História All Star (Azul) - O Início.

Atualmente

~Eu lembro da primeira vez em que o vi tocando.

Era uma noite estrelada. Fazia um mero frio, mas não perdi a oportunidade de vê-lo cantando. Mesmo que isso fosse custar muita grana e paciência do porteiro da escola - já que o show foi autorizado em uma casa de show por perto -  e, bem, provavelmente os alunos chegariam tarde.

Eu não devia ter me apaixonado por sua voz, do jeito de como toca sua guitarra, da forma seduzente quando passa as mãos pelos os cabelos e mordi o lábio inferior.

E de como eu não devia ter me apaixonado por ele.

Estava colado na testa dele a frase ‘’Alerta: posso não ser quem as pessoas acham que sou.’’, mas eu não me importei e mergulhei nessa aventura.

Não tinha como não se apaixonar pelo o guitarrista do cabelo grande e do seu famoso all star preto de cano alto. Eu só fui ao show com os meus amigos porque eles me imploraram - ou porque eu não queria ser perturbado por espíritos -, mas ao invés disso eu avistei Park ChanYeol com a banda que participava, os Fasted, e me apaixonei. E para piorar mais a minha situação, os meus amigos KyungSoo e LuHan namoravam um dos integrantes da banda: Jongin, o baterista, e SeHun, o baixista. E ele estava apaixonado.

A partir daí, minha vida mudou.

E minha percepção de que o ChanYeol era um idiota mudou.

Quer dizer, ele ainda é um idiota, mas ao contrário de antes ele era apenas um idiota. Agora ele é o meu idiota e futuro papai. Eita, contei spoiler, PERDÃO! Mas antes de vocês quiserem saber da nossa convivência atualmente, tenho que contar o passado. Há exatos 12 anos atrás, onde eu era apenas um garotinho de 18 anos e no último ano do colegial. Eu era um peixinho fora d’água naquele colégio, mas mesmo assim enfrentei muitos tubarões idiotas.

E um desses tubarões idiotas era o ChanYeol.~

~✦ ✧~

12 anos atrás|BaekHyun ON
 

‘’Estranho seria se eu não me apaixonasse por você

O sal viria doce para os novos lábios

Colombo procurou as índias, mas a terra avistou em você

O som que eu ouço são as gírias do seu vocabulário’’

Primeiro dia de aula do último ano estava prestes a começar. Faltava exatamente meia hora para o sinal tocar e sair com o meu colega de quarto, KyungSoo, uniformizados e caminhar para a sala de aula.

KyungSoo tem a mesma idade que a minha, mesma altura, mesma personalidade, mesmo conflitos e a única diferença é que não somos irmãos - e isso só foi todo o resultado da nossa conversa de ontem. Ele que me apresentou o colégio e ao seu amigo, LuHan - que aliás, nos demos muito bem.

~Eu era simplesmente um completo estranho no meio daquilo tudo. Sério, que tipo de pessoa entra em um colégio interno no último ano do colegial? Eu, Byun BaekHyun. Tsc…~

Mas voltando: KyungSoo também me contou a sua sexualidade e me apresentou ao seu namorado, JongIn. LuHan também fez a mesma coisa e o seu namorado se chama SeHun. Era tipo aqueles clichês de histórias de colégios internos para garotos e onde continham casais bem clichês. Fazer o que, eu também sou muito clichê e BASTANTE clássico barra retro brega.

~Ao decorrer dessa leitura eu vou ser bem antigo, que nem os vovôs. Então, se não gostar, pode parar de ler.~

Se me pedissem para escolher o melhor tipo de férias seria com certeza em casa, sentado na janela, lendo um livro e ouvindo meu jazz. Sério, não tem melhor sensação do que isso. Jamais!

Enfim, KyungSoo me aparentou ser bastante arrogante e um verdadeiro filho do lá de baixo. Já o amei logo de cara. Mas uma coisa fez nos aproximar mais: ele também é apaixonado pela a autora Colleen Hoover. Daí eu pirei e nos abraçamos fortemente. Mãe, a senhora já pode adotar Do KyungSoo, viu?! Eu deixo.

Já LuHan era completamente diferente - mas também arrogante. No pouco que conversamos, percebi que ele não tinha muita paciência e adorava dar patadas no namorado. Eu simplesmente amei eles, 'sérião'! As minhas últimas amizades foram falsas e confesso que não me importo em passar um feriado em casa, lendo um ótimo livro do que numa balada com gente que não liga para o meu bem estar.

KyungSoo e LuHan pareciam ser pessoas que não gostavam de muita proximidade. Mas só os conheci ontem então não tenho o que dizer.

- Preparado para sair desse quarto e encontrar várias pessoas de diferentes estilos e alguns com corações partidos por terem tido um péssimo fim de relacionamento ou péssimas férias? - perguntou-me KyungSoo, deitado em sua cama folheando um livro que não parecia ser um ótimo livro logo de manhã.

Pisquei algumas vezes enquanto tentava raciocinar aquela pergunta, mas respirei fundo e respondi o que eu acho que ele tenha perguntado:

- S-sim… - respondi meio com com dúvidas e isso não passou despercebido pelo o KyungSoo.

Ele me olhou e riu fraco. Levantou-se de sua cama, pegou sua mochila e seguiu para a porta.

- É melhor irmos. - disse.

Eu, que estava na janela do quarto, franzi o cenho e antes de falar que o sinal não havia o tocado, o mesmo tocou. Abri a boca surpreso e ele riu novamente.

- C-como voc-

- Só vamos, BaekHyun. - abriu a porta e saiu primeiro. Peguei minha mochila e saí do quarto desesperado, mas KyungSoo sequer tinha andando. - Como você é lento, Baek. - comentou.

- Huh. Sou novato, esqueceu? - perguntei irônico.

Começamos a andar e ele tinha certeza sobre pessoas de diferentes estilos. Muitos aparentam ser idiotas; outros poetas do fundo do armário, onde sua poesia era rejeitada; outros bad boys; alguns bobões; muitos apaixonados por animes e gente com cabelos de diferentes cores.

Aquele colégio realmente foi a melhor ideia da minha mãe.

KyungSoo viu a minha expressão facial (lê-se de boquiaberta) e começou a falar que aquele colégio era tipo um quartel para os refugiados e amantes das coisas diferentes, por isso havia pessoas de tudo que era canto, dos lugares de classe alta da Coreia do Sul até o subúrbio.

- Aqui é tipo ‘’A Sociedade Dos Poetas Mortos’’, BaekHyun. - comentou. - Viver o carpe diem é sempre um dilema. - o olhei e sorri de canto.

- Será um colégio, ou o próprio paraíso? - perguntei. Ele riu e, antes de falar o que sei lá que falaria, é abraçado por trás pelo o seu namorado.

- Bom dia, amor! - selou-o rápido. Sorriu e me olhou. - Olá, BaekHyun.

- Olá, JongIn. - sorri.

JongIn passou a andar do lado do KyungSoo e continuamos o nosso rumo.

Quase, na verdade.

- Olá, meninos! - disse LuHan, que apareceu misteriosamente do meu lado. O olhei e sorri.

- Olá, LuHan. - ele me olhou e sorriu.

- Oh, BaekHyun, você não sabe o quão feliz estou hoje! - disse andando saltitante. Franzi o cenho e ele continuou. - É o primeiro dia de mais um novo ano.

- É, eu sei… - ele riu e passou o braço pelo os meus ombros.

- Baek, isso quer dizer que novas brigas, novas interações, novas amizades, novos poetas, novas confusões e novos amores irão acontecer. Isso não é excitante? - assenti depois de minutos raciocinando. - Que bom que acha isso. - sorriu e tirou o seu braço.

Olhei para o KyungSoo com o semblante confuso e ele começou a rir.

- Relaxa, LuHan é assim mesmo. - falou. - Ninguém consegue o entender. - LuHan ouviu e olhou com os olhos semicerrados pra ele.

- Baek. - LuHan me chamou ainda olhando para o KyungSoo. - Você sabia que o KyungSoo é o próprio filho do diabo? - eu ri e na mesma hora assenti.

- Eu percebi hoje de manhã quando ele estava escrevendo um nome de alguma pessoa no seu ‘’Death Note’’. - disse e eles começaram a rir.

- É bom que saiba que foi você, BaekHyun. - arregalei os olhos e o olhei. - Estou brincando. - e riram de novo.

Enquanto andávamos para a sala de aula, eu percebi que aquele colégio era tipo um castelo: era enorme; os corredores largos e grandes; a pintura das paredes era em cores pastéis; o piso era brilhoso e claro - como se os faxineiros limpassem todo santo segundo.

Mas o que mais me impressionou foi o quadro de notícias que todo corredor tinha. No meu corredor tinha vários bilhetes espalhados com certas frases que acontecem com a gente cotidiana. Como por exemplo: ‘’Onde anda o seu frio na barriga?”. Eram aquelas frases que te fazem parar, pensar e começar a questionar onde estaria o seu frio na barriga. Eu poderia dizer que estaria na série ‘’Grey’s Anatomy’’ e no personagem chamado Derek. Também poderia dizer que estaria na voz de Chris Martin cantando ‘’Yellow’’, mas acho que não seria uma ótima resposta. Estava mais relacionado a questões de amor, e isso era algo que eu não queria agora.

Eu já havia namorado dois garotos quando eu tinha 16 anos. Foram dois namoros mais fracassados e horríveis de todos os tempos. Perdi meu primeiro beijo com o carinha da cantina do colégio e ainda por cima ele queria também tirar minha virgindade. O outro carinha foi um completo idiota por não saber apreciar direito as cantigas de Camões. Argh, só de pensar me causa enjoos.

Depois desse meu pensamento, JongIn e SeHun se despediram da gente e seguiram para as suas salas, depois foi o LuHan - que beijou minha bochecha e me desejou boa sorte - e por último KyungSoo.

- Boa sorte! Você vai precisar. - beijou minha bochecha e saiu. Ué, boa sorte por quê? Vai acontecer algo de estranho? Mais surpresa que eu já tive impossível.

Dei mais alguns passos e consegui achar minha sala, seria a minha aula favorita: Biologia. Sorri quando entrei, mas meu sorriso desmanchou ao ver que todos os meninos ali presentes já estavam sentados em duplas e o professor já havia entrado. O professor e todos ali notaram a minha presença e fiquei me perguntando se iria entrar ou não.

- Você é o Sr. Byun, não é? - assenti atônico. - Entre e se senta, porque a aula já começou e a sua primeira impressão foi horrível, Sr. Byun. - disse e os alunos riram.

Vaguei o olhar pela sala e o único lugar vazio era no fundão ao lado de um garoto que parecia estar dormindo. Andei apressadamente até o meu lugar e sentei.

- Bom, alunos, quero que saibam que o lugar onde estão sentados é permanente e sempre estarão fazendo trabalhos e provas com a pessoa do seu lado. Ah, bem-vindo, Sr. Byun. - me reverenciou e só aí eu tinha percebido que não o reverenciei.

Me levantei e fiz o gesto. Olhei para o professor e ele sorriu.

A aula começou e o carinha do meu lado ainda estava de cabeça baixa. Daí eu me lasquei e percebi que tudo que envolveria a aula de biologia faria com esse dorminhoco. Até que o professor começou a nos dar uma prova - que eu fiquei alguns minutos raciocinando o que ele havia dito - e eu não podia fazer sozinho.

- Prova? Mas já? - perguntei baixinho quando recebi a folha.

Antes de raciocinar direito, o meu ‘’colega’’ levantou a cabeça e nossos olhares se encontraram.

~PCY: Você era tão lindo, Baek, naquela época. Agora está todo inchado e mal consegue andar.

BKH: Argh, não estraga a história, ChanYeol!~

Ele era lindo. Quer dizer, todo mundo pra mim é bonito, mas ele tinha uma beleza estranha: tinha orelhas pontiagudas, parecidas com os dos elfos; lábios carnudos, mas não tanto; olhos grandes e brilhantes; um cabelo bagunçado, que fazia sua franja cair sobre os seus olhos e que a cada piscada elas se mexiam. É, ele realmente era lindo. E não, não estou babando-o.

Pelo menos eu acho.

- Acho melhor você fechar sua boca que pode entrar mosquitos. - disse e desviou o olhar para a prova.

- Certo… - fechei a boca e engoli seco. Aposto que estou vermelho.

- E você está vermelho. - arregalei os olhos e olhei para o outro lado. - Qual é o seu nome?

- B-Byun BaekHyun. - disse, ainda sem o olhar.

- Então, BaekHyun, acho melhor você olhar para a prova porque eu acho que ninguém faria uma prova desviando o olhar para os lados. - o olhei e ele sorriu de canto, ainda com os olhos na prova.

Tudo bem, vamos raciocinar direito e fazer a prova. Esse ano vai ser horrível, só acho.

Anotamos os nossos nomes e vi que ele se chamava Park ChanYeol. Começamos a fazer a prova e cada um responderia uma questão por vez. Li as questões e elas pareciam ser fáceis, então, não foi nenhum problema pra mim, para um pequeno padawan das artes biológicas - que merda, em. Enfim, a prova falava sobre os assuntos que estudamos no primeiro ano do colegial.

Para a minha surpresa, ChanYeol sabia das questões e respondeu rapidamente a primeira. Hum, então as aparências enganam, não! Acharia que ele fosse um rebelde que só dormiria nas aulas e deixaria todo os trabalhos pra mim. Respirei fundo e rapidamente fiz a segunda.

E assim por diante, fizemos todas as questões e entregamos à prova.

- Vocês já terminaram? - assentimos.

O professor ficou olhando para a nossa prova por muitos minutos e eu achei que tinha errado todas as minhas questões, ou até mesmo o ChanYeol poderia ter errado. Mas para minha outra e nova surpresa, o professor sorriu e corrigiu a prova.

- Então, quer dizer, que temos outro gênio na minha matéria? - perguntou me olhando. - Eu acharia que você não fosse bom e por isso deixei o lado vago do Sr. Park para lhe ajudar, mas vejo que você é bem sozinho. - sorri e acabei mostrando minha felicidade demais.

- Bem-vindo ao clube dos gênios biológicos, Byun. - disse ChanYeol. O olhei e ele se permitiu a sorrir - e que sorriso, Deus!

- O-obrigado, Park.
 

[...]
 

Depois da aula de biologia, veio as de exatas e a partir daí todo meu sucesso na primeira aula foi por água abaixo. Eu odeio exatas! Não, eu não odeio, eu não suporto tudo que for de exatas. Eu tenho bullying com essas matérias idiotas.

Mas tudo ocorreu bem - inexplicavelmente bem -, eu consegui entender o que o professor falava e descobri que o problema não era com a matéria, era comigo mesmo. Os professores foram bem e passaram a matéria facilmente, até fiz uma atividade para a minha alegria. Acho que posso me dar bem esse ano.

O sinal tocou e era hora da comida. Peguei minhas coisas e fui para o refeitório - que era ‘ginorme.

Eu já tinha começado a amar aquele colégio, mas amei mais ao ver que as mulheres da cantina exageravam nas refeições.

Com a refeição na bandeja, andei pelas mesas - que já estavam lotadas - e avistei os meninos sentados. JongIn havia me notado e com a mão me chamou. Andei até a mesa e sentei.

- E então, como foram as aulas, Baek? - perguntou-me KyungSoo, comendo seu sanduíche.

- Inexplicavelmente estranho - riram. -, mas bem.

- Huh, eu disse que ele sairia bem. - disse LuHan batendo a mão na mesa. - Agora cadê o meu dinheiro, KyungSoo? - esticou a mão e o KyungSoo bufou entregando-o dinheiro.

- Não acredito que vocês apostaram isso. - disse surpreso. - Que rude! - riram.

- A gente tinha que fazer alguma coisa. - ri.

Comecei a comer e de repente alguém senta do meu lado e quando ergo os olhos encontro o Park ChanYeol. Franzi o cenho e esperei alguém me falar algo sobre ele, mas todo mundo estava olhando pra ele.

Até que ele me vê e sorri de canto.

- Então, você é o BaekHyun? - perguntou-me.

- Vocês já se conhecem? - disse LuHan.

- BaekHyun é o meu colega nas aulas de biologia.

- Ahh… E como ele é? Burrinho que nem o SeHun? - SeHun parecia que não estava prestando atenção, mas ouviu bem e largou a mão do namorado. - ‘To brincando, meu amor. - e lá foi o LuHan babar SeHun.

- Não, ele é um gênio. - sorriu.

- BaekHyun, você dar aulas particulares? - perguntou KyungSoo

- Não, por quê?

- Já que o ChanYeol é ocupado com o sei-lá-o-que ele não tem tempo, você poderia me ajudar?

- Claro. E ainda melhoro o meu aprendizado. - sorri e ele me agradeceu.

Durante o almoço, soube de muitas coisas dos meninos e do ChanYeol. Eu não poderia mentir que eu estou um pouquinho interessado nele, mas também não vou dizer que já quero ele ou essas coisas. Acontece que quando você conhece um rapaz tão lindo quanto você, seu estômago revira e sente calafrios quando por acidente suas mãos se batem. Aquela fricção idiota que acontece quando sem querer - ou só pra testar mesmo - ChanYeol encosta seu ombro no meu e de repente fico nervoso e tenho vontade de sair de perto dele, porque isso não para um minuto sequer.

Mas, enfim, esse ano me aguarda.

O pessoal começou a falar sobre séries que estavam assistindo atualmente e eu só pude constatar que eles tinham um péssimo gosto para séries. Não que eu nunca tenha assistido alguma delas que eles falaram, eu tentei assistir, contudo, são péssimas e não quis continuar assistir. Teve momentos em que eu tive que abaixar a cabeça e revirar os olhos. Sério, eu não consigo gostar de séries de zumbis, de vampiros ou de lobos. É tudo a mesma coisa, mesmo enredo, mesmo sentido e no fim todo mundo sabe o que vai acontecer. Zumbis comem cérebros, vampiros bebem sangue - e brilha no sol como as fadinhas do Crepúsculo; que eu assisti e amei - e lobos comem as pessoas. Passar dessa lógica é impossível, por isso que não consigo assistir. Eu só assisto séries que realmente tenham uma verdadeira história no enredo. E não, eu também não gosto de Game Of Thrones.

Depois de muita conversa, o horário do almoço chega ao fim e sou obrigado a dar adeus para o pessoal.

- Baek, a sua aula agora é de Química? - perguntou-me KyungSoo. Assenti e ele se levantou junto comigo. - É a minha aula também. - sorri e peguei minhas coisas.

Nos despedimos do pessoal e logo seguimos para a aula de química.

~✦ ✧

Quase no final da tarde, às 15h e 30min, deram o fim das aulas e podemos voltar para os nossos dormitórios.

Como primeiro dia de aula foi legal, mas também foi intrigante. Das nove aulas que eu tive, três tivemos que fazer uma prova que não valia pontos e eram quinze questões cada prova. Em biologia eu fui bem, não sei nas outras. Por sorte meus professores eram bem atenciosos e tinham muita paciência para me explicar melhor.

O dia pra mim já podia terminar, mas o KyungSoo inventou um negócio para vermos uma banda de alunos do colégio que tocaria em uma casa de show hoje à noite. Até aí tudo bem, mas ele decidiu me convidar e eu já iria negar, porém, LuHan me contou que a última vez que o KyungSoo convidou alguém para algum lugar e não ia essa pessoa seria perturbada por vários espíritos. Mas como eu estou no mesmo quarto que o filho do diabo, morri de medo e aceitei de primeira.

Quando entramos no quarto, joguei a mochila para um lado qualquer do cômodo, tirei o casaco e pulei na cama. Agarrei o travesseiro mais próximo e fechei os olhos querendo tirar uma soneca.

Querendo, ‘né. Mas o KyungSoo não deixou e puxou meu pé.

- Ya! - disse alto. O olhei com raiva, mas percebi que os seus olhos não estavam normais. Engoli seco e perguntei baixinho. - O-o que foi?

- Mochila. - só disse isso entredentes e eu já tinha entendido o recado.

Fui correndo pegar a mochila - que estava perto dos sapatos -, ajeitei-a em cima da mesa de estudos e olhei calmamente para o KyungSoo.

- Pronto? - ele assentiu e entrou no banheiro. - Que maluco! - sussurrei.

Novamente, deitei na minha cama e agarrei meu travesseiro. Fechei os olhos  e não escutei mais nada, entrando em um sono profundo.

Por volta, eu acho, das seis horas da noite, acordo sendo atingido por um travesseiro.

- Kyung! Para, eu já acordei! - gritei e ele ainda deu mais uma 'travesseirada' na minha cabeça. - Ya!

- Eu não tenho culpa. - falou. Sentou em sua cama e deixou o travesseiro na mesma. - Estou te chamando há algum tempo e você não acordou. - sentei na cama e cocei os olhos. - Além do mais, você tem que tomar banho que daqui há a pouco o show começa e eu não quero perder cada segundo. - bufei e ele me ameaçou com o travesseiro novamente.

Olhei para o KyungSoo e o vi que não estava mais com o uniforme. Estava com uma blusa branca e uns detalhes pretos, junto com um casaco de couro preto. Sua calça era skinny e preta, mas o que o deixou mais chamativo foi a forma de como deixou seu cabelo: repicado nas pontas e bagunçado. Eram aqueles visuais tipos badboys de filmes, mas nesse caso era o filho do diabo em corpo em carneiro.

- Eu tenho mesmo que ir? - perguntei, logo depois bocejando.

- Se não quiser ser atormentado por espíritos… - deu de ombros.

Arregalei os olhos e pensei melhor em ir.

- He, he, acho melhor eu ir, ‘né. - disse apreensivo e rindo nervoso.

- Que bom que acha isso. - sorriu de canto e ergueu uma sobrancelha. - Se fingir que está passando mal… Você já sabe. - engoli seco e assenti.

Levantei da cama e fui escolher minhas roupas.

Decidir ir com uma calça skinny preta, uma camiseta branca e um casaco jeans. Sapato é algo que a gente não precisa nem pensar na idade jovem: all star, e o meu era azul.

Entrei no banheiro e tomei um longo banho. Mas nem pude escovar direito os dentes que o maluco do KyungSoo batia freneticamente na porta. Só se aquietou quando eu saí do banheiro já arrumado.

- Já terminei, 'tá legal.- disse impaciente.

- Até que enfim! - suspirou. - LuHan já está nos esperando em frente a escola. - disse e seguiu para a porta. - Ou a bela adormecida ainda tem que fazer o sei-lá-o-que?

Dei língua e só peguei meu celular e carteira.

Saímos do quarto e vi muitos meninos também arrumados e seguindo para saída. Ué, eles são tão famosos assim ou são apenas um divertimento para os demais? Interessante, acho que agora quero ir por conta própria.

Encontramos LuHan no portão e sua roupa estava quase igual ao do KyungSoo. A única coisa que mudava era só a blusa, branca, e com detalhes verdes. Eu havia perguntado, antes de irmos para o tal ‘’show’’, sobre os seus respectivos namorados e eles responderam que já estavam lá.

A casa de show não era tão longe do colégio, mas também não era tão perto. Era um perto-longe. Quando conseguimos chegar perto, eu já percebi logo de cara que eles eram famosos entre os alunos do colégio e até mesmo outras pessoas - na verdade, a grande maioria ali eram de meninas.

As luzes de fora eram tão brilhantes que se ficar olhando pra elas em segundos você fica cego e, depois de entrar, fica surdo. A casa de show era muito maior do que eu pensava e eu acho que era nova, comparada as outras casas de show vizinha. Tinha uma fila enorme no lado, mas o KyungSoo pegou a minha mão e entramos sem precisar de fila. Fiquei olhando para os dois maluquinhos e eles deram de ombros.

- Mais tarde você entende. - disse LuHan.

Desviei o olhar e vi aquele mar de pessoas na minha frente. Carambolas! Da última vez que eu fui em festa assim, foi a milênios atrás - quando eu ainda não tinha nascido. Nunca pensei que viria nesses tipos de festas onde os adolescentes não querem saber do amanhã e fazem tudo que podem hoje. Como se o mundo fosse acabar amanhã. Eu não acho desnecessário se divertir, mas só acho que pra cada pessoa tem seu próprio divertimento e esse divertimento, com toda certeza, eu não queria pra mim.

KyungSoo ainda com a mão no meu pulso, me leva para o bar e quando vimos algumas cadeiras vagas corremos para sentar.

- Essa banda que vai tocar é famosa? - perguntei, após se sentar.

LuHan riu e foi pedir uma bebida. Virei para o KyungSoo e ele deu de ombros.

- Não sei ao certo, mas muita gente gosta deles.

- Então, é uma banda de garotos? - assentiu. - Hum…

De repente, um som soou pelo o local e olhei para o palco. Os garotos já estavam ajeitando seus instrumentos e a luz estava baixa. Olhei para o LuHan e ele estava rindo baixinho enquanto bebericava um pouco de sua bebida. E o KyungSoo também não estava diferente. Franzi o cenho e foi nessa hora que as luzes começaram a acender no palco e só aí percebi porque eles estavam rindo - de mim.

No palco, estavam JongIn, SeHun e mais um carinha que eu não consegui identificar muito bem - já que a luz estava baixo onde ele se mantinha -, mas tinha um belo gosto para estar de all star e o seu era preto.

- Então, são os meninos que vão apresentar? - perguntei olhando para os dois.

- Sim! - gritou LuHan, já que o som começou a preencher o local.

- E quem é aquele garoto de all star preto? - falei baixo, mas o KyungSoo ouviu e sorriu.

- Não o conhece? - neguei. - É o ChanYeol. - falou risonho.

Abri a boca e olhei rapidamente para o palco, mais especificamente para onde ele estava.

Foi quando eu o vi.

Ele estava tão diferente de hoje mais cedo. Usava um jeans meio rasgado nos joelhos, uma blusa preta e um casaco xadrez vermelho. O cabelo estava para trás e tinha alguns fios soltos na frente. Mas o que me chamava mais atenção era como ele usava tão bem o all star preto de cano alto com aquela roupa. Até que ele sorriu e daí tudo começou.

Eles começaram a tocar e fui puxado para frente do palco. Enfrentamos aquele mar de pessoas e conseguimos ficar um pouco na frente.

E ele cantou.

Fiquei estático e fiquei arrepiado só com o início.

‘’Oh, misty eye of the mountain below

Keep careful watch of my brothers' souls

And should the sky be filled with fire and smoke

Keep watching over Durin's sons''

ChanYeol cantou e eu juro que fiquei arrepiado do começo até o fim. Era minha música favorita. Eles tocariam ‘’I See Fire’’ do Ed Sheeran, da trilogia ‘’Hobbit’’.

Sorri e os meus olhos focaram na figura do ChanYeol, que cantava de olhos fechados e tocava sua guitarra. Veio a segunda estrofe e as pessoas começaram a gritar. ChanYeol abriu os olhos e sorriu.

''If this is to end in fire

Then we should all burn together

Watch the flames climb higher into the night

Calling out father, oh, stand by and we will

Watch the flames burn on and on

The mountainside''

E eu só consegui sorrir toda vez que ele cantava. Seguia meus olhos para cada movimento seu e quando ele mordia o lábio inferior eu gostava da sensação que isso me trazia. De tanto se mexer, seu cabelo desmanchou e não lembro dele ser grande. E o improvável aconteceu: ChanYeol, o guitarrista e vocalista da banda, que combinou uma roupa escura com um all star e que me permitiu ver como ele fica lindo com cabelo grande, é o mesmo ChanYeol de hoje mais cedo. Só que eu não sentia o que estou sentindo agora.

''And if we should die tonight

Then we should all die together

Raise a glass of wine for the last time

Calling out father, oh

Prepare as we will

Watch the flames burn on and on

The mountainside''

A sua voz cantando aquela música foi a melhor coisa que os meus ouvidos puderam apreciar. Era a voz de um anjo. O seu tom grave e alto combinou totalmente com a música. O jeito de como tocava, a forma que o seu sorriso brotava e ele olhava para qualquer lugar, eu percebi que estava o comendo com os olhos bem ali. Senti minhas bochechas ficarem vermelhas e abaixei o olhar.

- É tão estranho... - ri e atrevi a olhá-lo pela última vez antes de me deixar levar pela música. - Gostar da tua voz.

                                                                                   ''Desolation comes upon the sky’’

(...)
 

O show veio terminar quase no começo da madrugada, às onze e meia da noite. KyungSoo e o LuHan quiseram esperar os meninos até o fim. Então, a multidão começou a ir embora e cada minuto o lugar ficava mais vago. Eu pensei que ficaríamos esperando os meninos no salão, mas um homem alto com músculos bem definidos e grande nos chamou e disse que poderíamos ir para o camarim - onde os meninos estariam nos esperando.

O camarim ficava atrás do palco e caminhamos até lá. Quando chegamos, KyungSoo e o LuHan foram abraçar seus namorados e eu fiquei ali sozinho. Procurei o olhar pelo o local para ver o ChanYeol, mas nenhum sinal dele. Então, fechei a porta e fui sentar num mini sofá que ali ficava.

O camarim era todo branco, mas continha muitos pôsteres de várias bandas e artistas do rock. Aqueles famosos espelhos com a redor dourado e com lâmpadas brancas ao redor. Mini geladeiras e algumas cadeiras. Enquanto eu ficava olhando o camarim inteiro, a porta se abriu e apareceu o ChanYeol. Ele tinha em mãos algumas cartas coloridas e foi só o JongIn falar que eu entendi bem do porquê que sua expressão estava de exaustão:

- Mais cartas das admiradoras nada secretas do ChanYeol. - disse zoando e o pessoal riram.

Ri fraco e me senti um pouco nervoso quando por frustração, ChanYeol tira o casaco e percebo que ele estava de regata e não blusa. Não me perguntem para onde os meus olhos focaram porque já sabem: nos músculos do ChanYeol. Eu não sabia que ele tinha músculos, me parecia ser magro e forte por causa da altura, mas aquilo ali não. Pigarreei baixinho e olhei para qualquer lugar que não fosse os músculos do ChanYeol.

- Eu nem sei mais o que eu faço. Só aceitei por educação, porque não quero magoá-las, mas já chega. - bufou e sentou-se do meu lado.

- Mas você já não disse que é gay? - arregalei os olhos e comecei a cantarolar mentalmente - como se já soubesse que ele fosse gay.

- Sim, e ainda digo. - encostou-se sua costa no sofá e passou a mão pelos os cabelos. - Mas elas acham que eu vou mudar e estarei apaixonado por uma delas. - os meninos riram e eu não soube fazer nada.

- Vamos torcer que um dia elas se cansam. - disse Kai, risonho. Até que ele me olhou e sorriu. - E como foi a nossa apresentação, BaekHyun? - nessa hora todo mundo me olhou.

Sorri torto e falei:

- Pra falar a verdade? Vocês foram incríveis. - riram. - Sério, vocês são a única banda que cantaram tão bem ‘’I See Fire’’ na versão da banda Anaria.

- Você conhece essa versão? - perguntou ChanYeol, surpreso. Assenti e ele sorriu. - Bem-vindo ao clube! - rimos.

Ficamos conversando por algum tempinho, mas quando sono bateu eu já queria dormir ali mesmo. Voltamos para o colégio - e depois de uma discussão com o porteiro -, nos despedimos de cada um e cada qual seguiu para o seu dormitório. Olhei para trás, antes de ir para o meu quarto, e ainda o encontrei sorrindo com o JongIn e o SeHun ao seu lado.

~Ah, se eu soubesse que eu amaria aquele sorriso hoje… Eu teria ido atrás dele bem antes. Mas nada mudou e estamos cada dia mais fortes. Como nos velhos tempos.~

Eu sonhei com aquele sorriso. E sonhei com aquele all star preto de cano alto.

Continua...