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História Algum dia de 2035, com esperança - Considerações


Escrita por: geolinard

Capítulo 6 - Considerações


31 de Janeiro de 2035 (ao lado do computador - de novo)

 

Oi, diário.

Cara, não sei mais o que pensar. Chegou o fim de Janeiro e o Governo só enviou boletins no dia 17. Juro que não entendo isso. Esses palermas estão afirmando que nos abandonaram, que não ligam para nada do que enfrentamos, abdicamos e perdemos todos os dias. Está certo que as coisas já eram assim, não sou ingênuo para dizer o oposto, mas é que nada explica muito bem essa atitude de ficar em silêncio.

Em minha opinião, se você só quer estar no poder, sem ter vocação ou algo do gênero, ainda assim o povo é importante. Qual é a graça de se ter poder, mas não ter a quem governar?

Uma possível explicação para a situação seria algo semelhante a uma fuga. Assim que perderam as esperanças de que a situação pudesse mudar a curto prazo, os "bons moços" se retiraram para suas mansões monitoradas 24 horas. Mas é aí que existe uma lacuna nessa explicação. Se eles tivessem simplesmente desistido de nós não faria sentido nem ter enviado notícias no dia 17.

Eu até gostaria de saber se eles realmente deixaram as coisas por nossa própria conta e risco, pois pelo menos assim teria algo um pouco mais definido.

Ao mesmo tempo em que penso que gostaria de ter essas confirmações, eu sei que não aguentaria de tanta raiva. Seria o mesmo que saber que as esperanças que minha mãe e minha irmã depositavam na possibilidade disso um dia mudar eram na verdade uma grande piada de péssimo gosto. Tremo de ódio só em pensar em tal hipótese.

Ok, abandonando rapidamente essa ideia agora.

Às vezes eu fico me perguntando sobre quem conseguiu sobreviver e a que custo.

Os primeiros a sucumbir foram os moradores de rua e os mais pobres. É o elo mais frágil sendo rompido.

É fácil explicar a causa disso. Eles não tinham recursos suficientes para ficarem saudáveis novamente.

Cadáveres em becos e no meio da rua começaram a ser algo comum, mesmo que alguns órgãos públicos lutassem para tirá-los de circulação ao tentar evitar uma epidemia maior ainda. O pânico começou a se difundir rapidamente e ninguém tinha nem vontade de sair de casa. Faltou comida até nos supermercados, que vendiam seus produtos rapidamente, pois quem ainda possuía dinheiro comprava verdadeiras montanhas de mantimentos. A procura por itens considerados básicos cresceu deliberadamente, mas não fomos abastecidos rápido o bastante a ponto de evitar vários crimes por razões antes consideradas fúteis. Notícias sobre esses crimes em locais públicos e no comércio em geral não paravam de aparecer. Bastava não ter sabão suficiente para gerar uma comoção e a pancadaria ser total.

Meu antigo vizinho, um senhor ex-combatente do exército, morreu quando voltava de um mercadinho. Viram o pacote modesto que ele carregava e foram roubá-lo depois de lhe dar uma surra. No fim das contas ele só havia comprado um xampu e um creme dental. As coisas foram abandonadas ao lado do corpo.

Minha irmã chorou a semana inteira.

Logo depois, pilharam a casa dele.

Dias depois eu também passei por lá. Consegui alguns casacos e remédios. Não me senti muito culpado. Sei que ele ficaria feliz em nos fornecer algo além da sua presença e antigas histórias de guerra. Fiquei triste mesmo quando o cachorro dele começou a ladrar, sentindo falta do dono.

Duas noites depois deram algum fim nele.

Boxer era legal. Uma vez até brincamos juntos. Não perdoaram nem ele.

É esse o mundo em que eu vivo. Os humanos são mais animais do que nossos próprios amigos peludos. Isso é uma merda.

Acho que vou dormir, não quero ficar como o Boxer, chorando a noite inteira.

Até outro dia.



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