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História Algo a Temer - Voltando para Casa


Escrita por: LFAL

Notas do Autor


Agora eles estavam voltando para casa, e o grupo ficando mais numeroso!

Capítulo 18 - Voltando para Casa


- CAPÍTULO DEZOITO

 

“VOLTANDO PARA CASA”

 

 

 

 

         Todos os sobreviventes do condomínio estavam reunidos na área gourmet.

            Alguns comiam, outros apreciavam livros e os restantes ficavam olhando para o nada.

            A preocupação tinha inundado a cabeça deles, fizeram até uma votação para ver se tomavam alguma atitude sobre a demora dos três rapazes ou não.

            E venceu a opção mais provável: esperar e rezar.

            Já tinha chegado a tarde do segundo dia desde que tinham ido resgatar o grupo da rádio, e o combinado foi voltar em no máximo 24 horas.

             Definitivamente os homens estavam em apuros, e a sensação de impotência que os membros restantes sentiam era horrível.

            Amanda convidou Carla, Sarah e Júlia para uma partida de dominó, que encontraram em uma das gavetas da casa. Elas aceitaram de bom grado e foram mais no intuito de ocupar suas mentes.

            Gilberto estava sentado em uma cadeira de plástico perto das mulheres, segurando um violão que havia encontrado enquanto vasculhava as outras residências. Luíza se aproximou do homem e sentou na mureta do bar da área gourmet.

            - Está um tédio desgraçado... além de toda a preocupação que assola a gente. Você poderia tocar algo agradável? – pediu a garota, balançando as pernas.

            - Eu adorava tocar na minha fazenda. Acordava de seis horas da manhã, tomava meu bom café quente e ia para o terraço. Pegava meu violão e dedilhava as cordas até cansar... como eu era feliz e não sabia! Por isso devemos agradecer a cada minuto de vida dado por Deus! Também perdi muito tempo fumando e bebendo, se eu soubesse tinha abandonado esses vícios o quanto antes e gastado meu pouco dinheiro viajando por aí... mas agora é tarde para reclamar! – confessou ele, que não tinha tanta idade assim, mas aparentava ter mais de cinquenta anos.

            - Bem... se é assim então toque! Alegre nosso dia! – pediu Luíza, vendo que enquanto balançava as pernas, seus cadarços haviam desamarrado.

            - Não ria da minha voz... o cigarro desgraçou com ela, mas eu cantava bem na minha época. Cheguei até a ganhar alguns trocados em uns bares por aí!

            As quatro mulheres que estavam jogando dominó pararam um pouco e se viraram para ver Gilberto.

            - Internacional eu não conheço... mas posso tocar algo cativante, nostálgico e que era sucesso na minha época! – afirmou ele, coçando a careca negra antes de começar.

            - Faça o que quiser! – argumentou Sarah, sorridente.

            Gilberto se aconchegou um pouco mais na cadeira e começou a tocar nas cordas do violão, criando um som familiar para as pessoas presentes ali.

            “Um dia me disseram,

Que as nuvens não eram de algodão,

Um dia me disseram,

Que os ventos ás vezes erram a direção,

E tudo ficou tão claro,

Um intervalo na escuridão,

Uma estrela de brilho raro,

Um disparo para um coração...

            A voz de Gilberto não era muito bonita, mas a música escolhida foi bem aceita por todos.

            “A vida imita o vídeo,

Garotos inventam um novo inglês,

Vivendo num país sedento,

Um momento de embriaguez...

Somos quem podemos ser...

Sonhos que podemos ter...

            - Eu sempre gostei de Engenheiros do Hawaii! – cochichou Júlia para Carla, que sorriu com o canto da boca, não desviando os olhos da apresentação do rapaz.

            “Um dia me disseram

Quem eram os donos da situação,

Sem querer eles me deram

As chaves que abrem essa prisão,

E tudo ficou tão claro,

O que era raro ficou comum,

Como um dia depois do outro,

Como um dia, um dia comum...

            A real intenção de Gilberto era alegrar os ânimos do pessoal, mas o que ele conseguiu foi entristecer ainda mais as mulheres ali presentes.

            Amanda, que não conseguia tirar da cabeça a preocupação com os rapazes em perigo, ficou mais cabisbaixa ainda.

            Carla, também preocupada, tentou disfarçar, mas não conseguiu segurar as lágrimas em um choro silencioso.

            Sarah e Júlia continuaram caladas, assistindo a bela apresentação do homem e lembrando-se de seus passados e das pessoas que amaram.

            Luíza foi a que mais se sentiu triste.

            Ela parou de balançar as pernas e no fundo ficou arrependida de ter pedido para Gilberto tocar alguma música.

            Com lembranças de seu amado e falecido pai, Luíza desceu da mureta e foi até a mãe. Ela abraçou Júlia com força e deu um beijo na testa dela, fazendo a mulher se emocionar.

            Tudo o que os seres humanos mais precisavam numa situação daquela era amor e esperança.

            E ao assistir a cena entre mãe e filha, os demais conseguiram esquecer um pouco os problemas e cativar mais laços entre eles.

            “Nunca vou desistir enquanto essas pessoas estiverem vivas, elas são minha nova família!” pensou Amanda, olhando discretamente de um por um.

            Maria chegou logo em seguida e se sentou ao redor da mesa também.

            Mesmo com aquela música nostálgica, os ânimos melhoraram e os sobreviventes começaram a perceber que o mais importante não era a comida, as armas e nem muito menos a casa em que moravam, mas sim a união.

            A união do grupo era o motivo mais importante para continuar sobrevivendo.

            Com isso a esperança deles foi renovada.

            No fundo de seus corações, cada um dali sabia que Isaac, Paulo e Luiz iriam voltar.

            Eles também faziam parte daquela grande família.

...

 

            - Onde fica o condomínio? – perguntou o padre, aparentemente cansado de ter que carregar o menino nas costas.

            - Depois do antigo tribunal de contas. Nós vamos fazer esse caminho mais longo porque é o mais seguro. Por dentro da cidade podemos dar de cara com mais infectados ou coisa pior! – respondeu Luiz, apontando para a rua principal que levava até a entrada da cidade.

            Eles estavam perto da ponte.

            Era só dobrar à direita que chegariam nela e depois na entrada principal.

            O que passou despercebido para todos não passou para Luiz Araújo: o prédio da previdência social.

            - Lembra Paulo?

            Paulo olhou rapidamente e depois de perceber do que realmente se tratava, abriu um leve sorriso.

            - Bons tempos... trabalhar em uma sala confortável, ganhar de cinco a seis mil reais, e gastar tudo em festas, comida, academia e mulheres! Como minha vida era boa... – relembrou ele, com saudades.

            - Infelizmente isso acabou. Agora vamos logo! – disse Bruno, se locomovendo o mais rápido que conseguia dentro da leve correnteza.

O nível da água havia diminuído um pouco mais, algo quase imperceptível, mas eles sabiam que tinha diminuído, pois até mesmo a correnteza acalmou-se mais.

Os sobreviventes continuaram andando até dobrar à direita, e dali em diante tudo se tornaria bem mais fácil.

Luiz não conseguia deixar de olhar para o seu antigo trabalho.

Ele sentia muitas saudades de sua rotina, e ás vezes se pegava pensando nas preocupações que tinha e reclamava. Se o Luiz de antigamente soubesse do que o Luiz atual se preocupa hoje em dia...

 O prédio do INSS era muito grande, quase que por completo de vidro azulado e com porcelanato azul claro colocado nas paredes de concreto e no chão. Naquele momento não dava para ver a grama, mas antes ela era bem cuidada por um jardineiro simpático que morava ali perto. Luiz se lembrou de cada momento de seu dia a dia. Ele estacionava nas vagas da frente ou da lateral do prédio de dois andares, depois dava bom dia ao porteiro e ao jardineiro, entrava no local sempre vestindo sua camisa social e calça jeans, acenava para as recepcionistas e ia para sua sala resolver problemas no computador. Vez ou outra saía para conversar e aconselhar os idosos que queriam se aposentar, para depois disso tomar um bom café com biscoito na cozinha do recinto.

Luiz realmente amava aquela rotina e não tinha se dado conta até perdê-la.

- Ei cara, está tudo bem? – perguntou Lucas Henrique, vendo que Luiz estava disperso e andando cada vez mais lento, enquanto olhava para o prédio.

- Estou ótimo. Vamos voltar para casa. Você vai gostar de lá, as pessoas... a maioria delas são legais. Os “complicados” que havia lá já morreram ou foram embora, então pode ficar tranquilo que tudo vai dar certo agora! – disse Araújo, tentando soar confiante.

- Tudo vai dar certo sim, tenho certeza disso. Se todo mundo lá for como vocês três, então fico feliz!

Lucas sorriu e continuou andando.

Luiz sabia que eles eram pessoas boas, mas não podia se deixar enganar pelas aparências novamente. Daniel não parecia ser doentio e Cláudio era do tipo “caladão”, até que se revelaram da pior maneira possível.

Ele devia ter mais cuidado dessa vez.

E prometeu a si mesmo que iria analisar de um por um antes de realmente confiar neles.

Sua maior preocupação não era essa no momento, mas sim Isaac.

O melhor amigo que tinha estava perdido ou morto por aí.

Luiz não iria demorar muito para voltar e resgatá-lo. O rapaz não era de abandonar as pessoas que gostava, e não era agora que ia desistir, além disso, Isaac tinha salvado Luiz por diversas vezes já, mostrando ser uma pessoa confiável.

O que ele não tinha aprendido ainda era que Isaac conseguia se enrascar em vários problemas ao mesmo tempo.

O militar tinha o dom de entrar em situações complicadas.

E estava para entrar em uma mais complicada ainda.

...

 

            - Puta que pariu! – xingou o militar, completamente revoltado por não ter chegado a tempo.

            Isaac tinha entrado na sede da rádio, a qual a porta da frente ficara aberta.

            Ele subiu até o primeiro andar e encontrou vestígios recentes de que tinham pessoas ali. A sua raiva foi tão grande que chegou a jogar uma das cadeiras na parede, arrebentando-a.

            - Pra onde foram agora? Para o condomínio? Ou outro lugar? Será que Luiz e Paulo estão vivos? – indagou ele para si mesmo, sem obter nenhuma resposta plausível.

            Isaac ainda revirou algumas coisas e encontrou muito pouco. Tudo indicava que haviam saído dali.

            - O melhor a se fazer é ir pra casa. Lá eu penso em outra coisa! Não adianta ficar aqui, daqui a pouco vai começar a escurecer! – e era verdade: em mais ou menos duas ou três horas o sol iria embora.

            O militar tomou a decisão correta dessa vez: voltou para a entrada da sede da rádio 97,9 FM e partiu rumo ao condomínio.

            Ele sabia que seria um longo e perigoso caminho, mas não tinha uma ideia melhor.

...

 

            Algumas horas se passaram e Gilberto já havia tocado mais de vinte músicas diferentes para alegrar o pessoal.

            Ele não cantava bem, mas animou bastante.

            Todos os sobreviventes estavam reunidos na área gourmet, assistindo a apresentação, quando ele decidiu fazer uma pequena pausa.

            - Bem, vou dar uma olhada lá fora e volto para mais, ok? – disse ele, pigarreando.

            Amanda estava sentada com Luíza de um lado e Carla do outro.

            - Eu aposto que eles não vão demorar nem mais dez horas para voltar! Duvida de mim? – indagou Luíza, na intenção de agradar as duas mulheres próximas a ela.

            - Eu não sou nem otimista e nem realista. Sei como o mundo de hoje está uma merda, e não quero criar expectativas. Amanhã bem cedo vou com Carla até a rodovia ver o que está acontecendo e tentar de alguma maneira entrar na cidade. Se eles conseguiram, porque nós não iríamos? – respondeu Amanda Nakamura, fingindo estar despreocupada.

            - Nós não sabemos brigar e mal aprendemos a atirar! O melhor a se fazer é ficar em casa... infelizmente é a nossa realidade! – comentou Carla, cabisbaixa.

            - Não se deixe abater! É exatamente isso que precisa para entrar em uma depressão sem volta, e eu realmente não quero me adoentar! Vamos rezar, pedir a Deus para que eles voltem!

            Alguns segundos de um silêncio torturante se passaram e depois Luíza soltou uma pequena risadinha.

            - Todos os homens desapareceram, menos Gilberto. Imaginem só a merda de ter a salvação da raça humana em um único homem, e principalmente NELE! Desculpem-me, mas prefiro continuar virgem, e se depender disso a raça humana vai se extinguir! – falou Luíza, soltando uma gargalhada abafada.

            Amanda e Carla também sorriram.

            - Ele é legal e tudo mais... mas só de imaginar fazer sexo com ele eu já sinto vontades de vomitar! – comentou Carla, tentando soar o menos desagradável possível.

            Dessa vez elas não se aguentaram e riram bastante.

            Gilberto era um homem puro e gentil, mas quanto à aparência conseguia afastar qualquer mulher jovem: relativamente gordo, careca, mais de quarenta anos e tinha um bafo horripilante.

            - Minha gente, vocês são podres! Não falem dele assim! – comentou Luíza, tentando parar de rir.

            - Olha quem fala! Ela começou e depois acha ruim!

            As três continuaram ali, debatendo sobre assuntos femininos e entre outras coisas, enquanto que bem perto estavam Sarah, Maria, Júlia e Alana.

            Essas outras quatro mulheres conversavam sobre todos os tipos de assuntos: desde pratos de comida diferentes até política (que era um tema extremamente desnecessário na situação delas).

            - Bem... eu sei fazer vários tipos de comidas diferentes. Comida mexicana, americana, alemã, espanhola e até mesmo chinesa. Não domino a arte japonesa de se fazer comida, pois até mesmo com os “palitinhos” eu sou péssima! – afirmou Sarah, imitando com a mão direita o movimento que ela fazia quando ia usar os palitos de madeira.

            - Eu AMO comida japonesa! E esses “palitinhos” têm nome: hashi. Sempre que podia eu levava meu filho junto comigo. Eu dizia: “não fure o sushi! Pressione com o hashi de cada lado, escolha o molho e leve até a boca!”, é uma pena que... tudo tenha acontecido desse jeito... ah meu Deus! Que saudade de Anderson! Ele era agradável, simpático, bonito, calmo e adorava assistir desenhos, se eu deixasse iria da hora que chegou da escola até de noite! Eu amava tanto aquele menino... – contou Alana, com os olhos se enchendo de lágrimas sinceras de uma mãe que perdeu o filho.

            Maria começou a se sensibilizar com a tristeza de Alana, e deixou algumas lágrimas escorrerem pelos cantos dos olhos também.

            - Se isso for bom pra você... fale mais dele! Conte-nos do amoroso Anderson! – pediu Maria, enxugando os olhos com a palma da mão.

            - Não sei se vai me entristecer ou melhorar esse aperto que sinto no coração, mas... vale a pena tentar! Anderson tinha treze anos. Ele adorava videogames e futebol como todo moleque da idade! Sempre que eu o proibia saía escondido. Era muito difícil lidar com isso nele, mas sempre foi um garoto estudioso e bondoso. Nunca gritou comigo e nem fez nada grave. Gostava também de assistir um desenho que se chamava... como era mesmo? Ah sim... Dragon Ball. O pai de Anderson me abandonou cedo demais, quando o filho tinha quatro anos. Sempre pagou a pensão em dias, mas nunca sequer tirou um final de semana para passar com o menino! Eu sei que errei com ele, mas o homem não deveria descontar as mágoas do casamento na criança! – afirmou ela, desabafando pela primeira vez com as outras pessoas.

            - Perdoe minha intromissão, mas o que você fez para ele te deixar? – perguntou Sarah, recebendo um olhar fulminante de Maria, como quem dizia “não faça essa pergunta!”.

            - Eu... eu o traí. Antônio me pegou... é... Antônio me flagrou na cama com meu chefe. Eu sei que o que fiz foi errado e não existe justificativa para isso. Só que eu tive vontade na hora e pus meu casamento em cheque! – contou Alana, para surpresa de todas ali.

            “Na verdade você acabou de assumir que é uma puta!” pensou Júlia, fazendo esforço para não mudar a expressão facial naquele momento.

            - Bem... isso é passado, continue falando!

            - Ok! Tudo estava indo bem até essa doença chegar. Anderson começou a ter febre logo cedo, e não melhorava. Eu dei Paracetamol, Ibuprofeno, Redoxon, Benegripe e tudo mais que encontrava, mas só piorou o estado dele! Quando Anderson começou a ter convulsões já era tarde. A televisão dizia que tinha poucos casos da doença no Brasil, porém obviamente era mentira! Se a mídia tivesse nos informado da situação logo cedo, talvez muita gente tivesse sobrevivido! – continuou falando ela, calando-se logo após.

            - Tenho que dizer que te admiro em parte. E meus pêsames por Anderson! Certeza que nessa hora ele está nos olhando lá do céu! – disse Júlia, abrindo um sorriso gentil.

            - Obrigada. Espero que ele esteja descansado...

            Maria tossiu e se levantou para ir à cozinha buscar água.

            - E você, Júlia? Como chegou aqui? – indagou Alana, cabisbaixa.

            - Eu prefiro não tocar nesse assunto. Fico me sentindo mal direto, e relembrar não vai ajudar em nada! – respondeu a mulher, com o tom de voz baixo.

            - É por causa de Daniel?

            Essa pergunta fez correr calafrios pelo corpo de Júlia.

            Ninguém tinha vindo conversar com a moça sobre ele até agora. E esse era um assunto que magoava ela.

            Sarah conseguiu perceber o desconforto só pela expressão que Júlia fez.

            - O Daniel... você quer saber a história real dele? – perguntou Júlia, fingindo estar tranquila.

            As duas mulheres arregalaram os olhos de curiosidade.

            - Depois dessa cara que fizeram... já sei a resposta. Versão curta ou longa? Não. Isso não está incluído na escolha. Vou para a versão curta: Daniel era problemático sim. Ele foi adotado pelo meu irmão quando tinha onze anos e pelo que eu soube foi estuprado várias vezes pelo pai e mãe verdadeiros. Talvez isso tenha prejudicado a mente dele e o tornado no psicopata que era... mas não adianta mais tocar nesse assunto. Daniel foi assassinado e não sinto um pingo de pena dele. Na verdade ele me envergonhou e me magoou profundamente. As coisas que fez com aquela menina... eu não sei... não sei nem o que... Deus! Ele era um MONSTRO! – afirmou Júlia, com os lábios tremendo de tanta vontade de desabar no choro.

            - Mãe, basta! Prometemos que nunca mais tocaríamos no nome dele, lembra? – relembrou Luíza, entristecida.

            - Lembro, meu amor. Lembro. Então foi só isso.

            Ela não tinha percebido, mas todos os presentes ali estavam encarando-a. No momento que tocou no nome “Daniel”, Amanda, Carla e Luíza começaram a prestar atenção na conversa.

            De repente o portão de entrada da casa se abriu, revelando Gilberto, sorridente.

            - Eu sabia, nunca duvidei meu caro! – falou ele, com alguém que vinha logo atrás.

            Ao perceber quem era a pessoa, Amanda e Carla entraram em choque.

            O estranho não foi reconhecido logo de primeira, mas quando finalmente pisou no gramado, se revelando à fraca luz do sol, todos descobriram quem era.

            Luiz Araújo havia voltado.

            - LUIZ! – gritaram em uníssono tanto Amanda quanto Carla.

            As duas mulheres saíram em disparada atrás do rapaz, que sorriu ao vê-las.

            Amanda foi a primeira a chegar, dando um abraço rápido no amigo desapare­cido. Já Carla, que veio logo após, pulou nos braços do homem e deu vários beijos em todo o seu rosto.

            - Ei! Calma! – pediu ele, sorrindo e adorando aquilo, mas envergonhado por estar sujo de lama até nos cabelos.

            - Calma nada! Você voltou! Eu já ia te buscar! Você voltou... – dizia ela freneticamente, enquanto esmagava as costelas dele com um abraço extremamente apertado e carinhoso.

            - Eu disse que voltaria. E não vim sozinho! – avisou o rapaz, sorridente e acenando para os novos membros adentrarem.

            Bruno, Lucas e o resto deles entraram no recinto totalmente acanhados.

            - Bom... é uma linda casa! E o condomínio aparenta ser seguro! Essa é... sua esposa? – indagou Bruno, com Alice se escondendo atrás de sua perna direita.

            Carla sorriu envergonhada e segurou firme na mão direita de Luiz Araújo.

            - Não. Nós somos... mais ou menos como... – mas antes de conseguir terminar sua frase, Carla o interrompeu.

            - Namorados. Sou a namorada dele, prazer! – apresentou-se ela, surpreendendo o tímido Luiz.

            Amanda ficou feliz por finalmente os dois terem conseguido criar coragem e se unir diante de todos, mas o que ela mais queria saber era o paradeiro de Isaac, e ficou procurando ao redor.

            - Bruno! Chame todo mundo e vamos para a sala! Irei apresentar todos vocês ás pessoas daqui enquanto comemos! – disse Luiz, que estava morto de fome.

            - Boa ideia! Faz quase meio dia que ninguém come nada! Não nos expulse se caso acabarmos com sua despensa! – falou Gabriela, entrando na casa descalça e limpando os pés no pano da entrada.

            Logo após todos se sentarem, Sarah decidiu fazer outra de suas lasanhas de atum, animando os novatos.

            Amanda caminhou até o meio da sala e olhou ao redor, procurando pelo militar.

            - Luiz? Você e Paulo estão aqui, mas cadê Isaac? – perguntou a médica, começando a se desesperar.

            O rapaz se levantou e chamou Amanda Nakamura até o terraço para que pudessem dialogar sozinhos.

            As mãos de Amanda começaram a tremer, pois ela já esperava pelo pior.

            - Isaac se separou da gente depois de um incidente que ocorreu. Não pudemos procurá-lo, era muito perigoso! Centenas e centenas de infectados que foram atraídos por causa da imprudência dele mesmo! Eu não sei se ele morreu ou...

            “SLAPT!”

            Ao ouvir aquilo, Amanda começou a chorar e deu uma tapa no rosto de Luiz Araújo, para a surpresa dele.

            - Como você pôde? Como... Isaac iria até o fim do mundo para salvá-lo! Você é um bosta! Um merda! Abandonou seu melhor amigo para a própria morte! – acusou a médica, deixando a raiva dominar sua cabeça.

            - Eu não o abandonei! Nós fomos cercados! Você não viu o que eu vi! Foram mais de mil infectados correndo nas nossas direções! Tudo por culpa dele! Isaac atraiu a atenção dos monstros com um disparo de sua arma... não sei o que aconteceu, mas logo no começo uma mulher começou a chorar e berrar bem alto em uma das casas, ele teimou para ir sozinho e eu não consegui segurá-lo! Admito que não sei o que aconteceu depois, eu tive que correr junto com Paulo e por pouco não morremos! Quase que me afoguei antes de encontrar esse pessoal da rádio, e para piorar perdi Paulo de vista, só reencontrando-o bem depois! Eu juro a você que NÃO vou abandonar Isaac! Eu voltarei lá amanhã e vou procurar por vestígios do que aconteceu com ele! Prometo a você! – confidenciou Luiz, convencendo ela.

            - Meu Deus... eu só estou preocupada com Isaac! Ele é um ótimo homem e não merece morrer desse jeito! O que será que houve? Meu Deus... – choramingou a médica, colocando a mão na frente do rosto.

            - Venha cá! – disse Luiz, abraçando a amiga.

            - Eu... quero me desculpar! Desculpe-me pela tapa!

            - Não tem nada para que se desculpar, eu te entendo!

            Amanda enxugou as lágrimas e entrou na casa novamente, fingindo estar tudo bem e subindo as escadas.

            Carla percebeu que algo estava errado e puxou Luiz para perto dela no sofá e os dois permaneceram ali, esperando a lasanha junto com os demais.

            Logo na manhã seguinte Luiz partiria para buscar seu amigo. Ele não sabia se essa era uma boa ideia, ou se o militar tinha morrido ou não, mas o que importava para ele era encontrar no mínimo o mais simples dos vestígios de que o amigo ainda estaria vivo.

            Isaac merecia isso.

            Ele era muito importante para o grupo e, além de tudo, nunca abandonou ninguém, sempre estando pronto para ajudar quando fosse convocado.

            Mesmo se tivesse que colocar sua própria vida em risco.


Notas Finais


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