História All You Need Is Love - Prologue

Todo mundo tem seus demônios. Às vezes, os demônios de alguns são maiores do que os de outros. Eu mesma tive os meus, há muitos anos atrás. Não posso dizer que os superei, mas também não posso dizer que eles ainda me assombram. Em alguns dias eles vem, fazem o estrago que tem que fazer e vão embora. Melhor: eu os expulso. Não posso conviver com aquilo, mal gosto de saber que eles ainda vivem a cada dia mais na minha cabeça. Mas não os nego, não! Nossos demônios interiores vem do nosso passado, e se algum dia negarmos nosso passado, estaríamos negando a nós mesmos.

Eu passei por muito. Ralei bastante pra chegar até aqui. Mais chorei do que vivi, me encolhia em uma bolha de autoproteção e me escondia de todos a minha volta. Eu não queria ter contato com ninguém.

E foi assim que eu fui diagnosticada com depressão.

Pensa só: uma menina de 15 anos com tudo a viver pela frente, mas sem a mínima vontade disso. Depressão é uma doença séria, e só depois de dois anos de ajuda e muita terapia, eu me vi razoavelmente curada.

Graças a minha psicóloga que sempre esteve comigo, decidi me formar em psicologia. Aos 17, ainda no meio do meu tratamento, prestei vestibular para isso e passei, e foi assim que eu descobri a minha vocação: Eu, aquela menina terrivelmente doente, queria ajudar os outros. Olhando para trás as vezes soa meio surreal. Mas o destino é uma coisa bem irônica. Muitas vezes, a gente precisa morrer pra aprender a viver. Não digo morrer literalmente, e sim poeticamente. Muitas pessoas morrem por dentro pra depois se descobrir. Comigo foi assim.

Na faculdade eu aprendi que transtornos psicológicos são vários, mas que a depressão é o pior deles. Imagine, se sentir apático, com medo de viver, com medo de ser feliz, com medo de tudo e todos. Odiar tudo a sua volta, odiar as pessoas e o pior de tudo, odiar a si mesmo. Quando a gente tem depressão, tudo te incomoda. Conviver com isso por anos, pode ser o fim. Conviver consigo por anos, é o fim. Aí você começa a se culpar por tudo, alguns pensamentos estranhos invadem sua mente, e quando você se dá em si, sua vida já está praticamente destruída. Muitas pessoas pensam que, até chegar a essa parte, já reconheceram a depressão e o tratamento psicológico já acontece. Mas é exatamente o contrário. Infelizmente, às pessoas têm vergonha de pedir ajuda por si só, e às vezes quando pedem a algum parente, a resposta é sempre a mesma: drama, frescura. E é aí que a pior parte acontece: suicídio. Só depois de quase perderem alguém é que as pessoas resolvem ajudar. Muitas vezes, isso acontece tarde demais. Mas outras vezes, por sorte, ainda há tempo.

É aí que eu entro. Estou aqui para ajudarem as pessoas a recuperarem a fé em si mesmas, a recuperarem seu amor. A entenderem que nem tudo está perdido. Eu ajudo elas e na maioria das vezes, elas me ajudam também. Ensino as pessoas que confiar uma nas outras — na pessoa certa, é claro — é o caminho. E é nesse caminho que todos nós vamos nos trilhar.

O caminho da esperança.