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História Ali - 46


Escrita por: ThaLuc

Notas do Autor


CHEGUEI
CHEGUEI
CHEGAY CHEGAY
CHEGAY

achou que eu não ia postar hoje?

oi pra você que achou que eu estava falecida, oi pra você que achou q eu tinha esquecido da fic, oi pra você que tbm morre com as lives do David

tudubom?

ó não vou pedir desculpa não,
esse cap foi quase um parto.
meu deus que sofrimento, mas saiu, ta ai, então corre pra ler
ESSE É O FIM DE ALI
então porfavorzinho comentem, eu tô super insegura quanto ao capitulo (dona duda ichida sabe bem, te amo guria, msm n me respondendo no wpp)
uma dose de animo seria bom para o lançamento da segundatemporada cof cof
sim
eu disse SEGUNDA TEMPORADA, sim senhora.
então venha venha venha, ajuda a tia Thais e me digam o que vocês esperam que acontece agora.

obs: tem link pras músicas que eu tô falando nos capítulos
obs2: tem epilogo até o fim da semana e
obs3: volto aqui logo mais pra deixar meus agradecimentos

amo vocês,
não me abandonem <3

obs4: vou deixar o link do teaser da última cena pra vocês terem uma noção de como foi...

enjoy ^_^

Capítulo 47 - 46


Fanfic / Fanfiction Ali - 46

 

 

 

 

 

Vim amar você até o final
Da chuva que navega no seu corpo tropical
Espero amar você até durar
A lua que esclarece esse sol sem descansar jamais

Amar o quanto precisar que ame
Então recuse a escuridão
Te amo
Pra que chorar?
Chorar é fim
Você existe em mim

Claudia Leitte

 

 

 

 

. . .

Rio de Janeiro, Brasil. - 02 de agosto de 2014 - 08:51 h

 

 A luz entra torta por minhas rachaduras, sua claridade invade minhas vistas e queima meus globos oculares assim que eu deixo o prédio colonial tingido em amarelo desgastado pelas avarezas do tempo. Ergo uma das mãos até o topo da cabeça, protegendo-me, ainda atordoada, com a sombra que a pasta que eu carrego entre os dedos faz. Meu batimento cardíaco começa a aumentar um pouco, e é então que posso ouvir o bombear do sangue zunindo em meus ouvidos, avisando-me que estou viva. Ao longe, em minha memória,  posso ouvir a voz áspera de Janine, a coordenadora da sede da MSF no Brasil, que consegue em meio ao cansaço ser receptiva e afável quando ela olha sobre os óculos quadrados e as bolsas de pele que se acumulam na região.

Trago minha mão de volta ao corpo quando me recordo do que há dentro das paredes finas daquele plástico barato.

 O meu futuro.

Incerto como o meu caminhar, leviano como meus sentimentos e repleto de novas vidas, como um jogo de videogame, pra que eu possa salvar. Abaixo as vistas pra olhá-lo e me esqueço que o sol ainda pinica minha pele e com ele recobro a consciência de quem eu me tornei nos últimos dias, percebo a melancolia me invadindo como um raio que cai ao meu lado, primeiro meus poros se eriçam e a dor lateja crescendo desde a sola dos meus pés até os fios eriçados do meu cabelo. A percepção nítida do tempo se desfaz como poeira sobre mim e eu recordo das sensações que me assolaram até agora, como um aviso.

E quando eu sinto  meu coração parar eu me lembro dele.

David Luiz.

O seu olho cor de âmbar incinera minha epiderme e delimita uma sombra que eu nem eu mesma sabia que existia, enquanto o sorriso de dentes perfeitos cria a perfeita ilusão de conforto em meu peito murcho de saudades de mim mesma. Agarro minha bolsa mais ao corpo, fazendo o mesmo com a pasta e dou passos largos pra longe da sede em direção à rua. Meus olhos procuram Carlos e meu carro do outro lado da calçada e quando eu o encontro caminho letárgica até ele, evitando seu turbilhão de perguntas.

Abro a porta e sento sobre o estofado, afundando-me nele como se o mundo parasse de girar por milésimos de segundos até que eu precisasse encarar meus temores. Meu melhor amigo respeita meu momento e seus olhos atingem a pasta em meu colo, ele a encara por segundos e morde os lábios, sinto seus olhos rodopiarem entre minha mão e meu rosto, mas ele nada diz. Apenas gira a chave e dá a ré no carro, saindo da sua vaga no estacionamento.

É um dia de trânsito leve e não demora muito mais que dez minutos pra que Carlos atinja a Avenida Atlântica em Copacabana, próximo do meu apartamento. Eu evito seu olhar e busco a janela, permitindo-me sentir feliz por ter um amigo que respeite esse meu momento de reflexão sem mais perguntas. Carlos está mudando, parece mais responsável e consciente e essa não é a primeira vez que reparo algo diferente em sua personalidade. Mas assim como ele faz, eu o imito, respeito seu tempo. Quando for da vontade e necessidade dele, ele falará.

Um leve frenesi corta minhas costas em formigamentos quando Carlos passa por um lugar conhecido e meu corpo gela, minha mente se parte em pequenos pedacinhos e toda a calmaria em meu peito se esvai restando apenas a dor.

O torpor já era e agora eu me permito pensar realmente no que estou prestes a fazer.

Meu momento de epifania surge como uma bolha de sabão e se esvai como tal, é meu momento de compreensão súbita de toda a verdade.

- Carlos pare esse carro! - Agarro o painel do carro como se aquilo fosse instantaneamente diminuir a velocidade do automóvel.

- Estamos no meio da avenida, Thais. - Ele ralha e não dá atenção devida à mim. - Está louca?

- Eu preciso que você pare a-go-ra a porcaria do carro! - Sinto um rosnado atingindo minha garganta e meu olhar ferino é distinguido por Carlos, ele estremece e eu retomo à consciência. - Encosta, por favor, naquele quiosque, ali, eu conheci David. - E aponto pitoresca. - Ali!

Carlos dá sinal e antes mesmo que o carro atinja a inércia eu já pulei, avisando que o encontraria no prédio, ele apenas anui e parte com uma rapidez tremenda. Faz o vendo chacoalhar meus cabelos, jogando-os contra meu rosto. Meus pés são rápidos, evitando ser atropelada pelos carros que buzinam assim que me vêem, mas logo eu estou lá, em ali. O pequeno pedaço do mundo onde quis Deus e o universo que meu destino se cruzasse ao de David Luiz, um jogador de futebol, um homem maravilhoso, um garoto de um coração imenso e dono de todos os meus sentidos daquele dia até agora.

Tiro as sapatilhas e dobro a barra da calça, antes de pisar na areia, sinto os pequenos grânulos me engolirem e eu carrego o corpo até o local exato onde me sentei a quase um mês.

Um mês.

Foi o tempo exato e curto em que David conseguiu mudar minha vida e girá-la em 180 graus, deixando-me de ponta-cabeça e é por nós que estou aqui á espera de que o som das ondas do mar ou das pessoas ao meu redor dêem-me um rumo, uma orientação.

É por ele que ainda não tomei uma decisão.

Espero por um apelo que não vêm das profundezas do mar, da plenitude do céu ou do conforto da areia fofa e quente, mas sim de algum lugar dentro de mim.

"Mas e eu?"

Eu mereço tomar essa decisão por mim e não só por ele.  

Eu mereço isso, sou digna de tudo isso. Houve um tempo em que eu não me achava o suficiente pra nada, mas veja só eu mereço.

Eu mereço o amor de alguém e, além disso, sou digna do meu próprio amor.

Na verdade, só fui capaz de perceber isso com aquele zagueiro, o que torna tudo mais dramático. Seu amor e devoção por mim, seu jeito de enxergar resiliencia em cada ato meu, os seus dedos passeando por minha pele nua, admirando-me como sua musa, suas palavras doces e sutis que fizeram rachaduras imperceptíveis nas paredes em meu coração e fizeram nascer em mim a sementinha da esperança.

Florescendo meu amor próprio.

Então eu devo à David Luiz tudo isso.

Se quiser continuar a ser a pessoa que ele me ensinou a ser e me fez amar, eu preciso fazer o que é certo pra mim. Como uma escolha minha, e apenas para mim.

Pra que eu me veja resiliente e macia e aderente às tempestades do mundo como um tronco de bambu resistindo, balançando, sem cair.

Porque eu sou boa, meu Deus, eu sou muito boa e não mereço mal algum.

Preciso tomar a decisão correta pra me lembrar todos os dias de não desistir porque eu preciso me sentir viva pra amar. E, mesmo que David também tenha me ensinado uma outra maneira de me sentir viva, é fazendo o que eu melhor sei fazer, exercendo o meu dom, é que me sinto realmente viva.

Não só sobrevivendo ao caos dentro e fora de mim.

 

. . .

 

Angra dos Reis, Brasil. - 02 de agosto de 2014 - 11:32 h

 

Eu olho pra frente e empurro a porta do carro. Decidida das minhas escolhas como nunca estive. Decidida porque creio eu que essa seja a coisa certa a ser feita. Certo... Existem tantos certos e errados dentro de uma única escolha. O que a gente faz quando sabe que vai magoar alguém? E quando a mágoa não vai ter uma mão única, quando na verdade, é uma via de mão dupla? É quando a gente sabe que a dor do outro é nossa dor também? É quando a gente sabe que o outro, o ferido, está dentro da gente? É ele quem a gente ama?

É porque não é só amar.

Amar só não basta.

A força do amor está na escolha. Uma escolha diária. Escolher a presença da outra pessoa. Não só a presença física. Escolher ter dentro da nossa alma a pessoa amada.

Mas do que adianta ter alguém a quem amar, se você não conseguir amar a si mesmo? Porque suas escolhas significam a renúncia de algo... E esse algo é você.

Portanto, minha escolha se baseia no meu amor próprio, mesmo que isso tire David Luiz da minha vida. Mesmo que pra isso eu tenha que adiar seus sonhos comigo. Sua visão de um futuro perfeito ao meu lado.

Acredito que haverá um lugar dentro do meu peito, que ele sempre ocupará. E que em sua ausência permanecerá vazio, criando um eco em meu corpo, um eco com seu nome. O qual eu jamais esquecerei.

Mas por ora eu preciso firmar meu nome. Meus sonhos.

Quando a coragem atinge a altura do meu rosto, sei que é a hora certa de descer do carro. Entre todas as minhas decisões, há apenas uma que contradiz todos meus conceitos. Sei que quando o primeiro raio de sol de segunda-feira tocar este pequeno espaço que ocupamos na terra, terei que partir. E não restará força alguma em meu corpo que me permita contar a verdade olhando nos olhos do zagueiro. É a única das minhas decisões que tenho certeza da qual eu me arrependerei.

Porque será a única das minhas escolhas que David jamais me perdoará.

Sigo a passos lentos até o interior da casa e não demora até que os desgrenhados cachos de David Luiz cerquem minha visão como raios de sol num dia nublado. E permito à minha alma agradecer ao universo por ter concedido permissão para amar David.

Mesmo que, no futuro, esse amor venha a me queimar e desferir golpes dentro e fora do meu corpo.

- Você não precisava ter corrido tanto, senhorita. - Seus braços me envolvem antes que eu possa ter qualquer reação e ao longe observo Thiago e sua família sentados à piscina. - Pensou que eu fugiria? - Seu sussurro acompanhado do hálito quente bate em minha têmpora e isso é o bastante pra me arrepiar e queimar todo o meu corpo em brasa. Eu afasto o rosto pra observá-lo melhor e David nota um brilho diferente em meus olhos, eu sei que sim.

- Pelo contrario, - Agarro seu pescoço com o dois braços, trazendo-o pra mim. -  sabia que você estaria exatamente aqui. - Seus lábios estão perto demais e minha saudade já consome meu peito e flui livremente por meu rosto, em lágrimas que ardem o cristalino dos meus olhos. Antes que eu me permita chorar, eu me entrego aos beijos do jogador e esqueço que esse é nosso último momento.

 

. . .

 

 

Angra dos Reis, Brasil. - 02 de agosto de 2014 - 16:02 h

 

O sol pinica minha pele, mas antes que meu corpo sinta o calor a brisa marinha já levou a sensação para longe. Restando apenas um corpo de alma e corpo lavado pelo vento úmido e fresco. Meu coração lateja mais e mais a cada minuto que se passa, tento não demonstrar ao restante das pessoas minha preocupação. Mas não passa muito tempo sem que eu me aconchegue em David Luiz, ou que nossos olhares não se cruzem. E isso não passa despercebido pela mulher de Thiago Silva, que sorri discretamente a cada vez que eu me perco da sua conversa.

- Belle, - Num desses momentos eu interrompo o que quer que ela esteja me contando sobre Paris, atordoada com minhas questões internas. - posso te fazer uma pergunta?

- Lógico que pode. - Ela sorri sincera, deixando de restar atenção em minha conversa mental com David, voltando-se para o prato de frios à nossa frente.

- E-Eu... hm... você. - Na verdade, não sei o que realmente quero lhe perguntar. É mais algo que tenho notado nela e em todas as outras mulheres que vi na Granja no último mês. - Bom, como foi pra você ser mulher de um jogador? - Ela parece se espantar um pouco, ocmo se essa pergunta nunca tivesse sido feita para ela, mas ela sorri amigável como se pudesse entender meus temores. E talvez entenda. - Hm... você era bem jovem, não era? 

- Sim, eu tinha 18 anos, era uma adolescente. - Ela se recosta na espreguiçadeira, fechando os olhos, em seu intimo ela revive um turbilhão de momentos. - Thais, nunca foi fácil. - Ela pausa sua fala, pra observar os meninos que se aventuram no deque de madeira sobre o mar. - E nem fica mais fácil com o tempo. Ainda mais porque o amor muda. - Isabelle se aproxima de mim e sussurra a última parte. - Mas desde que me apaixonei pelo Thiago... - Surge o tipo de sorriso que eu imagino em meu rosto todas as vezes que penso em David. - Eu sabia que seria a mãe dos filhos dele, sempre soube que estava pronta pra ir com ele pra qualquer lugar... - Seu tom de devaneio farfalha em minha mente ilusório demais pro meu gosto.

- Sem pestanejar? 

- Eu o amava! - Ela diz como se fosse óbvio, fazendo-me distanciar de seu corpo e afundar o meu na minha espreguiçadeira, perdendo as esperanças. Aquela conversa não me ajudaria em nada se o fato de se amar alguém continuasse a ultrapassar as barreiras do individualismo de cada um.

Como se o ser único fosse anulado e só restassem os dois, num só.

A idéia, por si só, me parecia ridícula e utópica.

- Você não tinha outros sonhos? - Instigo-a, por fim, seu semblante se modifica e a mulher de Thiago viaja pra algum lugar muito profundo dela mesma, também recostando-se sobre o estofado. 

- Eu queria ser arquiteta... - Seu sussurro me consome, eu só consigo encará-la de volta, nada mais. Não quero deixar meus sonhos serem parte da poeira que fica no escuro. - Mas Thiago se tornou meu sonho. Ser mãe, dona de casa... A base da minha família... - Anuo com um abano e olho pro horizonte. 

Na verdade, olho pra David Luiz.

Enquanto ele parece entretido em fazer cócegas em Iago, prendendo a criança em seus braços, posso ver nosso futuro, se assim eu escolher, o mesmo futuro que um dia pertenceu a Isabelle.

E, o mais engraçado, é que por segundos isso basta.

- Você não quer essas coisas? - Eu me surpreendo, porque em algum lugar dentro de mim faço a mesma pergunta, mas não sei a resposta. 

- Eu... Bom... não sei.

- Hm, me responde agora, só que olhando pra ele. - Belle gira meu rosto e eu encaro David Luiz. Seus cachos balançam pelo ar e ele todo parece fluido em uma aura só dele. Carregando-me junto. Seu sorriso é um soco no estômago e logo as borboletas agitam meu íntimo ao vê-lo brincando com Iago, quando ele me percebe analisando-o joga seu charme sobre mim, sorrindo do jeito que me faz estremecer. - Acho que não precisa responder, Tha. - A esposa de Thiago me traz de volta pro presente. - Qualquer um pode ver o amor que você tem ai dentro, mas me diga, você pode? 

- Eu.. eu... ele... nós... - Perco-me num suspiro longo e sombrio, um tanto magoada comigo mesma, por desejar algo que não fosse apenas aquilo.  

- As vezes também me acho uma covarde por ter escolhido um homem ao invés de mim, do meu futuro. - Sua voz parece áspera, mas quando me olha sinto pura gratidão em poder estar colocado tudo para fora. - Não é só você. - Seus dedos agarram meu pulso, provando-me da realidade de sua dor. -  Não é uma questão de coragem. É uma questão de renúncia. O que você perderia pra tê-lo? 

- Eu não estava te julgando. 

- Sei que não, mas espero que você siga seu coração, Thais. - Finalmente ela solta meus braços, mas eu não me sinto melhor. Com poucas palavras Isabelle conseguiu regar em mim, a única sementinha que me faltava até agora. Medo. - David é um bom rapaz. Um bom amigo pro meu marido, pra mim e pra minha família. - A cada palavra sua posso senti-lo rasgando meu peito, em feridas tenebrosas. - E, assim como ele, você também será. Mas precisa responder pra si mesma as perguntas que está querendo fazer pra mim. - Meus olhos procuram por David ansiosamente, e ao que encontram, percebo meu coração dilacerar mais ainda com a aflição à cerca do futuro que me bate às costas. - A resposta é: porque não? 

Nada do que Isabelle me disse foi para me magoar, ou pra me deixar mal, ela apenas explicou seu lado. Mas a sensação de que tudo parece um sonho, um sonho errado, daqueles que a gente corre, corre e não chega a lugar nenhum não some. E a cada vez consome mais meu corpo, enquanto eu tento acordar, em vão, mas ainda sinto medo de que quando eu conseguir acordar, pensar que preferia ter continuado dormindo. É por isso, que após um longo gole na cerveja eu me levanto e caminho para longe dali, sem que David perceba.

Enquanto caminho, adequando minha percepção sobre a areia fofa e quente na sola do meu pé. Tenho o segundo momento de epifania em menos de dois dias: Basta um momento pra mudar minha vida pra sempre. Mudar minha perspectiva, colorir meu pensamento. Forçando-me a reavaliar tudo o que eu achava que sabia sobre mim. Pra me fazer me perguntar as perguntas mais difíceis: Sei quem eu sou?  Entendo o que está acontecendo comigo? Quero viver desse jeito?

São essas às perguntas que responderam por minha vida depois daqui.

Sobre o futuro.

 

...

 

Angra dos Reis, Brasil. - 03 de agosto de 2014 - 23:47 h

Ler escutando: It's a Fluke - Tiago Iorc

Em algum momento que eu não consigo decifrar, entre a boa conversa de Isabelle e Thiago, as brincadeiras dos dois pequenos e da boa musica que nos cercava, percebi que David não estava mais ao meu lado. Tenho um relance ameno em minhas vistas de vê-lo sumir pela porta da varanda, em direção à praia. O que passou despercebido por meu corpo relaxado pelo vinho que havíamos tomado. Nada preocupante. O álcool deixava, além do gosto agridoce sob o céu da boca, meu corpo comichando, eu sabia que era só meus músculos relaxando sob a epiderme, mas eu gostava de imaginar-me nadando num mar de estrelas que fazia esse comichão crescer desde a região do meu baixo ventre.

Isabelle cochichou algo no ouvido do capitão e seu sorriso devasso me despertou da consciência errante que a bebida me guiava, pairei os olhos ao meu redor procurando pelo meu zagueiro, porém as únicas pessoas mais desfavoráveis que eu, eram os filhos do casal que repousavam sobre o tapete fofo da varanda, já dormindo.

Forcei meus joelhos, procurando levantar e desajeitadamente me recompus sobre ambos os pés, assustando o casal a minha frente. Thiago ofereceu ajuda, mas eu agradeci com um abano de mãos e me concentrei em caminhar para fora, não sem antes me despedir e avisar que ia a procura de David. Tive que me escorar no corrimão da pequena escadinha de madeira, porque a altura me parecia maior do que antes. Quando meus pés tocaram a areia gelada e meus olhos sentiram a escuridão da praia e o som aterrador do mar pode preencher fortemente meus tímpanos, percebi a brisa marítima recobrando minha consciência, como se descobrisse um pano com as mãos.

Fechei os olhos e abracei meu próprio corpo, não pelo frio, era a minha maneira de abraçar tudo aquilo, o mar, a brisa, as estrelas no céu, essas pessoas, David Luiz. Eu me obriguei a me manter focada o suficiente, mesmo com uma quantidade razoável de bebida no organismo, pra capturar e fotografar em minha memória cada detalhe daquele momento.

Aquele que seria o último.

Tudo parecia irreal demais, uma cena de filme Hollywoodiano, um sonho. Volvei os ombros em busca do corpo grande e másculo do jogador, mas minhas vistas falharam miseravelmente na escuridão. Senti o peito apertar, meu timo parecia lutar contra tudo o que eu fazia nos últimos meses e ele demonstrava isso em minha caixa torácica. Percebi tarde demais que se David estava por ai, escondido na escuridão, ele precisava de ajuda. Por algum motivo sua luz, àquele fulgor descomunal, que dava cor aos meus dias estava esfacelando. Reconheci em seu olhar, durante todo o fim de semana, algumas fendas do seu martírio particular. Porém eu tinha tanto com que lidar, e remoer, dentro de mim que eu não dei a devida atenção. Só que eu não posso ignorar sua dor por muito mais tempo. David já vai ter muito com o que se preocupar nas próximas semanas. E se eu puder ajudar minimamente que seja concertando um pouco do que vou causar.

A escuridão. Eu a encaro e ela me encara novamente. Nós compartilhamos um riso mudo, irônico, como velhas conhecidas. Eu sinto-a me envolver em um  abraço de urso quando dou um passo à frente. Eu não tenho medo dela, ela é a calmaria. Fomos parceiras durante muito tempo. Eu e ela. A escuridão já foi minha única companhia ao que pareceram noite eternas. Meus suspiro de deleite é brando assim que dou mais um passo e a areia me recolhe os pés. A brisa suave lavando meus cabelos. E a escuridão me dando a mão. Passeio pela orla marítima seguindo a lua, é algo que acredito que David tenha feito.

Buscado a luz em meio à escuridão.

Não demora que em meio ao breu eterno de uma noite cinzenta os cachos do jogador se embrenhem com a turgidez da noite, tornando-os um. Eu sorrio pra obscuridade que nos envolve, fazendo meu coração palpitar mais rápido, os lábios secando desejosos, nunca imunes à David Luiz. Então, ela me solta. Me deixa livre pra partir em busca do meu amado. Porque ela sabe que não tem como fugir dela, da tenebrosa noite. Ela sabe que esse não é meu adeus, meu e dela, mas sim nosso, meu e dele. Porque ela sabe que as próximas vezes quando eu fechar meus olhos, só vai existir ela.

E ninguém mais.

Engulo em seco, fazendo o bolo em minha garganta descer goela abaixo. Só que ele permanece ali, fazendo meu estômago borbulhar furioso. Tateio meu rosto, descendo meu próprio carinho pelos braços, fincando a realidade em mim. Sozinha eu perfilo o corpo do jogador, encolhido sobre a areia. Como eu jamais o vi. Nem quando eu o enfrentei em seu quarto após a eliminação da Copa. Ele não me percebe ali, nem quando eu me aproximo lentamente. Meus passos são guiados pelas ondas, seu barulho estrondoso nunca me fez tanto sentido. A lenda conta que Afrodite surgiu nas espumas do mar. Terra e mar parecem fazer amor. São mundos diferentes que se encontram entre o limite dos dois e dão origem a deusa do amor. Nada nunca me fez tanto sentido. A não ser os olhos cor de mel de um certo jogador.

Estou próxima o suficiente pra David me ver, se der mais um passo eu invado seu espaço. Ao invés disso ele permanece quieto, remoendo algo dentro de si, afogando-se no mar da sua consciência, em sua própria escuridão. Eu não falo nada, estive muitas vezes perdida pra saber que é preciso se perder mil vezes até se encontrar. Muitas vezes a escuridão lava aquilo que sozinha a luz não pode.

Imito-o em sua postura, abraçando meus joelhos com os braços, assim como ele faz. Mas eu não resisto, o mar não me encanta tanto quanto ele e eu viro o rosto pra encará-lo. Meus dedos buscam tocar-lhe o braço. Há um certo desespero em mim, consumindo-me pra lhe mostrar que estou aqui.

Ler escutando: You Matter To Me - Sara Bareilles (feat. Jason Mraz)

Prendo a respiração quando seus olhos atingem-me, penetrantes, vasculha minha alma, o semblante sério expurga quaisquer instintos que existam em mim. E eu sou levada por minha presa uma vez mais. Não sinto calor, mas eles me queimam. Não sinto o frio, mas eles me paralisam. A boca é uma linha fina, inexistente. Perco-me nela por milésimos de segundos, já que eu tomo um choque elétrico quando ele toca minha mão com a sua, apertando-a e me trazendo de volta ao seu olhar minucioso.

I could find the whole meaning of life in those sad eyes

(Eu poderia encontrar todo o significado da vida naqueles olhos tristes)

They've seen things that you never quite say, but I hear

(Eles viram coisas que você nunca diz, mas eu ouço)

Come out of hiding, I'm right here beside you

(Pare de se esconder, eu estou bem aqui ao seu lado)

And I'll stay there as long as you let me

(E eu vou continuar enquanto você me permitir)

Nós permanecemos assim até que eu sinto grande parte da energia depositada em suas costas saltar pra fora do corpo, como uma fumaça esverdeada, e seus dedos prendem-me mais genuinamente. Eu busco as palavras dentro de mim, só que elas parecem terem sumido.

- V-Você... - Minha voz parece um farfalhar, destreinada. -... Quer conversar?

- Eu? - Seu farfalhar expurga um sussurro incrédulo, quase gutural, tristonho, mas ele pigarreia e volta ao tom normal. - Hm... Não...

- Estou preocupada com você, Vid. - Sôo como um miado, o que faz David me encarar mais profundamente. 

- Não tem necessidade. - Seus dedos deixam os meus, pousando em meu rosto, onde ele faz carinho sobre meus lábios com o polegar.

- Eu sei que você esta acostumado a guardar boa parte das coisas que se passam nessa sua cabecinha, David. - Cutuco-o com a ponta dos meus dedos bem no meio da testa, invocando uma resposta verdadeira da parte do zagueiro.  

- Eu não... - Falha em sua mentira, voltando o queixo para baixo, chacoalhando a cabeça para os lados e afinando a voz. Eu sorrio grata por ainda lembrar um pouco sobre leitura corporal e por conhecer David Luiz tão bem.

 - Você pode enganar muita gente com esse teu jeito... - Perco as palavras quando ele volta os glóbulos límpidos em um amarelo mel, me desconcertando da missão de defini-lo com palavras. Algo um tanto impossível para alguém tão apaixonada como eu. -... Desencanado. - David repuxa o canto dos lábios num sorriso singelo e minhas mãos coçam para acariciar as marquinhas que se formam em sua bochecha. - Só espero que você saiba que mesmo eu não entendendo nada sobre futebol... Ou transações... Ou dinheiro... Eu sou uma boa ouvinte, Anjo.

Levo ambas as mãos para seu pescoço, sentindo os cachos pinicarem em meus dedos. Aproveito para acariciar com o polegar cada pedaçinho do seu rosto. O que intensifica o sorriso em seus lábios, fazendo-o rir abertamente em minhas mãos. O jogador gira mais o corpo e logo estou entre suas pernas, ambos deixando o mar de lado, amando a imensidão um do outro, navegando em nossa própria companhia 

- Eu estou nervoso. - Assume, sua postura retesada se firma mais rija e logo após as pronuncias das palavras, relaxa sob minhas mãos.

- Conte-me mais. - Eu desço minhas mãos até a altura de seus ombros, massageando com a ponta dos dedos toda a musculatura do seu trapézio. Aquilo provoca uma sensação diferente em David, seus olhos me focalizam com chamas enegrecidas, que até agora não tinham aparecido, eu dou de ombros e focalizo minha atenção naquela área, enquanto ele volta a pensar no que vai falar.

- Já conversei com Thiago sobre isso, minha vinda para Angra tem a ver com toda essa minha ansiedade... Angustia. - A cada ponto que aperto do ombro de David posso comprovar isso, o que me é mais estranho, é que, como outrora, posso enxergar lufadas de energia desprenderem-se dos músculos do jogador, levando com suas nuvens etéreas toda a tensão esverdeada acumulada ali. - Você sabe que minha transferência ocorreu antes da Copa. - Anuo, volvendo os olhos por seu rosto, pra confirmar que ouço-o. - Então eu fui vendido por um valor exorbitantemente alto... E...  

O cabeludo perde a voz, num fio rouco que se propaga pelo pouco espaço que compartilhamos, sendo levado pela brisa marítima. Seus olhos tornam-se baixos e percebo o peito inflamando em uma espécie de dor causada por sua insegurança, não demora até que David morda os lábios, lambendo o inferior em seguida. Quando me mira, as bochechas estão vermelhas e ele tem algumas lágrimas presas na linha d'água.

- E?

- Eu não sei se valho mais tudo aquilo. - A voz trêmula e rouca atinge-me junto ao hálito ardente pelo pouco álcool que ele ingeriu, seu pomo-de-adão movimenta-se rigoroso e eu engulo seco pra não chorar também. Respeito esse momento dele e volto à atenção para a anatomia dos seus ombros. - Não depois da propaganda negativa da copa. - Seus dedos prensam minha cintura e ele esquadrinha minhas costas antes de fixar-se em algum lugar ali. Procuro um jeito de não permitir que ele chore, não sei se agüentaria vê-lo chorando.   

- David. - Firmo os dedos em seus ombros e chamo seu nome, trazendo seu olhar para mim rapidamente. - Para.

Por um momento ele não entende o que quero dizer, e nem eu mesma tenho noção do que estou fazendo.

- Thais, é sério... - Quando não reconhece minhas intenções ele começa. - Eu sei o que você vai dizer... - Desprende uma das mãos de minhas costas pra enxugar o rosto, antes que ele se banhe com as poucas lágrimas, deixando uma sensação de vazio por meu corpo. - Pode crer que minha mãe já disse tudo isso.

- Eu não... – Falho miserávelmente, até que as palavras surgem na ponta da minha língua. – É só que o último capítulo ainda não foi escrito e... - Eu não me reprimo por sua fala, sei o que Regina deve tê-lo dito como mãe, mas não sou sua mãe. -... Não importa o que aconteceu ontem. Não importa o que aconteceu com você, - Modulo minha voz de um jeito ríspido pra que ele entenda que o que falo não vem de um livro de auto-ajuda, mas de um comando acerca de algo que conheço bem de David. - o que importa é: o que você vai fazer a respeito disso?

- Você sabe que eu sou humano, não sabe? Sabe que quando eu errar a mídia vai lembrar-se daquele maldito dia. - Sua voz torna-se mais agitada, gutural. - Todas e todas às vezes. - Sinto um riso cobrir minha garganta.

- Você... Logo você não vai deixar que o barulho das opiniões dos outros cale a sua própria voz interior, não é? - Algo no tom dessa nossa conversa me recordar de quando invadi seu quarto na Granja e David me expulsou de lá após eu zombar dele, fazendo-o descontar seus sentimentos em mim. E pelo brilho dos seus olhos, sei que não sou a única, a diferença dessa vez é que ele não se importa se vou ser capaz de aguentar o peso dos grilhões que o prende.

- Eu... - Fecha os olhos, e traz meu corpo mais pra perto, instintivamente. - estou confuso. - E quando os abre sou banhada pelo jorro de suas emoções expostas num olhar feroz. - Pela primeira vez desde que cheguei à Europa me sinto perdido, como se eu não soubesse o motivo de tudo isso, Thais. - Meus dedos embrenham-se pela camiseta que ele usa, a pele quente sob minha palma torna tudo real. - Estou perdendo as esperanças nos planos Dele. - E aponta com o queixo para o céu.

Religião pra David é um ponto crucial em sua vida e eu nunca o vi contestando as escolhas do Altíssimo. A fé para mim está na esperança, no amor, nos sentimentos todos. Não tenho um relacionamento tão bom com Deus como o zagueiro tem, e por isso preciso de um pouco mais de tempo pra formular algo à altura, enquanto o ricochetear da maré nos acalenta com sua melodia.

- Você não pode conectar os pontos olhando pra frente, David, você só pode conectá-lo olhando pra trás. - Deus e destino são quase que a mesma coisa para ele, minhas palavras de alguma forma fazem sentido pro jogador, seus olhos brilham jubilosos. - Então você tem que confiar que os pontos vão se ligar algum dia, no seu futuro. Você tem que acreditar em alguma coisa: sua garra, destino, vida, carma, qualquer coisa. - Subo os dedos, fincando-os em seu rosto, firmando seus olhos nos meus. - Porque acreditar que os pontos vão se conectar no caminho vai lhe dar a confiança para seguir seu coração, - Levo minha boca até a sua, pra que meu sussurro seja ouvido e sentido pelo jogador. - mesmo quando ele te leva pelo caminho mais desgastante... Isso vai fazer toda a diferença. - Antes que minha vontade de beijá-lo seja maior, subo os lábios pra sua testa, findando ali meu desejo, enquanto meus dedos fazem um carinho sutil em suas orelhas, de alguma forma disse à David Luiz tudo o que eu precisava ouvir pra tomar a direção correta ao raiar do sol.

E por incrível que pareça.

Isso me faz bem.

Traz a paz que eu preciso.

A confiança necessária.

- Como faz isso? - Agora são os seus dedos que se embrenham em minha camiseta, rodopiando por minhas costas e deixando um caminho quente que faz meus pelos eriçarem.

- O quê? - Sorrio abobada em direção aos seus lábios que pedem por um pouco mais de atenção dos meus.  

- Saber exatamente o que me dizer. - Eu desvio da sua boca e beijo sua bochecha quando ele investe contra mim, as mãos caminhando pra minha barriga, enquanto as minhas seguem enoveladas aos seus cachos.

- Talvez porque eu te ame. - Escutar minha própria voz falando que o amo, torna as coisas mais reais do que são e eu me encolho ao lembrar do meu real destino, a partir de amanha. Quando penso em contar toda a verdade para David, seus lábios mordiscam os meus e afogam-me no seu mar de luxúria.

- Hm... - Brinda-me com um selinho, dizendo com a boca sobre a minha. - Interessante.

- Isso não seria nada se antes de te amar eu não te admirasse. - Afasto o rosto minimamente pra dizer, a voz esbaforida, o coração tilintando contra a caixa torácica. - Tudo o que eu digo aprendi com você, anjo.

- Faz tanto sentido cada palavrinha que você diz que sem você eu acho que já teria pirado. - David repousa a mão em cima da minha barriga e força meu corpo pra cair sobre a areia e antes que eu possa dizer algo mais, seus lábios estão sobre os meus e seus cachos cobrem totalmente minha visão que se embaça com as lágrimas de saudades que já se apoderam de mim. Porém, antes que elas caiam o jogador passa uma das pernas por meu quadril e me prende entre seu corpo aumentando a intensidade do beijo.

 

. . .

 

Angra dos Reis, Brasil. - 04 de agosto de 2014 - 01:36 h

Ler escutando: I'm on fire - AWOLNATION 

- Eu não acredito que você queria fazer aquilo na praia... - Os lábios dele soltam os meus por milésimos e eu aproveito disso pra gozá-lo. Sinto a parte traseira dos joelhos de David próximos à cama e o empurro antes que ele me agarre, sem deixar que eu fale.

Eu rio de seu jeito abobalhado. Os lábios vermelhos pela pressão dos meus, os cabelos desgrenhados e as roupas fora dos eixos. Sei que meu estado não é diferente do dele, porque viemos aos tropeços até nosso quarto, com David sendo enlaçado por minhas pernas e braços, conectados pelo desejo que pulsava de dentro de algum lugar de nós dois. Eu nem ao menos me recordo do caminho, tenho comigo apenas a sensação dos seus lábios.

 - Não posso ter um fetiche em paz, não? - Recompondo-se do tombo, o jogador apóia-se sobre os cotovelos e puxa minha cintura com uma das mãos, fazendo-me cair de joelhos,  prendendo-o assim, eu rio da sua expressão zombeteira e sou tomada por mais uma onda de júbilo, como se fosse possível, que preenche algo em mim  vazio há muito tempo.

- Poder você até pode, é que... - Antes que eu permita que ele empregue força necessária pra unir a chama de sua loucura com a minha, tenho uma idéia que possa unir a tara do jogador de fazer sexo ao ar livre sem que nossas intimidades fiquem expostas à areia e ao mar. Dou tapinhas em sua mão, e desloco os joelhos para fora dali. Contorno a borda da cama, parando próxima na lateral da cama e me abaixo pra sussurrar em seu ouvido. - Só que eu vou te mostrar que dá pra fazer o que você tanto quer, - Aproveito que David está distraído em seu júbilo, pra morder seu lóbulo, arrancando-lhe um suspiro. - sem que a gente saia nojentos da areia. - E me distancio à velocidade da luz, deixando o jogador apenas com meu perfume, encerrando-me no banheiro. - Isso só dá certo nesses filmes que você vê...

Meus dedos do pé se contorcem junto ao arrepio que lava minha espinha dorsal em labaredas geladas de desejo, assim que capturo a hidromassagem com os olhos em brasas. O aparelho se localiza quase totalmente na área externa do quarto, limitado por uma porta de correr em madeira que leva até a varanda, ao abri-la podemos partilhar nosso momento extremo de entrega com a escuridão, devolvendo à natureza nosso amor sobrenatural.

Levo as mãos à cabeça num ato reflexo e embrenho meus dedos no emaranhado de cabelos dali. Deixo os arrepios domarem meu corpo, contorná-lo em sua fúria. Essa é a minha despedida do zagueiro. E, vou permitir que minha insanidade afogue a menina recatada e inibida que existe em mim com o suor do corpo tenro de David Luiz.

Pela primeira e última vez não passarei vontade.

Enlaço os dedos na torneira de metal da banheira, liberando a vazão da água assim como faço com meus pensamentos. Despejo uma quantidade razoável de sais de banho na grande bacia, porque não quero que a espuma cubra nada de nenhum de nossos corpos. Meu estômago se revira ao que me enxergo roçando o corpo nu de David, nossa peles morenas pelo sol, seus  cabelos entre meus dedos, os lábios rasgando minha pele, me ferindo. Percebo minha respiração ofegante, o pulso acelerado e há um calor gostoso em minha nuca. Contorno a banheira abrindo mais as portas de madeira que levam até a grande sacada que limita nosso quarto. A brisa gelada do mar chacoalha meus cabelos, arrepiando-me com o choque que isso causa em meu corpo febril. Deslizo pela pequena varanda até a porta do quarto, encontrando o jogador vasculhando algo em uma das suas bolsas, entre seus dedos o papel laminado chama minha atenção, cintilando pelas poucas luzes que entram no cômodo. Quando me reconhece parada diante dele, seus movimentos tornam-se letárgicos, como se o mundo parasse pelo resto da eternidade e ele joga a camisinha pra algum lugar do quarto.

As pupilas dilatam-se lentamente, acostumando-se com a pouca claridade que temos, mas algo me diz que para ele eu sou a maior fonte luminosa que suas íris reconhecem. David esgueira-se até a beirada da cama, jogando os pés no chão, sem nunca desgrudar os olhos dos meus. Ouço um zunido atravessando minha cabeça, onde reconheço meu próprio coração estatelando-se contra a caixa torácica. É impossível controlar o sorriso que me invade ao observá-lo melhor, zelo fervorosa as curvas de seu rosto, seus nuances na escuridão, entretanto há algo que faz o riso em sua boca, fixar-me ali.

Meu corpo faz questão de carregar-se até o jogador, com passos lentos e matreiros, sinto os braços envolvendo minha cintura e permito me jogar em seu colo. Beijando-lhe os lábios com ternura e alento até que não reste mais parte alguma do seu rosto pra tocar com meus lábios. Atravesso minhas mãos em suas costas, trazendo sua camiseta com as unhas compridas. A cada arrastar de dedos David arqueia o corpo e eu não me importo com as marcas que isso pode deixar, eu tenho a impressão de que não serei eu à cuidar delas amanhã. Quando David se vê sem a blusa e eu me delicio com a visão de seu tronco nu, ele investe contra minha boca e eu desvio numa provocação barata, seus dedos fecham-se mais contra minha cintura e ele arrasta o pano para cima, sem sucesso.

Seu muxoxo é engraçado e eu não me controlo frente aos seus lábios e rio, fazendo-o abrir os olhos. A questão é que eu usava um vestido e da maneira como estava sentada seria meio difícil ele sair por cima da minha cabeça. Avanço contra o zagueiro, trazendo uma de suas mãos até meu ombro, onde faço com que ele arraste a alça do vestido para baixo. Ergo o ombro pra passar o tecido pelos braços, mas David já rasgou o fino pano.

- Você vai acabar me deixando sem roupas. - Ergo-me um minuto pra constatar algo tão óbvio assim pro momento, mas é só que essa é a segunda ou terceira vez que David rasga minhas roupas.

- Essa é a intenção, querida. - Fato é que David é incontrolável, é feroz na cama como é em campo. E, se ele acha que pra me deixar sem roupas é mais fácil rasgá-las, ele vai fazer isso. Seus dedos espertos descem o tecido por minhas costas já nuas quando ele estraçalha a outra alcinha e logo tenho total contato com o tronco musculoso e dourado do zagueiro. Meus mamilos já enrijecidos tocam-no e isso faz o calor entre as minhas pernas crescer, o desejo me consome a cada segundo. David afasta meus cabelos pra averiguar melhor a área livre do meu colo, ele trabalha habilidosamente com ambas as mãos e sua boca deliciosa, enquanto eu perco a respiração a cada lambida. Recupero o fôlego em um instante, ao mesmo tempo recobrando a coragem que avassalará minha mente no banheiro. Tomo a consciência de que em passos lentos vou pescar minha presa mais facilmente. Escorrego uma das minhas mãos até o volume entre as pernas do jogador, fazendo o sinal vermelho em sua cabeça apitar. Só que ele não dá a devida importância pra isso e continua em seu deleite extremo de me dar prazer.

Há uma necessidade em mim de prová-lo por completo. E ela parece triplicar ao que meus dedos contornam o membro do jogador por sobre o shorts, só que aquilo não é o bastante. Nem pra mim, nem pra ele. Deixo meus dedos tocarem a musculatura contraída do abdômen do jogador.  Serpenteando pela região, assim que transforma os beijos em chupões e mordisca meu mamilo, permito minha mão escorregar para dentro da sunga do zagueiro. David se remexe, mas não desgruda de mim, fazendo minha intimidade latejar com cada movimento seu, por outro lado minha mão fecha-se contra o membro dele, iniciando uma massagem por toda sua extensão, que aguça meus instintos e me excita tanto quando os lábios de David. Eu me pego comparando tudo o que tenho em mãos e me assusto em como aquilo pode caber dentro de mim.  

David Luiz aumenta o vigor contra meus mamilos e eu preciso me agarrar ao seu pescoço com a outra mão pra não cair. Finco os dedos contra seus ombros e movimento a outra mão pra que seu estimulo seja constante, subo o polegar até a glande num movimento circular, imitando a vontade que sinto de fazer isso com minha própria língua. Não demora até que a respiração do jogador se torne entrecortada e ele destoe os sentidos por segundos. Seus olhos cravam-se nos meus, suas pupilas enegrecidas engolem-me, veneram-me. Não demora até que ele grude seus lábios nos meus, sugando e mordendo meus lábios. Diminuo a velocidade do meu toque, mas aumento a pressão, provocando-o. David geme contra meus lábios e, agora é a minha vez de agarrá-lo, sufocando seu gemido. No suspiro seguinte o jogador perde as estribeiras e agarra minha cintura erguendo-me do chão, o que faz com que eu perca o contato. Rodeio seu corpo com minhas pernas, enquanto me perco em mais uma seqüência de beijos molhados. Mesmo com a ardência evidente do membro de David contra minha calcinha, não estou satisfeita.

Descruzo as coxas de sua cintura e ponho-me de pé a sua frente. O jogador pisca algumas vezes procurando me entender, dou um passo curto para trás, para depois trazer o resto de roupa do corpo do jogador para baixo. Seu pênis salta com toda a vitalidade que lhe há, fazendo minhas pupilas enegrecerem e minha boca salivar pra senti-lo. David fixa seu olhar no meu e entende o que eu quero, penso que ele vá hesitar, mas seus movimentos seguintes são se sentar na beirada da cama a minha espera. Sua mão me convida quando ele mesmo manipula aquele ponto gigantesco em seu corpo, com os olhos intensos sobre mim. Não demora até que eu me encontre agachada diante seu corpo, primeiro eu massageio-o com minha mão, imitando-o, sendo assistida com veemência pelo jogador, meu desejo em prová-lo se faz presente mais uma vez e logo estou sentindo toda sua fúria em minha boca, enquanto o zagueiro derrete-se todo ao meu bel prazer.

Começo com movimentos suaves e massageio-o com minha língua, há uma espécie de deleite diferente no sexo oral, estou sob o comando de todo o prazer que chega até ele, eu me dôo para que o zagueiro sinta todo o jubilo que posso lhe proporcionar. Estamos entregues um ao outro em meio à luxúria que nos toma. Quando os gemidos do jogador tornam-se intensos e suas mãos agarram-se mais aos meus cabelos moldados num rabo de cabalo, ditando meus movimentos, percebo seu gosto mudar ligeiramente. Antes que eu prove todo o sabor do gozo de David. Ele me agarra os ombros, erguendo-me para cima. Segurando todo seu prazer pra si, a espera do momento certo para libertar-se.

- Você quer mesmo acabar comigo essa noite, Thais. – Não tenho autocontrole sobre mim, tomo seus ombros com meus braços unindo nossos corpos, sedenta pelo seu toque. Curvo a silhueta quando seus dedos esguios colocam minha calcinha para o lado e me penetram de súbito. Os músculos da pelve contraem-se engolindo David Luiz com minha própria lubrificação. – Apertada. – Sussurra com a voz inebriada num véu de volúpia e violência. – Tão gostosa, caralho. – A outra mão carrega os cabelos para longe do meu rosto, quando me olha sinto-me iluminada como uma lâmpada de mais de mil volts. Seus movimentos são precisos e eu me sinto a ponto de transbordar, David beija a curvatura da minha escápula, mordendo o ossinho evidente.

Carrego a minha mão até seu rosto, enquanto tenho-o parcialmente dentro de mim quero olhar dentro dos seus olhos, assim como ele fez comigo antes. Seu queixo é um ponto o qual me atrai de uma forma que nem eu mesma consigo explicar. David beija meus dedos e afunda mais os seus próprios em mim, massageando meu clitóris. E eu me esforço pra não morder-lhe o maxilar. Sufoco um dos meus gemidos em seu pescoço, chupando-o como agradecimento. Arranho aquela área sensível com os dentes, aperto os olhos em regojizo e por segundos presencio luzes rosadas bruxuleando na jugular do jogador, ao ritmo das batidas do seu coração.

Há um momento de transe em mim, e eu reconheço que isso seja devido aos movimentos expertos e lentos de David em mim. Nesse pequeno infinito de segundo as luzes somem, procuro-as mais uma vez, mas elas já se foram. Busco sugar o jogador uma vez mais, entretanto nada acontece. Minto. No mesmo milésimo que solto-o, seus dedos empalmam minhas coxas e sou prensada contra a cama, tendo o membro do zagueiro roçando minha entrada.

Seus lábios tocam os meus com uma violência comedida e o tesão extrapola as barreiras das suas vistas, em seguida preciso fechar os olhos com a fúria da volúpia que me chacoalha por dentro quando seus lábios arrastam-se pela linha media do meu corpo. Até chegarem no ponto crítico entre minhas pernas. Suas mãos abrem minhas pernas e uma delas posiciona-se sobre minha vagina, embora ele mantenha a concentração em meus olhos. Eu prendo o ar em expectativa, fazendo-o sorrir malandramente. Os seus dedos brincam com meus lábios de baixo, sem fazer menção de entrar em mim, enlouquecendo-me. 

- Você é minha garota, certo? – Contorna meu clitóris num ritual circular, fazendo-me pulsar em manifesto ao seu arfar deliciosamente quente. – Hm? – Minha coluna cervical movimenta-se em ondas e ele sorri abusado. – Diga isso! – Ordena, estancando os movimentos.

- Eu... e-eu... - Soando insana, gemo rouca. – Eu sou sua garota. – Agarro com fúria os lençóis quando ele me deixa a ver navios solta os dedos de mim. Minha pele pegajosa, arde em chamas pelo seu toque animalesco.

Droga.

Ele vai me fazer implorar.

Sua boca volta a minha, mas não me toca. David beija minhas bochechas avermelhadas e desce a cabeça até meu seio. Ele junta minhas mãos numa única sua e força-as para baixo, prendendo-me ao mesmo tempo que equilibra-se sobre mim.

- Vamos lá, fisioterapeuta. – E mordisca meu mamilo, fazendo-me contorcer. – Diz o que você quer. – Anuo à cabeça negando, mordo os lábios controlando as palavras que querem saltar de mim pra que ele me dê mais do que sabe fazer. – Não banque a difícil, assim como eu, você gosta de uma boa sacanagem. – Seus dedos ameaçam tocar o ponto sensível sobre meu clitóris, mas não passa de um toque leve e sem graça, como um carinho. A sua voz me faz querer virá-lo do avesso apenas com meus lábios, tal qual a minha ânsia em tê-lo. Talvez eu não agüente pra fazer isso na banheira.

Puta que pariu.

A banheira.

David percebe meus olhos arregalados e solta meus braços, tirando a mão indecente do meio das minhas pernas. Ele espalma a cama, tentando não me sufocar com seu peso e suas sobrancelhas unem-se em interrogação. Sorrio para ele e aproximo meus lábios do seu, aperdando seu corpo junto ao meu. Envolvo-o com minhas pernas, até ele estar totalmente envolto pelo beijo. E, vrau. Rodopio, deixando-o por baixo dessa vez.

- Não me faça implorar por algo que você bem sabe que eu quero, zagueiro. – Escoro meu corpo nu na porta da sacada e rodopio até o alento da escuridão, deixando-o estatelado sobre a cama, avulto com seu próprio joguinho. Quando David me encontra estou amparada pelo mármore da banheira. Seus olhos decaem-se sobre minha silhueta morena, como se ele não acreditasse no que seus olhos vêem. Como se aquilo fosse demais pra ele. – Essa é sua última chance de me deixar realizar seus desejos enquanto nos amamos. – Seu corpo nu parece maior do que realmente David se mostra, enquanto ele se movimenta até entrar totalmente na água, sou tomada pelo arrepio que dá sinais de vida à minha deusa interior. – Não banque o engraçadinho, ou venha com joguinhos. – Sua mandíbula trava enquanto eu me deixo ser tomada pela água em sua frente. Entrelaço sua cintura com minhas pernas, sentindo seu membro vivo entre minhas coxas. – Não é preciso nada disso pra me excitar em relação a você.

Assim que ele entra em mim, profundamente, provando nossos limites, ouço seu sussurro rouco por detrás do meu ouvido, enquanto ele mordisca meu ombro. - Você é uma puta mulher, - Suas mãos agarram minha bunda, ajudando-me no nosso movimento. E não é por isso que eu me arrepio, e sim pelo que ele fala em seguida. - encontrei a pessoa que eu quero ter pro resto da vida, - Tranco a garganta com o choro que se forma ali, sem deixar que o desejo cresça cada vez mais em minhas partes baixas. - não vou te deixar ir embora, Thais. – Seu membro sai completamente de mim antes dele falar mais uma vez, com toda a brutalidade que há dentro de si. - Nunca mais. – E estoca com sua força dentro de mim, deixando-me vazia por completo mais uma vez. - Você é a porra da minha alma gêmea. – Cavalgo sobre seu corpo, ajudando-nos em movimentos mais precisos e firmes. - E eu nem acreditava nisso, cacete. – Suas palavras não são nada gentis, embora ele diga coisas lindas. Sua fala entrecortada e os gemidos roucos que lhe escapam fazem aquele som o mais perfeito entre todos os barulhos que escapam da natureza que nos rodeia, e, assim, sinto meu orgasmo chegar pelas pontas dos meus dedos, que se embrenham nos cabelos do jogador.

- Cala a boca, David Luiz. – Quase grito, sufocando meu gemido no fundo da garganta. Os olhos cheios de lágrimas, de prazer e de tristeza.

- Não tem mais como te esquecer, você ta me ouvindo? – David agarra meu queixo, forçando-me a olhá-lo, e assim, com seus olhos ardendo em direção aos meus inflo meu ser com toda a sinestesia do momento, as paredes da minha vagina apertam o membro grosso de David e quase como numa ópera chegamos ao ápice juntos.

- Eu acho que vou te amar pra sempre, - Deito minha cabeça sobre se ombro, aproveitando daquele que pode ser nosso último momento. - até quando eu não gostar mais de você. – Forço minha mente a não pensar nisso, mas em poucas palavras eu conto toda a verdade á David.

Toda a verdade que eu não conseguiria falar, nem que me cortassem a carne e rancassem meus olhos.

Nada na vida me redimiria de olhar para ele enquanto o magôo.

- Também amo você, docinho. – O jogador abraça-me o corpo, apoiando a cabeça sobre a minha.

Ali é como se ele soubesse que era o fim.

Por ora.

 

Ler escutando: I Have Loved You For A Thousand Lifetimes - Michael Whalen

Sua respiração quente e suave atingiu meu pescoço, arrepiando-me pela última vez, assim tão de perto, um aviso de que ele já dormia. Era chegada à hora. Deixei que minhas pálpebras se fechassem mais uma vez, inspirei o ar em busca de coragem, mas o cheiro que só David tinha havia se fixado por todo o quarto e em meu corpo também, aprisionou-se em minha mente, impedindo meus músculos de tirar-me dali.

Eu nunca poderia olvidar da força descomunal que David Luiz provocava em mim.

Talvez fosse isso que me impedia de deixá-lo.

Sua luz tinha a capacidade de me invadir em momentos ilusórios, como uma brisa suave num dia quente de verão.

Talvez o que me fizesse amá-lo tanto, seja sua onipresença.

Essa força descomunal. Sobre humana. Seu sorriso fácil e leve, contrastando com os olhos quentes e intensos.

Ainda não tinha traçado um plano pra deixá-lo.

Só sabia que era essa há minha hora.

Joguei os lençóis para o lado com os pés e cuidadosamente desprendi-me dos braços tenros do jogador, esses que pareceram relutantes em me soltar. Não tinha medo que ele pudesse acordar, era uma missão complicada acordar David Luiz quando ele já estava há essa altura do sono.

Foi quando não ali estava mais, senti a dor apertando minha garganta, sufocando o choro que crescia em meu peito como o sol ao amanhecer. Por diversas vezes entre o caminho de levar uma coisa ou outra para dentro da minha bolsa tive coragem de acordá-lo. Queria dizer pra ele que nós devíamos tentar, mesmo separados. Porém, a dor de tê-lo a distancia cortou meu coração com uma navalha afiada. E o pior era saber que assim ele também se magoaria. Mais cedo ou mais tarde.

Portanto, a melhor escolha era vagarmos livres. Até que o destino achasse justo nos unir novamente.

Juntei meu vestido no chão, trazendo com ele a blusa que o jogador usou durante o dia. Não me contive em guardá-lo junto às minhas coisas, não sem antes roubar um pouco do seu aroma para mim.

O cheiro dele preencheu a parte vazia do meu peito, no instante seguinte a dor produzida por meu timo foi tão intensa que as lágrimas saltaram dos meus olhos e o desespero fazia meu peito arfar junto ao meu coração acelerado.

Era real: estava deixando pra trás a minha primeira e verdadeira experiência com o amor.

Vasculhei o rosto do jogador uma última vez antes de destrancar a porta e juntar as chaves do carro. Limpei uma lágrima que escorreu por meu queixo, envolvendo a maçaneta. Só que não consegui sair dali. Meu coração apertava-se a cada batida, fazendo minha cabeça pirar e explodir em discórdia.

Era o certo a se fazer.

Porém, eu não podia simplesmente sumir.

Sem deixar qualquer recado.

Volvei o corpo pelo quarto em busca de algum lugar onde eu pudesse escrever um bilhete ao jogador. Não havia um caderno, revista ou livro sobre os móveis ou gavetas. A brisa adentrou as janelas, balançando as cortinas finas, rodeio os olhos mais uma vez pelo quarto, encontrando minha solução.

A bíblia do jogador estava sobre a mala, que jazia aberta no canto do quarto. Vasculhei uma caneta em minha bolsa, deixando meu corpo repousar sobre a cadeira da pequena escrivaninha que adornava o cômodo.

Deslizei o dedo pelas letras garrafais da capa num pedido mudo de licença, juntei o resto de coragem que tinha, rodopiando a cabeça até a cama, onde recuperei meu último fôlego. Uma das últimas páginas do livro estavam em branco, onde eu me aproveitei pra deixar meu último adeus.

Não era uma despedida, naquela bíblia entreguei nas mãos de Deus o que eu não podia mais cuidar.

Tentava a todo custo controlar o choro, e os soluços que me consumiam a alma, mas foi em vão. Quando acabei, deixei o livro sobre meu lado da cama e marquei a pagina com a caneta. Permiti deixar um último beijo em seus lábios antes de encerrá-lo em sua própria solidão até quando ele achasse necessário.

Praguejei a mim mesma todo o caminho até meu carro, tomando o cuidado necessário pra não acordar as outras pessoas da casa. Quando meus pés tocaram a areia da praia, caminho mais rápido e silencioso até a garagem, foquei a escuridão ao meu redor. Abraçando-a. Despedi-me daquele lugar e daquelas pessoas que me fizeram tão bem, em tão pouco tempo.

Pedi desculpas ao mar. Já que ele era rei de todos nós e banhava todos os continentes, aonde quer que David tivesse e olhasse para aquela imensidão.

Nossa primeira paisagem compartilhada juntos.

Ele se lembraria de mim.

Sua sereia.

 

 

. . . 


Notas Finais


Link das músicas:

It's a Fluke - Tiago Iorc
https://www.youtube.com/watch?v=wLc9nCoxloY

You Matter To Me - Sara Bareilles (feat. Jason Mraz)
https://www.youtube.com/watch?v=GU1gKmZYFVc

I'm on fire - AWOLNATION
https://www.youtube.com/watch?v=LH_QbDoL_hM

I Have Loved You For A Thousand Lifetimes - Michael Whalen
https://www.youtube.com/watch?v=iP42U_B8m5U

|LINK DO TEASER FINAL|
https://vimeo.com/150025009

volto logo, corações.
<3


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