cabeça e deu um beijo no meio da cabeça do pai.

            Bruno abriu um leve sorriso e continuou caminhando.

            A correnteza definitivamente estava diminuindo.

            Os destroços e entulhos não se arrastavam mais pela água com tanta facilidade e os corpos dos infectados sempre se prendiam em veículos abandonados ou muros.

            O pequeno grupo virou à esquerda na rua, e quando chegaram na entrada da direita, Gabriela soltou um grito estonteante.

            - AAAAAH!

            - Mas que merda! O que foi isso? – indagou Luiz Araújo, revoltado com a idiotice da mulher.

            - Me desculpem, me desculpem! Eu pisei em alguma coisa que se mexeu! Mas foi impressão minha! Na verdade parecia ser uma mão... meu Deus! Eu não quero andar descalça aqui! Meu senhor! – afirmou ela, com as mãos tremendo.

            Luiz sabia que aquele grito não iria passar por despercebido.

            “CRAAASH”

            Um barulho de vidro quebrando ecoou por toda a rua.

            Alguns infectados, que provavelmente foram alertados pelo grito, se arremessaram contra uma imensa janela de vidro que tinha no primeiro andar de uma das casas.

            O pior de tudo era que nessa casa não havia muro.

            - LUIZ! E AGORA? – perguntou Sandro, tropeçando e quase derrubando o pobre Eduardo.

            - AFASTEM-SE QUE EU E LUCAS VAMOS DAR CONTA DELES! – afirmou o rapaz, segurando firme a pistola Imbel GC.

            - NÃO ATIRE! MAIS SERÃO ATRAÍDOS PARA CÁ! – disse Lucas, cerrando os punhos e se preparando para o combate corpo a corpo.

            - Que merda... – xingou Luiz, preocupado por saber que não se dava muito bem em uma luta corporal.

            Contudo ele tinha que estar pronto para qualquer coisa.

            Seis infectados vieram na direção dos dois rapazes, extremamente irritados.

            O primeiro deles levou um soco violento no meio do rosto, efetuado por Lucas, que logo após isso, disparou um cruzado de esquerda bem forte na orelha do monstro.

            O segundo infectado partiu para cima de Luiz, que estava impossibilitado de atacar com as pernas, só dispondo dos dois braços para isso.

            “SOCK”

            O monstro distribuiu golpes desesperados na cabeça de Luiz Araújo, que recuou um pouco e acertou um belo soco no meio dos dentes do doente.

            - NÃO DEIXE QUE TE CERQUEM! – avisou Lucas, empurrando para o lado outro infectado.

            Mas já era tarde demais.

            Enquanto que o grupo olhava os dois sendo atacados pelos seis monstros sem fazer nada para ajudar, Luiz e Lucas tentaram se defender de todas as maneiras possíveis.

            Lutar já era algo cansativo, e com mais da metade do corpo submerso na água então...

            Os ombros de Luiz Araújo começaram a latejar de dor.

            Ele não conseguia dar um fim em um monstro sem uma arma contundente ou sua pistola.

            O melhor que podia fazer era golpear a se afastar para não tomar uma saraivada de murros desgovernados.

            Lucas mal tinha percebido, mas deixou-se cercar.

            Quatro infectados partiram para cima do rapaz, tentando mordê-lo a todo custo.

            - LUCAAS!

            Luiz fez uma finta para o lado e conseguiu ludibriar um infectado com aquele movimento de corpo, fazendo-o cair dentro d’água enquanto tentava atacar o homem.

            Ele nadou o mais rápido que podia para perto do amigo e empurrou o monstro mais próximo do garoto.

            - AAH! – urrou Lucas Henrique, acertando vários golpes no infectado e derrubando-o logo em seguida.

            Por um segundo de desatenção, alguma coisa agarrou o calcanhar direito de Luiz e puxou ele para baixo d’água.

            - PORR...

            “SPLASH!”

            Luiz Araújo estava submerso e tentava a todo custo chutar o que quer que tenha agarrado ele.

            O que antes era somente uma mão em seu calcanhar, transformou-se em duas.

            O desespero começou a subir à sua cabeça.

            Ele sabia que era preciso somente um erro. Um único erro para tudo ir por água abaixo.

            A mordida dos infectados tinha se mostrado fatal.

            Ele não podia deixar aquilo acontecer consigo mesmo.

            Luiz ainda chegou a sentir alguns dentes tocando a superfície de sua pele por cima da calça jeans que ele usava.

            Seu fôlego era pouco, mas a vontade de viver ultrapassava qualquer coisa.

            O homem não tinha mais o que fazer, a não ser afundar ainda mais e agarrar o que quer que esteja tentando atacá-lo.

            E foi isso que ele fez.

            Luiz Araújo escapou por pouco das presas do monstro e segurou-o pelos cabelos, afastando de sua perna.

            - AAARGH... – urrou ele, ao subir à superfície, desesperado por oxigênio.

            O infectado que anteriormente tinha sido enganado por uma finta de corpo do próprio Luiz era o mesmo que quase conseguiu morder sua perna.

            Por pouco o rapaz não tinha sido infectado.

            - FILHO DA PUTA! – gritou Araújo, muito irritado.

            “SOCK! SOCK! SOCK!”

            Luiz estava fora de si.

            Talvez o medo de se tornar um daqueles monstros subiu à cabeça dele.

            O homem desferiu um, dois, três, quatro e cinco socos com a mão direita no rosto do infectado, enquanto que com a esquerda segurava os cabelos do monstro.

            O nariz do doente afundou, enquanto que da boca espatifavam-se vários dentes, que cortaram de leve a mão de Luiz.

            - Uff... uff... acabou? – perguntou ele, sem se dar conta do que tinha acontecido ao seu redor.

            - Acabou sim. E pelo visto você está se virando bem sem mim, não é, parceiro? – disse uma voz familiar, que atraiu a atenção de Luiz Araújo.

            O que ele estava vendo não parecia ser real.

            As emoções quase o fizeram explodir de alegria.

            Fazia muito tempo que ele não sabia o que era uma surpresa agradável.

            Paulo estava ali, de pé, ao lado de Lucas, todo sorridente e com uma imensa cicatriz no rosto, que ia da sobrancelha esquerda, passava pelos lábios, e terminava no queixo.

            Mas isso não importava.

            Ele tinha sobrevivido!

            - PAULO! COMO...? COMO... PUTA QUE PARIU, CARA! – exclamou Luiz, muito alegre.

            - Também é bom te ver, meu velho! – disse o grandalhão, com os cabelos loiros ensopados.

            Os dois se abraçaram forte.

            Toda a culpa que Luiz estava sentindo pela suposta morte do amigo tinha se esvaído naquele exato momento, o que foi bom para seu astral.

            - Tá bom! Agora vamos parar de viadagem! – brincou Paulo, ainda sorrindo.

            - Eu não sabia que vocês se conheciam... – falou Lucas, tirando o excesso de água da frente dos olhos.

            - Esse é o Paulo de que falei. Não sei se você lembra, mas eu pensei que ele havia morrido na hora que fomos para debaixo do carro... não gosto nem de me lembrar da agonia que senti ali embaixo... meu Deus!

            O resto do grupo finalmente veio para perto dos três rapazes, sem entender nada.

            - Quem é ele? – perguntou Bruno, apreensivo.

            - Paulo, um dos meus amigos desaparecidos! – respondeu Luiz, feliz diante daquela situação.

            - Que bom que se reencontraram, mas lamento estragar todo o clima e tal... Nós ainda estamos no meio da rua, e esses seis infectados não foram os últimos! Precisamos ir embora o mais urgente possível! – afirmou Bruno, tentando ao máximo não soar desagradável.

            - Eu entendo. Tem razão. Em casa você vai me contar como conseguiu sobreviver, por que puta merda meu amigo! Depois que levantei não te vi e tinha aquela imensa horda lá e... porra! Foda-se isso! Vamos embora daqui logo!

             - Ótima ideia! – argumentou Paulo, segurando firme um facão enferrujado cinzento.

            - Você viu Isaac? – indagou Luiz, preocupado.

            - Não... e acredito que se ele estiver vivo, vai dar um jeito de se safar! Isaac é esperto e já passou por muito mais que todos nós! Eu creio que ele vai conseguir...

            - Se Deus quiser, cara... se Deus quiser... – afirmou Luiz Araújo, caminhando com Paulo de um lado e Lucas do outro.

            O grupo finalmente retomou a caminhada.

            Os sobreviventes seriam ótimas adesões para o pessoal do condomínio.

            Quanto mais pessoas vivas, mais se aumenta a esperança de reconstruir a vida como era antigamente.

            O que eles não imaginavam era que nada seria como antes de novo.

            Muita coisa tinha mudado, e as mudanças não haviam parado por ali.

            Definitivamente aquelas pessoas seriam importantes para a tentativa de reconstrução da humanidade, mas muitas delas iriam ser sacrificadas no processo.

            Esse foi o primeiro passo do recomeço.

 


Notas Finais


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Desde já obrigado!!!


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