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História Ali - 44


Escrita por: ThaLuc

Notas do Autor


Acorda meu povo!!!!
Acoooooorda, menina!

Sim, olhe essa hora.
E eu atualizando a fanfic.
Vamos lá, essa é a parte que eu me desculpo pela demora, como sempre.
Faculdade tá acabando comigo, quando eu vejo já deu um mês desde a última postagem.
Mas pelo menos as coisas tão fluindo, gente.

Vou confessar esse capitulo ia ser postado mais tarde, mas quanto antes melhor né?
Falta só uma cena pra acabar tudo quando uma pessoinha comentou a fanfic e pediu pra atualizar ainda hoje, sim, eu sou o Flash, @DennyRosa

Eu quero agradecer todo mundo que anda lendo os capitulos, quem lê e não comenta, aos favoritos, esses povo tá fazendo maior efeito na minha vida, na minha escrita, na fic.
VOCÊS SÃO FOOODAS!!!!

Um abraço aqui pra @JucyRodrigues3 , pra @monalisacat que tá sempre comentando, pra @davidluizpsg32 que comenta loucamente e eu amo gzuis, pra @claraD4vid, pra @Ciannas e em especial pra @itbaholiveira que eu considero pakas nessa vida digital.
@duda_geezer pode ficar brava comigo quando eu der meus pts e pagar micão nas vida, desculpa por tua amiga ser tão baladeira, te amo, c sabe.
Sem você ali não teria mais sentido na vida. <3

Ps: músicas no final do capítulo, vale à pena ouví-las quando estiver pedindo.

Enjoy <3

Capítulo 45 - 44


Fanfic / Fanfiction Ali - 44


"Me sentia estranha e vazia, incapaz de chorar, incapaz de sentir nada além de um buraco vazio e estéril no estômago."

—  A invenção das asas

 

 

. . .

 

 

A temperatura sobre minha pele aumenta, o calor consome minha epiderme e esquenta meu corpo deitado sob uma toalha perto da piscina. A sensação crescente é boa e em meus lábios posso sentir os sorriso se formando, mesmo que meus olhos estejam fechados devido a luz forte. A verdade é que amo o sol. Sou completamente apaixonada pelo poder que ele emana sobre nós, sua luz é símbolo pra muitas religiões e isso não é menos esperado pra essa divindade que nos acompanha onde quer que vamos.

O sol é combustível pra alma. Sua luz reverbera dentro dos corações amargos e doloridos como cura pras tempestades mais impossíveis. O sol é a diva e a divindade das mais belas canções, repare nisso.

- Trouxe suco pra nós duas. - Abro os olhos com a sombra que Vivi faz em meu rosto e sorrio agradecida, apoiando os braços sobre os cotovelos ao vê-la se sentar ao meu lado. - Você acha que eles vão demorar muito lá? - O corpo moreno brilha com os raios luminosos que nos atinge e eu sinto a aura da garota tinindo em ansiedade. O fato é que os homens da casa saíram depois do almoço pra jogar futebol no campinho que tem no bairro e ainda não voltaram. Regina, e algumas das tias do David foram também. Restando apenas, Vivi, Sara, algumas mulheres, a avó do David, Belle e eu nessa casa imensa. O lado bom é que, por enquanto, o silêncio reina por aqui e eu não me sinto desconfortável com a presença da minha querida sogra.

- Pelo que sei do David, e o pouco que conheço dos outros rapazes, aquela pelada não termina até o sol se pôr. - Beberico um pouco do suco saboreando seu gosto doce e a temperatura gelada que refresca meu peito. Vivi concorda comigo e antes que possa falar alguma coisa, um movimento ao seu lado nos espanta.

Dona Olivia solta os chinelos no chão e estende uma toalha, a qual Vivi se prontifica em ajudar, ela então se deita ao nosso lado fechando os olhos ao sentir o sol banhar sua pele com seu calor. Eu não evito sorrir pra cena, porque eu admiro aquele sentimento, aquela felicidade.

- Vocês acreditam que esse rapazinho não quis dormir de jeito nenhum? - Isabelle aparece as nossas costas, carregando Abner nos braços, seus olhos brilham com a piscina e ele força as perninhas até que ela o coloque no chão. Nós rimos do seu comentário e as outras duas comentam trivialidades.

- Tia coloca em mim? - Giro o corpo sobre os cotovelos e me ergo totalmente quando o menino se estica ao meu lado vestindo o pequeno colete salva-vidas colorido. Ele sorri matreiro e eu fecho velcro em seu peito.

- Abner espera seu tio chegar pra vocês nadarem juntos... - Belle estende uma toalha ao meu lado, senta-se, deixando Abner entre nós duas e olha compreensivamente para o filho. - Você não pode nadar sozinho e a mamãe está cansada. - Seu sorriso murcha e ele desfaz o olhar do meu, o que me deixa terrivelmente angustiada.

- Eu entro com ele, Isabelle. - Digo rápido o suficiente pra assustar nós duas. E, também, o menino que me olha com esperança. Ela também acompanha o olhar do filho e seus olhos sorriem imediatamente, enquanto ela anuí concordando.

Abner não espera nem que eu me levante, suas mãozinhas agarram as minhas e ele dá pulinhos de alegria. As mulheres comentam algo entre elas, e eu me mantenho na missão de averiguar a temperatura da água.

- Pu quê faz isso, tia?

- Tá um pouco gelada, heim. - Comento pras meninas que nos observam.

- Você vai ter que pular de uma vez só, filha. - A avó de David comenta atenciosa. E eu maneio a cabeça concordando, um pouco relutante com a ideia.

- Espera a Tatá entrar que eu te ajudo, tá bom? - Explico pro pequeno que me observa com zelo. Solto seus dedinhos gordos, posiciono as mãos em concha sobre minha cabeça. Sugo uma ultima lufada de ar e tombo o corpo o suficiente pra que quando eu atinja a água meu corpo quebre a superfície ao meio. Fecho os meus olhos, esvaziando a mente, porque não quero pensar no quão gelada a água deve estar. Então meu corpo joga seu equilíbrio pra frente e eu mergulho perfeitamente, sentindo o fluido gelado envolver minha pele e desligando minha mente.

- UHULLLL, NOTA DEZ! - Dona Olivia agita os braços sobre a cabeça quando surjo na superfície.

- Misera.

- Nove e meio porque tô com inveja da tua bunda. - Vivi franze o cenho e ri em seguida quando eu mostro a língua pra ela. - Também quero aprender a mergulhar assim.

- Eu fazia natação quando pequena, lembro de algumas coisas. - Explico ao nadar pra perto da borda, estendendo os braços pro Abner. - Mas se quiser acho que consigo te ensinar.

- Eu quero também. - A avó de David surge animada no meio da conversa e eu dou risada da cara assustada que Belle faz para sua avó, começando uma guerra de olhares com a mesma, o que faz nós todas rirmos no final.

O pequeno fecha as perninhas em minha cintura e nós caminhamos pela piscina e assim segue o resto da tarde tranquilamente, entre risadas, tentativas de Vivi em mergulhar, histórias do passado, Abner se aventurando ao me soltar diversas vezes e Dona Olivia se refrescando na água gelada. Era possível dizer que eu já me sentia em família, mesmo estando a apenas dois dias aqui?

Quando David disse que tudo ficaria bem, eu devia ter acreditado. Na realidade, eu devia dar mais atenção às coisas que aquele zagueiro cabeludo diz. Talvez, mas só talvez, ele tenha razão.

Outras mulheres também se animam em entrar na piscina e o sol poente começa a deixar todas menos acanhadas, inclusive Sara que também se junta à turma. Ela não parece nada intimidada com minha presença, o que me deixa alegre por instantes, até que eu percebo que quando as mulheres conversam comigo ela desvia o olhar, como se eu não existisse. Comprovando o que, de fato, eu já sabia: nossa conversa no quarto foi apenas um esclarecimento das regras do jogo. Ela não estava disposta a erguer a bandeira branca.

A sensação ruim corrói meu peito, acabando com a pouca felicidade que ainda reina em meu peito, assim como a noite corrompe o sol, findando-o. Eu me canso do aperto de Abner e Vivi assume meu lugar atenciosamente, porque o pequeno não parece disposto a sair de dentro da água. Mergulho algumas vezes pra me distrair, tentando fazer a calmaria submersa infiltra por minha mente. Eu crio várias formas de contornar a situação, procuro, também, maneiras de confrontar a garota e acabar com esse clima ruim. Mas nada faz sentido o suficiente em minha mente, há buracos em todos os meus planos. Por fim, escolho o silêncio, assim como ignorar esse mal-estar seja o caminho mais fácil pra ambas.

Apoio as mãos na borda e ergo o corpo, içando-me da piscina, quando vejo Dona Olivia esquivar-se até a cozinha após secar o corpo na varanda. Pelo horário eu não duvido nada que ela esteja se preparando pra começar a fazer o jantar e cozinhar é uma ótima forma de aquecer minha alma, enquanto David está fora. Seco o corpo fora da parte molhada, permanecendo apenas de biquíni ao me juntar á Izabelle que explicava ao filho o porquê de termos que sair da piscina agora pra tomar banho.

- Hum, você está sentindo isso, Abner? - Uma idéia tola surge em minha mente, mas não temos outra escolha.

- O quê? - Sinto os passinhos aproximando-se de mim, porque eu fecho meus olhos e respiro mais uma vez profundamente, como parte do meu teatro.

- O cheirinho da comida que a vovó tá preparando pra gente...

-Hum, tá tão bom...  - Abro os olhos pra encarar Isabelle que acompanha minha pose ao notar que o filho me observa com uma ruga no meio da testa. Nem preciso dizer em quem eu já vi aquilo.

- Acho que quem tomar banho primeiro chega mais cedo pra comer essa comidinha deliciosa. - Instigo-o, observo sua figura pequena com o canto dos olhos, ele junta as mãozinhas sobre a barriguinha e parece atento ao bailado da bisavó dentro do cômodo. Seus passinhos o guiam pra dentro da casa e ele, em momento algum, êxita ou olha pra uma de nós duas. Em silêncio compartilhamos uma risada e antes que Isabelle siga o filho seu muito obrigado é mudo, mas faz milagres em meu peito.

Pra ficar bem, tudo o que preciso é continuar em movimento.

Nada pode me deter.

Puxo a toalha do pescoço e abaixo o corpo pra enxugar melhor minhas pernas, ainda atenta ao caminhar confiante do sobrinho de David. Só que antes que eu termine de acompanhar Abner que entra pelas venezianas da sala, em direção ao banheiro, um assovio estridente clama pela minha atenção. É quando eu percebo que estou a tempo demais com a bunda empinada virada pra entrada da garagem. Giro o corpo cobrindo-me com a toalha instintivamente, procurando olhares conhecidos, missão na qual eu falho miseravelmente até que David se infiltra na multidão e seus olhos caem sobre mim, e meu corpo. Então ele volta os olhos aos amigos à sua volta e cochicha algo baixo ao desferir um pedala na nuca de um deles, o baixinho com o boné pra trás, eu não posso ouvir o que eles falam, enquanto caminham até mim, mas percebo o queixo de David travar quando ele cochicha algo pra eles.

Eu queria correr dali. Esconder meu rosto se possível. Ou mesmo fingir que nada daquilo aconteceu. Mas é claro que eu só queria, porque meu corpo inteiro surtou e meus músculos não corresponderam à nenhum comando que minha mente insana e desconfortável regeu. Eles me fizeram esperar pacientemente pelo grupo de homens que se dirigia alegremente até a área externa da casa, ao fundo eu podia ver as mulheres restantes que acompanharam o jogo, o que incluía a mãe de David, mas ela não pareceu me notar, porque simplesmente seguiu até a entrada da casa.

Pude sentir o olhar dele sobre mim, mesmo que eu me negasse em correspondê-lo. A minha explicação banal pra isso é que: se eu olhasse dentro dos olhos de David Luiz nesse momento correria o risco de deixar que todos compartilhassem do mundo mágico que criávamos pra nós. Só que a cada passo seu parecia mais impossível, conseguia até enxergar ao olhar disfarçadamente seu sorrisinho convencido, e, é claro, o abdômen amostra que saltava com o brilho do suor parado ali.

Giro o corpo sobre meus calcanhares assim que ele se aproxima o suficiente, dispersando a multidão às suas costas. Deixo meu corpo exposto ao subir a toalha até meus cabelos, dedicando toda minha atenção ali ao ouvi-lo conversar algo com alguém dentro da piscina. Seus dedos agarram os meus firmemente, antes que minhas mãos acompanhem o restante do meu cabelo,as pequenas labaredas formigam minha pele assim que eu observo seu sorriso sem-vergonha e ele finda o resto de assunto com a mulher dentro da água. Viro-me a sua frente e desço os braços lentamente, encarando-o com um sorriso tímido, um pouquinho apaixonado. Bem pouquinho, juro.

- Oi. - Seus braços envolvem minha cintura, um deles ainda agarrado a minha mão. Acaricio com a mão livre um de seus braços, deixando a toalha cair no percurso, desde o antebraço até os ombros, acompanhando o desenho que eles fazem envoltos ao meu corpo, atingindo a região de sua nuca, embrenhando meus dedos nos cabelos levemente molhados. Não permito à tentação que minhas pálpebras sentem em se afundarem na escuridão, devido as sensações ilusórias que a respiração descompassada dele contra meus lábios causam. Desfaço o vinculo de nossas mãos, permitindo que ela se delicie com o corpo talhado em músculos da escultura de Michelangelo a minha frente. Só que dessa vez meus dedos serpenteiam do ombro de David até seu pescoço, queixo e boca. - Estou suado, Tha. - A voz de David parece ilusória em meio aquela obra de arte e eu demoro até compreender o que fala, só acordando do transe quando ele ameaça se afastar.

- Eu sei. - Minha voz sai arrastada sob os efeitos da presença do zagueiro. - E não me importo. - Pouso o dedão sobre seus lábios ao que ele sorri, contornando-os como se o desenho deles saíssem da ponta dos meus dedos, como se eu os criasse ao meu bel prazer. Quando estou prestes a dizer qualquer coisa pra nos transferir de volta ao chão, ele encosta os lábios nos meus, me deixando sem palavras. Imediatamente paro o que quer que se passe por minha mente e deixo que ele me beije. Claro que deixo que ele me beije. Sinto uma fraqueza no corpo inteiro. Meus braços caem para o lado. David corre os dedos por meu antebraço, o que me causa cócegas, me fazendo rir entre o beijo que compartilhamos, seus dedos compridos capturam minha mão e ele cruza nossos dedos.

Beijá-lo é extraordinário. É minha droga preferida, seu cheiro agridoce e a pele úmida transformam tudo em um cenário propício pra isso. Beijá-lo.

As nuvens etéreas consomem meu corpo, me transportam pra algo fora da estratosfera até que uma sensação dormente consome a base da minha coluna.

Culpa.

- Não... - Sussurro contra seus lábios, cerrando meus punhos quando ele insiste com mais um selinho. Seu resmungo é engraçado, mas eu permaneço imóvel. Dou um passo pra trás, sendo seguida por ele, que me envolve a cintura e afunda o rosto na curva do meu pescoço. - Não acho que devamos fazer isso na frente dela. - Seus lábios brincam com a pele fina do meu ombro, fazendo ondas de regozijo abalarem meu corpo pequeno. Coloco os braços em seu peito afastando-o quando David ri nasalado contra minha orelha, provavelmente devido aos arrepios que ele presenciou.

- Minha mãe não liga, Bobinha. - Traz o rosto para trás, o suficiente pra que possa me encarar sem que nossos lábios se toquem. Volvo os olhos ao nosso redor e percebo algumas poucas pessoas, todas elas fingindo não nos observar.

- Não sua mãe. Sara. - Seus olhos transpassam sobre uma gama de cores esverdeadas, voltando ao castanho natural. O sorriso se desfaz e ele faz um bico pensativo, ele pondera sobre os prós e contras de me deixar até anuir, brindando-me com um beijo no topo da minha cabeça. Sei que no fundo ele está agradecido por eu ter lhe alertado, mas talvez ele possa também estar surpreso. Surpreso por eu não ter me aproveitado da situação e provar qualquer coisa para sua ex-namorada.

- Vou tomar banho, - Desce uma trilha de beijos por minha têmpora, atingindo minha orelha desprotegida com seu hálito quente. - Gostosa. - Eu sinto o tapa leve atingindo minha nádega ao mesmo tempo em que ele me solta, seu último sorriso é lascivo, mas quando vira-se posso acompanhar a cara de tapado que lhe cai sobre a face.

E eu sorrio, porque essa é a maior habilidade que eu aprendi com David Luiz. O riso.

 

 

. . .

 

 

Ler escutando: You're the One That I Want - Lo-Fang

- D-David? - Minha voz falha quando atendo sua ligação ainda pelo fone, onde até então Samuel Rosa embalava o início de um sono calmo e profundo, refúgio para o meu corpo cansado.

- Você pode vir até aqui fora, por favor... - Sua voz neste momento é baixa, e a rouquidão dá sinal de que ele fala sério, o que não é comum pra David.

- Mas tá tudo bem? - Jogo os pés pra fora da cama, desplugando o fone de ouvido. - Por que você tá sussurrando?

- Não questiona nada, só vem logo. - Seu timbre rouco sobe levemente uma oitava ao fim da frase. E mesmo que ele tenha desligado na minha cara suspiro aliviada porque em meu íntimo sei que está tudo bem. 

Procuro meus chilenos sob a os pés da cama, ergo os olhos pra cama onde Sara deveria estar dormindo, entretanto a tela de seu celular está acessa e ela desliza os dedos pelo teclado, com os fones de ouvido e as costas viradas para mim. Permito que um suspiro pesaroso escorra por meus lábios. Odeio saber que ela pode me odiar. E odeio mais essa sensação de incapacidade diante a situação. Não podemos escolher por quem nos apaixonamos, oras.

Impulsiono meu corpo pra fora da cama, ainda com o celular na mão tateio as paredes entre as penumbras que se formam através do celular da portuguesa, ainda não conheço o cômodo direito. Um arrepio corre meu corpo quando minha pele entra em contato com o metal gélido da maçaneta e sem mais delongas giro-a entre meus dedos. O corredor faz se escuro a minha frente, só que não sinto medo. Nunca tive medo do escuro, é com esse pensamento que entrego-me a ele, isolando o quarto às minhas costas com um pequeno empurrão na porta. Mesmo que minha mente convença todo meu corpo que não há mal algum na escuridão, meu coração tilinta contra minha caixa torácica, e esse seria o único som do corredor se não houvesse outro tão parecido com o meu.

Não estou sozinha.

Destravo a tela do celular tingindo o pequeno espaço com sua luz amena. Não demora até que eu reconheça as íris esverdeadas que refletem sua pouca luz até meus próprios olhos, encharcando-me com a libido que ele transmite através do olhar. Sou sua presa novamente. O escarlate em seus olhos analisa-me dos pés a cabeça, fazendo-me ofegar com o arrepio lancinante que me causa.

David mantêm o corpo recostado a parede a minha frente, os cachos pendem em fios desconexos sobre seu ombro nu. Somos apenas o reflexo dos desejos um do outro, fantasmas incrustados em nossa própria alma. Um singelo e pálido espectro de nosso amor, nossa paixão veemente. Quero tocá-lo, minha pele arde férvida pelo seu toque, pelo seu carinho. Entretanto sinto-me paralisada, meu sistema nervoso não recebe as devidas respostas dos meus músculos. Mais um dos efeitos do frenesi presente no olhar de David Luiz me causa. 

Deslizo o olhar por seu rosto tingido pelo fulgor de cores inconstantes do meu celular até reconhecê-los. Seus lábios rosados são minha perdição, sua boca meu homicida particular. Posso transbordar cada vez que eles tocam minha pele, ou simplesmente curvam-se assim. Como agora. Reflexos de todas as intenções presentes no subconsciente de David. Essas que não passam despercebidas por mim, por meu próprio âmago. Que se faz conectado com o do jogador, desdobrando meu estômago com a força suntuosa de pequenos furações que explodem abaixo do meu ventre num mar de borboletas coloridas que mais se assemelham a fogos de artifícios, fazendo minha pele pinicar e meus poros se eriçarem. Ofego mais uma vez, mortificada pela sinestesia que ele me causa. E seus lábios curvam-se mais ainda, acabando com o que resta da minha consciência.

Não devia eu como presa relutar à favor da minha própria vida? Ser a protagonista da minha história de vida e morte? Porém como fica a presa quando a vida do predador é o motivo da sua própria existência?

Ela se entrega?

Porque eu me entrego.

Deixo-me ser levada assim que David dá um passo em minha direção, eu o imito. Seus braços rodeiam minha cintura e cravam-me contra seu peito quente e duro. Não perco de vista seus lábios, erguendo o pescoço, seus olhos passeiam por meu rosto, marcando minha pele com o rastro de seu olhar. E mesmo se ele fosse meu predador natural e esse fosse meu fim, meu último suspiro seria de alivio. E eu morreria feliz por, pelo menos, ter pertencido à ele no final.

Antes que eu perca de vista seus lábios que tocam minha testa num estalar de lábios sereno, a luz provinda do celular se apaga. Mas não estou na escuridão, não quando o tenho por perto. David é a melhor fonte luminosa que existe. Por mais que sejamos tão fugazes como um grito no vácuo, ele é a luz presente nas trevas. E seria difícil não me apaixonar mesmo estando a quilômetros de distância. Ele é apenas o sol que nasce todas as manhãs.

- Você esqueceu do meu beijo de boa noite. - Sussurra ainda sobre minha pele. Corro as mãos por seus braços bem delimitados e nus, me certificando de que o celular não vá escapulir entre meus dedos. 

Seus olhos capturam os meus  quando ele afasta os lábios da minha testa, apenas pra beijar minhas têmporas, jogando algumas das mechas do meu cabelo para trás com a ponta dos dedos. Assim meu pescoço fica livre pra ele escorregar os lábios da minha orelha até a altura da jugular. Quando seu rastro quente toca a pele fina do meu pescoço, arqueio as costas com a intensidade do calor que transforma meu sangue em lava vulcânica, cravando meus dedos trêmulos em seus ombros firmes. Não domino meu corpo mais. Na verdade não tenho dominância sobre mim desde que pus minhas vistas em David Luiz. 

O baque surdo do meu celular atingindo o chão tira David de sua concentração, e a mim também, fazendo o resfolegar contra meu pescoço em seu riso nasalado. Ele se afasta minimamente para se abaixar e pegar o aparelho para mim, guardando-o em seu próprio bolso. 

- Pare de tremer. - Implica em seu tom rouco, transbordando meu desejo ao tocar minha cintura com os dedos quentes sob a blusa fina que uso.

- Estou com frio. - Minto, na realidade meu corpo estava em chamas. Pequenas labaredas que incendiavam meu interior, desde a região inferior alcançando meu coração na superior, excitando a superfície. 

David sorri pra mim, pegando-me em minha mentira. Não aquele sorriso de antes. Esse sorriso é aquele que faz  garotas tornarem-se suas fãs pelo simples fato de ser a coisa mais sincera em toda a complexidade do mundo.  É por esse sorriso que os jornalistas cravam em David a marca de jogador mais carismático dos campos. A maior diferença desse sorriso para os outros que ele me lançou na noite é que, dessa vez, seus olhos sorriem também. Não de modo literal, seus olhos são espremidos pelas maçãs do rosto, formando uma covinha engraçada e fofa na região. 

Ele suspira contra meus lábios num riso fraco, aperta mais minha cintura e cola minha superfície à sua deixando-me tonta. Mas só perco totalmente o ar quando toca minha boca com a sua, primeiro um selinho molhado no cantinho e logo depois suga meu lábio inferior. E mais uma vez eu me entrego, corro meus braços por seu pescoço. Içando nossos corpos para trás busco apoio  na parede. Minha costas chocam-se com a parede de concreto, ardendo a região em minha lombar. Tombo o rosto pra aprofundar mais o beijo, só que não é suficiente, portanto desço os braços, agarrando seu pescoço com as duas mãos, beijá-lo é meu delírio particular. Meu veneno é David Luiz. 

Escorre as mãos por minhas costas e as desce em direção ao bumbum, acho que ele ira apertar e isso é o bastante pra suspirar contra seus lábios. Sinto-o sorrir enquanto mordisca a região dos lábios inferiores e se abaixar levemente pra apalpar minhas coxas trazendo a pra cima. A felicidade e o delírio que me transbordam é demasiado ao meu corpo débil. E dessa vez um som mais alto que um simples suspiro escapa por meus lábios, grunhido de deleite extremo. 

David aperta minha pele com as mãos calejadas e eu embrenho minhas mãos em seus cabelos, sentido os poros em sua nuca eriçados. Tombo o pescoço pra trás porque me falta o ar, maldito-o seja. Ou não, porque a língua dele escorrega por minha pele a mostra, chupando em seguida e sei que restarão marcas quando acordar. 

Não lembro de tomar essa decisão, mas tão rápido quanto a velocidade da luz estou com as pernas ao seu redor, minha intimidade úmida chocando-se contra  a sua e, dessa vez, o grunhido de desejo pertence à ele.

Percebo tarde demais de que meus atos impulsivos devido a presença do jogador restarão conseqüências. E não acho que esse seja o melhor lugar pra experimentar das conseqüências de David Luiz. Mas é tarde demais pra lembrá-lo sobre integridade, justo quando nossas línguas massageiam-se de maneira tão indecente. Minhas mãos apertam e deslizam por suas costas, porém sinto que devo demonstrar com mais afinco o que sinto, entendam que cada ato meu parece pequeno diante a tudo o que ele me faz sentir, por isso finco as unhas em sua pele clara, puxando-o mais pra mim, como se isso fosse possível. Em resposta David solta meus lábios e eu abro os olhos espantada. Suas sobrancelhas estão unidas e ele sustenta um bico semi aberto, enquanto os olhos estão semicerrados procurando algum tipo de controle dentro de si. Quando abre-os e me encara ainda assustada, sorri levemente. 

- Eu sei que isso é bom, Tha, só que se você continuar assim amanhã eu não vou poder tirar a camisa perto das outras pessoas. - Encaixa os lábios sobre os meus e a cada sílaba sinto minha intimidade latejar, entretanto, pra meu desespero, não torna isso um beijo, e eu sorrio sem graça e extasiada pelas sensações que me causa quando se afasta o suficiente pra tomar meu rosto com os olhos.        

Não possuo neurônios suficientes nesse momento pra formular uma frase qualquer, quiçá uma provocação tentadora. Minha psique se dedica atenciosamente ao meu corpo. Experimentando dos efeitos que David tem sobre mim. Aproveito disso pra mostrar com ações o que não consigo com palavras. Puxo meu próprio pescoço para trás, afastando meu rosto do dele, só pra surpreende-lo quando mergulho de volta aos seus lábios. Explorando sua boca com a minha. Já consciente dos meus atos arranho leve e lentamente a superfície das suas costas, numa provocação baixa que o faz morder meu lábio fortemente antes de soltar minha boca.

 - Droga, - Contrai o cenho e desencosta meu corpo da parede, passando um dos braços sob meu bumbum para dar apoio. Fecho os olhos, na esperança de não perder o ar com mais uma de suas atitudes, só que minha tentativa é vã. Minha sanidade é esmagada como um castelo de areias quando ele captura os cabelos da minha nuca com a mão livre, içando meu rosto para cima, favorecendo sua visão de mim. Sinto-me corar porque sei que ele me analisa e estou numa situação patética o suficiente pra não ousar abrir os olhos pra encontrá-lo em meio à escuridão, fazendo-se luz própria. - como eu queria ter um quarto só pra nós dois... - Puxo o ar pela fresta em minha boca, sugando meu lábio inferior, porque já sinto falta do  gosto dele misturado ao meu. - Você não faz idéia do tanto que esse troço no meio das minhas pernas está me torturando. - Traz minha testa de encontro com a sua, encarando-me tão de perto que não posso deixar de olhá-lo de volta. Suas íris esverdeadas são inexistentes devido a pupila dilatada, tanto pela escuridão quanto pelo desejo. - Só você... Hm... - instintivamente puxo os fios em sua nuca suavemente, fazendo-o gemer em resposta. - Só por você, Thais.

Seu nariz afaga o meu grosseiramente num tipo de carinho. Não importa. Se ele me tocasse com os pés ainda seria carinho. Nesses nossos momentos de entrega sei que o mínimo contato entre a pele de um com a do outro se transformará em afeto. Tesão. Alguns acham essa pequena palavra carnal demais pra adjetivar um momento romântico como esse. Só que ela é a que mais resume a sensação de amor misturado ao desejo. É quando o corpo se funde com a alma e nós nos deixamos ser o que realmente somos. Perco meus pensamentos pro exterior quando David gira nossos corpos e eu sinto-o escorregar as próprias costas na parede e, logo, o chão toca meus pés. Sua excitação toca a minha deixando-me eufórica, as borboletas ameaçam saltar por minha boca, mas como eu as aprisiono elas voltam a borbulhar em meu ventre. Sei que ele vive um dilema interno quando eu me remexo sobre seu colo, atiçando-o sem querer, e ele transforma seu gemido em um suspiro de desagrado, apertando fortemente minhas coxas com as mãos num ato de total desespero.

- Por mim está tudo bem. - Respondo-o em suas questões internas, minha voz sai rouca o suficiente pra ser apenas um sussurro que o faz abrir os olhos. - Eu sei que não vai dar pra fazer isso aqui. - Cravo as mãos em seu pescoço puxando-o para olhar em meus olhos e me deliciando com a pele febril do local. Isso torna tudo real. Pra mim é quase como se eu vivesse eternamente em um sonho. David Luiz é bom demais pra ser verdade.

- Mas eu preciso tanto de você... - Rio do seu jeito manhoso ao falar baixo, deixando a cabeça pender para trás, batendo-a no concreto num gesto infantil. David projeta os lábios em um bico e bufa com os olhos fechados. Não me agüento e mordo-o, fazendo ele sorrir ao inicial um beijo mais calmo. Sua intimidade ainda toca a minha, e tenho certeza de que estou tão molhada que meu líquido atravessou os dois tecidos que a mantém presa, pensando na melhor forma de esfriar as coisas quebro o beijo e saio de cima de suas pernas. Seus protestos e suas mãos não são o suficiente pra me impedir de sentar ao seu lado puxando minhas pernas pra abraçá-las. Porque a primeira coisa que sinto é a falta do corpo do jogador.

Agora seu rosto está mais alto que o meu e quando viro-me para olhá-lo preciso erguer o queixo. Ele sorri, "aquele" sorriso, e eu sei que tenho que me preparar pra o que quer que ele tenha pra falar. Enquanto ele me esquadrinha com os olhos, perco-me em sua profundidade por instantes. Depois, busco sua mão com a minha e cruzo nossos dedos sobre sua coxa. Seu polegar faz círculos sobre minha pele e eu recosto minha cabeça em seu ombro, comungamos de nossa cumplicidade como confidentes de um crime. 

 - Como está sendo pra você? - Passa o braço por sobre meus ombros e eu me encolho em seu corpo, enquanto ele pousa o queixo no topo da minha cabeça. 

 - Sua mãe não gostou de mim. Sua irmã é muito educada, mas não acho que ela aprecie nós dois. Sara finge que não existo, como se eu fosse indiferente. Fora isso está tudo bem. - Jogo a cabeça para trás, olhando-o nos olhos quando sorrio sem graça sem muita verdade. Não é como se eu quisesse soar negativa, embora minhas palavras tenham surtido esse efeito. Solto o ar preso em meus pulmões quanto ele tenta falar, já o interrompendo, e pouso uma das mãos em seu peito. - Vai ficar tudo bem, - Enfatizo o verbo no futuro, tocando-o com a mão livre. - sua avó parece ter gostado de mim... Embora eu ache que ela vá gostar de qualquer uma que possa dar bisnetos a ela. - Dou de ombros, enquanto dedilho seu esterno em um carinho suave.

 - Meu pai disse que você é uma boa pessoa, que só está meio perdida em relação a bagunça que é nossa família.    

- Eu gostei. - Digo com uma convicção exacerbada que soa de forma um pouco falsa ao sair da minha boca quando, na verdade, quero provocar o contrário. -  Você não sabe a sorte que é ter uma família desse tamanho. O quanto eu gostaria de ter tido isso tudo. - Por fim, suavizo o tom de voz desviando meus olhos dos dele.                          

- Eles são sua família agora. - Sua mão livre corre pela extensão do meu corpo, pousando em meu queixo para reergue-lo, forçando-me a encarar seus olhos.

- Não prometa o que não pode cumprir, David Luiz. - Censuro-o com um  sorriso contido transbordando os lábios. Apesar de sonhar com isso, com a partilha de amigos e familiares, a junção de todos os nossos amores. Custo acreditar que possa, quem sabe um dia, ganhar a confiança de todos. Ou talvez seja só essa sensação estranha e amarga que toma meu peito desde a minha última conversa com Carlos.   

- E não prometo. - Disse convicto, capturando-me do mar de pesar que eu própria me envolvia. - Você sabe disso como ninguém. - Seus olhos lembram-me de todos os momentos em que fui vítima e cúmplice do caráter imaculado de David, as cristalinas bolas âmbar nunca me deixariam olvidar disso. E eu nem mesmo queria que elas deixassem. Eu as queria para sempre assim, como nesse momento, olhando-me, instigando-me, confortando-me, amando-me.

Para sempre por perto.

Nunca distantes.

Findei o caminho desconexo de meus dedos e envolvi sua nuca com minha mão, afundando meus dedos em seus cachos para confirmar com um aceno o que eu já sabia. Influindo com o castanhos dos meus olhos as sensações e pensamentos que se apoderavam de mim. Certa do envoltório de amor, paixão e entrega que tomava nossos corpos, tocando nossas almas.

Éramos partes iguais de um mesmo sentimento. Pelo menos até que seus lábios capturaram os meus e minhas pálpebras desconectaram-se daquela conexão abstrata e partiram pra uma mais tangível e, de certa forma, deliciosa.

- Eu não consigo mais ficar... - Seu hálito fresco expulsou a névoa que envolvia minhas vistas todas as vezes em que me beijava, trazendo-me à tona.

- Hm? - Suas palavras não me fizeram sentido por um momento. Era como se ele retomasse algo que já havíamos conversado, eu só não me lembrava o quê. Com muito custo forcei meus olhos a deixarem seus lábios e olharem em seus olhos, encontrando-os observando-me atentamente.

- Eu não consigo mais ficar longe de você. - Seu sussurro tomou meu corpo por inteiro, acordando minha alma como se tivessem jogado um balde de água fria e instantaneamente coloquei-me em alerta.

As palavras que ele dizia soavam mais ferozes do que quando falava que me amava. A necessidade em me ter ao seu lado era mais verdadeira que a de um viciado em drogas, as bolas de um cristalino âmbar de seus olhos entoavam a precisão atroz desse sentimento. E por um momento senti medo. Não tive medo do sentimento de David por mim, porque eu também o sentia. Meu pesar caminhava sobre o manto lúgubre das últimas intuições que eu pressentira e eu não me perdoaria se magoasse David Luiz.

- Por que tá falando isso? - Ele afastou o corpo um pouco, sem deixar que seus olhos desgrudassem os meus, apenas pra que eu passasse minhas pernas sobre as suas, numa posição mais confortável pra que continuássemos a nos encarar. David sentiu o desespero presente em minha voz quando envolvi seu rosto com afinco, exasperada por mais respostas acerca das suas aflições.

- Porque tive um sonho.

- Eu tava no seu sonho?

- Tava. - O ar parecia pesado, faltava a cada silaba que ele expurgava de sua garganta. Os olhos de David zapeavam sobre meu rosto de forma insana, era quase doentia a maneira como me analisava. Seu sonho era real. - Invadiu meu sonho, - Uma de suas mãos contornou meu rosto, quase como se estivesse firmando minha existência para si. - tomou meu sonho, - E então ele sorriu, lindamente, seu sorriso pareceu iluminar suas vistas enegrecidas, acendendo algo dentro de mim, novamente. - tava linda.

- Que bom. - Não sorrir de volta, abobada, era quase impossível.

  - Só que pra isso falta uma coisa...

- O que? - Franzi a testa não gostando do tom soturno que voltava em sua voz, ainda confusa com toda a intensidade e complexidade daquela conversa.

- Você comigo em Paris.

                               

 

. . .

 

 

A superfície quimicamente rija da água quebra sobre minha face, eu fecho as mãos em conchas mais uma vez e encho o espaço com mais da água gelada da pia. Sinto o líquido refrescar minha pele e quase que instantaneamente posso sentir os pensamentos obscuros esvaindo-se da minha mente. Um arrepio lúgubre atravessa minha espinha quando constato que a freqüência com que esses pensamentos me atinge tem aumentado a cada vez que me aproximo mais de David.

Apoio as mãos ao redor da pia de porcelana com firmeza, tanta que os nós dos dedos ficam esbranquiçados devido a pressão. Encaro meu reflexo sobre o espelho, pedindo socorro mentalmente aos olhos castanhos que me encaram veementes. Quanto mais eu me deixo afundar em David maior é o aperto que se faz em meu peito. Eu não entendo! Sorvo uma quantidade de ar satisfatória quando começo a ficar sem ar, a caixa torácica movimenta-se e eu engulo secamente a dor que se instala em meu peito, enfraquecendo meu âmago, meu timo.

Observo meus lábios afrouxando seu aberto um contra o outro, enquanto eu ergo uma das mãos até meu próprio pescoço, parando-os dedos frios sobre meu ponto de energia vital. Massageio o local com a ponta dos dedos magros e respiro. Torno minha respiração meu foco, esqueço dos olhares que venho recebendo nos últimos dias, desde os curiosos vindos dos amigos do jogador, do olhar presunçoso de sua mãe, o olhar translúcido meado em verde claro  do próprio e os olhares afiados da sua ex namorada. Findo aquela massagem subindo os dedos até minha nuca, onde eu aperto pontos estratégicos pra me livrar da tensão.

Creio que todo esse peso sobre minhas costas seja a responsabilidade de se carregar o mundo de David.

"E de fato é isso. Mas quer saber? Vai passar."

É o meu primeiro pensamento positivo há dias.

Treino um sorriso pro espelho, observando as bochechas cobrindo todo meu rosto. Enxugo o rosto com a toalha ali pendurada e deixo o banheiro do andar de baixo me sentindo melhor do que quando entrei, feliz ao ser surpreendida pela música alta que preenche os cômodos.

Ler ouvindo: Pimpolho - Art Popular

Eu sigo os acordes e as vozes entoando um pagode conhecido, passeio pelo corredor, sala e cozinha sem ser notada, até que uma única cena finda com todos os pensamentos e sentimentos ruins que me invadem. Se havia escuridão dentro de mim ele era a luz capaz de clarear meu mundo todo.

Meu corpo era atiçado pelo som do surdo e do pandeiro que ritmavam com a sincronia esplêndida no costumeiro pagode brasileiro, o cavaquinho trazia o toque final pra música e a voz engraçada do Marcio Art abalavam as paredes internas do meu corpo. Não dá pra ficar parado quando toca pagode, não dá mesmo. Mas eu me contive, juro, a vergonha foi maior. Escorei meu corpo no batente da porta da cozinha e observei David se movimentando.

David Luiz é todo lindo. Não só pela personalidade, que me encanta a cada dia mais. Mas, também, por fora. A cada passo que ele arriscava, e a cada jogada de cabeça, e cabelo, eu não conseguia conter os pensamentos impuros sobre sua habilidade corporal. Admito aqui, nessa nota mental, que ele é gostoso. O zagueiro é um tesão. Pronto falei. Só não vamos deixar ele e seu ego elevadíssimo saber disso.

Eu me encolhi contra a porta quando ele girou o corpo pro meu lado, ele não me deixaria em paz se me pegasse o observando. Seu sorriso chamou minha atenção e me senti bem imediatamente. A felicidade de David era a minha, em hipótese alguma isso mudaria. Seus olhos rodearam o local e ele não me distinguiu ao fundo de todas aquelas pessoas. Seus pais davam passinhos engraçados e sincronizados, o que animou mais e mais casais ao redor, fazendo as pessoas se espremerem umas contra as outras em pares.

Se tem uma coisa que me deixava alegre era ver pessoas se divertindo, eu podia não estar dançando, mas estava me divertindo. O sorriso contagia. Mesmo com todas as pessoas não foi difícil distinguir o jogador com sua cabeleira exuberante e a altura de vara verde. David abaixou-se um pouco, sumindo da multidão e em seguida o vi trazer a avó pro meio da roda. Dona Olivia colocava uma das mãos na cintura e arriscava passos rápidos que lhe pareciam destreinados, mas que nunca sumiriam de sua memória. Eu não contive uma gargalhada quando ela rebolou tentando descer até o chão quando o ritmo da música aumentou. David parecia brilhar como uma estrela em meio à todos, ora ou outra as pessoas mexiam com ele e ele se dedicava aos amigos. Sem nunca deixar a avó sozinha em sua dança.

Joguei a cabeça pra trás em uma gargalhada copiosa ao vê-lo imitar uma globeleza e sambar na ponta de um salto imaginário, jogando os cabelos de um lado pro outro. Na minha cabeça eu imaginei a Narceja do filme Up, aquele com o garotinho e o velhinho que carrega uma casa nas costas, com uma peruca da Maria Bethania, tentando sambar. Sim, desculpa, David. Mas eu não mando na minha imaginação fértil. Eu ri e dei passos pra frente, me escorando na parede pra sustentar o corpo.

Se a minha missão era passar despercebida, falhei. Quando me esgueirei de volta pro lugar de antes, abri meus olhos e encarei o único olhar que estava evitando. Me fiz de desentendida e dei passos retesados pra dentro da cozinha, acompanhei David com os canto dos olhos. Primeiro ele parou o que estava fazendo, ficando sério. Depois eu reconheci aquele olhar matreiro e o sorrisinho divertido disfarçando-se de cínico. As covinhas em sua bochecha se formaram e ele mordeu os lábios. Antes que eu pudesse entrar completamente na casa eu o vi cochichar algo pra avó, fazendo-a olhar pra trás, pra mim.

Droga!

Meu instinto me mandou correr do meu predador quando ele deu passos suaves até onde eu estava, se eu me escondesse em algum cômodo ele não teria tempo de me achar. Mas isso seria infantil demais, não? Então eu fiquei. Neguei o instinto que gritava em minha mente pra que eu me afastasse e fui em sua direção, em meus lábios um sorriso compartilhava da mesma piadinha que ele. Como cúmplices. Cruzei meus braços e apoiei-me contra o batente, passando uma imagem mais relaxada. Eu não entregaria o doce assim tão facilmente.

- Gostando do show particular? - Ergo uma das sobrancelhas quando ele apóia a mão sobre o batente, deixando-me presa entre seu corpo e a parede, contendo o sorriso malicioso que atravessa meus lábios. Não contenho morder os lábios, porque David está perto demais e seu perfume agita as borboletas em meu estômago.

- As vezes acho que você devia trocar sua carreia, - Eu brinco com a tonalidade da minha voz, aproveitando do som alto pra me aproximar dele, apoiando-me em sua barriga dura, pra dizer em seu ouvido. - você seria uma ótima Globeleza, Vid. - Abafo meu riso em sua orelha, sentindo seu corpo tremelicar em minhas mãos.

Nada mais divertido do que a presa brincar com o caçador.

David deixa a postura rija depois de alguns segundos e ri, procurando meu olhar. Quando seus olhos translúcidos atingem os meus eu desmorono, fosse qual fosse nossa brincadeirinha de poder ela tinha se esvaído. Nossa época de paquerar já passou.

- Ah é? - Questiona com um sorriso atravessado em sua face. - Me mostra como eu faço, então. - Tira-me do meu encosto e joga-me para o quintal com um empurrão sutil. Eu nego com a cabeça, aproveitando pra ver se alguém nos observa, mas as pessoas ainda curtem o pagode que se segue. - Tô curioso, Tha. - Dou de ombros, aceitando seu desafio. Guio meu corpo pra mais perto do seu e deixo um beijo estalado em sua bochecha. Volto alguns passos pra trás e jogo a cintura conforme levo os pés um pra frente do outro, sincronizando meu corpo com a música. Eu acelero os passos e aproveito pra rodar rapidamente, jogando o bumbum pra frente e pra trás, espontânea. Eu rio em meio aos meus passos de dança com os olhos fechados, porque meu corpo pinica com o olhar intenso de David sobre mim, mais a vergonha de alguém mais estar de olho em nós.

Ameaço abrir meus olhos, mas as mãos de David me agarram a cintura e o braço. Levando-me pra perto da caixa de som, onde os outros estão, quando a música finda e começa outra um pouco mais lenta. Eu ergo a cabeça minimamente, enquanto sou içada por seu abdômen duro, seu maxilar está tenso, mas ao me perceber ele sorri suavemente e eu já não sinto mais meus pés tocarem o chão, porque pra onde ele quiser me levar, que assim seja.

Ler ouvindo: Brilho de Cristal - Pixote 

O jogador me faz dar mais alguns passos, antes que o som de um pandeiro entre ao fundo, animando um pouco mais a canção. Deixando-a mais dançavel. Sinto o olhar de Regina sobre nós, quando David me contorna, parando à minha frente e tomando minhas mãos, fazendo com que eu me encaixe em seu peito. Aspiro seu perfume, me perdendo nas sensações que aquilo me causa. Sinto fogos de artifícios explodindo sob a boca do meu estômago e sorrio pra sensação ao perceber seus braços me espremendo contra seu abdômen.

- É o brilho do seu olhar. Que me leva a loucura. Pode ser minha cura. Essa febre de amar. Faz o que quer de mim. Faz um bem faz um mal. Nosso amor será sempre assim. Um brilho de cristal. - Entorno a cabeça, desencostando-a de seu ombro, assim que ele começa a cantar. Com o canto dos olhos posso ver a avó do jogador sorrindo, sendo levada em um ritmo um pouco mais calmo que o do pandeiro por algum sobrinho seu. No meio do caminho os olhos cor de mel de David me hipnotiza e sua boca me chama atenção. Ele cantarola e me embala em seu ritmo perfeito, e, por sorte eu o acompanho, passo a passo, perfeitamente. - Quem me dera ao menos uma vez poder te abraçar e te beijar. Bem pertinho desvendar o brilho desse olhar. Que ilumina minha vida.Triste vida sem você não sou ninguém. Vem cá me dá.Me dá você meu bem - Seus dedos escorrem por minha cintura e ele a aperta mais, como me advertindo pra prestar mais atenção ao que ele fala. Mas eu não consigo, David Luiz é muita coisa pra mim. Ele é areia de mais pro meu caminhãozinho. Eu não posso ficar no mesmo metro quadrado que ele e não me embananar com as coisas ao redor, ou só com ele. Ainda mais quando ele canta esse tipo de música indecente. - Porque ando tão sozinho. Precisando de carinho. Juro por Deus, jamais amei assim. É desejo demais. Vem pra ser minha paz. Abre o seu coração. Vem pra mim. - Quando eu volto até seu olhar, já é tarde demais, porque só agora eu me liguei que ele canta pra mim. Ele se afasta minimamente pra fazer caretas referentes ao apelo do cantor. Sorrio timidamente e sinto sua risada nasalada invadir o seu rosto, mas David a contém mordendo os lábios. A covinha em seu rosto é demais pra mim e eu me aproximo, mesmo que isso não fosse mais possível, findando com a única camada de ar que nos separava num selinho efêmero, porém, significativo. - É o brilho do seu olhar. Que me leva a loucura. Pode ser minha cura. Essa febre de amar. Faz o que quer de mim. Faz um bem faz um mal. Nosso amor será sempre assim. Um brilho de cristal. - Eu me afogo na curva do seu pescoço, seguindo os passos de David. Às suas costas, Vivi faz joinha com uma das mãos, também agarrada ao marido, enquanto ele à leva ao som animado da música. A gargalhada se apodera de mim ao que o zagueiro me emburra levemente e samba como um verdadeiro mestre de sala. Eu me derreto e fico parada ao seu lado, o observando. Seus dedos rodeiam minha cintura e ele me traz pra um beijo, enquanto rimos. Seus lábios moldam-se perfeitamente aos meus, sinto-o mordiscar meu lábio pedindo por mais, só que eu murmuro em negação. David não se afasta, mas mesmo assim me surpreende com a mão em minha nuca, afundando meu rosto contra o seu. Quando ele entorna nossos corpos eu me assusto e abro os lábios, permitindo a ele, e a mim, um beijo intenso.

Não permito que nossas línguas travem uma guerra tão absurda, quando me sinto desconfortável por estar fazendo isso em meio a tantas pessoas, afasto-o com as mãos em seu peito. Os glóbulos transparentes de David anunciam aos meus seu desejo, aquele que não cessou desde a noite passada. Ao que suas pupilas continuam dilatadas eu me afasto, porque não acho que provocá-lo seja uma boa ideia. É por conhecer dos extremos de David Luiz que eu me afasto em direção à cozinha.

O conteúdo do copo refresca minha garganta quente. Silencia os hormônios ferventes em meu corpo. Eu tento não imaginar o corpo do zagueiro, o toque, ou o gosto, mas a cada tentativa eu falho mais. Encosto o corpo na pia e viro mais um pouco de água em minha boca. Fecho os olhos e aproveito pra entrar em meu próprio mundo, calando os sons ao meu redor. Trago o copo a boca e no curto espaço de tempo em que o cristal toca meus lábios eu percebo que não estou mais sozinha. A sintonia fina com o espaço me avisa de que há alguém me observando e pelo mal pressentimento que isso me causa sei que não é David. Quando ela fala eu não me assusto  tanto quanto deveria.

- Eu vi. - Abro os olhos, esbugalhados. Dona Regina está escorada à porta, escondida pelo tampo de madeira dos olhos alheios vindos de fora. Sinto o coração aceleram ao perceber que estamos sozinhas. Apenas eu e ela.

Se achava que David era meu maior predador em meio à essa selva. Estava enganada. Nada maior que e mais feroz que a presa, do que sua própria mãe. E eu não negaria isso.

- O-oi? - Eu não sei o que dizer, não sei como agir. Tudo o que faço é repousar o copo na pia e cruzar meus braços, numa tentativa falha de me proteger. Só consigo imaginar que isso que ela tenha dito ter visto seja a cena no corredor e eu engulo seco a cada olhadela que ela me lança ao se aproximar alguns passos.

- Eu acho engraçado, Thais. - Ela ri e descruza os braços. Seu tom de voz é irônico e parece me ferir em cada sílaba, só que eu não sinto nada. Minha única sensação é de uma morde lenta e dolorosa todas as vezes que ela pisca. - Seu medo de mim...

- Não tenho medo! - Os pensamentos atravessaram minha mente e saltaram por minha boca, interrompendo a frase dela, que me olha assustada.

- ... me faz desconfiar de você. Parece que está sempre se sentindo culpada de alguma coisa. - Regina finge que eu não disse coisa alguma e continua, sem olhar para mim, dessa vez.

- Não é medo, Dona Regina... E-eu... - Procuro as palavras em meu intimo, só que elas simplesmente desaparecem. E a mãe de David não parece querer saber o que tenho pra falar, porque ela finge não me ouvir, mas quando eu tento falar novamente ela me olha indômito me faz recuar.

- Eu não terminei de falar, Thaís. - Prendo a respiração, anuindo com a cabeça, fixando meu olhar num ponto solitário no chão. Meus ouvidos distinguem a voz de Alexandre Pires ao fundo e os urros das pessoas lá fora cantando A Barata Da Vizinha. Regina sorri e olha pro lado da porta, pegando a risada do filho solta no vento. Eu aperto os nós dos dedos no beiral da pia ao que ela brinca com as frutas da fruteira sobre a mesa. - Vi a forma como vocês se olhavam. - Admite resoluta. - E por mais que o David tenha amado Sara e visse versa, assim como todas as outras namoradinhas. - No fundo de suas íris eu reconheço o mesmo olhar do jogador quando ele aponta as coisas pra mim, quando jura seu amor. Sério e compenetrado. Verdadeiro. Felino. - Eu nunca vi esse olhar vindo daquele garoto.  De uma maneira tão... - Ela procura as palavras e deixa meu rosto, é só assim que me sinto bem. - Tão..

- Tão... - Mas antes dela eu encontro as palavras, questionando-a.

- Completo.

- Certo. - Mordo os lábios, virando o rosto. Não sei o que pensar. Não sei o que dizer.

Tenho medo do meu amor não ser bastante o suficiente.

E agora descubro pela mãe de David Luiz que não é.

- Thais, me escute, - Por um momento eu não percebo-a mais tão grossa, ou arisca. Ao me chamar Regina soa até mais carinhosa. E a cada vez vejo mais do David em sua própria mãe. - Posso ser a mãe mais ciumenta do mundo, mas não malvada, nem leviana. - Seus dedos tocam meu ombro quando ela se aproxima. - Confio em meus filhos e em suas escolhas, e sempre vou apoiá-los, estando errados ou não. - Seus olhos cor de mel passam a verdade, transmitem o amor de mãe e eu me emociono com isso. - O que me importa é que estejam felizes. - Ela pausa sua fala e desencosta os dedos quentes do meu ombro, dá um passo pro lado e pega um copo limpo sobre a pia. - Fui irrelevante sempre em relação ao namoro com dele com Sara porque nunca a vi como a mulher certa pra ele. - Eu esqueço do medo que sinto de Regina e me permito olhá-la com afinco, explorando seu rosto severo. - Alguém que pudesse tirar o melhor dele. Aquela garota era submissa demais. E David esperto demais. Esse não é o papel da mulher na relação. As mulheres são a rocha em um relacionamento, se elas ruem tudo se estilhaça. E eu tive noites em claro com meu filho só pra ouvi-lo falar sobre você e pelo que ele me contou você não é essa garota assustada que estou olhando. Você é a rocha que eu esperava encontrar. - Não consigo distinguir seu rosto, meus olhos se enchem de lágrimas e eu às reprimo. Abano com a cabeça pra Dona Regina ao que me permito olhar fundo e meus olhos, limpando as cotas que saltam com as costas da mão.

Quero abraçá-la, porém não acho que seja apropriado. O único contato que temos é quando ela aperta minha mão com a sua num tipo de suplica pra que eu não desmorone com suas expectativas, nem com o coração de seu filho. Eu vejo naquele último olhar um pedido de ajuda, ou pra que eu tenha cuidado com os sentimentos de David Luiz.

Ela enche um copo com água e me deixa sozinha, procuro a cadeira mais próxima e solto o corpo na mesma. Pegando o celular no bolso da frente ao que ele vibra com uma ligação.

Carlos

- Oi? - Ainda com a voz falha isso é tudo que posso dizer sem gaguejar.

- Thaís? Onde você tá? - Tem algo errado, Carlos não usou nenhum apelido pra me chamar ao telefone e seu tom de voz é sóbrio demais pro meu gosto.

- Em Escarpas. Com David.

- Eu sei, seu pai me disse.

- Meu pai? Está na fazenda? - Levanto de supetão, saindo pra porta da sala. Procurando me afastar do som externo. - Aconteceu alguma coisa?

- Sim. - Ao ouvir minha exclamação ele retoma. - Não, seu pai está bem. Não se preocupe. Eu só preciso te ver.

- Carlos, você está me assustando. - Sento no sofá e cruzo as pernas uma na outra. Reflexivamente trago os dedos à boca, mordendo seus cantinhos. - Não estou te reconhecendo.

- Eu preciso te falar pessoalmente. - Ele suspira e ri nervoso. Conheço meu melhor amigo bem demais pra saber quando há algo errado. Somado a sensação ruim que se apodera de meu corpo sei que está tudo fora do seu devido lugar. - Vou te encontrar ai em Escarpas amanhã. - Ele não me dá tempo de mais perguntas e desliga furtivamente, como uma pessoa normal faria, o que não é comum do Carlos. - Beijos, tchau.

Não tenho tempo de me despedir e isso me irrita. Faz com que algo pareça inacabado em minha mente. Em minha memória não consigo me lembrar de nada que esteja fora do lugar, e eu me perco no sofá esperando por respostas. Só que tudo muda com a voz de David que preenche o ambiente, mais sonoramente que a música lá fora.

Seu olhar pousa no meu, enquanto em sua boca meu nome paira. David sente que há algo errado comigo e seus olhos averiguam meu corpo, procurando a gravidade do caso. Sua análise dura segundos, eu deixo suas íris e foco em um ponto a minha frente, mordendo o canto das unhas até senti-los sangrar.

- Thiago ligou. - Ele ergue o celular em meu campo de visão, balançando-o. Seus olhar sereno suaviza a ruga em sua testa. - Quer nos ver em Angra amanhã pra falar sobre o time. - Eu mordo os lábios e desvio o olhar, pensando se devo ou não contar à ele sobre Carlos. David trás o corpo pra perto de mim, passa a perna por minhas costas e me encaixa ao seu corpo, sentando às minhas costas.

- Quando o Capita manda... - David tira os fios de cabelos que caem sobre minha nuca, depositando um beijo singelo no local. Seu toque me faz estremecer, por mais que eu goste isso cria um bolo em meu estômago que paira sobre minha garganta. No universo sinto algo rodopiar sobre nossas cabeças, não como o sol ou a lua, um tipo de energia maior e mais profunda, dificil de se entender por mais que os anos passem e a morte nos leve a alma que flui pelo corpo: o destino. - ... nós obedecemos. - Os dedos de David percebem meus ombros tensos e ele massageia os músculos quentes e duros, as mãos grossas causando sensações maravilhosas por todas as partes do meu corpo e espírito. - Carlos quer me ver, vou avisá-lo pra nos encontrar lá.

 

 

. . . 

 

 

 


Notas Finais


You're the One That I Want - Lo-Fang: https://www.youtube.com/watch?v=jYluMAO1b7Y

Pimpolho - Art Popular: https://www.youtube.com/watch?v=eEP6xScEuis

Brilho de Cristal - Pixote: https://www.youtube.com/watch?v=X0sPObD9DA4


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