1. Spirit Fanfics >
  2. All i ever said about us. >
  3. And then we fall

História All i ever said about us. - And then we fall


Escrita por: _littlethay

Notas do Autor


Quase 10K palavras................. eu nem sei como cheguei até aqui, meu deus. o que é a minha vida nesse momento.

1. não-betada. como eu fiz apenas uma revisão, é possível que haja alguns erros pelo caminho. me perdoem desde já!
2. star trek não me pertence yadah yadah
3. eu sei que o SS diz pra gente não exigir comentários aqui, mas eu não estou exigindo, estou pedindo encarecidamente por estar realmente interessada em saber vossas impressões sobre a fic, okay? <3 por favor, me deixem saber se fiz um bom trabalho KK. Porém, no entanto, todavia, se não quiserem comentar, tudo bem também, vamos todos nos limitar a amar spirk <3

espero que gostem <3

Capítulo 2 - And then we fall


 

Love is not a victory march,

It’s a cold and it’s a broken Hallelujah

—  Jeff Buckley.

[2/2]

 

O chiar do elevador turbo em movimento era o único som que Spock conseguia ouvir, mesmo com sua audição consideravelmente aguçada. Depois de duas horas de meditação, sentia-se apto para cumprir mais um dia de trabalho. Sem qualquer distração — principalmente envolvendo o capitão da Enterprise. Spock sabia que o risco de falhar na missão em Dianty IV era aproximadamente 70.03%, e por esse motivo, planejava manter um profissionalismo impecável durante a mesma. Era apenas lógico impedir qualquer compromisso emocional com seu superior hierárquico, visto que tal envolvimento traria apenas problemas para a frota. Não era recomendável que oficiais da federação perpetuassem relações que representassem perigo para a efetividade da missão.

Spock aceitara o posto de primeiro oficial da Enterprise por um único motivo, ainda que sua decisão tenha sido influenciada pelas palavras de Sarek, a priori seu interesse sempre fora a ciência. Fazer parte da tripulação era apenas uma forma de alcançar esse objetivo  —  que agregasse a seu conhecimento como cientista. Já havia percebido há algumas semanas a necessidade de agir contra a crescente atração que o fazia notar qualquer movimento por parte de James, fosse para mexer no cabelo desnecessariamente, ou, até mesmo, quando lhe dirigia olhares indiscretos por cima dos ombros durante o turno Alpha — praticamente exigindo sua atenção.

Não, ele não podia permitir.

O comunicador no cós da calça apitou ao mesmo tempo em que a porta do elevador se abriu, revelando uma tensão na ponte da qual ele não fora informado. Deu um passo na direção do posto, percebendo só então a ausência de Kirk na cadeira de comando. Em seu lugar estava sentado — e bastante agitado, para o estranhamento do vulcano — o tenente-comandante Scott. Ao seu lado, estava o Dr. Mccoy, que tampouco parecia tranquilo, visto que batia os pés no chão —gesto humano que Spock aprendera a reconhecer como sinal claro de nervosismo.

Sem hesitar nenhum segundo a mais, ele se aproximou dos dois. Observou pela visão periférica os movimentos frenéticos de Nyota, que ao cruzar olhares consigo, mostrou-lhe uma expressão de aflição que fez Spock  sentir uma pontada de frustração por desconhecer o motivo do conflito em voga.

— Qual o significado disto? — perguntou, recebendo como resposta semblantes de preocupação.

— É o capitão, ele desceu a Dianty IV. Até 10 minutos atrás estava correndo tudo bem, mas aconteceu alguma coisa. A atmosfera do planeta se tornou extremamente instável de uma hora pra outra; tentamos contatar o capitão, mas ele não respondeu. Sem suas coordenadas, não podemos subi-lo de volta a bordo  — disse Scott, manejando não tropeçar nas próprias palavras.

Spock permaneceu parado, tentando não emitir nenhum tipo de manifestação emocional. No entanto, temia que estivesse falhando miseravelmente — seu interior se consumia com um pavor que lhe era infelizmente familiar. Um sentimento tão agonizante quanto o que sentiu quando perdeu seu planeta — quando perdeu sua própria mãe.

— Por que eu não fui informado? — Spock se ouviu sibilar, no tom mais próximo que conseguiu do profissionalismo. Se o estremecimento visível nos ombros de Scott era uma indicação, Spock supôs que tivesse fracassado em cumprir a tarefa.

— Jim disse que você estava de folga, meditando ou sei lá, esse vudu que você faz. Ainda tentei argumentar, mas quem disse que o teimoso ouve a voz da razão —  interviu o médico, esfregando uma das mãos na testa. Spock estava genuinamente perplexo, sem conseguir formar em sua mente um plano lógico o bastante para justificar a descida abrupta do capitão ao planeta sem sua presença.

O barulho dos sensores apitando interromperam sua reflexão.

— O que diabos aconteceu? — Mccoy perguntou, praticamente gritando por sobre o barulho estridente das sirenes.

— O vulcão do planeta está prestes a explodir, e, pelo visto, Jim não conseguiu evacuar a área habitada. — Scott informou, olhando para a tela do computador onde era possível observar as formas de vida aglomeradas no ponto crítico.  — Temos que transportá-lo de volta a nave o mais rápido possível antes que seja impossível utilizarmos o teletransporte.

Os ouvidos do vulcano zuniam desconfortavelmente com o barulho dos sensores, mas acima de tudo, o coração localizado no lado inferior esquerdo do tronco batia com um velocidade preocupante. Spock não sabia o que fazer. A sensação de queimação alastrando-se como um vírus na altura da garganta o impediam de focar em qualquer coisa senão a imagem de Kirk sozinho em um planeta adverso rodeado por uma espécie igualmente hostil, prestes a explodir — a possibilidade de vê-lo ferido o aterrorizando com uma força que ele temia não ser capaz de controlar. 

Não entendia o porque de Kirk ter descido sem ele ao planeta, isso não estava incluído no planejamento. A missão estava marcada para o exato horário em que Spock se dirigira a ponte, e, mesmo assim, o capitão ignorou sua patente como primeiro oficial, tomando decisões sem nem ao menos consultar-lhe. De repente, a frustração se transformou em raiva. Ao passo que as sirenes tocavam, avisando-o a cada 0.01 segundos que Kirk podia estar a ponto de se machucar de modo letal, ele voltou sua atenção aos dois oficiais discutindo na cadeira de comando. 

—  Vocês não deveriam ter permitido.  — falou, com finalidade.  —  Sabiam que não era recomendado que o Capitão descesse sem escolta. 

Mccoy lhe lançou um olhar perigoso, exprimindo o canto dos olhos desnecessariamente. 

— Ele não desceu sem escolta, seguranças o acompanharam. Sejamos honestos, nós dois sabemos o motivo de ele ter insistido em descer “sozinho”. 

Spock estaria mentindo se dissesse que não fora pego de surpresa pela afirmação, embora o tom do doutor deixasse claro sua certeza em acusar o vulcano, Spock não a compartilhava com o homem. Tentou recordar de qualquer momento no passado que sustentasse o que lhe era dito, sem sucesso. Entretanto, a movimentação do tenente Scott demandou sua imediata atenção, quando a estática oriunda dos receptores da nave chiaram mais uma vez. 

— É o Capitão! Estou captando um sinal fraco do comunicador — gritou Uhura de sua estação, o cenho franzido e uma das mãos segurando o receptor rente a orelha, como se a pressão fosse melhorar em algum nível o entendimento.

Spock estava ao seu lado no instante seguinte, sem realmente se lembrar de ter andado até lá. Tudo dentro dele se movia a base de um só pensamento, ressoando como uma mantra no fundo de sua cabeça: certificar-se da segurança de Jim. 

— Ele está bem? — perguntou, a voz levemente rouca. 

— Eu não consigo ouvir sentenças completas — falou, apressada.  —  Apenas palavras soltas, como “Scott” “Suba” e “tire” —  ela continuou com o cenho franzido por 2.1 segundos, até baixar o comunicador, fitando-o com olhos empáticos.  —  O sinal morreu. 

Spock poderia listar todos os procedimentos lógicos que seguiriam uma situação como aquela, segundo o protocolo. Ele o tinha memorizado, e Spock sabia que deveria segui-lo a risca em quaisquer circunstâncias, mas antes que pudesse formar qualquer pensamento coerente a respeito dos regulamentos, já estava andando a passos largos até a sala de transporte sem olhar pra trás. Entrou no turbo elevador, só então percebendo que inquieto doutor o seguira, conseguindo adentrar o espaço mínimo antes que a porta se fechasse com o ruído característico. 

— Spock, o que você vai fazer?

— Eu vou descer. 

— Nem pensar! 

— Você não me comanda, minha patente é superior a sua. 

Mccoy parecia ofendido, mas naquele instante, mais do que em qualquer outro, Spock realmente não se importava com o que o homem pensava. 

— Você finalmente percebeu a burrada que fez? Eu sinceramente não esperava que a situação chegasse a esse ponto quando o garoto bateu o pé no chão e agiu de maneira completamente impulsiva, pra variar — limpou o suor da testa — eu também estou morto de preocupação, Spock. 

— Eu não sei onde quer chegar com essa conversa, Dr. Agora, eu preciso assegurar a segurança do Capitão da Enterprise. É meu dever. 

O médico voltou a exprimir os olhos, como se estivesse desconfiado. 

— Dever?

— De fato.

— Você é mais idiota do que eu pensava.  —  balançou a cabeça, olhando-o com uma fisionomia remetente a pena. Spock não apreciava ser alvo de piedade.  —  e eu não vou pedir desculpas por isso, Senhor

Não havia tempo para continuar discutindo com o homem. Assim que as portas se abriram novamente, Spock irrompeu pela passagem sem reparar que quase corria pelos corredores da nave. A sala de transporte estava ocupada por um agitado Chekov, que esticava a língua para fora da boca em um gesto ilógico — porém, bastante humano — ao se concentrar na tela do dispositivo. 

­ — Relatório, navegador. 

Chekov se virou, assustado. 

— Sr. Spock! A situação não é favorável, eu estou tentando obter as coordenadas do Capitão e da equipe, mas receio que leve mais tempo do que nós temos.  

Spock andou até a plataforma, os ouvidos ainda zumbindo com o barulho incessante dos dedos de Pavel sobre os controles e o som abafado dos passos do Dr. Mccoy se movendo de forma célere até a sala. Em 0.2 segundos ele entraria pelo portal: 

— Eu nao terminei com você, Spock!

— Eu estou descendo. —  Spock se ouviu dizer, pospondo todo o lado de seu cérebro que prezava pela lógica. As estatísticas apontavam que a probabilidade de sua “descida” funcionar vantajosamente para a missão era de aproximadamente 9%. Spock não se importava, precisava garantir que o Capitão fosse resgatado. 

Mccoy, aparentemente, chegara a mesma conclusão. Sua expressão de surpresa era totalmente esperada pelo comandante. 

— Você ficou louco?

— Navegador, energizar. — Spock o ignorou, subindo a plataforma em seguida. 

Pavel Chekov continuava a encara-lo, sem acatar as ordens dadas. Antes que Spock pudesse reforça-las, Mccoy interviu. 

— Não ouse se mexer, Chekov. —  O Dr. o encarou. — Spock, essa não é a melhor ideia e você sabe. 

Spock sabia, ou melhor, tinha certeza. Ainda assim, suas mãos cerravam em punho tamanha era a vontade de achar Jim, mantê-lo seguro, salvá-lo — ele podia estar machucado ou até mesmo —

— Doutor, eu estou ciente de todos os riscos, mas minha decisão é final. Eu descerei, e quando achá-lo, usarei as mesmas coordenadas para subir. Pavel, você é capaz de realizar a tarefa?

Chekov hesitou por 3.3 segundos antes de acenar positivamente. 

— Energizar. 

 

-x-

 

As coisas saíram um pouco de controle. Jim calculara que tudo daria certo contanto que mantivesse uma postura diplomática impecável, e na primeira meia hora deu tudo certo, não fosse a ameaça iminente e completamente repentina de erupção do vulcão mais importante por aquelas bandas. Se Jim já estava nervoso com a possibilidade de encontrar ainda mais dificuldades em cumprir a missão, agora estava com medo pela própria vida — o líder da sociedade simplesmente decidiu que sua descida ali era o sinal de que ele devia ser oferecido como sacrifício aos deuses do vulcão.

Ao ouvir as palavras traduzidas do chefe, a boca do loiro foi ao chão.

 — É o quê, meu senhor?

Sem que ele pudesse ter tempo de se defender, alguns dos guardas já o agarravam pelos braços enquanto os demais faziam o resto da equipe de refém. Era quase impossível se livrar do aperto, devido a força bruta dez vezes superior daquela espécie. 

 — Devemos nos apressar antes que seja tarde.

Jim estava tão embasbacado com a situação que só percebeu o perigo real quando um dos gêiseres escaldantes matou um de seus homens — tudo o que sobrou foi o cheiro de carne queimada pairando no ar já esfumaçado do local. Tossiu, a boca secando com uma rapidez impressionante. O capitão tentou pensar agilmente, se pudesse contatar a Enterprise, talvez fosse possível segurar a atividade vulcânica a fim de salvar o máximo de vidas que conseguisse.

Tudo o que precisava fazer era convencer o líder.

—  Se você me deixar contatar a nave, talvez eu possa saber um jeito de inativar o vulcão. – Jim tentou inconscientemente alcançar o comunicador no cós da calça.

—  Nós já temos uma solução. —  respondeu displicente, como se atirá-lo dentro de um vulcão não passasse de rotina.

Jim começou a suar, procurando os olhos de seus colegas, pensando em apaziguar o desespero já palpável irradiando de seus corpos agitados. Não queria nem pensar em como a presença de Spock e seu beliscão da morte viriam a calhar agora.

Quando chegaram a base do vulcão, três dos integrantes da tripulação já estavam mortos. Isso sem contar os habitantes daquela terra, que já corriam apressados na ânsia de jogá-lo direto na cratera infernal. Jim pressentia que qualquer tentativa de negociação agora seria o mesmo que dar murro em ponta de faca, a mente do loiro trabalhando como um motor turbo em fator de dobra 9. 

Como diabos eu vou sair dessa?

A cada segundo de escalada era um segundo que o capitão olhava para o topo do vulcão, tomado pelo medo real de que ele entrasse em erupção de repente, destruindo o que quer que estivesse pela frente. Seus pulmões doíam só com o mero ensaio de uma respiração, sem contar a expressão imparcial do chefe, como se todos eles estivessem indo a um piquenique.

Chamas ascendiam pelo céu como a gravura real do que se imagina ser o inferno e os olhos azuis de Jim as refletiam cegamente, assim como à dor que ele sentia por todo corpo. O chão da superfície era rochosa e quente e parecia que ele estava preso dentro de uma panela de pressão. Seu comunicador jazia perdido derretendo em algum canto daquele pesadelo, depois que um dos guardas fez o favor de quase nocauteá-lo após uma tentativa justificada de fuga. O lugar onde os dedos alheios ainda o seguravam ardia como o diabo, mas o jovem capitão ainda acreditava piamente em uma saída, mesmo que ela se encontrasse em um fio inexistente de esperança. 

A costa se abria sob seus pés, as botas derretendo com o calor insuportável do lugar e os dedos começando a sentir o início nada tímido de queimaduras gravíssimas. Buscou no céu, além das nuvens alaranjadas, um ponto de luz brilhante que cantasse seu nome — qualquer que fosse, por favor.

(a imagem dos corpos dos oficiais vermelhos jogados pelo chão surgiram como um flash na mente cansada e Kirk simplesmente não achava graça em ser literalmente o último homem em pé.)

Pensou em seu braço direito, o meio vulcano meio humano, cuja voz podia ouvir no fundo de sua mente – um sermão de duas mil palavras. Sorriu, os lábios grossos rachando pela secura. Só o que lhe mantinha ali, fitando o céu com a fé de um religioso, era a voz de desaprovação e arzinho de superioridade do comandante. Ah, Spock, pensou Jim, enquanto realizava  que a pessoa a quem desejava ver por último – barrando qualquer alma por quem Jim nutrira o mínimo de afeto durante toda sua vida – era ele. Era ele a quem queria abraçar e beijar e casar e envelhecer e morrer e esperar que um dia, talvez em outra dimensão de tempo espaço ou vazio, o encontrasse novamente. Era a ele que queria dedicar seus sacrifícios e era com ele que queria dividir suas decisões. Jim agira por impulso ao descer a Dianty IV sem traçar um plano B para casos como aquele —  como iria adivinhar? — indo contra qualquer regra que já aprendera na academia. Sabia disso, tinha ciência; deixara que seu estado de miséria emocional tomasse conta e aqui se encontrava. A imprudência tinha ido um pouco além da conta — era como tentar descer uma escadaria em caracol no escuro.

Jim sentiu a pele queimar e descascar sob uma temperatura que ele nem se atrevia a supor. Não sabia como não estava delirando, a dor quase insuportável. A garganta arranhava dolorosamente e ele sentia como se algo estivesse escalando com unhas afiadas o caminho para fora de seu corpo – talvez a própria esperança, cansada de esperar. 

Custava a acreditar, ali, sentindo o cheiro de seu cabelo quase chamuscando no calor do planeta, que logo no começo da missão de cinco anos ele não teria a oportunidade nem de dizer adeus, nem de sentir mais uma vez o friozinho na espinha que tinha todas as vezes que sentava na cadeira de capitão da Enterprise. Nem de abraçar Spock, mesmo que por qualquer instante ínfimo que o vulcano lhe permitisse.

— Jim!

Ao som milagroso da voz grossa de origem inquestionável, Jim se agitou contra o agarre firme das mãos dos nativos de si, tentando com todas as forças olhar por sobre os ombros a procura da figura real do vulcano. Temia que estivesse finalmente delirando, afinal. De relance, pelo canto do olho, viu a cor azul marinho do uniforme interestelar — podia até imaginar o barulho das botas de Spock correndo entre os gêiseres a fim de alcança-lo. Com os ouvidos zunindo e as mãos tremendo, Kirk voltou a espernear, a natureza íngreme do chão sob seus pés finalmente servindo-lhe de beneficio.  

— Spock!

Quando deu por si, a pressão ferrenha tinha sumido e ele viu Spock beliscar o homem a inconsciência. Do outro lado, Jim conectou olhares com o líder – que finalmente aparentava estar nervoso. Spock voltou a atenção a si, enquanto segurava o homem embaixo de um dos braços, segurando-o pelos cotovelos como se ele fosse quebrar se o vulcano pressionasse mais do que o necessário. Jim tentou abrir a boca para falar, mas nada emitiu. Não podiam simplesmente sair dali e deixar aquelas pessoas para morrer. Procurou os olhos de Spock durante aquele segundo no olho do furacão, esperando que ele pudesse lê-lo.

 — O tenente-comandante Scott vai resolver a situação, Jim. – Spock murmurou, seu aperto nos braços do capitão se intensificando de repente, antes de abrir o comunicador.

 — Quatro para subir. 

Kirk ainda conseguiu levantar o olhar e encará-lo, antes que o mesmo desviasse a atenção para o comunicador firme entre os dedos da mão desocupada. O loiro sentiu como se houvessem, de algum modo, apertado o mute do controle remoto  —  tudo o que ouvia era o silêncio assustador da própria mente, observando os lábios de Spock se moverem ao falar no aparelho. Com a última visão das orelhas pontudas, Jim concluiu que a sensação de suas moléculas se separando era a definição de Oasis. 

Assim que voltou a nave sentindo a sola dos pés ardendo em contato com o chão frio da plataforma, cada milímetro de seu corpo latejando insuportavelmente, Jim desabou. Aceitou de bom grado a sensação do abraço apertado de Spock, mesmo que a esta fosse agridoce. Doía, todo o atrito entre seus corpos doía e latejava e ele sentia como se fosse gritar a qualquer momento. Ao mesmo tempo, não queria que ele se afastasse, queria poder fechar seus braços ao redor dele, de poder beijá-lo. Se ele se distanciasse, desfaleceria de vez. 

Sentiu nas bochechas a pressão incomum dos lábios alheios, como quem promete nunca mais largá-lo – gesto carregado de um alívio que Jim era capaz de sentir emanando de Spock em ondas de vapor. Sua voz sussurrava palavras em vulcano contra sua orelha, palavras cuja tradução Jim desconhecia, mas decidiu ali mesmo que eram as coisas mais sensacionais que já ouvira na vida  — parecia até que ele tinha morrido mesmo e estava no paraíso. 

Saudade imediatamente atingiu o capitão quando o comandante foi afastado de si por um inquieto Bones, a testa franzida em genuína preocupação, tentando rebocá-lo como uma mãe urso até a enfermaria. Jim riu em sua mente, por falta de alternativa. 

— Doutor — ouviu a voz alarmada de Spock, que segurava suas mãos machucadas com uma delicadeza que quase o fez chorar. Ao olha-lo nos olhos, deitado na maca, percebeu que o vulcano sentia sua dor através do toque de seus dedos. Ainda que suas feições duras não o entregassem, os olhos de Spock nunca mentiam. 

Ainda ouvindo a retórica carrancuda de Bones, Jim tentou apertar os dedos pálidos do comandante entre os seus, mas tudo o que conseguiu foi que um breu atrás dos olhos o engolisse de repente.

 

-x-

 

Acordou com uma dor de cabeça que relembrava uma ressaca, sensação que não experimentava há mais tempo do que poderia contar. Não se lembrava de ter bebido, e, mais importante, tinha certeza de ainda não ter enlouquecido o bastante para se arriscar a fazê-lo até desmaiar — se estar deitado em uma das camas da enfermaria era alguma indicação.

Com pensamentos ainda embaralhados, a visão voltou a focar-se com dificuldade no teto esbranquiçado do local, as lembranças o invadindo abruptamente. Respirou fundo,  arregalando os olhos automaticamente frente a imagem mental de Dianty IV se desfazendo sob seus pés. 

— Spock.

Deve ter falado em voz alta, pois como se transmutado por um feitiço, Bones se materializou ao seu lado. Jim piscou diversas vezes quando o médico lhe cumprimentou amigavelmente com uma luz ofuscante direto nos olhos, já iniciando a sessão de resmungos do dia . Ainda assim, Jim ouvia nas entrelinhas o tom de alívio que emanava das palavras ácidas do outro. 

—  O que aconteceu? 

—  Você aconteceu, Jim, como de praxe.  —  disse o médico, segurando um tricorder junto ao peito do loiro. —  Não sei por qual milagre vocês conseguiram voltar vivos daquele inferno, mas suponho que temos que agradecer a Deus por não ter largado de mão dessa nave ainda. 

Jim soltou uma risada e sentiu a garganta arranhada, sinal claro de falta de uso.  Perguntou-se mentalmente por quanto tempo estivera dormindo, afinal. A pergunta que queimava na ponta de sua língua, entretanto, era:

—  Está todo mundo bem? Spock está bem?

Mccoy lhe olhou por cima do equipamento médico, rufando em seguida. 

— Está. Assim como aqueles loucos de Dianty IV, não sei como Scott consegue ter essas ideias mirabolantes sob uma pressão absurda daquelas, mas conseguimos salvar boa parte da comunidade residente. Eu estou cuidando do líder e seu escudeiro no outro quarto. — tagarelou o médico, preparando uma injeção vagarosamente diante do loiro, à imagem e semelhança de um carrasco. —  O duende estava aqui há algumas horas, inclusive. Na verdade, ele esteve aqui praticamente atado a essa cama por todo o tempo que você esteve desacordado, por vezes tive que chutá-lo da enfermaria a força.  —  discursou Mccoy e Jim pensou que ele falaria por horas a fio, contudo, o médico hesitou repentinamente ao ponderar suas próximas palavras. Jim fingiu não notar o comportamento estranho do outro.  

—  Certo. —  manejou o loiro. —  E onde está ele, agora? 

—  Não quero saber e tenho raiva de quem sabe.  —  refutou, suspirando logo em seguida, ao ver o olhar suplicante do capitão  —  Ele saiu para o refeitório com a Uhura há pouco tempo. Eu avisarei que você acordou assim que ele voltar.

Jim sorriu um sorriso mínimo, voltando a deitar a cabeça ainda levemente dolorida no travesseiro fofo. 

 

-x-

 

Três horas se passaram e o capitão já estava mergulhando em um sentimento de tédio que começara a enlouque-lo aos poucos. Não podia sequer remexe-se muito na cama, uma vez que as feridas ainda estavam sensíveis. O menor movimento que fosse significava uma nova definição de dor que lhe era apresentada. Voltou a encarar o teto, tentando – e falhando miseravelmente – não pensar em Spock. Era impossível não se lembrar da sensação dos dedos do outros pressionados firmemente ao redor de seus braços, como se quisesse se fundir a ele.

Sem falar na compressão dolorosamente agradável dos lábios alheios atrás de sua orelha — como uma promessa. Jim não tinha ideia do que esperar ao encarar Spock nos olhos novamente, mesmo o sermão, que era uma certeza todas as vezes que ele já se encontrara naquela cama não parecia tão certo assim. Não aconteceu nada e ao mesmo tempo tudo pareceu mudar da água para o vinho —  tão diferente que Jim se perguntava no silêncio daquele quarto se não estava imaginando o fluxo de sentimentos angustiantes e aliviados e enraivecidos e passionais e amorosos que sentira invadir-lhe a alma através da pele, bem ali naquela plataforma — sentimentos que ele tinha a impressão quase certa de não lhe pertencerem.

O ruído quieto da porta chiando ao se abrir foi o único aviso que o loiro teve antes de ser atacado por balões e presentes e sorrisos tão brilhantes que o contaminaram de dentro para fora no espaço de um instante. A tripulação estava ali, visitando-o na cama de hospital. Apesar de surpreendido, Jim manejou um sorriso de gratidão genuíno, sentindo-se verdadeiramente feliz pela presença deles ali. Não pôde se impedir, no entanto, de procurar as orelhas pontudas no meio da multidão —  até mesmo o penteado cabelo-de-cuia era um critério. Quando seus olhos não alcançaram a visão que tanto almejava, o sorriso automaticamente vacilou.

 — Estamos felizes que esteja bem, Jim. — era a voz sagaz de Uhura, que se postava ao lado direito da cama, olhando-o como se soubesse exatamente o que os olhos azuis inquietos procuravam. Jim sentiu as bochechas quentes, desviando a atenção imediatamente às palavras calorosas de um entusiasmado Chekov — que, aliás, parecia mais feliz por Jim estar vivo do que ele mesmo.

— Você nos deu um susto daqueles, Capitão.  — comentou Scott, enchendo um copo com whisky. Toda oportunidade era a oportunidade para beber no dicionário do engenheiro.

— Como se vocês fossem se ver livres de mim assim tão fácil.  —  respondeu Jim.

— Eu que o diga; — interviu Bones, sentado em sua mesa do outro lado da sala. — Daqui a pouco quem vai morrer sou eu, vítima de um desses sustos.

— Eu sei que você me ama, mãe. – Jim jogou um beijo para o médico, que abriu sua carranca de assinatura.

— Você tem sorte de eu não estar aí.

— É verdade, Jim, você tem que parar de achar que é imune as leis da física.  —  Uhura disse, como quem não quer nada. — Tem gente que se preocupa com você, sabe.

— Certo, eu sei. – ele a encarou dessa vez. — Prometo que vou tentar não abusar da sorte.  —  levantou as sobrancelhas, brincante.  — Palavra de escoteiro.

-— Você nunca foi escoteiro. — Bones gritou.

-— Detalhes. — riu o loiro, acompanhado pelos oficiais reunidos ao redor da cama.

 

-x-

 

Dois dias se passaram nessa brincadeira de permanecer deitado naquela cama criando raízes. Ele não estava brincando, temia que quando chegasse a hora fosse incapaz de levantar porque seu corpo se fincara para sempre àquele móvel. Já tentara sair de fininho, mas Bones parecia um falcão o observando – absolutamente nem a poeira do quarto passava despercebida aos olhos do médico chefe. Além dele, ainda havia sua fiel lacaia , a enfermeira Chapel: praticamente sua carcereira àquela altura.

Dois dias em  que Spock não dera as caras. Quando questionado pelo capitão, Mccoy não fez nada mais do que dar de ombros dizendo: “eu o avisei que você acordou”. E Jim não hesitou em pular para as conclusões óbvias: Spock não queria enfrenta-lo, muito menos responder ao leque de perguntas que borbulhavam sem resposta na mente do loiro. Ele se gaba de lógica, mas ignora o fato de que mais cedo ou mais tarde vai ter que me encarar, pensou, frustrado.

Jim já havia se utilizado de todas as funções possíveis e existentes em seu PADD a fim de passar o tempo, mas já estava cogitando jogar frisbee com o aparelho tamanha era sua insatisfação. Encarou-o em suas mãos, repuxando os lábios para baixo.

— Bones! Eu estou entediado.

— É a décima terceira vez que você diz isso. Eu já sei. Não posso fazer nada. É pra você aprender. Ta-da. — recitou Bones em uma voz monótona, concentrado em algum relatório. — mas você já sabe disso.

— Por que Spock não vem me visitar? — choramingou Jim, tapando o rosto com as mãos.

— Eu não sei, garoto, talvez ele esteja ocupado liderando a nave.

— Ele está fugindo de mim.

—Sim, é bem típico daquele duende verde fugir de qualquer coisa que vá contra sua preciosa lógica.

— Por que ele tá fugindo de mim?

— Deve ter percebido que fez merda e tá aí, chorando pelos cantos.

— Eu não entendo. Achei que tínhamos voltado a ser amigos.

Bones o fitou estranhamente e Jim notou que não prestara atenção em nenhuma das retóricas do amigo.

— O que você disse, Bones?

Um rufar irritado.

— Esqueça. Fica quieto e me deixa trabalhar.

Jim enfiou a cabeça embaixo do travesseiro, ouvindo o ruído abafado dos dedos do médico sobre o teclado digital. 

 

-x-

 

Quando Jim finalmente saiu da cama para ver o mundo lá fora, tinha se passado uma semana. O loiro estava entusiasmado para voltar ao trabalho, definitivamente não servia para ficar olhando para o teto enquanto via as horas passarem. Ao adentrar seus aposentos, imediatamente correu até a cama, jogando-se sobre ela. Abrindo os braços e as pernas, tentou ocupar o máximo de espaço que conseguiu – bem ao modo estrela do mar. Ficou ali por alguns minutos antes de levantar novamente, hesitando frente a porta do banheiro que compartilhava com o vulcano.

Fazia uma semana que não o via e tudo o que Jim queria era sentar-se com ele para uma partida de xadrez – possivelmente mais do que uma partida de xadrez, mas as tais fantasias teriam que se limitar a sua imaginação fértil. O comunicador em cima da mesa apitou.

— Capitão, se apresente a ponte. — a voz grave do primeiro oficial perfurou o silêncio do lugar.

Jim respondeu, na voz mais controlada em que já se ouvira falar.

— Entendido. Kirk desliga.

Após vestir o uniforme amarelo e perder um tempo precioso tentando se enfiar dentro das botas, Jim finalmente conseguiu alcançar os corredores. A cada passo que dava em direção ao elevador turbo era um grau de aceleração que o coração do loiro admitia, como se quisesse enlouquece-lo. Respirou fundo, resistindo à urgência de se estapear ali mesmo, talvez assim seus nervos se acalmassem. Quando as portas se abriram, a primeira visão da ponte o deixou alegre, visto que se resumia aos rostos familiares de sua tripulação e a imagem sempre magnifica do espaço através da tela da Enterprise.

Recebido pelos aplausos de quem estava presente, Jim se sentiu íntimo o bastante daquelas pessoas para se curvar em agradecimento.

— Bem-vindo de volta, Capitão!

— Feliz por estar de volta, pessoal. — respondeu sorrindo, sentando-se em sua cadeira.

Virou a cabeça para o canto a sua direita numa atitude automática, como se a primeira coisa que precisasse fazer assim que se sentasse fosse olhar exatamente para aquele ponto. O ponto onde, convenientemente, se sentava o comandante Spock.

Que convenientemente também o encarava.

Os olhos do outro estavam enevoados. Jim nunca vira aquele olhar no vulcano antes, os pelos da nuca loira se eriçando subitamente, incapaz de desviar a atenção.

— Próxima parada, Capitão? — Sulu perguntou, espocando a bolha invisível que parecia envolvê-los.

Jim tentou disfarçar o fato de ter praticamente pulado de susto com a voz do piloto, fingindo um pigarro.

— Certo. Próxima parada. A frente fator de dobra 1, Sr. Sulu.

— Sim, senhor!

 

-x-

 

Jim sentia que havia sido saqueado. Sim, saqueado. Era como se um ano de sua vida tivesse sido apagado da realidade e só existisse em suas memórias. Só assim para explicar o – ainda – comportamento distante de Spock. Jim se considerava ótimo leitor de personalidades, mas Spock era como um enigma sem solução. O loiro não conseguia juntar coragem suficiente para enfrentar o vulcano e pedir-lhe as devidas explicações — você sabe, botá-lo contra a parede.

Para interrogar, apenas, claro. Certo? Certo.

Então Jim fez o que sempre fazia em situações com as quais não sabia lidar. Peça-lhe que bole um plano para salvar um império, mas não lhe pergunte como resolver os problemas do coração; o loiro era a definição de peixe fora d’água. Essa parte em particular cabia ao:

—Bones! Eu preciso de conselhos.

— Então eu preciso de uma bebida. — ele hesitou. — Bem forte.

— Pare de brincadeiras, isso é sério.

— Eu estou falando seríssimo. — o médico já começou a massagear as têmporas ao observar o jovem capitão se sentar em uma das macas, pressentindo pelo olhar pidão do outro que mais uma vez teria de se sujeitar a uma sessão de “vamos sentar aqui como dois adolescentes e fazer tranças nos cabelos”.

Claro, por que caralhos ele não o faria?

 — Por favor me diga que isso não tem nada haver com o duende.

A linguagem corporal retraída e confusa do outro foi o bastante para responder a pergunta.

Fantástico, pensou Mccoy com seus botões.

— Eu não sei o que fazer.

— Jim, quantos anos vocês dois tem? Até parece que pularam o colegial. Nem eu que sou médico ajo dessa maneira.

Jim o encarou, contrariado. — Eu não sei o que você quer dizer.

— É claro que não sabe. Eu também não vou te dizer, porque ADIVINHA, eu sou só um mero doutor.  

— Não, Bones, você tem que me ajudar. Eu não sei se posso voltar a ignorá-lo, entende? — a angustia nos olhos azuis era nítida.

Mccoy suspirou, sentando-se ao lado do Capitão.

— Que tal, não sei, falar com ele?

Jim o olhou como se Mccoy o tivesse intimado a matar um dragão com as duas mãos amarradas e um lenço cobrindo os olhos. O moreno soltou a respiração, sentindo que estava realmente lidando com a faceta aflorada de Kirk que podia ser facilmente personificada por um adolescente experimentando as sensações do primeiro amor.

— Olha, garoto, Spock é intimidador, mas ele não morde. Se você quiser resolver a situação vai ter que falar com ele alguma hora. Eu tenho quase certeza de que se ele puder vai ficar fazendo cara feia para sempre, então é você quem vai ter que tomar a dianteira. Se há uma característica humana em que o desgraçado se supera é a teimosia. — continuou, já resmungando para si mesmo.

Jim o encarou com a boca aberta, abrindo um sorriso divertido de repente.

— Ora, Bones, não sabia que você tinha essa habilidade para ler as pessoas. Só falta o famoso bloquinho nesse nosso divã. — provocou o capitão.

Uma veia irritada saltou da testa do médico, e, no segundo seguinte, Jim se viu expulso da enfermaria por um ultrajado Bones.

— E não volte aqui até ter falado com o duende!

Jim ficou encarando a porta por quase cinco minutos.

Bem, que bela droga.

 

-x-

 

No dia seguinte, o capitão se encontrava na frente do quarto de Spock, tentando reunir coragem suficiente para bater na porta. Levantou um dos braços, o punho pronto para fazê-lo. Um, dois, três segundos. Liberou a respiração em um rufar frustrado, abaixando o braço novamente. Por falta do que fazer, imitou a posição de punhos juntos atrás das costas do comandante e andou de um lado para o outro. Era como tentar invadir uma fortaleza, o coração do loiro parecia querer escapar através da caixa torácica e sair correndo desembestado para o mais longe  dali.

Jim não estava nem se reconhecendo, nunca fora de pensar pacientemente antes de tomar uma decisão — muitas vezes distantes de serem tão simples quanto essa  aparentava ser. Ainda assim, o suor descia incessante pela testa em um claro sinal de nervosismo, ele sentia que vomitaria ali mesmo. Não estava imaginando, certo? O sentimento de preocupação e desejo e alívio e carinho que sentiu fluir pelo toque que compartilharam depois do resgate não podia ser imaginação. Ele engoliu a própria saliva, arriscando um olhar de relance para a porta mais uma vez.

Se enchendo de um sentimento de impulsão que ele sabia ter sido entalhado a sua personalidade desde muito cedo, Jim deu dois passos decididos. Levantou mais uma vez o punho em rente, e, quando finalmente inclinou-o na direção do material metálico, o mesmo se abriu com um shift barulhento. Ali estava Spock, parado diante de si como uma estatua de cera — a altivez tão presente que fez suas pernas tremerem. Jim o olhou nos olhos involuntariamente, encontrando na íris achocolatada uma mistura de dúvida e receio.

— Capitão? Você deseja algo?

Você.

— Eu? — pigarreou desconfortável. — Sim, será que podemos ter uma palavrinha?

Jim não era cego, podia notar que o outro assumira uma posição inteiramente defensiva, como se pronto para rechaçar qualquer investida de sua parte.

— A cerca de que assunto?

— Você descobrirá assim que me deixar entrar.  

Relutante, Spock deu um passo para trás, fazendo um gesto que indicava sua concordância à entrada do loiro. Jim jurou ter ouvido a marcha fúnebre tocando ao fundo enquanto entrava no quarto do vulcano — o ambiente tão impecável que ele tinha pena até de estar maculando o chão com as botas sujas. Não tinha ideia de como abordar esse assunto com Spock, justo ele, de todas as pessoas do mundo. 

— Estou ouvindo. — disse, o tom sombrio.

— Certo. — Jim resolveu encarar um ponto qualquer na parede acima das orelhas de Spock. — Porquevoceparoudefalarcomigo?

Spock piscou duas vezes, e, se Jim pudesse apostar, diria que ele estava atônito. Bem feito, era culpa dele que o loiro estava tão pateticamente nervoso.

— Capitão, eu tenho certeza que você tem ciência de minha audição superior. No entanto, se suas sentenças não são coerentes, nem mesmo eu serei capaz de entendê-las.

Oh, ele era bom. 

A calma com a qual Spock estava lidando com a situação só servia para adicionar lenha à insegurança de Jim — que estava ali parado, basicamente tremendo feito vara verde. Até mesmo os olhos do vulcano, que costumavam ser a única parte de sua anatomia que traia sua natureza meio humana, permaneciam frios como gelo.

— Eu quero saber porque você voltou a me ignorar. Achei que tínhamos virado, você sabe, — engoliu em seco — amigos.  

Spock visivelmente estremeceu, os ombros enrijecendo sob o olhar curioso do Capitão.

— Eu não entendo o que você quer dizer, Capitão. Eu estou agindo como sempre agi.

— Mentira. — sibilou Jim, ganhando confiança frente ao tom incerto deixando os lábios de Spock. — Você voltou a me tratar como um ninguém.

— Essa nunca foi minha intensão.

— Sério? — Jim se aproximou, ficando a dois passos de distancia da figura travada do vulcano.  — Então por que você se afastou?

— Eu não fiz nada como isso. Apenas é de meu conhecimento prévio que relações além da profissional representam grande ameaça ao êxito da missão.

— Você e eu sabemos que isso não é verdade, Spock. O crescimento do sucesso na maioria das missões desde que começamos a conversar como dois indivíduos normais é visível. — Jim deu mais um passo. —  Eu achei que vulcanos não mentissem.

— E não mentem.

— Então o que você está fazendo agora? O que há de errado em uma amizade inofensiva, Spock?

— Eu estou meramente expondo meus pensamentos sobre o assunto: eu não acho que seja sensato, Capitão. — a voz do outro parecia aço. — Você quase morreu.

Jim foi pego de surpresa pelo tom quase enraivecido de Spock, mas em especial pela realização de que o comandante talvez estivesse achando que os recentes acontecimentos eram culpa dele. Talvez, por ser telepata, ele tenha de alguma forma percebido os motivos de Jim ao descer àquele planeta sem consultá-lo? Não era possível, era? 

— Você não pode estar achando que o que ocorreu em Diant IV foi culpa sua, pode?

O silêncio pesado que se seguiu foi resposta o suficiente. As feições do vulcano eram duras como pedra e a jugular estava tão marcada pela força que ele fazia para evitar que as imagens de Jim coberto de fuligem e feridas invadissem sua mente que se destacava na face alva.

Jim deu o último passo em direção ao espaço pessoal de Spock, agora com uma distância boa o bastante para arrancá-lo de sua zona de conforto — a situação lembrando-o vividamente da cena caótica em Narada.

— Spock, não foi culpa sua.

— Você quase morreu.

Jim estremeceu sob o olhar drasticamente pesado de Spock.

— Mas não morri, eu estou aqui. Vivo.

— Estou ciente, e pretendo fazer tudo o que estiver ao meu alcance para mantê-lo assim.

— É? E no que isso implica? Espera, não me diga, é seu dever como meu primeiro oficial garantir que eu permaneça vivo.

— Capitão, eu o aconselho a se afastar.

— Sabe, Spock, houve um tempo em que só essas palavras ditas em um tom desgostoso como este me fariam sair correndo por aquela porta com o rabo entre as pernas; mas não agora. Eu vim aqui pra te perguntar uma coisa e eu quero que você me responda com a sinceridade de um vulcano.

Jim observou o pomo de adão do outro subir e descer, os olhos presos aos seus como se entre eles existisse uma força gravitacional. Jim acreditava piamente que sim.

— Eu senti algumas coisas quando você me tocou na plataforma de transporte naquele dia. — Jim hesitou ao ver a feição dura no rosto de Spock, mas após dois segundos de dúvida, continuou. — Primeiro achei que eu estava sentindo tudo aquilo porque estava em estado de choque, mas o estranho é que, mesmo tendo a impressão de que aqueles sentimentos me pertenciam, eu sentia que ao mesmo tempo, não. Parecia que estavam vindo de outro lugar, de onde seus dedos, Spock, tocavam meu braço. Depois de uma semana refletindo e quase enlouquecendo naquela cama de hospital, eu tinha que tirar isso a limpo.     

A expressão impassível de Spock tinha dado lugar a uma de alarme, mas não se engane, seu rosto continuava o mesmo — apenas os olhos haviam mudado, e, Jim não podia ver, mas as mãos atrás de suas costas tremiam.

— Eu peço perdão, minha guarda telepática deve ter se desestabilizado de alguma forma. — disse, sem se mover um milímetro sequer.

— Então quer dizer que aqueles eram mesmo seus sentimentos? — Jim não conseguiu disfarçar a surpresa, nunca imaginara que Spock admitiria algo como aquilo.

— Sim, vulcanos não mentem. Eu estava genuinamente preocupado com o bem estar do capitão da Enterprise, como primeiro oficial, esse sempre foi um de meus deveres.

Jim não conseguia acreditar em seus próprios ouvidos, a expressão impenetrável de Spock não deixava espaço para dúvidas. Ainda assim, mesmo sentindo o rosto esquentar com a raiva que de repente se apossara de si, continuou encarando-o. Os olhos castanho-escuros de Spock o encararam de volta sem ao menos piscar.

— Aquele turbilhão de sensações estava apenas ligado ao seu senso de dever? – Jim perguntou, sem perceber que já sussurrava dentro da bolha a que se resumira aquela conversa. O brilho confuso e desconcertado dos olhos de Spock só contribuiu para que ele continuasse ali, parado, olhando-o nos olhos como se neles estivessem inseridos todos os segredos do universo.

— Claramente.

Seu mentiroso.  

— Você é o próprio rei da mentirolândia, não é, Spock? — Jim riu.

O vulcano pareceu ter sido pego com a guarda baixa, fitando-o com estranheza. Jim nem sabia da onde tirara coragem — talvez da face adorável que o outro sempre carregava ao se deparar com algo sem explicação lógica — quando encheu as mãos com as bochechas angulares e pressionou as duas bocas juntas. Era como abraçar uma pedra de mármore, Jim notou, enquanto tentava chupar o lábio inferior de Spock. O comandante permaneceu parado como uma escultura enquanto Jim tentava devorá-lo, fato que não passou despercebido pelo loiro. Com um suspiro de frustração quase inaudível e uma dor latejante em algum lugar do peito, o capitão se afastou lentamente do vulcano; primeiro a boca, depois os braços, que deslizando em câmera lenta pelo uniforme impecável de Spock, pararam abruptamente na altura de suas mãos. Spock o agarrara com firmeza pelos pulsos, olhando-o com uma intensidade que fez cada extensão de sua pele reagir como se tivesse levado um choque.

— Spock?

— É ilógico.

Jim precisou juntar todo o seu autocontrole para não revirar os olhos.

— É claro que é ilógico, yadah yadah. Eu estava errado, Spock, só me deixa ir, por favor. — Jim tentou agir com descaso, mas sabia estar falhando miseravelmente, a área ao redor dos olhos anis ardia insurportavelmente.

— Não. — disse simplesmente o outro, mantendo o agarre ao redor de seus pulsos com firmeza. — Você não entendeu. É ilógico como um humano pode me afetar ao ponto de fazer com que meus escudos se desestabilizem apenas com a menção de que alguma forma de perigo o tenha abatido. Mesmo que minha mente tenha plena consciência logica de que você está vivo e bem, minha parte humana parece discordar. Eu preciso segurá-lo até que meus sentidos estejam satisfeitos com o fato de você estar realmente aqui. — A força do aperto aumentava a cada palavra e Jim não sabia se podia lidar com o furacão de sensações que lhe invadiram novamente.

Raiva, medo, pavor, preocupação, culpa, alívio, angustia, desejo, a—

— Me beija, Spock. — o loiro praticamente implorou, sem se importar mais.

O olhar inquieto do vulcano se desviou de seus olhos para sua boca, as sensações se intensificando com tamanha força que Jim não se conteve ao soltar pelos lábios um ofego fraco de antecipação. No segundo seguinte, sentiu o corpo duro como rocha do outro se juntar ao seu, a língua se insinuando para dentro de sua boca ávida com uma impetuosidade  que o fez girar os olhos atrás das pálpebras.

Os braços de Spock se fecharam ao seu redor em um abraço tão forte que Jim precisou separar as bocas em busca de uma parcela ínfima de oxigênio. Enquanto respirava, sentia os lábios quentes do outro beijando cada centímetro de seu rosto — das bochechas à ponta do nariz e então a testa e novamente a boca.  

— Você quase morreu. — murmurou Spock novamente, como se esquecer daquilo fosse um pecado mortal. As mãos agitadas passeando frenéticas pelas costas do capitão, por vezes enfiando-se por baixo do uniforme dourado.

— Eu estou vivo, Spock. Você consegue sentir? — Jim murmurou de volta, apertando o corpo do outro junto ao seu. Finalmente, pensou.

— Sim. — grunhiu o vulcano, voltando a beijar-lhe os lábios, fazendo-o gemer dentro de sua boca. As mãos do Capitão se guiaram cegamente até orelhas pontudas, acariciando-as com a ponta dos dedos. A resposta foi instantânea, se a respiração repentinamente ofegante de Spock era alguma indicação.

— Você gosta quando te toco aqui, hm? – A boca do outro já se encontrava no pescoço do loiro, mordendo e sugando cada pedaço, marcando-o cada vez que sua boca impaciente se encontrava com a pele macia.

Jim se obrigou a afastá-lo pelos instantes necessários que permitiram manobra-lo até a cama. O loiro empurrou o vulcano com delicadeza, fazendo-o se sentar na ponta do móvel. Os braços de Spock se abriram em um convite irresistível que Jim prontamente aceitou, sentando-se sobre as coxas dele. Recebeu de bom grado a sensação dos mesmos braços se enroscando ao seu redor, envolvendo-o igualmente com os seus — suas mãos bagunçando os cabelos aos quais sempre teve uma vontade obscura de tocar.

Gemeu contra a pele quente de sua bochecha ao senti-lo encher as mãos com a carne de sua bunda, conseguindo uma fricção maravilhosa entre as duas ereções recém-formadas. No minuto seguinte, Jim se viu jogado de costas na cama com a figura lasciva de Spock pairando sobre si como uma força da natureza. O loiro não hesitou em puxá-lo para baixo, direto para seus lábios já vítimas de uma feroz abstinência.

Quando deu por si, Jim já estava seminu, salvo pelas roupas de baixo — que por um milagre resistiam às mãos curiosas do vulcano até aquele momento. Spock, no entanto, permanecia quase inteiramente vestido, fato que frustrava o loiro. Com pressa, ele se empenhou em remediar a situação, alcançando as costas alheias a fim de arrancar o tecido azul do uniforme. Queria toca-lo. Pele com pele. Senti-lo por completo. Os dedos inquietos de Spock arrancaram-no de sua última peça de roupa, deixando-o completamente nu. Os olhos escuros do outro o engolfaram com a intensidade de mil sóis, e, mesmo que a sensação fosse de ter sua alma completamente a mercê daquele olhar, ele percebeu que era tudo o que mais queria.   

Pensou que ele o masturbaria, mas qual não foi a surpresa quando o observou praticamente arrastar a boca fervorosa por seu abdômen desnudo até parar frente a frente com o ponto mais erógeno de seu corpo. A área inferior de seu estômago deu uma fisgada dolorosa de antecipação, e, antes mesmo que sentisse o outro encher a boca, ele já fincava os dedos com força no lençol branco.

— Spock — arfou. Em seguida, se ouvindo soltar um silvo alto ao sentir na pele sensível a cavidade quente o envolvendo. 

Sentia que morreria, o orgasmo se aproximando de maneira precoce tamanho era o desejo acumulado que mantinha pelo comandante. Não podia se permitir nem olhar para baixo, temia que fosse desfalecer assim que botasse os olhos na imagem erótica de Spock cobrindo-o com a boca. Porém, sem poder se impedir, o maxilar escancarado e os olhos cerrados, o clímax o fez ver estrelas. Hmmm.

Spock o liberou com um “pop”, apertando as nádegas com avidez. Jim podia sentir na pele a excitação vigorosa emanando do vulcano, intensa o bastante para faze-lo querer se recuperar da letargia pós-gozo o mais rápido possível. Jim mal conseguia formar qualquer pensamento coerente quando Spock o tocava daquele jeito. Nem acreditava no que acabara de ocorrer, um senso desconhecido de surrealismo lhe atingindo de repente.

— Spock, por favor. — demandou, puxando-lhe pelos bíceps impacientemente. Spock não demonstrou resistência, mergulhando em seus lábios como um homem sedento mergulharia em um Oasis. — Eu quero você. —  murmurou contra lábios de Spock, como se estivesse compartilhando com ele um segredo de estado.

— Jim. ­— Spock murmurou de volta, a voz tão rouca que só de ouvi-la perto de si, Jim já sentia os efeitos de uma nova excitação. A vontade de tê-lo por completo o assaltando.

—  Eu quero você dentro de mim. —  disse Jim e as mãos de Spock se enterraram com força em seu quadril, os olhos nos seus e as orelhas e bochechas tão verdes que Jim sentiu a vontade inumana de beijar-lhe o rosto inteiro.

Eu te amo.

As pálpebras do vulcano se abriram em surpresa, a expressão se tencionando e os dedos voltando a se enterrarem no quadril do loiro como se quisessem deixar ali a marca permanente de suas digitais. Jim sentiu o coração falhar uma batida, o medo de que Spock estivesse caindo em si, cogitando deixa-lo ali, dando-se conta de que dormir com Jim não passava de uma ideia estupida.

— Não é isso, Jim. Eu...minha guarda telepática ainda está baixa.

Jim arregalou os olhos, automaticamente somando dois mais dois. Spock sentira sua declaração através da telepatia. As bochechas do loiro esquentaram insuportavelmente, ele resistiu ao reflexo de levantar os braços para esconder-se do olhar intrigado do vulcano. Mesmo que fosse apenas a pura verdade, Jim não podia deixar de pensar que não era assim que queria ter contado ao mais velho. Nem mesmo tinha certeza do que estava fazendo ali, movido apenas pelo desejo flamejante e a vontade inumana de estar junto dele naquela cama — as roupas do capitão espalhadas de forma descarada pelos cantos do quarto.

— Você não entendeu, Jim. – Spock levou uma das mãos ao rosto avermelhado de Jim, acariciando-o com uma leveza incomum e ao mesmo tempo familiar. — Eu achei que, ao manter uma relação estritamente profissional com você eu me impediria cometer atos  ilógicos por comprometimento emocional. – uma pausa, um suspiro. – mas agora tenho a ciência de que, ainda que alcançasse meu objetivo, eu me encontraria incapaz de deixa-lo sozinho. Se você me permitir, eu gostaria de continuar ao seu lado pelo tempo que for pertinente.

Jim não pôde impedir de sorrir, traduzido da língua Spockiana, aquilo era claramente um “Eu também te amo.”

O brilho do sorriso que Jim abriu imediatamente fez com que os olhos de Spock, antes receosos, suavizassem – e por que não sorrissem? — E Jim não conseguiu mais segurar nenhum aspecto do desejo e felicidade que o transbordavam naquele momento. Abraçou o outro, voltando a beijá-lo como se a junção das bocas fosse a chave para a sua salvação. As mãos grandes de Spock voltaram a passear afoitas pelo corpo do capitão, explorando cada pedaço como terra desconhecida.

Spock se levantou repentinamente, se esticando em direção ao criado-mudo e pescando de lá um tubo pequeno que Jim imediatamente reconheceu como sendo lubrificante. Arqueou uma sobrancelha, simultaneamente surpreso e encantado com essa nova informação a respeito do vulcano.

— Vale a pena estar preparado, não é, Sr. Spock? — brincou o capitão, sem resistir.

O canto da boca de Spock subiu levemente. 

— Realmente.

Não teve tempo de refutar, pois a mão do vulcano voltou a se ocupar com seu falo enquanto os dedos  se insinuavam pela entrada apertada do capitão. O incomodo lhe assaltou, como esperado, mas Jim não se importava. Sempre gostara do aspecto irregular e grosseiro que definia o sexo tão bem.  Depois de três dedos, Spock já o espichava por dentro, pressionando sua próstata com veemência. Jim agarrou os lençóis instantaneamente, a boca abrindo em um “o” perfeito mais uma vez.

— Vamos vamos vamos — repetiu Jim, como um mantra, os olhos se abrindo apenas para fitar o amante.

Spock inclinou-se até ficar sobre ele, os fios da franja grudando na testa alva e as orbes expressando uma concentração fragilizada pela luxúria.

— Agora, vamos — cantou Jim, com urgência.

— Você é bastante impaciente. — refutou Spock.

Jim soltou uma risada fraca, que foi rapidamente substituída por um choramingo baixo ao sentir os dedos do outro o abandonarem. —  Você não sabe há quanto tempo queria fazer isso com você, Spock.

— De fato? — inquiriu, mesmo que fosse uma pergunta retórica.

— Seu filho da mãe, par-ra de me provocar. — os olhos azuis o encararam, a visão mandando correntes elétricas agradáveis por todo o corpo do vulcano.

— Vulcanos não provocam. — Spock se ouviu dizer.

—  Pois eu sei que isso aí é tudo balela. — Jim desafiou.

— Pare de falar. — “chega de tagarelar, vamos foder”

Simplesmente assim, a conversa morreu e tudo o Jim sentiu foi o outro se juntando a si da forma mais erótica e íntima que já tivera o privilégio de experimentar. Os dedos do loiro fincaram como ganchos nos ombros do vulcano que se acomodava entre suas pernas. Em nenhum momento durante aqueles minutos de suspensão os dois deixaram de se fitar. O quadro só mudou quando Jim remexeu os quadris, movimentando-se para baixo — bem de encontro ao membro rijo de Spock, que agora adentrara por completo o corpo do loiro.

Spock deixou escapar um suspiro, movimentando-se sem perceber em retorno. Jim experimentou descer mais uma vez, recebendo como resposta as estocadas tímidas do outro. A imagem mental dos dois ali, enroscados em cima daquela cama, fizeram com que Jim agarrasse os quadris de Spock com as pernas, forçando-o a se enterrar ainda mais dentro de si. O silêncio do quarto oscilava apenas para dar lugar aos ruídos de prazer que escapavam dos dois homens, as bocas se encontrando com dificuldade em meio ao ritmo frenético instalado entre os corpos nus.

Parecia que tinham se passado horas repletas de um prelúdio angustiante ao tão almejado gozo, cada estocada firme de Spock era uma pontada de prazer quase impiedosa que  envolvia o capitão. Como se previsse  o momento do auge, Spock o estimulou com uma das mãos enquanto ainda se movia vigorosamente — o combo dos dois estímulos era muito além do que Jim podia aguentar, sendo em seguida arrebatado pela sensação do mais puro êxtase, arqueado as costas com dificuldade sobre a cama. Seus movimentos fizeram-no se apertar ao redor do outro, ouvindo-o grunhir acima de si ao se liberar por completo dentro dele. Teve a impressão de ter perdido a consciência por um segundo, pois olhava para o teto do quarto com a visão completamente embaçada, o peso agradável de Spock ainda pressionando-o sobre os lençóis  bagunçados — o rosto dele na curva de seu pescoço, mordiscando-o levemente.

Jim ofegava sem parar, as mãos viajando desde a parte inferior das costas dele até a base de sua nuca e acariciando ali a ponta dos cabelos suados. O coração do loiro não sabia nem o que sentir, tamanho o tsunami de sentimentos que o definiam no espaço de tempo entre um segundo e outro da respiração cansada. Júbilo, satisfação, felicidade — a mais pura felicidade.

— Eu te amo.  — O loiro disse, dessa vez em voz alta, contra a pele do pescoço de Spock.

Sentiu, no lado esquerdo da testa, um beijo descontraído seguido da voz rouca do outro:

— E eu, a você.

 

-x-

 

No dia seguinte, sentado ao lado do vulcano em uma das mesas do refeitório, Jim não conseguiu esconder a expressão de autêntica felicidade que tomou morada em suas feições joviais. Em contrapartida à face impassível de Spock, que apesar de se manter intacta, era percebível a qualquer um a calmaria inédita presente na postura sempre tensa do comandante.

Mccoy notou tudo isso no minuto em que pôs os pés no local, os olhos desconfiados pousando na imagem dos dois sentados lado a lado na mesa. Agora, uma pessoa que não conhecesse os dois poderia deixar a visão passar despercebida —  visto que nos últimos meses os dois eram inseparáveis, até Spock resolver agir igual babaca, mas o ponto não era esse. O fato é que Mccoy notou logo de cara as diferenças tênues no comportamento do casal, primeiro no sorriso gigantesco na face do capitão, e, segundo no porte inegavelmente relaxado de seu corpo. Ainda ontem ele estava tão miserável que por onde passava deixava uma nuvem negra de pessimismo pelo caminho.

Sem falar no olhar sonhador — sim, nem ele mesmo estava acreditando — de Spock na direção do garoto. Meu deus, não sabia se ficava feliz ou irritado. Ele esperava que as coisas ficassem mais fáceis de agora em diante, mas sabia que envolvendo aqueles dois não havia garantia de nada —  se brincar ele seria coroado  terapeuta particular pelo resto de sua vida. Lutou contra o calafrio que lhe desceu a espinha.

— Então, vocês dois fizeram as pazes? — perguntou, se aproximando da mesa.  

Jim abriu outro sorriso, acenando timidamente com a cabeça tal qual um adolescente apaixonado. Jesus Cristo, Mccoy não podia deixar de ficar igualmente contente pela felicidade do amigo.

— Bem, acho que já era na hora, não é? Estava de saco cheio dessa novela com esse duende insuportável e—

— Com licença — Spock sibilou entredentes.

— Vai se acostumando. — Mccoy se limitou a lançar-lhe um olhar desdenhoso.

Jim gargalhou entre os dois, apoiando a cabeça nas duas mãos como quem assiste a um espetáculo. Mccoy nem fingiu resistir a revirar os olhos.

— Qual a novidade aqui? — Uhura apareceu, mesmo que só pelo brilho no olhar da moça fosse óbvio que ela já sabia de tudo e mais um pouco.

— O tico e o teco fizeram as pazes. — respondeu o médico.

— É mesmo? — Uhura fingiu surpresa —  Já não era sem tempo hein, parecia novela mexicana.

Jim e Spock os encararam estupefatos com o cinismo descarado.   

 — Vocês não valem nada. — comentou Jim, fingindo ofensa. — Mas eu os perdoo porque estou me sentindo muito magnânimo hoje. — espiou o amante pelo canto do olho, sorrindo. — O fato de fazermos as pazes não foi a melhor parte, se vocês querem saber. — o tom de voz do loiro mudou drasticamente de divertido à malicioso.

Quando deu por si, Mccoy já estava do outro lado da sala, irrompendo pela porta do refeitório direto para a enfermaria e deixando para trás as risadas escandalosas do melhor amigo. Se tinha uma coisa que ele não era, essa coisa era obrigado. 

 

 

Fini. 


Notas Finais


MEU DEUS EU NEM ACREDITO
queria agradecer não somente a deus como também a jesus amém


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...