- Como Jeff está? - Angelina pergunta para Tiffany enquanto digita um documento em seu laptop.
- Não sei, ele não me mandou nenhuma mensagem. A coisa deve ter sido feia ontem... Eu liguei pra ele algumas vezes, mas deu caixa postal.
- Pois é... Amanhã eu vou tentar ir à casa dele.
- Aqui, falando em ontem... como foi com o bonitão? - Tiffany pergunta, se apoiando por cima da cabine. Angelina olha pra cima e lança um sorriso. - Ah! Quero detalhes!
- Nada demais. Fomos no Trinity, ficamos lá até tarde, e ele me levou em casa depois.
- E vocês...
- Não. Só conversamos, nos conhecemos um pouco. Ele é do Alabama.
- Alabama? Gente, que homem. - Angelina ri.
- Ah, Tiff... Ele é... - Ela suspira antes de terminar a frase.
- Fala! Maravilhoso, gostoso, cheiroso?
- Ele é diferente.
- Diferente? Em que?
- Não sei, em tudo.
- E isso é bom, né?
- Tudo diz que sim... - Angelina diz sorrindo, sem tirar os olhos do monitor. Tiffany se recolhe para sua cabine e continua seu trabalho.
Na hora do almoço, Angelina leva seu laptop para o restaurante e na mesa, liga seu Skype. Para sua surpresa, seu pai estava on-line. Ela faz uma chamada de vídeo.
... Discando...
- Oi pai! Quanto tempo não te vejo aqui!
- Olá, filha... - O rosto de Anthony estava pálido, fino, ele suava. Uma olheira escura cobria o entorno de seus olhos.
- Nossa, pai, que cara é essa?
- Eu estou com uma virose. Mas nada demais. Já fiz alguns exames e estou aguardando os resultados.
- Ih... você pegou a tal gripe.
- Não sei, só os exames dirão... - Um silêncio toma conta da conversa. - Mas e você? Como está? Bem? E o trabalho?
- Tá tudo bem, nenhuma novidade.
- E o Adrian? - Angelina gela, sua boca leva alguns segundos pra formar palavras. Ela não tem notícias dele há duas semanas, e não se preocupava com isso, até seu pai tocar no assunto.
- Pai... Sobre o Adrian... Nós terminamos.
- O quê? Por quê? O que ele fez?
- Ele não é o que eu pensei que fosse.
- Ele é um bom rapaz, Nina. Dê a ele uma segunda chance... - Uma forte tosse interrompe o sermão de Anthony.
- Corrigindo, ele não é quem você pensa que é. Não tente opinar sobre o que você não sabe.
- Conversarei com o tio dele. O que quer que tenha feito, ele vai se arrepender. Foram drogas? Ele te machucou?
- Pai, não! Tá vendo, não era nem para eu ter te contado!
- O que foi então? Será que você nunca aprende sobre o que é bom para você? Adrian gosta muito de você, e tem uma família boa. Vou resolver isso.
- Para.
- Estou ligando para Benjamim. Lhe retorno assim que puder. - O corpo de Angelina esquenta e suas bochechas coram.
- Escuta aqui! - Seu tom de voz deixava claro sua raiva. Ao seu redor, as outras pessoas do restaurante a olhavam de lado. Seu pai, que estava com o telefone no ouvido, o desliga e volta a olhar para a tela. - Para de querer tentar mostrar que se importa, que está presente, que sabe da minha vida. Você não sabe de nada, não sabe o que é ou não é bom pra mim, então nem se dê o luxo de querer julgar o meu namoro! Que merda! Eu só queria conversar e você estraga tudo! - Angelina mal espera o pai lhe responder e desliga a conversa. Seus olhos estavam tensos, enquanto ela segurava rigidamente a tela do computador.
- Escroto.
A manhã seguinte estava nublada. Eram oito da manhã e Angelina estava na sala de estar comendo cereais banhados em leite enquanto assistia televisão, até que o programa foi interrompido com uma notícia urgente. Dois repórteres surgem na tela.
- Uma ameaça. A gripe Amazônica atinge pontos em quase todo o continente americano.
- Noventa e duas mil vítimas confirmadas nos Estados Unidos e mais de cinco milhões no Brasil.
- O governo Federal brasileiro afirma que a falta de verbas dedicadas ao saneamento fomentou a irradiação da doença.
- Chefes das Organizações das Nações Unidas afirmam que, se em menos de 2 meses a doença atingir regiões do mundo como norte da África e Ásia, será declarado o estado de emergência. Veja mais no Jornal das onze.
Angelina franze a testa após ouvir a notícia e continua a comer seu cereal. De repente, ela se lembra de Jeffrey e decide ligar para ele.
- Oi, amor! Até que enfim você me atende!
- Angelina...
- Você está bem? Eu fiquei preocupada com você...
- Eu estou bem... é só que... bom, você pode vir aqui mais tarde? - A voz de Jeffrey era séria, fria, como se não fosse ele.
- Claro. Estarei aí depois do almoço.
- Combinado.
Logo após a ligação, Angelina se levanta e vai trocar de roupa. Ela pega as chaves do carro e sua bolsa para ir ao shopping, pois pensou que seria de bom grado levar algum presente para seu amigo. Angelina aperta o botão que desbloqueia a porta do carro e nada acontece. Ela dá de ombros e enfia a chave na fechadura da porta. Ao entrar no carro, ela ajeita o espelho retrovisor e põe a chave na ignição. Nada acontece, novamente.
- Ah, não... isso não. - Angelina torna a girar a chave na ignição, mas seu carro não responde, nem um barulho. - Porra! - grita e soca o volante involuntariamente. Ao sair do carro, ela abre o capô na esperança de encontrar com facilidade o problema. Nada. O motor estava intacto. Ela pensou em ligar para o seguro do carro, pois poderia ser algum problema na bateria. Porém, surgiu em sua cabeça uma ideia melhor.
Daryl estava arrumando as ferramentas que Merle havia deixado no chão. A oficina estava bagunçada, como se um vendaval houvesse passado por aí. No fundo do pequeno galpão, um carro velho e vermelho ali estava largado há anos, ele pertencia ao seu pai. Dentro, ainda haviam pertences dele, como canetas, papéis, um bolo de chaves enferrujadas, e dentro do porta-luvas uma 38. Daryl estava sujo, suas mãos estavam escuras e seu cabelo estava oleoso, por causa do suor. Sua blusa grafite e sem mangas estava encardida.
Logo após colocar a maleta de ferramentas em cima da estante, ele escuta um barulho. Era o toque do seu telefone. Ao olhar na tela e reconhecer o nome, ele sorri.
- Bom dia, Nina! - Sua voz era rouca.
- Daryl? Oi, me desculpa ligar essa hora, eu sei que está cedo.
- Cedo? Que nada, estou acordado faz tempo. Como você está?
- Bem. Quer dizer, na verdade estou com um problema.
- O que aconteceu?
- Tem alguma coisa errada com o meu carro. - Daryl solta um riso leve. - O que foi?
- Nada... O que aconteceu?
- Se eu soubesse eu não estaria te ligando, né? Será que você pode vir dar uma olhada?
- Claro, estarei aí em vinte minutos.
- Tudo bem! Até logo.
- See you!
Angelina estava com o cabelo preso em um coque, as mangas da sua blusa estavam dobradas, o short rasgado e em seu pé, um par de chinelos brancos. A porta da garagem estava fechada, mas lá de dentro ela ouve o ronco da Fat Boy. De forma involuntária, seu coração acelera e ela deixa um retrato que estava em sua mão cair no chão.
- Ah, merda. - ela se ajoelha e o pega. Na foto, seu pai a envolvia nos braços e sua mãe estava sorrindo, com as pernas cruzadas. Os três estavam sentados em um banco coberto de neve em um parque de esqui na Áustria. Angelina tinha quinze anos quando a foto foi tirada, dois anos antes de sua mãe ser diagnosticada com um tumor. Ela se ajoelha e pega o retrato, o vidro havia rachado, o que a faz bufar.
- Ei. - Daryl diz encostado na porta. Angelina levanta o rosto rapidamente numa expressão quase que de susto.
- Ah, oi!
- Quer ajuda aí? - Ele se aproxima e ela se levanta.
- Não, eu só deixei isso cair, nada demais. - Ele chega perto e pega o retrato.
- É você? Que gracinha.
- Sim, esses são meus pais.
- Ah, sim. Eles moram aí com você?
- Não. Quer dizer, sim. Quer dizer, minha mãe faleceu, e meu pai está viajando, negócios.
- Hum... entendi. - ele deixa escapar um sorriso torto e põe o retrato em cima de uma prateleira que havia ao seu lado. - Então, vamos ver essa belezinha. Destrava o capô pra mim. - Daryl o abre e arqueia a sobrancelha ao ver o que tinha embaixo do capô do Jeep. - Gostei da máquina.
- Tem alguma coisa de errada aí?
- Tem sim. Ela não é minha, isso que ela tem de errado. Gira a chave para mim. - Angelina gira e não escuta nenhum barulho. - É a bateria, ela arriou.
- Tem certeza? É só isso?
- Tenho. Você deixou a luz do carro acesa?
- Não sei. Não que eu me lembre.
- Bom, da próxima vez não deixe, isso come a bateria com muita rapidez. Você tem aí alguma bateria reserva? Posso fazer uma chupeta.
- Me deixe checar aqui. - Ela sai do carro e caminha em direção às ferramentas no canto da garagem. Haviam caixas, fios e ferramentas pesadas como furadeiras. Ela se agacha e Daryl a observa, com o olhar cerrado. Ele definitivamente gostava do que via. Ela tira as caixas uma de cima da outra, e de repente se levanta com uma bateria de carro. - É isso? Que peso!
- Isso. Vou pegar os cabos.
- Eu tenho aqui. - Ela diz abrindo uma caixa no chão. Ela tira os cabos e os entrega a Daryl.
- Beleza. Quando eu mandar, você gira a chave de novo. - Ele diz enquanto liga os cabos nas duas baterias. Enquanto a bateria de fora carrega a do carro, Daryl se aproxima de Angelina. - E aí, vai sair hoje?
- Vou ver um amigo. - Daryl franze a testa. - Meu amigo do trabalho. Ele terminou com o namorado e faltou o trabalho hoje.
- Saquei. E aí?
- E aí vou ver se está tudo bem com ele.
- Já entendi, eu quero dizer, e mais tarde? Quer fazer alguma coisa?
- Depende, você tem alguma coisa em mente, que não seja o Trinity Hall? - Ela diz com um tom irônico e Daryl cerra os olhos.
- Para falar a verdade, tenho sim, um lugar muito foda por sinal. Mas só porque não gostei da sua resposta, não vamos lá hoje.
- Ah, qual é!
- Gira a chave, vai. - ele sorri.
O carro demora poucos segundos para pegar. O ronco do motor faz Angelina sorrir como uma criança.
- Isso! - ela comemora enquanto Daryl desconecta os cabos da bateria do carro. Depois de tirar o gancho que apoia o capô, ele o solta e o fecha. Angelina sai do carro e o ajuda a guardar as coisas. - Muito obrigada, Daryl, de verdade.
- Não foi nada. - Ele diz com um cigarro na boca enquanto o acende. Estava sentado no capô olhando para Angelina de forma que a deixava inquieta. Seu cabelo preto e bagunçado lhe tapavam parte dos olhos, mas Angelina podia os ver bem, eram cinzas, meio azulados. Eram lindos.
- Bom, eu... Acho que terminamos. - Ela diz e Daryl se levanta. Ele caminha lentamente até ela, tragando seu cigarro, seu olhar agora era cerrado, agressivo, esfomeado. Angelina respirava irregularmente, suas mãos começaram a suar e a cada passo que Daryl dava, seu corpo esquentava mais.
- Terminamos? - Ele joga o cigarro no chão e o pisa, depois volta a encará-la. Seus corpos estavam a poucos centímetros de distância.
- Sim... - Ele leva sua mão até o quadril de Angelina e sobe devagar até sua cintura. Angelina fecha os olhos e sente correntes elétricas percorrerem o caminho da mão de Daryl. Ele se aproxima mais e apoia seu nariz no dela. Sua respiração era quente, forte, invasiva e fazia Angelina perder gradativamente o controle do próprio corpo.
- Tem certeza...? - Ele sussurra, sua barba roça na boca de Angelina deixando-a ainda mais sedenta por ele. Daryl aperta levemente a cintura dela, puxando seu quadril para si.
- Não. - Ela sussurra de volta, e em uma fração de segundos, a boca de Daryl a devora. Sua língua explora a boca de Angelina com voracidade. Os dois se unem em um beijo desesperado, apaixonado. Angelina perde o controle das mãos, que percorriam o corpo dele e sentiam a rigidez de seus músculos. Seu braço, seu peito, suas costas. Daryl a segura pelas pernas e a levanta do chão, enquanto as mãos dela afundavam em seus cabelos. Ele a coloca em cima do capô do carro, suas mãos puxavam firmemente o quadril dela, depois sentiam seu cabelo, suas costas finas.
Os dois se separam e se olham, suas respirações eram ofegantes, fortes. Angelina estava tonta e Daryl franzia a testa. Seu olhar expressava seu desejo quase que insaciável por aquela mulher, era o que ele mais queria naquele momento. Não havia mais Merle, não havia mais roubo, Jack Brock, nada. Em sua cabeça, não havia mais noção de tempo e espaço. O tempo era o piscar dos olhos dela, o espaço era o vão que havia entre os dois. Angelina era tudo. Ali, ela era o mundo.
Angelina tira delicadamente a blusa de Daryl, que vem até ela, com sua boca mirando em outro alvo. Ele beija seu pescoço, o lambuza e o aproveita, sente aquele cheiro cítrico e aperta seu quadril com a mão. Com a outra, ele segura seu cabelo e o puxa com força, fazendo-a suspirar. Lentamente ele tira a blusa dela, a pele dela estava completamente arrepiada, e ao mesmo tempo quente. Daryl beija por entre os seios de Angelina, o que a faz soltar leves gemidos, e ali ele se perde, o cheiro cítrico toma conta de todas as sensações dele.
- Você é maravilhosa. - Ele sussurra, enquanto chega perto do ouvido de Angelina - Cheirosa, gostosa... - A cada palavra, ele deixava um beijo molhado pelo corpo dela.
- Daryl... - Ela geme baixo, involuntariamente, enquanto esfrega sua intimidade contra a ereção dele. Ela começa a desabotoar o cinto de Daryl, enquanto beijava seu peito, até que, de repente, uma voz a mais surge perto daquele ambiente.
- Nina! Você tá aí? Alou? - Sasha entra pela casa procurando por Angelina. Dentro de sua bolsa haviam alguns livros e seu caderno. - Tô entrando, hein!
- Merda! Não acredito nisso. - Angelina pula do capô do carro, pega sua blusa e a tira do avesso de maneira quase que desesperada. - Tô indo! Fica aí na sala! - Daryl acha graça do momento. - Para de rir e se veste logo!
- Onde você tá? - Sasha caminha em direção à porta da garagem. - Você tá... Opa. - Ela entra e se depara com Angelina de pé, paralisada, entre seu carro e Daryl, que vestia sua blusa. O cabelo dos dois estava completamente bagunçado e a boca de Angelina estava avermelhada. - Eu... Devia, é... Voltar depois?
- Não, fique, eu já terminei por aqui. Bom, Angelina, então, se der algum problema quando ligar o carro, já sabe que pode ser a bateria. Não esquece de desligar a luz antes de sair.
- Certo. Obrigada, Daryl.
- Vou indo, até logo. Tchau, é... Sasha, né?
- Tchau, Daryl! - Sasha diz com um tom de voz quase que infantil. Daryl sorri para Angelina, que o olhava de baixo, enquanto o via partir.
- Angelina... Você vai me contar agora o que estava acontecendo aqui. - Sasha diz com um sorriso eufórico.
- Daryl veio dar uma chupeta na bateria do meu carro, só isso.
- Sei... Pelo visto ele deu uma chupeta no carro e no seu pescoço também, né?
- O quê? Não! Como assim? - Angelina corre em direção ao espelho que havia pendurado na parede e para seu alívio, era mentira. - Sua idiota. - Sasha solta uma gargalhada.
- Vou estudar aqui hoje, tudo bem? Podemos pedir uma pizza!
- Eu estou de saída, vou visitar o Jeffrey!
- Ah! Como ele está? Foi você que me falou que ele terminou o namoro, não é?
- Fui. Eu não sei direito... Ele agiu muito estranho comigo no telefone. Ou ele está muito arrasado, ou alguma coisa aconteceu. Anyway, eu vou pra lá agora e volto mais tarde. Tem cheesecake na geladeira, mas se você comer todo, é uma menina morta.
- Oba! Vou tentar me controlar. See you later! - Sasha dá meia-volta e entra pela porta que dá na cozinha da casa. Angelina entra no carro, pega uma pequena escova dentro de sua bolsa e ajeita o cabelo. Antes de ligar o carro, ela guarda o objeto, olha para o espelho e solta um longo suspiro.
- Uau.
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