Capítulo Três – Rumours (Gnash)
Fazia dois dias que ele havia visto o moreno no parque.
E agora ele estava sentado no corredor, com as costas apoiadas nos armários, esperando Luke. Desde terça-feira passada Michael andava um pouco mais quieto do que o normal, ele agradeceu por Luke não ter entrado no assunto – apesar de saber que o melhor amigo tinha percebido a distância em que o colorido se encontrava – e falava de qualquer outra coisa que não fosse Ashton e, consequentemente, Calum.
Ele estava tão imerso em pensamentos que não percebeu a aproximação do garoto que, agora, estava se sentado ao lado dele. Cabelos loiros escuros, olhos castanhos, um sorriso bonito. Michael nunca tinha visto aquele garoto na escola, então deduziu que era um dos alunos novos. Os olhos negros do garoto encontraram os verdes de Michael, que levantou uma sobrancelha.
- Quem é você?
- Ninguém de muita importância... – O outro garoto encostou a cabeça nos armários atrás de si. – Você é Michael Clifford, certo?
- Quem quer saber? – Ele disse, desconfiado da aproximação do garoto.
- Eu. – O garoto sorriu.
- E quem é você?
- Alguém que veio alerta-lo sobre Calum. – Michael o olhou, querendo e não querendo saber do que o garoto iria falar. – Bom, ele pode ser o melhor amigo do namoradinho do seu melhor amigo, mas você sabe o motivo dele ter vindo para essa escola? Não foi apenas para se formar com o melhor amigo.
Michael estava a ponto de cortar o garoto ali mesmo e esperar Luke no lado de fora do colégio, mas a curiosidade dele estava falando mais alto, afinal, o que ele sabia sobre Calum? Quase nada e isso era um fato.
- E o que eu tenho a ver com isso?
- Não é você que tem alguma coisa com ele? – Indagou o garoto. – Achei que gostaria de saber a verdade sobre o seu namoradinho...
- Eu não tenho nada com o Hood. – Ele disse enquanto se levantava.
- Não é isso que parece. – O outro garoto fez o mesmo. – Vocês formam um belo casal, se quer saber.
Michael começou a andar, não se importando se aquele garoto viria atrás dele. Ele só queria sair dali, só queria terminar aquela conversa que não tinha nem pé nem cabeça. Sabia que o garoto estava o seguindo, podia ouvir os passos atrás de si. Ele se sentia incomodado, eles não formavam um belo casal, eles nem se falavam!
- Ele fez uma coisa muito errada, Clifford, e talvez possa fazer com você também. – Ele escutou o outro dizer. – Se eu fosse você me afastaria de Hood, nenhum de nós aqui quer ver sangue em suas mãos, não é mesmo?
Michael estava fisicamente na casa de Luke, mas sua mente estava longe. Ele não conseguia parar de pensar na conversa que teve com aquele garoto mais cedo, não conseguia parar de criar situações envolvendo Calum, situações onde o garoto estava com sangue nas mãos, em que ele machucava pessoas aleatórias, em que ele machucava Michael. Mas como uma moeda, aquela história tinha dois lados. Ele não sabia se aquele garoto falava a verdade ou só queria assusta-lo. Mas ai vinha outra dúvida: por que ele iria querer assustar Michael? E qual o motivo de colocar Calum no meio dessa bagunça toda? Qual era o problema daquele garoto? Seria algum tipo de intriga entre aquele garoto e Calum? Será que Calum conhecia aquele garoto? Será que eles já tiveram algum tipo de relacionamento.
Tantas perguntas sem a porra das respostas.
Ele estava tão longe que não percebeu que o amigo tinha parado de falar e apenas o encarava.
- Você quer conversar sobre alguma coisa? – Michael olhou para Luke. – Quem sabe me contar o que está passando por essa cabeça colorida...
- Não é nada de importante, Luke, não precisa se preocupar. – Michael sorriu, e, claro, Luke não acreditou, mas o loiro decidiu não continuar com o assunto, ele teria outros momentos para perguntar sobre aquilo ou Michael simplesmente falaria. Era assim que os dois funcionavam, eles não precisavam ficar insistindo em algo, mais cedo ou mais tarde eles iriam falar sobre, não importava o que era eles confiavam um no outro. – Eu estou com fome.
- Claro. – O loiro revirou os olhos azuis, claro que Michael estava com fome, quando ele não estava? Os dois garotos desceram as escadas indo em direção a cozinha, o tempo todo Michael estava quieto, pensando se seria uma boa ideia perguntar se Luke sabia algo sobre a transferência de Calum, pois se havia alguém que poderia saber algo sobre isso, esse alguém era Luke. Ele sentou-se à mesa enquanto o amigo pegava algo para os dois comerem, algo simples e rápido que agradasse aos dois. Michael examinava o amigo com atenção agora, tentando descobrir como um garoto daquele tamanho conseguia se mover de forma tão firme, sem esbarrar em nada ou tropeçar naquela cozinha um tanto pequena. Se fosse ele no lugar do amigo, ele já teria, pelo menos, esbarrado na mesa algumas vezes.
Cereal e leite. Isso era o lanche deles as quase quatro horas da tarde.
- O que você sabe sobre a transferência do Hood?
Foi mais rápido do que os garotos esperavam.
- Por que quer saber? – Luke indagou. – Achei que não queria saber dele.
- É só uma curiosidade. – Rebateu o de cabelos coloridos. – Então, sabe de algo ou não?
- Só o que Ashton me conta. – Michael fez sinal para que o amigo continuasse, o loiro suspirou. – Ash disse que ano passado o Calum foi expulso por ter se metido em alguma encrenca, mas por ser o melhor jogador da escola o diretor conversou com o diretor da nossa escola e decidiram que se ele fosse um excelente aluno esse ano algumas acusações contra ele seriam retiradas.
- Que tipo de encrenca? Acusações? Como assim? – Michael estava surpreso com o que ouviu.
- Eu não sei, foi apenas isso que Ashton me falou quando perguntei. – Luke suspirou novamente. – Parece que ele esconde algo sobre esse assunto, é estranho...
- Não só ele.
- Parece ser bem sério... Seria bom se conseguíssemos mais informações, sei lá, só por saber mesmo. – Michael sorriu para Luke, esse que logo entendeu o que o amigo quis dizer. – Não, nem vem. Não tem como.
- Ele gosta de você, você dele, é só insistir um pouquinho e ele fala. Simples. – Michael deu a última colherada em seu cereal.
- Ele tem namorado e não é tão fácil assim, não. – Luke levantou-se e levou sua tigela até a pia. – Não posso chegar nele, do nada, e perguntar sobre isso e depois ficar insistindo. Não o quero bravo comigo, Michael, já tenho esse namorado idiota para superar.
- Que eu saiba você não é ciumento. – Michael riu.
- Cale a boca, Mike. – Luke deu uma risada fraca. – Por que não pergunta para o Calum já que quer saber tanto sobre isso. E, afinal, qual o motivo disso?
Ele olhou para o amigo.
Ele não sabia o que responder.
Os dois garotos se encararam por algum tempo, sem saberem o que poderiam falar em seguida. Michael tentou, mas não conseguiu disfarçar o leve rubor em suas bochechas e isso fez Luke sorrir.
- Qual o motivo, Michael? – Indagou o loiro.
- Um garoto veio falar comigo enquanto você estava em sala. – O colorido soltou um suspiro e contou ao amigo à conversa que tivera com o menino esquisito do corredor. – Não consigo tirar isso da cabeça desde então, Lukey, isso não é muito normal para mim. Eu não me sinto mais o mesmo às vezes, e sempre que eu penso assim aquele idiota do Hood está metido nisso de alguma maneira. – Luke não queria cantar vitória antes da hora, mas sabia que estava ganhando aquela aposta que fez consigo mesmo. Os primeiros sinais já estavam aparecendo, mas o loiro precisava fazer com que os dois garotos se aproximassem. Isso seria difícil? Talvez, mas não custava nada tentar.
- Talvez isso seja coisa da sua cabeça, não acho que você esteja mudado. – Luke sorriu. O celular do loiro tocou e por algum tempinho o loiro ficou concentrado no aparelho, digitando rápido e fazendo Michael querer saber o que o amigo estava aprontando, já que de vez em quando lançava olhares sorrateiros para o amigo. – Vamos sair daqui à uma hora, você tem esse tempo para ir até a sua casa e se arrumar e depois voltar aqui, Ashton vem nos buscar.
- Você nem pergunta se quero ir...
- Não importa se quer ou não. – Luke o cortou. – Você vai. E não me venha com desculpinhas bobas, você vai e ponto final. Agora vá se arrumar você tem um pouquinho menos do que uma hora agora.
Não tinha o que discutir, Luke sabia ser irritante quando queria.
Foi no banho que ele lembrou que quem os convidou para sair foi o Ashton e isso queria dizer que Calum estaria lá também.
Talvez ele tivesse a oportunidade de perguntar sobre a transferência do garoto.
Talvez ele tivesse a oportunidade de acalmar alguns pensamentos que martelavam em sua mente.
Ou talvez tudo desse errado e ele acabaria por xingar o moreno, o que era mais provável de acontecer.
Michael saiu do banheiro e colocou a roupa que estava em cima da cama: uma calça justa preta, uma camisa do Green Day e uma jaqueta jeans. Colocou seu All Stars preto e enquanto saia passou pela cozinha e avisou sua mãe que sairia com Luke. Chegou à casa do loiro cedo, entrou sem bater e seguiu até o quarto do amigo, o encontrando apenas de cueca olhando para a cama que estava cheia de roupas (a maioria preta) jogadas em cima dela.
- Coloque a flanela vermelha com a jaqueta de couro. – Michael disse assustando Luke.
- Credo Michael! Não me assuste assim! – O loiro o repreendeu. – Eu sempre uso a flanela e a jaqueta, Ashton pode pensar que eu só tenho essa roupa.
- Tenho certeza de que ele não se importa. Ele não tem cara desse tipo de coisa.
- Acho que vou colocar aquela camisa do Green... – O loiro olhou para o amigo. – Porra Mike! – Ele não entendeu de primeira o que Luke queria dizer, até que olhou para a camisa que o amigo olhava.
- Nem vem à culpa não é minha se essa era a primeira camisa limpa que vi pela frente. Anda logo e coloca uma roupa, meus olhos estão ardendo por causa dessa pele branca. – Michael sentou na cadeira que havia ali no quarto.
- Não vou nem me dar o trabalho de responder esse comentário ridículo, ainda mais vindo de você, que é tão branco quanto.
Algum tempo depois eles estavam entrando no carro de Ashton, os dois amigos sentados no banco de trás e Ashton e Calum nos da frente. Michael notou os olhares que Luke e Ashton trocaram enquanto o loiro entrou no carro. Era impossível não notar a tensão que os dois exalavam, mas também o brilho nos olhares daqueles garotos.
Era algo bonito de se ver, Michael achava.
Se ele queria que algum dia alguém olhasse para ele do jeito que Ashton olhava para Luke? Sim, uma parte bem lá no fundo do seu coração congelado queria que alguém o olhasse com os olhos brilhando.
E se ele deixasse esse alguém estava sentado bem na sua frente.
- Então... Para onde vamos? – Luke pergunta.
- Estão com fome? Podemos ir a alguma lanchonete por ai.
- Gostei da ideia Hood, estou morrendo de fome! – Luke diz animado.
- Você comeu uma tigela de cereal faz uma hora! – Diz Michael. – É impossível que você esteja com fome.
- Até parece que não me conhece, Mike, eu estou sempre com fome.
- Para onde vai tanta comida mesmo? – Michael sorri.
- Você acha que manter esse corpinho irresistível é fácil?
O silencio se instalou no veículo. Michael queria rir da cara de Ashton, pois dava pra ver que ele não queria pensar naquela última sentença de Luke. Michael gostaria de saber o que estava passando pela mente do garoto de cabelos cacheados ou do melhor amigo. Luke estava com o rosto virado para a janela, fingindo prestar atenção nas ruas que tanto passaram em suas vidas. Ashton prestava atenção na rua, vez ou outra lançava olhares para Luke, Michael podia perceber isso.
“Eles deveriam se resolver logo, talvez achar uma desculpa e deixar os dois sozinhos”.
Eles chegaram a uma lanchonete em uma área mais afastada da cidade, uma indicação de Hood. “Pode não ser a mais conhecida, mas a comida é boa!”, garantiu o moreno.
- Como a encontrou?
Todos o olharam. Era tão estranho assim ele perguntar como Calum encontrou a lanchonete?
- Hã... – Ele notou o moreno ficar sem graça quando o olhou? – Minha irmã me trouxe aqui uma vez, desde então eu não parei de vir. – Olhando ao redor, o lugar parecia ser bem aconchegante, meio rustico. Mesas e cadeiras de madeira escura, bastantes detalhes em vermelho e dourado, pareciam ter um espaço ao ar livre na parte de trás, um bar a esquerda e a cozinha a direita, os banheiros ficavam nos fundos. – Gostaram?
O moreno poderia ter perguntado para todos, mas seus olhos não desgrudavam de Michael, que sustentou o olhar. Os amigos loiros apenas resmungaram um “legal” e foram atrás de uma mesa na janela, mas os dois garotos ainda se encaravam. Calum parecia querer a aprovação de Michael.
- Vocês dois querem um convite especial para arrastar essas bundas gordas até aqui? – Por um momento, Michael quis matar Ashton. Porém, Calum se virou para o amigo e sorriu.
- Cale a boca, Irwin. Eu sei o quanto você quer apertar essa minha bunda.
Depois disso, eles se dedicaram a comer, já que um garçom veio para atendê-los. Michael estava sentado ao lado de Calum e Luke ao lado de Ashton, os dois loiros estavam entretidos em uma conversa que, Michael pensou, poderia levar horas até lembrarem que seus amigos estavam ali. Ele olhou para o lado e o moreno estava encarando um quadro na parede, era uma foto de uma garota com cabelos castanhos e compridos com leves cachos nas pontas. Ela usava um vestido vermelho e estava sentada em um banco com um violão no colo, parecia ser um show em um lugar ao ar livre, talvez na área ao ar livre da lanchonete. Os olhos do moreno brilhavam e ele tinha um sorriso bobo na cara, por algum motivo Michael não conseguia desviar os olhos do moreno.
Era como um imã. Algo que ele não conseguia controlar.
- Você a conhece.
- Ela é a minha irmã. – O moreno suspirou. – Ela trabalhava aqui fazendo shows, fui eu quem tirou aquela foto. Meu amor por música veio dela. Ela não mora mais aqui e... – Ele abaixou a cabeça. – E você não está nem um pouco interessado, então é bom eu ficar quieto.
- O quê? Não! – Michael sorriu, era tão imprevisível ele estar interessado? – Ela ainda faz shows aqui?
- Isso é sério? Você falando e sendo amigável comigo? Quem é você e o que fez com o garoto mal humorado que estava sentado ao meu lado?
- Vai responder a pergunta ou não? – Michael bufou. – Se quiser, posso voltar ao meu normal agora...
- Não, não... – Calum se arrumou na cadeira ficando de frente para Michael. – Ela não faz mais shows aqui, foi contratada por um cara de New York. Vive lá agora, e viaja por aí de vez em quando fazendo shows. Eu queria ter essa vida.
- Essa vida?
- É... Você sabe. Sair pelo mundo, mostrando minha música por aí, conhecer lugares novos, conhecer pessoas novas. É meu sonho desde sempre. – Michael não espera aquilo. Achava que tudo na vida de Calum girava em torno do futebol, não esperava que ele se interessasse de uma forma tão grande assim por música.
- Você deve tocar então...
- Baixo é a minha vida, mas toco violão também. Escrevo e canto um pouco. Não é tão sério, mas eu gosto. E você? Ash disse que faz aulas de música.
- Ah, é faço. – Michael sorriu. – Lá é minha segunda casa, posso ser eu mesmo lá, sou apoiado e posso mostrar o que eu mais amo fazer sem me importar se vão gostar ou não. Acho que a música funciona assim: se te faz bem, se te faz se sentir vivo, não há motivos para parar. – Os dois se encararam, o castanho no verde. Michael notou um sorriso se formando em seu rosto e decidiu não reprimi-lo. – Você, hã, quer ir lá fora? Sei lá, andar um pouco. Não acho que os dois vão perceber que saímos por alguns minutos.
- Claro, por que não? – O moreno sorriu e os dois garotos se levantaram, seus amigos pareceram não perceber a saída dos dois, mas Michael pode ouvir um “eu disse que iria dar certo” vindo de Luke.
- Aonde quer ir? – Calum perguntou ao moreno.
- Não sei, não conheço muito bem essa parte da cidade.
- Tem um parque aqui perto, que tal? – Michael concordou com um aceno de cabeça e os garotos começaram a caminhar.
Ele poderia perguntar agora sobre a transferência de Calum.
Ou ele poderia apenas seguir o moreno e ficar observando-o.
- Sabe, eu ainda acho que você foi abduzido. – Michael riu. – Por que está fazendo isso?
- Isso...?
- Sendo legal comigo. O que Luke e Ashton prometeram para você? – Eles tinham chegado ao tal parque, não era grande coisa, mas as crianças ali pareciam gostar. Sentaram-se em um banco que havia ali e o colorido olhou para o moreno.
- Eles não prometeram nada. Eu só achei que você gostaria de ter uma provinha do Michael legal por algum tempo. – Calum não estava acreditando. Michael não estava acreditando.
O que diabos estava acontecendo ali?
- Calum, posso fazer uma pergunta? – Michael disse receoso.
- Você já fez uma, não é mesmo? – O colorido fechou a cara. – Mas eu deixo você fazer mais uma.
Michael pensou antes de fazê-la. Valia a pena saber? Olhando nos olhos castanhos a sua frente, ele percebeu que era bom estar na companhia do outro garoto. Era estranho seu coração batendo forte, suas mãos levemente tremulas, não conseguir desviar seus olhos dos olhos dele. Essa a melhor parte, olhar para Calum, para sua beleza exótica.
Afundar no castanho dos olhos dele.
Se envolver naquela voz rouca e bonita.
Era tudo muito estranho. Era tudo muito bom.
- Qual o motivo de sua transferência? – Ele viu os olhos castanhos perderem o brilho, ficarem nebulosos. Calum já não o olhava mais, ele encarava alguma coisa muito mais interessante do que o colorido. Michael, por um momento, se sentiu arrependido, mas lembrou de que se não fosse o maldito garoto do corredor ele nem estaria precisando ser legal com Calum.
- Por que quer saber? – O tom de voz do moreno era frio, como se tocar no assunto o machucasse.
- Olha, tinha uma garoto no corredor me enchendo o saco, falando umas coisas idiotas que não saem da minha cabeça. – Michael também passou a olhar para frente, se concentrando em um balanço vazio. – Se não fosse por esse garoto, que eu nem sei quem é eu não estaria perguntando. Se não fosse esse garoto eu não estaria sendo... – Ele parou de falar naquele momento, vendo que se terminasse a frase poderia estragar tudo.
- Sendo o quê? – Calum se virou para Michael, o tom de voz carregado de desgosto. – Sendo legal comigo? Olha, eu não sei o que Connor disse para você, mas...
- Connor? Esse é o nome do garoto do corredor? Como sabe que foi esse tal de Connor que veio falar comigo?
-... Eu espero que você não acredite nele. – Calum se levantou e deu uma olhada para Michael. – E isso não é da sua conta e chega de perguntas, por favor.
- Quem é Connor? – Michael se levantou também.
- Michael, por favor...
- Quem é Connor?! – O moreno suspirou.
- Ele estudava comigo, okay? Ele sabe o motivo da minha transferência e fica usando isso contra mim quando quer algo.
- E qual o motivo da sua transferência? – Michael ergueu uma sobrancelha. – Já que para ele poder usar isso contra você foi um motivo e tanto.
- Michael, eu acho que é melhor voltarmos agora. Luke e Ashton devem estar nos procurando. – O moreno deu apenas alguns passos quando Michael falou.
- Quem está com medo agora?
Os olhos se encararam. O castanho no verde.
Michael não acreditou no que disse. Como pôde, já que ele nem sabia dizer de onde vieram tais palavras. Olhando para o chão ele conseguia sentir os olhos castanhos do moreno cravados, podia sentir o moreno tentar achar palavras coerentes para respondê-lo, talvez ele fosse xinga-lo. Michael se sentiria melhor se Calum o xingasse.
Eles ficaram em silêncio no que parecera horas, Michael ainda não conseguindo olhar nos olhos de Calum. Michael não sabia, mas Calum estava gostando daquele momento, estava gostando de ver o real Michael, não o ser que ele fingiu ser para poder tocar no assunto da transferência.
- Sabe, você não deveria acreditar nos rumores que podem começar a aparecer, porque seja lá o que você ouviu não ligue, porque sou eu mesmo quando estou com você, ou com qualquer outra pessoa com quem eu me importe. E essas mentiras que você poderá escutar ao meu respeito saiba que elas nunca mudam, posso contar cada uma delas, cada versão que os outros têm ao meu respeito. – Calum se aproximou de Michael parando bem a sua frente, seus corpos próximos fez com que Michael pudesse sentir o calor que emanava do moreno, que levou a mão até o queixo do de olhos verdes e o obrigou o verde a voltar para o castanho. – Eu sei que você não sabe tudo sobre mim, se é que sabe algo, mas eu também não conheço você tão bem. Qualquer outra pessoa que pensa que me conheça vai espalhar besteiras sobre mim já que meu passado não é tão, hã, glamoroso? Acho que posso colocar dessa maneira. Mas, por favor, não acredite em qualquer coisa que lhe falem muito menos Connor.
Michael estava incomodado com a proximidade repentina de Calum, ele nunca imaginou que estaria tão perto assim do moreno já que tudo o que pensava era em manter distancia do moreno. Se Michael quisesse beijar o outro garoto, era só ele se inclinar um pouco para frente, já que eles tinham quase a mesma altura.
“Mas no que eu estou pensando? Eu não quero beija-lo.” Pensou ele, se afastou do moreno sem quebrar o contato visual.
- Acho melhor voltarmos. – Michael disse, começando a andar.
- Você está bravo? – Calum nem se mexeu.
- Eu estaria por...?
- Por não ter conseguido o que queria. – Calum deu um sorrisinho de canto de modo debochado, fazendo com que todo o controle de Michael se esvaísse e bufe enquanto revira os olhos. – Aí está verdadeiro Michael!
- Cale a boca Hood. – Michael começou a andar e logo viu que o moreno estava ao seu lado, andavam em um silêncio que parecia confortável para Calum, mas que era incomodo para Michael. Era engraçado o modo como Calum conseguia sorrir depois de uma breve discussão. Mas ele sabia que Calum tinha percebido que ele tinha fingido tudo, mesmo Michael não soubesse dizer onde o fingimento começara. E isso o incomodava, pois se sentia culpado por não conseguir gentil com outra pessoa – sem ser Luke ou Ashton – sem ter que fingir. Talvez tudo o que ele conheça seja um fingimento, talvez essa sua realidade, ou “falsa realidade”. – Quando você percebeu que era fingimento?
- Quando perguntou sobre a minha transferência. – O moreno sorriu. – Sabe você não precisar ser quem não é para falar comigo, eu prefiro o Michael frio. É mais legal de lidar, mais interessante. Seria melhor se você apenas tivesse perguntado, seria melhor se você fosse apenas você.
- Você teria respondido se eu tivesse apenas virado e perguntado?
- Provavelmente não. – Os dois soltaram risadas fracas. – Mas o que me aborreceu foi você ter fingido ser legal comigo. Eu sei que preciso fazer por merecer para você gostar de mim.
Michael apenas lançou um olhar de canto para o moreno e não conseguiu conter um pequeno sorriso.
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