História All I know are sad songs - Capítulo Único

E então em alguma sexta-feira de manhã, indo para mais um dia de trabalho, você se permitirá sorrir abertamente no metrô lotado sem ao menos saber que é pela presença de minhas mensagens as sete da manhã, e você saberá que sou eu apitando no seu bolso traseiro porque só eu seria irritantemente insistente desse jeito. 

No horário de seu almoço se perguntará aonde que eu me enfiei, pensará que eu sou um idiota por te fazer ficar ansioso para receber mais mensagens minhas, e bem... talvez eu seja uma pouquinho idiota, sim. Mas enquanto você não volta, eu escreverei canções tristes e pendurarei no varal do meu quarto junto à outras 19 melodias que te foram dedicadas sem você nunca saber. Mas eu desistirei porque não me vem inspiração, e você sabe isso é uma droga. Por onde será que anda a vigésima? Eu não sei. Mas o seu corpo seria a minha última sinfonia. Meu último concerto. Minha última música. Porque teu olhos, nariz, orelhas, lábios, pescoço... Tudo isso, são versos de uma música boa demais para ser mostrado ao público. E você sabe, tudo que é bom demais tem de ser mostrado por último.

Taehyung, você é uma poesia não finalizada, por onde será que anda o resto de suas palavras? Estará elas junto com a minha vigésima música? Isso ninguém nunca vai saber, e olha: são 6:30pm, você provavelmente está entrando no metrô lotado, de expressão fechada porque não te mando mensagens à essa hora, e seu único contentamento será alguma música do The 1975 ressoando em seu ouvido através de seus fones; você se lembrará que nunca ouviu a música do Sleeping at Last que te recomendei, refletirá se vale à pena, e essa dúvida ficará martelando na sua cabeça, de estação à estação.

E agora, depois de todas essas minhas suposições sobre o que te passa nessa sua mente indecifrável, eu penso direito e vejo que você se torna fácil a mim a cada dia que passa. Então talvez essas suposições deixam de ser suposições e... Ah, bem, de qualquer forma eu te espero na plataforma, impaciente, até que vejo o vulto rápido finalmente chegar. Você sai de lá dentro meio amassado e eu poderia muito bem pensar besteira, mas você está cansado e eu não ousaria te atordoar com essas brincadeiras. Seus olhos se arregalam ao me ver encostado na escada rolante, e eu te entrego aquele enorme buquê de flores que estavam em minhas mãos o tempo todo, as pessoas nos olham torto, mas eu não me importo. Nunca me importei.

Eu te levo pra fora daquela estação sufocante e poxa, anoiteceu tão rápido. Reparou no céu brilhante que bonito que está? Nos sentamos em um banquinho do parque, contemplamos um pouco o vazio do universo e eu te digo tudo, tudo que 'tá escondido em mim pra você.

— Faz um ano. Faz um ano que te escrevo alguns versos bagunçados, eles ficam pendurados no varal do meu quarto, em frente à minha cama. 

— Eu sei, Yoongi. — Eu ignorei o conhecimento dele sobre as músicas.

— São 19. Estou à procura da vigésima e aí, só aí, poderei te entrega-las e finalmente ter posse da vigésima primeira.

— Eu ouvi as musicas que você me indicou quando estava voltando para casa.

Aí eu sorri. Sorri grande como quando uma criança prova de seu doce predileto. Pra mim, não existiria declaração de amor maior do que Taehyung me fazendo esse favor de ouvir o que eu ouço, de seguir os conselhos que dou, de — exatamente agora — cheirar o aroma sintetizado e memorizado das flores que comprei na floricultura. De tudo. 

Então se acendeu uma luz em meu peito, lá estava ela, a minha tão sonhada vigésima canção. Mal sabia eu, até aquele momento, de que a melodia que estava procurando estava bem ali, o tempo todo, esperando ser percebida. A verdade é que a minha canção e suas palavras perdidas eram na verdade o nosso amor todo embolado. A gente era sinônimo. E a verdade é que apesar de todo o meu saber ser referente à canções tristes, elas se tornavam menos tristes quando eu estava com você. Com você, Taehyung. 

A gente se beijou, beijou mesmo. E eu fiquei imaginado se há outras pessoas apaixonadas, namorando em algum banco do parque, olhando de relance para a imensidão dos céus, intrigado com a grandiosidade e ao mesmo tempo com o vazio do universo. E bem, nós dois sempre seríamos o casal favorito das estrelas, não é mesmo?