História Alguns Tons de nós - Arrependimentos

Depois daquilo, aconteceram muitas coisas estranhas com Jungkook. Uma semana se passou e minha curiosidade por saber quem ele gostava e o que se passava naquela cabeça de vento, que parecia viajar de vez em quando.

Ele não estava me evitando, mas também não falava comigo. Isso é ser Jeon Jungkook, nem me sinto surpreso.

Mas, no final da aula, isso resolveu mudar.

-- Jimin -- Ele disse. -- Eu estava pensando... 

-- O que?

-- Sabe aquele playground em que fomos antes? -- Ele então fez uma cara de cachorro abandonado. -- Podemos ir lá hoje de novo?

-- Que?

-- Por favor, vai!

Devido às provas finais, o clube de canto cancela os treinos.

Jungkook nos chamou para irmos embora, apenas embora, juntos.

Nós seis conseguimos ir juntos, depois de tanto tempo

-- Jungkook olha...

Eu queria. Eu queria muito. Queria passar meu tempo com ele, queria ouvir o que ele tinha dizer, olhar para seu rosto. Ah, como queria.

Era só dizer sim.

E daí que estava diferente na carta?

O futuro está mudando. E isso é bom, não é?

Aqueles olhos, meio caídos para o mel e o castanho escuro, me encaravam. Se ele não tivesse olhado a minha alma naquele momento, eu acharia estranho.

Mas, nós vamos sair afinal, como antes.

-- Tudo bem, vamos lá. -- Eu respondi.

* * * 

Depois de alguns minutos andando aquele playground e vendo o Jungkook endoidar nos brinquedos, nós resolvemos caminhar um pouco pelo parque que havia ali perto.

Estava ensolarado ainda, com uma brisa fresca. Eu gosto disso. Parece que alguma coisa finalmente está a meu favor. Normalmente, eu acharia estranho esse tipo de comportamento do universo comigo, mas... Acho que eu consigo me acostumar.

Eu gostava de observá-lo... Senti tanta falta disso. Seu jeitinho de criança me deixava feliz.

-- Jimin-shi, podemos ir lá? -- Jungkook apontou para um lado do parque onde não tinha ninguém.

Concordei com a cabeça e me juntei a ele.

Lá mais a frente tinha um lugar que dava para subir mais alto e ver um bom pedaço da cidade, Jungkook quase deu um escândalo para ir até lá, mas como eu não queria ninguém chorando e se  debatendo no chão, eu concordei.

Lá tinha umas grades, e o vento estava um pouco mais forte, continuava bom.

-- Tem tantas coisas aqui. -- Ele disse olhando para todos os cantas e apontando para tudo.

Eu me deixei escapar um sorriso.

-- É, realmente tem.

-- É uma sensação incrível. 

-- Tem um lugar que eu gosto de ir, tem umas rochas lá, mas é divertido. -- Falei.

-- Talvez devêssemos ir lá um dia.

Eu respirei bem fundo. Estava me recusando a acreditar que aquilo era real.

-- Jimin feche os olhos. -- Jungkook disse de repente.

Eu olhei para ele desconfiado.

-- Pra q...

-- Apenas feche! 

-- Vai abusar de mim sexualmente ou algo assim? 

-- Eu poderia considerar essa possibilidade outro dia.

-- O que quer diz...

-- Só fecha os olhos! E não abra até eu dizer para abrir.

Então eu fechei.

Eu senti ele se aproximar de mim e pegar a minha mão. Ele estava fazendo algo com ela.

-- Jungkook...

-- Tá legal, pode abrir. 

Assim que me olhos abriram, eles focaram primeiro na minha mão junto com a do Jungkook, depois eles focaram em um anel prata, sem nenhuma pedra nem nada, apenas com um estilo bonito.

-- Wow Jimin, suas mãos são tão pequenas! -- Jungkook riu olhando para o tamanho da minha mão comparada com a dele.

Eu travei.

Não sabia se chorava, se ria, se dava um soco nele por ser assim...

Sério, não é possível alguém ser perfeito. Não.

-- É um presente para você. -- Ele disse sorrindo, como se estivesse satisfeito com aquilo. -- Por me deixar ficar na sua casa e tudo mais. Obrigado.

-- Não precisava... Você...

-- É claro que precisava, você fez tudo por mim, porque não posso fazer tudo por você?

Sim.

A vida é uma combinação de destino e livre-arbítrio. A chuva é o destino, a possibilidade de se molhar ou não é escolha sua.

Essa é a minha escolha.

-- Você existe mesmo? -- Falei meio que trêmulo.

-- Por que você não tenta descobrir?

Aish, ele era instigante. Tentador. Intimidador. 

Do jeito dele.

Isso me atraia para ele de uma forma que não dava para explicar.

* * * 

Ficamos mais um tempo por lá, em silêncio. Jungkook ainda me dava àquelas olhadas como se estivesse tirando minhas roupas com os olhos, não sei se eu deveria retribuir porque eu ia parecer uma foca com epilepsia.

-- Na verdade -- Ele começou. -- A minha avó havia chegado muito antes... Dizendo isso, eu falo que eu não precisava ficar na sua casa... -- Seu rosto ficou vermelho. -- Ela disse que eu podia ir para casa já, para não te dar trabalho. Eu não queria ir por que... Eu queria continuar com a sua companhia. Sinto muito por ser egoísta.

Eu estava quase explodindo por dentro.

Ele ficou mais tempo pra ficar perto de mim?????? :))))))

-- Sem problemas. -- Respondi.

Ele então se encostou à grade e não olhou para mim.

-- Ei, Jimin.

-- Sim?

-- Você... Vai fazer alguma coisa final de semana?

* * * 

 Jungkook me chamou para estudarmos. Naquele momento, notei malícia na sua voz, mas foi só uma provocação. Se ele continuar assim, não consigo me segurar por muito tempo... 

Acabou que fomos estudar. Em um belo dia de sábado na biblioteca.

Eu tomei a liberdade de pegar as anotações para Jungkook, mesmo sabendo que não era da minha conta. Parando para pensar, quando ele estava todo estranho e provávelmente sem prestar atenção na aula, no ultimo dia fazia 49 dias desde que sua mãe havia morrido... Será que tem algo haver?

Com as anotações, Jungkook sorriu e agradeceu, como sempre.

Será que ser assim não cansa?

Depois que o Jungkook morreu, imagino o quanto meu eu do futuro deve ter ficado triste. Eu de agora me sinto triste pensando nessa possibilidade.  Eu não quero passar por isso.

Porque eu não consigo imaginar um futuro sem ele.

* * * 

No dia da entrega das prova, fiquei sabendo que Jungkook havia tirado a maior nota da sala. Foi surpreendente porque eu mesmo não tirei (Jimin-inveja 15%).

-- Mas você faltou uma semana, como que pode? 

-- Qual o nome da sua aula de reforço.

-- Jimin.

Jin e Hobi olharam sorrindo para mim, mas Suga animado e otimista como sempre:

-- Por que vocês estão com essa cara de felicidade? Vocês tiraram nota baixa.

-- Não interessa, me deixa ser feliz.

-- Vocês já pensaram "e se eu soubesse o que iria cair na prova?" -- O professor começou a falar e todos foram para seus lugares. -- "se eu pudesse usar uma máquina do tempo?". Eu acredito que é possível construir uma maquina do tempo.

Parando para pensar, será que aquela carta foi enviada a mim por meio de uma máquina do tempo?

-- Como seria possível irmos para o futuro? -- Ele continuou. -- Para isso, deveríamos conseguir nos mover mais rápido que a luz. -- Ele então fez algumas anotações no quadro. -- A partir daqui temos umas teorias não científicas. Um buraco negro possui uma força gravitacional muito grande, que gera uma deformação do espaço-tempo. Por isso, falam que dá para viajar por eles. Se conseguirmos viajar por um buraco negro, também conseguimos criar uma máquina do tempo.

Suga imediatamente levantou a mão. Lá vem.

-- Caso isso fosse possível, o que ia acontecer com os paradoxos que iam surgir? Por exemplo, uma máquina do tempo foi criada, fomos ao passado, e conseguimos mudar o futuro. No futuro ideal que iriamos ter, não iriamos sentir a mínima vontade de ir ao passado; tampouco de criar uma máquina do tempo. Com esses paradoxos, acho que nunca seríamos capazes de viajar no tempo.

-- Até parece inteligente. -- Falei.

-- Fica quieto. 

-- É possível que não ocorra esses conflitos. Para isso, existe a teoria dos Multiversos. Nela, tem muitos passados e futuros, na verdade, nosso universo pode ser apenas um entre um número infinito de universos que compõem um “multiverso”. Eles estão divididos por ramificações. E nele, você apenas cria uma nova ramificação no futuro ao modificar seu passado.

   -- A ideia realmente soa como algo saído da mais barata ficção científica. -- Suga cochichou. -- Mas, tudo bem.

-- Há uma física bastante razoável por trás dela. -- O professor continuou provavelmente ouvido o que Suga havia falado. -- Não há alteração no futuro original, portanto, seguindo esse raciocínio, você nunca seria capaz de mudar um futuro que já existe.

Um futuro... Que já existe?

O sinal indicando o fim da aula tocou.

-- Bom, vamos parar por aqui hoje.

* * * 

-- Vocês acreditam nessa de "universo paralelo"?

-- Não. Só há um passado e um futuro. 

-- Mesmo que máquinas de viajem no tempo existissem, não seríamos capazes de mudar o futuro... Isso me incomoda um pouco.

Falando nisso, as coisas escritas na carta estão ficando cada vez mais diferentes do que está acontecendo agora. Aconteceu porque eu mudei o passado.

No entanto, se o passado está mudando por causa da carta, isso deveria afetar o futuro. E o que tem na carta também deveria mudar. Mas, não está mudando.

Isso significa... Que eu estou criando outra realidade?

Não importa o quanto eu mude o passado, o mundo em que meu eu do futuro vive não vai mudar. Não vai parar de sofrer.

Eu não sou capaz de acabar com meus arrependimentos do futuro.

Enquanto eu andava, uma lágrima ameaçou cair. Hobi andou ao meu lado e perguntou se estava tudo bem.

Desculpe-me, Jungkook do futuro. Eu sinto muito.

* * * 

Uns dez anos no futuro...

Um pouco antes de o Jungkook falecer, ele me mandou uma mensagem. 

Foi à última.

"Jimin, me desculpe. 

Há muito tempo, eu fiz uma coisa que te chateou muito e eu não paro de pensar nisso. 

Fico pensando que fiz uma coisa horrível para você, que magoei você. 

Me desculpe por peguntar assim de repente, mas para quem você ia dar aquele presente no Dia do namorados? 

Apesar de ter perguntado, acho que você não vai me responder.

Enfim, só queria me desculpar, do fundo do meu coração. Obrigado por tudo, Jimin."

Eu me arrependi muito pelas coisas que aconteceram.

Será que ele chegou a ler a minha resposta?

* * * 

-- Ei, você está melhor? -- Jungkook se aproximou depois de eu sair da sala de enfermagem. 

-- Sim.

-- Você começou a chorar do nada, achei que estivesse passando mal. Fiquei preocupado... -- Seu rosto passou do branco meio amorenado para o vermelho.

-- É, eu estou me tornando chorão ultimamente. -- Eu sorri.

Observar ele daquele jeito... Era algo que eu queria aproveitar. Porque afinal, ele estava aqui, estava vivo e estava na minha frente.

-- Sabe, Jungkook... -- Eu falei me encostando-se à parede. -- Lá em casa tem uns filmes legais parados, e meus pais vão sair bastante essa semana... Vou me sentir sozinho, não quer ficar lá para me fazer companhia?

Seus olhos brilharam.

-- Sério?! 

-- É óbvio!

-- Jimin, não brinca com isso que eu não aguento...

Eu ri.

-- Você é quem sabe...

-- Não! Eu vou, eu vou sim! Você... Digo, a sua casa é tão legal! 

-- Né?

* * * 

Depois da aula de Química, começamos a conversar sobre o ano-novo. 

Todos os anos, no fim do festival escolar, lançam-se os fogos de artifício, mas alguns alunos das classes mais altas fazem uma "festa do festival", ou seja, uma balada de adolescentes. E todo mundo vai.

Jin sugeriu que todos fossem esse ano. Jungkook discretamente me chamou para escapar da festa e ir ver os fogos.

As coisas estão acontecendo diferentes.

Ele não me convidou para nada.

-- Jimin hyung. -- Jungkook chamou. -- Se você tivesse uma máquina do tempo, gostaria de ir para o passado ou futuro?

-- Acho que... Futuro. -- Falei. -- Já que não podemos mudar o futuro, quero saber que tipo de futuro terei para mudar meu presente. E você?

-- Passado. -- Ele disse meio cabisbaixo.

-- Por quê?

-- Quero me livrar dos meus arrependimentos. Mesmo que eu não possa mudar o passado, posso pelo menos aliviar o peso do meu coração. Acho que seria melhor do que viver carregando meus arrependimentos.

Entendi.

-- Do que você se arrepende, Jungkook?

Ele olhou para mim e sorriu. Não respondeu. Acho que seria melhor assim mesmo.

Não é?

-- Obrigado pelo convite para ir na sua casa, eu vou aceitar, viu?

Pode ser que, ao mudar o passado, você também acabe perdendo bons momentos (se isso acontecer, por favor, me perdoe).

Há coisas no passado que eu não gostaria que fossem modificadas. Como por exemplo, os fogos de artificio que eu vi.

Lá vem Jimin do futuro querendo que faça o primeiro ato.

Por favor, não apague essa memória. 

Não ia dar, deve ser só uma falha no sistema.

Vou esperar a hora certa. É.

* * * 

JK - JH

-- Eu fiquei sabendo que durante aquela festa depois do festival escolar, são lançados fogos... -- Falei para Hobi que fazia caretas para seu reflexo na piscina da escola.

-- Sim, sim.

-- Eu posso chamar o Jimin para vê-los? 

Ele me olhou desconfiado.

-- Por que está me perguntando isso?

-- Porque você gosta dele, não gosta, Hobi?

Seu olhar mudou para assustado.

-- Hein?!?

-- Todo mundo sabe disso, menos o Jimin.

-- Sério?

Sim. Tudo bem, Jungkook.

Isso é bom, né?

* * *

-- Ano passado você dançou também, não dançou Hobi? -- Jin perguntou.

-- É.

-- Você faz os dois assim facilmente?

-- É que eu sou multifuncional, é um talento que eu tenho, entendeu? 

Então Jin direcionou seu olhar para Jungkook.

-- Jungkook, por que você não participa do concurso de beleza? 

-- Eu?

-- Até que você é bonito. -- Ele falou. -- Não tanto quanto eu, é claro, mas aceitável.

-- Como assim?

-- Você devia me elogiar mais, Jin. -- Namjoon entrou no meio. -- Acha que eu devo participar? 

-- Você acabaria em um concurso sem votos.

-- É o objetivo. 

-- Mas, acho que uma ajeitadinha aqui e ali, te dariam chances. Sem esses óculos. Eu gosto do seu rosto. -- Jin falou confiante. Opa. 

-- Não me elogie.

-- Assim você vai fazer o Namjoon perder a sanidade, Jin. -- Jungkook comentou.

Jin caiu na gargalhada.

-- Você ficou com vergonha?

-- Você é irritante! Sai daqui!

-- Por que você não participa, Hobi? -- Jungkook perguntou.

-- Por que eu?

-- Você é popular. Outro dia você recebeu declaração das três managers do clube.

-- Que? Isso é sério?

-- Sim, das três ao mesmo tempo.

-- São daquelas que farejam um bom corpo a distância?

-- Vou tomar como um elogio.

-- Então, qual delas você escolheu?

Ele parou.

-- Nenhuma, eu já gosto de outra pessoa.

Jin e Namjoon se olharam com malícia. Só eu que estava boiando ali?

-- Sabia!

-- Que?

-- É que nós já sabemos quem é.

Enquanto eu estava escrevendo umas coisas no cartaz para o festival da escola, Suga se levantou com alguns deles e disse:

-- É do Park, não é?

-- MIN YOONGI! -- Hobi levantou em uma velocidade incrível. 

-- HAHA, O QUE VOCÊ ESTÁ DIZENDO? -- Namjoon foi até Suga

Então Hobi saiu dali pisando duro.

-- QUE? Não tem a menor chance! -- Jin falou para Suga. -- Não tem a menor chance, seu idiota!

-- Você é mesmo um idiota! Seu idiota metido a branca de neve!

Eles praticamente voaram no Suga. Ainda sem entender nada. Bem, já estou acostumado. 

-- Vamos quebrá-lo em pedacinhos! Merda!

-- Vocês não estão sendo um pouco exagerados? -- Suga falou enquanto suas bochechas eram apertadas por Jin. -- AAAH, você é doido! 

Eles tem razão, né? Tipo, não tem a menor chance de o Hobi gostar de mim, tem?

* * * 

13 de julho

Primeiro dia do nosso festival escolar, o "festival da Mugunghwa".