História Alice em um novo lugar - All of me

- Prefiro pudim.

 - Pudim é ambrosia do olimpo, então não conta. Ei, aquele é seu violão? - apontou para algum lugar atrás de mim.

  - É. Quer ver? - peguei o violão e o entreguei a ele.

  - É lindo. Bora formar a duplinha sertaneja? Tunico e... Deixa pra lá. Bora cantar?

  - Eu nunca cantei na frente de ninguém. Só do... Você sabe.

  - Isso é um não? - fez bico - Por favooor. Não te peço mais nada.

  - O que você quer tocar?

  Ele ajeitou o violão no colo, deu meia afinada e começou a tocar. No começo eu não sabia de qual música se tratava, mas foi só ele iniciar a letra que eu entendi o recado.

  What would I do without your smart mouth

  Drawing me in, and you kicking me out

  Got my head spinning, no kidding, i can't pin you down

  A maneira que as palavras saíam de sua boca era tão doce e suave, porém firme e vibrante, o que me fez entrar em transe. Nem percebi quando continuei a letra.

  What's going on in that beautiful mind

  I'm on your magical mistery ride

  And I'm so dizzy, don't know what hit me, but I'll be alright

  Era um segredo meu, mas eu sabia cantar. O trecho havia ficado melhor do que eu esperava, e ele sorriu. Mais uma vez era sua deixa.

  My head's under water

  But I breathing fine

  You're crazy and I'm out of my mind

  Novamente dividimos as partes da música. De alguma forma, sabíamos exatamente o que fazer, somente deixando cada verso sair. Nos encarávamos firmemente até que então veio o refrão.

  'Cause all of me

  Loves all of you

  Love your curves and all your edges

  All your perfect imperfections

  Give your all to me

  I'll give my all to you

  You're my end and my beginning

  Even when I lose I'm winning

  'Cause I give you all of me

   And you give me all of you, all

  Em algum ponto daquele lugar, minha voz combinou quase que perfeitamente com a dele. Os timbres tão diferentes encaixavam-se um no outro formando aquela melodia calma e emocionante, e eu, sorria boba a cada frase cantada.

  How many times do I have to tell you

  Even when you're crying you're beautiful too

  The world is beating you down, I'm around through every mood

  You're my downfall, you're my muse

  My worst distraction, my rhythm and blues

  I can't stop singing, it's ringing in my head for you

  Cada palavra que ele dizia, mexia comigo de uma forma estranha. Ele cantava aquilo para mim. A emoção tocou fundo em minha alma e meus olhos começaram a se encher. Fechei os olhos para cantar em um tom mais agudo, e logo deixei que ele cantasse de novo.

  My head's under water

  But I'm breathing fine

  You're crazy and I'm out of my mind

  Nessas horas meus olhos estavam cheios de todo sentimento presente ali. Não ia conseguir segurar muito.

  'Cause all of me

  Loves all of you

  Love your curves and all your edges

  All your perfect imperfections

  Give your all to me

  I'll give my all to you

  You're my end and my beginning

  Even when I lose I'm winning

  'Cause I give you all of me

   And you give me all of you, all

  Sem eu conseguir mais segurar, as lágrimas escorreram pelo meu rosto. Percebi então, que ele também chorava.  Ele soltou o violão e me abraçou no mesmo instante, preenchendo meu interior de paz. Afinal, não era por tristeza que eu chorava, e sim por saber que ele estava ali comigo, compartilhando desses sentimentos.

  - Obrigada.

  - Por quê?

  - Por estar aqui comigo. Eu não sei o que seria de mim sem você.

  - Talvez, o mesmo que eu sem você...

  - Como assim? - soltei o abraço para encará-lo.

  - É que... Você também tá me ajudando, mesmo sem perceber. - desviou o olhar por um momento, corado - Eu estava sozinho até pouco tempo.

  - Sozinho? Mas você tem muitos amigos.

  - Eles não são meus amigos. Digo, eu gosto deles, mas se eu sumisse, eles não iriam dar falta.

  - Eu iria.

  - Por isso você é minha única amiga. Eu sinto que você se importa comigo, e isso faz com que eu tenha vontade de estar com você.

  - Sei como se sente. Eu fazia amizades com muita facilidade, mas todos me abandonavam em algum momento. Acabei desistindo de tentar. Virei aquela anti-social que não se apega a ninguém, não fala com ninguém. Por isso eu disse que não era sua amiga. Me desculpe por isso.

  - Não se preocupe. Mas, e agora? O que eu sou pra você?

  - Não sei dizer. Ultimamente tem sido mais que um amigo. E não pense besteira, é menos que um namorado, ok?

  - Ahh, droga! - fingiu frustração - Eu tava quase te conquistando.

  - Cala a boca - bati em seu braço - Então... O que nós somos afinal?

  - Dois babacas sofridos.

  - Isso. E otários.

  - E famintos.

  - Mais um miojo?

  - Com certeza.