Abyssus abyssum invocat
Um abismo atrai o outro
Accipe quod tuum, alterique da suum
Aceita o que é teu e dá o alheio a seu dono
Accipere quam facere praestat injuriam
Antes sofrer o mal que fazê-lo
Accipere quam facere praestat injuria
Antes sofrer injúria, que praticá-la
Parabéns, querido
Tornou-me um boneco
respiro e inspiro
mas não sinto
não sou nada
além de um boneco
feito de plástico
sem sentimentos, sem movimentos
minha boca não se abre
você é quem dita as regras
as palavras e as ações
apenas você
meus olhos são fixos
ao horizonte, ao nada, ao vazio
como ao que que há em mim
eu não o sinto
meu corpo é imóvel (tanto que dói)
se eu me mover, perceberás
e um fim em mim dará
(não me abandone, querido)
eu não suportaria
viver sem seu amor
não sentiria nada além da dor
(tão dolorosa quanto esta que sinto agora)
aceito a dor, machuque-me
eu sorrirei para ti
desconte sua raiva
serei obediente
grite, pois
meus ouvidos nada ouvem
além dessa tua voz insana
que conduz-me a combustão
lembro-me, o rosa em meus cabelos
como o do vestido rosa amassado
jogado num canto, rasgado
não deixa-me usá-lo
sinto-me belo nele
como nunca senti-me
mas, tu, meu amor, odeia
(ou odeia a mim?)
eu sorrio e aceito
sou seu bonequinho de plástico
vestido de f(alsidade)elicidade e hematomas
dei-te minha alma
e você a jogou aos ventos
(não compreendo)
não sinto
saudades da minha família
das minhas músicas
dos meus livros
das minhas roupas
dos meus vestidos
das minhas perucas
das minhas maquiagens
do velho eu
nada importa agora
tudo se foi
naquele incêndio
que provocaste
em meu peito
consumindo-me por inteiro
...
minhas lágrimas secaram
não choro, não sinto
quem chora por mim, são outros
quem chora por mim
são as nuvens
sempre nubladas
perderam a limpidez (como eu)
estou sujo, cinza.
não o meu corpo.
minha mente, meus olhos, minha alma, tudo está cinza
elas entendem a dor
afinal, o que é o amor?
não sinto nada além de dor
(pare está matando-me!)
há um grito de socorro preso em minha garganta
sufocando-me,
sinto meus pulmões
eles pedem socorro
(dói tanto, pare)
fortemente, tuas mãos apertam-me o pescoço
como se fosse de plástico
não há carinho, como antes houvera
há raiva, somente
e dor
nos olhos, o brilho do desespero
esse brilho jamais desaparece
ele só cresce —
estou sorrindo, querido
(como me pede)
estou sorrindo...
o que mais diz sobre a felicidade
do que um sorriso estampado nos lábios?
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