As mãos tremiam como nunca antes, os olhos derramavam lágrimas quentes e silenciosas, enquanto olhavam incrédulos à parede ensanguentada. Estava toda suja de sangue e poeira. Nunca vira tanto sangue em toda sua vida. Era como se estivesse mergulhada em um mar rubro.
Tocou o rosto pálido da mãe, no pescoço havia um corte profundo, e mais do líquido viscoso e vermelho escorria lentamente, encharcando o chão frio. Ela olhou com espanto para o pai que estava ensanguentado tanto quanto ela. O olhar era de perdição, estava espantado por oque acabara de fazer. Agachou ao lado da mulher e tocou-lhe a garganta, e olhou espantado para a filha ruiva.
Ele tremia, levantou-se de forma brusca, assustando Erza que se encolheu no canto da parede, escondendo o rosto entre as pernas. Ela escutou um barulho ensurdecedor vindo do quarto, tapou os ouvidos, ao mesmo tempo em que escutou algo pesado cair no chão com força.
Só foi ver oque acontecera quando tomou coragem, as pernas estavam bambas, e quando viu mais sangue escorrendo pelo chão do quarto, sentiu que não conseguiria mais ficar em pé, desabou no chão aos prantos. Lá estava ele, o assassino de sua família também era seu pai, morto, com uma bala cravada na cabeça.
Tanto sangue espirrado na parede a fez engasgar nas próprias lagrimas, o estomago revirava, e ela teve vontade de vomitar. Tapou a boca, forçando-se a não colocar tudo que tinha no estomago para fora…
Quando a polícia chegou mais tarde junto de uma ambulância lhe fizeram perguntas e ela respondeu-as de forma hesitante, a lembrança do pai chegando em casa bêbado como todas as noites não lhe causou desconforto, era tão comum, a tanto tempo ele chegava tarde com cheiro de álcool, mas isso mudou quando ele agrediu sua mãe, e ameaçou com a faca, não se lembrava ao certo quando foi que ele havia a cortado, mas se lembra do corpo caído ao chão e da própria mãe se contorcer para fugir da morte. Erza se lembrava perfeitamente das suas pequenas mãos na garganta ensanguentada tentando de todas as formas parar com que o sangue jorrasse, mas era impossível.
Alguns dias depois, se lembrou de ser direcionada a um homem já de idade, ele a recrutou, lhe deu um novo lar, mas acabou morrendo logo depois. Mavis, mesmo um pouco mais velha que a maioria das crianças, e nova demais para comandar a organização assumiu a responsabilidade adquirindo o papel de mentora e líder que antes pertenceu ao avô, tudo aconteceu de repente… era difícil ainda não se engasgar só de se lembrar de tudo.
- Erza? – Escutou seu nome ser chamado em voz baixa e então seus olhos despertaram, tomou um susto ao ver as madeixas azuladas a sua frente, não sabia dizer se aquilo era bom porque despertara das cenas horrorosas de sua memoria, ou se era uma maldição por ser exatamente ele. – Está bem?
- Claro, apenas um pesadelo. – Ela virou o rosto a janela do avião. Tanto lá fora quanto dentro estava escuro, apenas a luz do notebook de Jellal iluminava fracamente parte do avião.
A ruiva olhou para Lucy que esta estava dormindo apoiada a Natsu, também parecia cansado demais, e dormira facilmente assim que entrou no avião. Jellal pelo contrário estava mais acordado que o normal, ele tinha algumas olheiras, oque significava que ele ainda não tinha dormido.
Olhou-se para si mesma e viu que sobre si havia uma manta fofinha, não sabia quem havia lhe coberto, mas preferia imaginar que foi Lucy. Erza levantou e sentou-se na mesa que ele também estava digitando.
- Oque está fazendo?
- Passando o relatório a Mavis… - Ele parecia concentrado na tela do computador, mas por algum motivo parou e olhou diretamente a Erza, ficando poucos segundos a encarando no silêncio do avião apenas com o barulho da turbina. – Está assustada?
- Com oque? – Perguntou ela tentando de alguma forma fugir da pergunta.
- Sobre hoje… teve medo de morrer?
- Eu não tenho medo de morrer. – A ruiva que olhava para as luzes da cidade abaixo focou o olhar no dele.
- Corajosa… - Ele falou surpreendendo Erza, se tinha algo que ela não esperava é que ele tinha medo da morte. – Hoje no parque… obrigado por confiar que eu resolveria a situação.
- Eu não tinha muitas escolhas, tinha? – Ele sorriu de canto.
- Imagino oque você estava pensando naquela situação… a arma em suas costas, seu rosto pálido, e suas mãos que tremiam, sorte sua que eu estava lá.
- Eu teria saído daquela situação com ou sem você. – Erza começava a se irritar com o tom de superior dele sobre si.
- Droga, não é isso que eu queria dizer, eu sou péssimo com essas coisas. – A voz de Jellal era baixa demais, como se ele estivesse falando consigo mesmo. – Oque eu quis dizer é que não importa o quanto me odeie, ou o quanto eu tenha raiva de você, jamais deixaria morrer, e jamais deixarei enquanto formos parceiros.
- De certa forma… eu agradeço, mas eu não preciso da sua proteção.
- Claro… como quiser. – Ele voltou a se concentrar no que escrevia, e Erza por poucos segundos pensou se tinha o magoado, mas logo imaginou que ele talvez merecesse
***
Mavis escutou dois toques na porta de vidro e de dentro pode identificar as silhuetas, que logo entraram com sua permissão. As garotas entraram e se sentaram nas poltronas frente a mesa, Natsu estava visivelmente lutando para se manter acordado mesmo em pé e Jellal deu um passo a frente com o pen-drive em mãos entregando-o nas mãos da líder.
- Deveria investigar mais os informantes. – Ele comentou de forma ácida e seca. Enquanto se apoiava no braço da poltrona de Lucy.
- Do que está falando? – A loira cruzou os braços e olhos fixamente a Jellal que pareceu não se acanhar.
- A essa hora estaria indo a um funeral se eu não estivesse lá pra no mínimo limpar o seu trabalho mal feito.
- Jellal já chega. – Natsu que antes parecia sonolento tentou repreender o amigo.
- Se diz tão experiente como líder, mas não consegue verificar a origem dos seus informantes.
- Se não quer correr risco pode sair, a porta está aberta. – Erza falou adentrando na discussão.
- Eu já corri riscos piores que isso, mas por questões muito mais importantes e de relevância do que morrer para um informante. Se está disposta a morrer em um beco sujo e escuro de uma cidade qualquer porque sua líder é incompetente para averiguar os informantes, fique a vontade, só me avise de não estar lá pra ver isso. – As palavras de Jellal saíram como um tapa que ardia. Mavis firmou o olhar a ele.
- E desde quando você se importa? Hipócrita. – Erza bufou e cruzou os braços frente ao peito.
- Me chame do que quiser, mas diferente de você eu sou profissional, jamais deixaria que as emoções tomassem conta daquela situação.
- Tem razão eu não me importaria de vê-lo morrer. – Erza levantou-se para encara-lo. Estavam prestes a sair nos tapas quando Lucy e Natsu apareceram para separa-los.
- Já basta. Vocês me irritaram mesmo agora. Amanha mesmo vão aprender a trabalhar juntos! Se não podem compreender isso por bem, será por mal. – Mavis abriu uma gaveta e tirou de lá uma pasta bege. – Lucy, Natsu agradeço o esforço de vocês, mas, por favor, me deixem a sós com os dois.
Os dois acenaram com a cabeça e se retiraram da sala. Jellal e Erza, cada um sentado em uma das poltronas se encaravam mortalmente, como se a qualquer brecha um atacaria o outro.
Mavis jogou a basta sobre a mesa, próximo a eles. E Jellal a pegou de forma estressada.
- A próxima missão será de vocês dois. Desconfiamos que amanhã um grupo de aliados de Simon fará uma troca de informações em um museu de Londres, tenho informações confiáveis que estarão em um pen-drive colocado dentro de um vaso chinês, preciso que interceptem as informações. Vocês sabem oque fazer.
- Isso é bobagem, não somos crianças. – Jellal tentou protestar.
- Faça oque lhe foi mandado Sr. Fernandes, seja o profissional que diz ser. Não estraguem a missão por questões idiotas, ou terei de expulsa-los.
Jellal se levantou irritado e saiu do escritório sendo seguido logo atrás por Erza. Ele apertou o botão do elevador e suspirou de forma irritadiça.
- Não olhe pra mim, a culpa é toda sua por tê-la irritado. – Erza cruzou os braços. E os dois adentraram o elevador, o clima era tão pesado como antes, qualquer comentário e eles se matariam ali mesmo. - Vá embora, eu vou pensar em um jeito de fazer isso. – A porta se abriu e Erza já saia em direção a biblioteca. Jellal olhou do elevador a ela, e suspirou saindo no mesmo exato que a porta metálica se fechou atrás de si. A ruiva parou de caminhar, e o barulho das botas no chão de mármore parou de ecoar pelo corredor.
- Você a escutou… vamos fazer isso juntos, logo.
A noite deles seria longa sobre os computadores, pesquisando informações exatas da negociação e também de como poderiam invadir o local. Da cobertura, Mavis sorria de forma vitoriosa, vigiado pela câmera de segurança.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.