História Alice em um novo lugar - Prometa

  - Vamos. Estou morrendo de frio. - levantou-se e pegou minha mão para que eu também levantasse. - Onde eu vou dormir?

  - Eu não sei. Estava pensando se... - olhei para os pés, corada - Se você não quer dormir no quarto comigo. Eu estou com um pouco de medo de surtar de novo. Tem um fúton lá se você quiser.

  - Ahn... Claro - disse também corado.

  - Sério? Obrigada! - falei meio alto e abracei-o. Ao perceber minha ação, soltei o abraço e corei - Desculpa. Vamos pro quarto?

  Por motivos muito antigos e complexos, o quarto não tinha porta, apenas uma cortina.

*lembrança* 3 anos atrás...

  - Eu odeio vocês! Quero ver se vão chorar no meu velório! - gritei e bati a porta com toda a força.

  - Alice, para de besteira. Sai desse quarto agora! - gritou minha mãe ainda mais alto. Não houve resposta. - Alice? Alice, o que você está fazendo? Abre essa porta!! Tiago me ajuda a abrir a porta!

Meus pais chutaram, esmurraram e se jogaram tanto contra a porta que ela acabou finalmente quebrando, e dentro do quarto havia uma Alice jogada no chão, com um pote de remédios na mão e alguns atirados pelo quarto. É, esse dia foi louco.

*fim*

  - Onde fica o banheiro?

  - É nessa porta à sua direita.

  - Obrigado ~pega uma bolsa na mala~

  - O que é isso?

  - Nada. Coisas de... Higiene. - disse em um tom suspeito.

  - Bom, eu vou tomar um banho e depois arrumo as camas.

            ~~**~~

  - Você estava tomando banho? - perguntei curiosa por conta do tempo.

  - Ahn... Sim, é isso.

  - Demorou. Bom, vamos deitar. Já arrumei as camas.

  - Ok.

     ~~

  - Ei - falei depois de um tempo - Já dormiu?

  - Nem estou com sono, na verdade.

  - Quer conversar?

  - Sobre?

  - Você. Topa um jogo de perguntas e respostas pessoais?

  - Topo. Qual o nome da sua psicóloga?

  - Carla. Já precisou ir ao psiquiatra?

  - Sim. Você é depressiva?

  - Não. Talvez... Ok, eu sou. Já se cortou alguma vez?

  - Muitas vezes. Já quase morreu?

  - Umas duas ou três vezes. O que tem dentro daquela bolsa?

  - Remédios, esparadrapo, gaze, alguns panos, algumas seringas e uma... Uma lâmina. Quais remédios você toma?

  - Nunca decorei o nome. Me mostra?

  - O quê?

  - Sua lâmina. Quer dizer... Desculpa, eu quis dizer...

  - Mostro.

  Eu tinha certa fascinação por lâminas. O desenho, o fio, tudo me impressionava.  A que ele tinha era linda. Aço inoxidável com um ótimo fio. Num impulso, passei ela pelo meu antebraço, fazendo um pequeno corte.

  - Alice, você é louca? - tirou a lâmina de mim - O que acha que está fazendo?

  - Desculpa. Eu só queria testar o fio. Ela é muito bonita.

  - Ahn... Acho que sim. Pode me mostrar?

  - O quê?

  - Seus braços. Posso ver?

  - P-pode. - puxei minhas mangas relutante. Na pele extremamente clara era bastante evidente cada cicatriz, que cobriam os braços inteiros. Umas mais rasas e finas, outras mais profundas, algumas até com alguns pontos e aquela que eu acabara de fazer. Fechei os olhos cheios de lágrimas para não ver sua reação, mas me surpreendi com seus braços ao meu redor.

  - Eu estou aqui agora, Alice. Eu não estava antes, mas agora estou, e você nunca mais vai precisar fazer isso. Nunca mais. Entendeu? Por favor, não se machuque mais.

  - Eu... Eu... Desculpa, eu não aguentei. - mais lágrimas saíram.

  - Não peça desculpas. Sei que você aguentou até onde pôde antes de fazer isso, sei o quanto é difícil parar depois que começa, então não me peça desculpas, porque não é culpa sua.

  - Promete que vai ficar comigo, que vai me impedir de fazer isso denovo e que vai me proteger?

  - Eu acho que eu já falei isso. Mas já que você pediu, eu prometo. Prometo que vou estar aqui sempre que precisar, até mesmo quando não precisar. Prometo porque eu preciso de você também Alice. Prometo por que eu te amo.