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História Algo a Temer - Em Apuros


Escrita por: LFAL

Notas do Autor


...

Capítulo 19 - Em Apuros


            

- CAPÍTULO DEZENOVE

 

“Em Apuros”

 

 

 

 

            Estava anoitecendo.

            Isaac sabia que em poucos minutos iria precisar procurar abrigo e se esconder até a manhã chegar.

            O militar decidiu não ir pelo caminho mais longo, e sim por dentro da cidade: era mais perigoso, mas em compensação, chegaria mais rápido.

            “Eu não vou conseguir chegar hoje, Deus me ajude!” pensou ele, com o corpo extremamente fadigado da natação.

            Mesmo sendo militar e bem treinado, ele não conseguiria nadar por muito mais tempo e, além disso, natação não era o seu forte.

            “Não sei que horas são, mas de uma coisa tenho certeza: já passaram das cinco!”

            O céu continuava cinzento e demonstrando que a qualquer momento poderia cair outro temporal. O frio era muito agressivo, principalmente para quem estava dentro daquela água fedorenta.

            Isaac diminuiu o ritmo das braçadas na água e recomeçou a andar.

            Ele estava perto da prefeitura municipal de Palmares.

            Um imenso prédio pintado de verde, com três bandeiras hasteadas na frente (Brasil, Pernambuco e Palmares), com dois andares, grandes janelas de vidro quebradas em praticamente todas as paredes frontais e com diversos entulhos dentro, atrapalhando a entrada.

            “Um bom lugar para passar a noite... será?”

            O militar precisava repousar e procurar por comida, a situação dele estava crítica.

            Isaac andou com cautela pela silenciosa e inundada rua da frente da prefeitura e aproximou-se do local.

            Ele olhou ao redor para se certificar de que não haviam monstros ali perto e segurou firme a faca de combate.

            Mesmo se fosse atacado, talvez dessa vez não conseguisse reagir, pois não estava em perfeitas condições física.

            Dentre os entulhos tinha uma brecha que dava para adentrar no prédio.

            Isaac afastou algumas tralhas velhas (ripas de madeiras, geladeiras enlameadas, telhas quebradas, objetos abandonados, tijolos, garrafas etc) e passou a perna direita para o interior da prefeitura.

            Aos poucos ele foi criando coragem para explorar o imenso lugar escuro.

            O térreo contava com alguns birôs revirados, cadeiras de plástico jogadas, uma escada em espiral que levava ao primeiro andar e várias salinhas menores com portas trancadas.

            Era no final da imensa recepção que ficavam as salinhas, com destaque para o longo corredor escurecido.

            Talvez mais cedo ali fosse mais claro, porém a luz do sol das cinco e meia da tarde não ajudava em nada...

            Isaac tentou abrir cada uma das doze portas do térreo, tendo obtido sucesso somente em duas.

            Nas duas salas que conseguiu entrar, encontrou nada mais que água enlameada, birôs velhos, filtros de água quebrados e muitos papéis. Isso até tinha lógica por ser uma prefeitura.

            O cheiro forte de lixo com lama chegava a se tornar tóxico naquele ambiente fechado e também mofado. Somente enquanto vasculhava Isaac espirrou por duas vezes, e sentia-se extremamente incomodado por aquele ar contaminado.

            No final do corredor tinha uma escada que também levava ao primeiro andar.

            E qual a lógica de ter duas escadas levando para praticamente o mesmo local?

            Nenhuma até o momento.

            Talvez a pequena escada em espiral levasse diretamente para a sala de alguém importante ou algum depósito.

            Mas isso ele iria conferir depois, já estava na escadaria maior, então não queria perder tempo.

            Isaac apertou as alças da sua mochila (que folgavam a todo instante) e começou a subir.

            O cansaço físico dele era tão grande que pensou em até mesmo se trancar em uma daquelas salas mal cheirosas e dormir em cima de um dos birôs, contudo essa não seria uma boa ideia.

            Sem lanterna, sem armas e sem ninguém conhecido por perto: definitivamente ele estava com problemas.

            Enquanto subia as escadas para o primeiro andar, Isaac escutou sussurros.

            - Eu vi! Eu vi um cara entrando aqui! Eu sei que vocês não me levam a sério, mas eu juro! – disse uma voz masculina, fazendo com que todo o corpo de Isaac congelasse de medo.

            - Beleza, Caio. Você é a pessoa mais confiável desse mundo: foi preso por necrofilia e acha que fuder com cadáveres é normal! – falou outra voz também masculina, bem mais grossa.

            - Você e o outro querem me julgar? Certeza? O que eu fiz foi nada comparado com o que vocês fizeram! Um estuprou a enteada e o outro foi preso por vários latrocínios! Além disso, todos sabemos que lá dentro você matava os companheiros de cela por puro prazer! – ao ouvir aquilo o medo começou a tomar conta de Isaac.

            Seriam aqueles homens ex-prisioneiros?

            O melhor a se fazer era continuar escondido e ir embora sem que ninguém percebesse.

            Porém ele era um militar, e aqueles caras representavam um risco para os outros sobreviventes! Estavam perto demais do condomínio para ficar tudo bem.

            Isaac precisava tomar alguma atitude.

            - Desde que fomos expulsos daquele grande grupo você vem nos alfinetando. Acha que tenho medo de você? Seu viadinho de merda! Matei sim. Muitos. E seria melhor ficar na sua ou será o próximo! – ameaçou a mesma voz grossa de antes.

            - Parem de brigar, idiotas! Se tiver alguém aqui então precisamos ter cuidado e manter as vozes baixas! Puta que pariu... – dessa vez foi uma terceira voz, também masculina, só que parecida com a de um adolescente.

            - E você? Porque está reclamando mesmo? Estuprou a enteada e se fudeu na cadeia? Que eu me lembre lá dentro você virou a putinha da galera e sofreu o pão que o diabo amassou! Agora quer dar uma de machão, filho da puta? Quantas vezes não te vi de calcinha e sutiã lá? – aquela revelação fez com que os ânimos se exaltassem entre os três.

            - Você me respeita, seu bosta! O que aconteceu já passou! Agora nós estamos livres e temos uma nova vida! Finalmente conseguimos sair! E já fomos expulsos do primeiro grupo que entramos! Se bem que não podemos julgá-los...

            Isaac recomeçou a subir as escadas lentamente.

            Ele precisava saber com quantos e com quem estava lidando.

            Se o militar fosse pego, não teria volta.

            - HMMM... HMMM! – gemeu alguém, baixinho.

            - Cala a boca, vagabunda! Você está fazendo barulho! – reclamou um deles, provavelmente com alguma mulher amordaçada.

            Eis mais um motivo para Isaac acabar com a raça daqueles filhos da puta: eles estavam mantendo alguém em cativeiro.

            O militar chegou ao topo das escadas e deu de cara com um longo corredor, com várias salinhas de portas fechadas ou entreabertas. No final do corredor tinha um imenso salão que não dava para enxergar o que se tinha lá direito.

            Isaac andou agachado fazendo o mínimo de barulho que pôde e encostou-se à parede da esquerda, aproximando-se da porta onde estavam os ex-presidiários.

            - Se você se inquietar mais um pouco, vou ter que te comer de novo, sua putinha! – rosnou o que tinha a voz mais fina, chamado pelos amigos de necrófilo.

            “Meu Deus... eles estão estuprando essa mulher! Meu Deus...” pensou Isaac, recebendo um choque emocional imenso ao descobrir aquilo.

            O ser humano podia será salvação do mundo como também podia ser a desgraça dele.

            Como que alguém poderia realizar um ato tão nojento e repugnante como estuprar outra pessoa?

            Aqueles homens que estavam ali não eram pessoas normais, e sim monstros.

            O mundo seria melhor sem a presença deles.

            Isaac estava determinado a dar um fim nisso.

            - Hoje quem vai foder a gostosinha sou eu! Ontem à noite você já brincou demais! – falou um dos outros dois rapazes.

            - Basta! Não sei o que porra vocês veem em estuprar alguém! Negócio nojento e sem graça! Eu prefiro mil vezes ver as tripas de uma pessoa caindo no chão! – enfureceu-se o com a voz mais grossa, batendo em algo sólido com o punho.

            - Se você não quer brincar então não se meta! O combinado foi esse! Fugiríamos os três e ninguém se metia na vida do outro!

            - E o que ela fez contra nós?

            - Não é essa a pergunta correta... a pergunta certa é: o que ela FAZ para nós? – depois disso dois dos homens começaram a rir.

            A pessoa amordaçada chorava baixinho, soluçando desesperadamente.

            - Eu vou dar uma olhada, qualquer coisa te digo! – falou o estuprador.

            - Você com que arma? Aqui só temos cassetetes e facas! Leve alguma coisa pelo menos! – afirmou o da voz grossa, provavelmente entregando uma arma branca para o amigo.

            O barulho dos passos do estuprador estava ficando cada vez mais alto.

            A qualquer momento ele iria abrir de vez a porta entreaberta e descobriria o paradeiro do militar.

            O que fazer naquele momento?

            Foram segundos demorados e tensos.

            O suor escorria pelas bochechas de Isaac até cair no chão empoeirado do primeiro andar da prefeitura.

            A respiração do militar começou a ficar cada vez mais ofegante, até que o barulho da maçaneta sendo puxada quase fez com que ele enfartasse.

            E finalmente Isaac pôde ver o rosto do desgraçado.

            - POOOORRA! – assustou-se ele, quase caindo de costas ao ver o rapaz agachado.

            Isaac pensou rápido e atacou.

            A faca de combate do militar tinha pequenas serras na parte traseira e quase se igualava ao tamanho de um facão. A violência do ferimento causado por aquele objeto era tão grande que só precisava de um único golpe bem dado para matar o inimigo, mesmo que fosse de hemorragia.

            A primeira facada desferida por Isaac entrou perfeitamente no estômago de um dos estupradores daquela mulher, rasgando tudo o que encontrava pela frente e deixando o rapaz desesperado.

            O sangue começou a escorrer pela mão direita de Isaac, que rapidamente tirou a faca do local, expondo o ferimento fatal.

            - QUE MERDA É ESSA? – indagou o homem que tinha a voz mais grossa, agora revelando o rosto na fraca luz solar que invadia a pequena salinha pelas janelas de vidro.

            O homem que Isaac matou não tinha mais que 25 anos.

            Ele tinha uma pele negra de um tom mais claro, era magro e usava aparelho. Os cabelos estavam raspados e a fisionomia do rosto do homem era a de alguém perigoso.

            O necrófilo era gordo, deveria ter seus trinta anos e usava uma barba grisalha mal cuidada e nojenta. Ele arregalou os olhos e se jogou no chão ao ver aquela cena inesperada.

            Já o terceiro tinha o porte típico de um prisioneiro da pesada: cabeça raspada, várias tatuagens, camisa regata, musculoso e segurava um pedaço de ferro.

            - VOCÊ NÃO VAI ESCAPAR! – avisou o musculoso, partindo para cima de Isaac.

            “THUD!”

            Uma pancada foi desferida pelo grandão no braço esquerdo do militar, que urrou de dor e caiu no chão, ainda segurando firme a faca de combate.

            - VOCÊ MATOU RÉGIS! SEU LIXO! – gritava desesperadamente o gordo no canto da sala, levantando-se com dificuldades.

            Isaac rolou para o lado e golpeou com a faca, acertando duas vezes de raspão o negro alto.

            O grandalhão sabia lutar.

            Ele esquivou de dois golpes que seriam fatais.

            “Não vou conseguir! Ele é mais forte que eu!” pensou Isaac, concentrando-se nos movimentos do seu inimigo.

            - VAI MORRER!

            Um único momento de distração foi o suficiente para tudo ir por água abaixo: Isaac não percebeu o rápido movimento com as mãos que o ex-presidiário fez e levou uma forte pancada com o ferro torto na cabeça.

            Ele apagou na hora.

            Depois de cair, o militar ainda levou uma saraivada de chutes nas costas e nas pernas, para decretar seu desmaio.

            - Uff... Uff... e agora? – indagou o agressor de Isaac, arfando.

            - Ele morreu?

            - Se Régis estivesse vivo teria comido o cu dele aí mesmo, mas se você quiser... eu não tenho nada contra, seu necrófilo de merda! – falou o grandão, conferindo se o militar ainda estava vivo ou não.

            - O quê? Eu não sou gay, porra! E ele está vivo!

            Os dois se entreolharam e foram até o cadáver de Régis.

            - Bem... temos que admitir que ele nos livrou de um fardo! Esse cara era um completo maníaco! Nunca gostei muito dele, sabe? Já você não tenho nada contra! Sei que quando trabalhava no IML comia só as gostosas... quer dizer, só as mortas gostosas, não é isso? E agora que o mundo mudou drasticamente... as mulheres são raras... entendo que queira fuder essa garota! Só pega leve e não a espanque, a coitada já sofreu demais, beleza?

            E o gordo acenou positivamente com a cabeça, cuspindo no peitoral de Isaac.

            A maior dificuldade estava em saber quem era mais louco: o assassino a sangue frio ou o necrófilo.

            - E o que vamos fazer com ele? – indagou o gordo barbudo.

            - Vamos amarrá-lo e ver se esse babaca guarda alguma coisa de útil para nós... antes disso vamos fazê-lo sofrer um pouco, né?

...

 

            O sol já havia raiado e Luiz mais uma vez teria que partir rumo ao desconhecido.

            A única coisa que podia pensar era em resgatar seu amigo. Ele não queria nem imaginar a hipótese de Isaac estar morto, o que era bastante provável.

            - Bom dia! – cumprimentou Carla, abraçando Luiz Araújo e beijando a bochecha dele.

            - Bom dia pra você também...

            - Você vai voltar inteiro. Você sempre volta inteiro. Vai dar tudo certo! – disse a mulher, abraçando com mais força ainda.

            - Se Deus quiser...

            Paulo já estava pronto também.

            Os dois rapazes iriam com a caminhonete SW4 até a cidade, procurar por vestígios do militar desaparecido.

            - Traga-o de volta. Mesmo que ele tenha morrido... nesse caso traga o corpo dele para enterrarmos! – pediu Amanda, com vontade de chorar.

            - Ele não morreu. Isaac é vaso ruim de quebrar! – falou Luiz, tentando soar confiante.

            - Vão... e boa sorte para os dois!

            Paulo sentou no banco do motorista e deu a partida no veículo.

            Luiz beijou Carla mais uma vez e entrou no carro também.

            - Eu deveria me tornar o novo proprietário dessa máquina! Perdi meu velho e bom Golf naquela enchente de merda... eu mereço, concorda? – afirmou ele, tentando desvirtuar das preocupações.

            - Cara... eu realmente não estou afim de piadas ou brincadeiras hoje. Só a ideia de ter que ir nas ruas novamente já me deixa com ânsia de vômito! – comentou Luiz, irritado.

            - Eu não queria... eita! Desculpe!

            Paulo acelerou o carro e esperou Luiz empurrar o portão do condomínio manualmente.

            O rapaz voltou para o veículo e Paulo continuou puxando conversa.

            - Isaac passou por mais situações complicadas que todo mundo junto... e sobreviveu. O que te faz pensar diferente agora? – perguntou Paulo, tentando ligar o som.

            - Não sei. Tem alguma coisa errada. Lembra quando ele ficou disparando loucamente para atrair a atenção dos monstros e dar tempo para escaparmos? Bem... eu creio que ele tinha um plano ali. Se não tinha deve ter improvisado um jeito de escapar. Ninguém vai atrair uma horda para si e entrar num beco sem saída. Ele provavelmente se livrou daquela situação, mas o que significa esse atraso? Essa demora para voltar para casa? Isaac não seria burro o suficiente para cortar caminho por dentro da cidade, seria? Ainda existem muitos infectados vivos! – disse Luiz Araújo, enquanto admirava a sua pistola.

            - Talvez sim... talvez não. Nunca se sabe. Isaac também não é o grande heroi da porra toda! Ele é como nós, só que sabe lutar! Vamos deixar esse tema de lado e esperar para ver, não é melhor?

            Os dois homens entraram em um acordo e Paulo finalmente conseguiu encontrar um CD para colocar no som, sem prestar atenção na pista direito.

            - O que é isso aí? – perguntou Luiz, esperando a música tocar.

            - Titãs. Nunca sai de moda, sabe? Eu sempre gostei um pouco de rock lá no fundo... – confidenciou Paulo, sorrindo com o canto da boca.

            E de repente um barulho totalmente inesperado ecoou pelas ruas.

            “BANG”

            O tiro estilhaçou a janela do veículo atingindo em cheio Luiz Araújo.

            Paulo se assustou e não conseguiu parar o carro à tempo.

            O veículo saiu desgovernado e bateu de frente em uma imensa pilha de sacos de lixo, amortecendo o impacto.

            Luiz estava desacordado, enquanto que Paulo tentava entender o que tinha acontecido.

            A velocidade da caminhonete não estava tão alta, mas foi o suficiente para causar um pequeno acidente.

            Ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido, mas de uma coisa tinham certeza: isso não era nada bom.

            Aquele disparo não atingiu o rapaz acidentalmente.

            Os dois estavam em apuros.

 


Notas Finais


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