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História Alma de Dragão - IV - Novo Mundo


Escrita por: JonathanJLGomes

Capítulo 5 - IV - Novo Mundo


Fanfic / Fanfiction Alma de Dragão - IV - Novo Mundo

"Se passar pelo grande portão decidido a não mais voltar, esquecera tudo que viu e ouviu até agora." Nathan não conseguia tirar aquelas palavras, ditas pelo Moustre Rouma, de sua mente.

Agora, fora dos domínios do Instituto Novo Amanhecer, voltando a sua casa, ele achou que nada mudara em relação ao mundo que já conhecia, tudo parecia em seus conformes. Voltou sua visão ao grande portão, os irmãos ArtDaves ainda o encaravam com risos de deboche e descredito em sua volta no dia seguinte. Ele segurou firme as rédeas de Bounce e apressou o galope, descendo a ladeira com o brilho do sol se pondo ao oeste e iluminando os prédios ao norte da ponte.

Havia poucas nuvens naquele fim de tarde, nada que pudesse causar uma chuva, mas Nathan quis correr ainda mais ao ouvir o som de trovões. Olhou para o céu, observou o vento nas árvores, mas nada indicava o menor sinal de chuva.

- Estranho. – pensou alto. – Será isso um sinal de algo novo? – riu ao se questionar com desdém.

Quanto mais se aproximava da ponte, mais as trovoadas aumentavam. Ele olhava ao seu redor, observando as pessoas, que agiam normalmente sem se preocupar com a possível ameaça de chuva ou com os trovões. Corans já se preparavam para voltar as suas casas esperando, em frente aos prédios governamentais e suas grandes lojas, as suas charretes trazidas por seus Patriws condutores. No fim de tarde já quase não se viam mulheres, assim que o sol começava a baixar no horizonte e as luzes das ruas começavam a serem acesas pela Milícia, elas se encaminhavam de volta a seus lares, os homens eram os últimos a se retirarem. Mesmo Bar'West sendo uma Cidade Capital pacifica, seus habitantes evitavam perambular a noite desde a Rebelião da Meia-noite orquestrada pelos Castos, que buscavam reconhecimento pelo Mox da Província Sul, Jyor D'Vian, e os habitantes ao norte da ponte.

Já quase chegando na linha de ferro, Nathan teve a desagradável surpresa de encontrá-la suspensa por causa de um pequeno veleiro mercante que passava.

- Ótimo, como se eu já não estivesse atrasado. – reclamou deitando sobre Bounce. – Mamãe deve estar super preocupada conosco, Bounce, nunca havia chegado tão tarde quanto hoje. É provável que já tenha chamado até a Milícia para vir nos procurar.

Novamente o som de trovões assusta Nathan ao levantar uma nuvem de poeira enorme atrás dos prédios a sua esquerda. Assustado, ele procura a sua volta por um Homem da Milícia. Aquela imensa nuvem de poeira não era normal. "Será que foi um raio?", questionasse, e fica impressionado por ninguém ao seu redor se importar com tudo aquilo.

- Ei, veja! – chama a atenção de um senhor Patriw que também esperava para atravessar a ponte.

- Ver o que garoto? – pergunta confuso, procurando o que Nathan apontara. – Está brincando comigo, seu moleque?

- O que!? Não, você não está vendo!? – um pensamento súbito abre os olhos de Nathan. – Você não está vendo... – sussurra ao entender. "Será que aquilo tem a ver com o que o mestre falou?", pensa consigo.

Nathan puxa as rédeas de Bounce e rapidamente se encaminha para o local. Sua curiosidade o faz agir esquecendo da sua mãe e a preocupação que a afligia, naquele momento ele só queria ver, só queria conhecer e descobrir o que seria o novo mundo mencionado pelo Moustre Rouma.

Ele entra nas vielas entre os prédios, já próximo do que levantou toda aquela poeira, um estrondo estremece o chão e as estruturas e faz Bounce se assustar, empinando e deixando Nathan quase caindo. Quando se recupera, um forte vento vem em sua direção trazendo consigo mais areia, ele protege seus olhos e tenta manter o cavalo calmo. Ao tentar olhar, vê de relance um vulto do que lhe parece ser uma pessoa em pé no meio de toda aquela poeira e vento, devagar ele se aproxima ainda mais, estruturas de um prédio em construção começam a se delinear na nuvem de areia ao lado da sombra.

- Olá? – pergunta receoso.

Um disparo brilhante lança a figura contra as estruturas e dissipa toda a poeira com cinzas ainda acesas no ar e revela um homem alto em vestimentas com formas poligonais esfregando as mãos com pequenas chamas.

- Achou mesmo que poderia me prender sozinho? – disse o homem. – Você morrerá aqui, Septo. – ele praticamente cuspia aquelas palavras.

Nathan paralisou-se e sentiu os olhos daquele homem o encararem diretamente, era alto e com cabelos grisalhos, ombros largos ebraços fortes, de pele clara e expressão indiferente. O garoto procurou esconder-se com Bounce atrás de vários barris que haviam mais à frente, o cavalo relinchava assustado fazendo o pequeno se preocupar em ser descoberto e acabar entrando na confusão. O que, de certa forma, já tinha ocorrido.

- O que foi que eu fiz? Não devíamos ter vindo aqui, Bounce, agora seremos descobertos e mortos... – dizia o garoto agachado atrás dos barris, puxando e apertando as rédeas do animal contra seu peito. – Bem que o vovô sempre disse que devíamos nos desviar de confusões ou acabaria sobrando para a gente também.

Porém o homem não lhe deu importância, estava obstinado a matar o Septo com quem lutava, uma criança não seria problema nenhum após tal feito.

- Não devia ter fugido de Endlesfyn, Kripto! Você sabe que agora eu só tenho duas alternativas e em uma delas, você é quem não vive. – disse o Septo se levantando dos escombros.

- Quando o crepúsculo findar e as duas luas surgirem, é você quem estará implorando pela vida. – ameaçou Kripto, saltando logo em seguida. – Não irei mas perder tempo com você! Flames invocus... – pronunciando tais palavras chancelas, ele levantou dois dedos diante de seu rosto,fazendo o selo de ataque simplificado de Kalldorf e em seguida, ergueu somente um dedo e sussurrou braken, segurou amão direita a sua dianteira e num piscar de olhos, ele surgiu frente ao Septo com o braço erguido e o punho envolto em chamas. – Punho flamejante!

Imediatamente o Septo cruzou suas mãos com somente os dedos indicadores erguidos e disse rapidamente - Taer invocus! - Invocando a terra, ele faz surgir diante de si uma barreira de rochas, mas esta é facilmente quebrada por Kripto em seu ataque,que ao destrui-la causa uma pequena explosão espalhando fumaça e pedras.

Protegendo-se dos pedregulhos que se lançaram e observando tudo aquilo, Nathan ficou pasmo e não conseguia acreditar que o Septo perdera, assustado ele se encolheu em seu esconderijo e orou aos Grandes Seres para que o protegessem e não acreditou em seus ouvidos quando escutou a voz do Septo que surgia atrás de Kripto.

- Não acredito que achou que poderia me ferir com esses ataques tão simples? – desdenhou, com os braços cruzados e em pé olhando torto para Kripto, que se encheu de ódio e virou-se rapidamente com uma sequência de socos e chutes, o Septo sem muito esforço se defendia e desviava-se com facilidade e em um movimento rápido segurou Kripto pelo braço, girou e o arremessou contra o chão. O impacto gerou um pequeno tremor, rachaduras e poeira.

Nathan arriscou-se naquele momento a olhar e se prendeu em cada detalhe do Septo - os sapatos pretos com as pontas brancas, a calça preta em tecido leve, as luvas brancas com três triângulos no dorso: um grande com a base para os dedos e a ponta em direção ao braço e dois pequenos, um de cada lado da ponta do maior. Uma blusa preta com mangas até o punho coberta por um colete branco com as extremidades finas que cobriam as coxas a frente e por detrás e um capuz que cobria a cabeça, deixando revelado somente a máscara em marfim com fissuras negras na região dos olhos. Aquele era verdadeiramente um Septo, pensou consigo.

- Não irei matá-lo, Kripto. Só vou devolvê-lo para Endlesfyn, de onde não devia ter saído. – disse o Septo andando e olhando o seu oponente caído e sem forças.

- Jamais retornarei para aquela prisão, aquilo é um inferno gelado! – retrucou Kripto cuspindo o sangue em sua boca e esforçando-se para se levantar.– Prefiro morrer.

- Sabe que estou autorizado a fazer isso, - disse o Septo sorrindo com sarcasmo. - mas não o farei, seria um castigo rápido e simples demais. Então fique no chão e não dificulte ainda mais, fugir já foi um grande erro e chegar na Cidade Capital da Província Sul piorou ainda mais a sua situação. Afinal, aonde queria chegar, Salvport?

- Salvport me passou pela cabeça, não vou mentir. – Kripto levantou-se lentamente e deu de ombros. – A ideia de começar uma nova vida longe da Ilha Extensa, além do Mar Ágrio, no início me pareceu até boa. Mas, sabe qual a melhor coisa de se estar livre? Não sou preso a regras como você, foi por isso que me tornei um Renegado... Aqui, fora de Endlesfyn, eu posso usar toda a extensão do meu poder...

Kripto uniu a palma das mãos em horizontal, fazendo o selo de Kayus, o Septo ao perceber a intenção do Renegado recuou num salto e assumiu uma postura mais rígida e alertou:

- Não faça isso...

- Não posso controlar, Septo. – ele olhou para as suas mãos e vagarosamente as foi desunindo. - Flames invocus. – sussurrou a palavra chancela. – A destruição já faz parte da minha alma desde que renasci do fogo, não foi à toa que ganhei o título de "O punho flamejante" – uma pequena esfera em chamas surgiu e foi crescendo em tamanho e intensidade conforme ele aumentava o espaço entre suas mãos.

Nathan tentava acalmar Bounce que queria escapar de suas rédeas, o pequeno garoto olhava pelos espaços entre os barris e não conseguia acreditar no que via, uma mistura de medo e fascinação tomou conta de seu corpo.

- Kripto, este é meu último aviso, cancele sua invocação avançada ou sua história se findará aqui. - o Septo fez a mesma posição de mãos que o Renegado fizera antes, o encarou e esperou por seu movimento.

- Se eu fosse você pediria que seu apoio viesse ajudá-lo, já fui um Septo e sei muito bem que não está aqui sozinho. - ele olhou ao seu redor. - Estão nos observando, criando a barreira ilusória para impedir que Simplórios sintam e vejam nossa presença, não é? – gesticulou com a cabeça para a direção de Nathan e da Rua Principal.

Ao ouvir aquilo, Nathan imaginou se Kripto havia se referido a ele e o resto dos habitante ao chamá-los de Simplórios, ao mesmo momento se questionou sobre a barreira ilusória e se seria por causa dela que os outros não viam ou sentiam o que estava tão próximo.

- Esse é meu novo mundo? – perguntou para si, se impressionando com a esfera de fogo que crescia entre as mãos de Kripto. - Vamos lá Septo, ataque logo ele a acabe com tudo isso. Eu ainda quero viver! - pensava o garoto em voz alta.

Kripto saltou, ergueu o braço direito com a esfera flamejante e com o esquerdo levantou somente um dedo de sua mão e sussurrou "Braken", o selo de Melyne feito por sua mão e a palavra chancela o permitiu flutuar, em seguida ele juntou seu braço aquele que mantinha a esfera e aumentou ainda mais seu tamanho fazendo um losango com as mãos invertidas lado a lado, o selo de Zygriff para intensificação.

- Veja Septo, contemple o poder do sol na palma de minhas mãos! – exclamando, ele lança a grande esfera rumo ao chão, sua quentura era tamanha que faz com que os vidros dos prédios a volta se quebrem e as barras de ferro, derreta.

Mesmo de uma distância segura, Nathan sentiam o calor absurdo emanado da enorme bola de fogo, que caindo destruía tudo a sua volta. Mesmo já surgindo as duas luas no céu, aquele lugar estava tão claro quanto uma manhã quente de verão.

- Aqua invocus!­ – bradou o Septo, erguendo seus braços e abrindo as mãos contra a grande bola de fogo. Uma torrente de água se formou de suas mãos e se chocou contra a esfera flamejante, retardando sua velocidade de queda, porém sem mais efeitos.

- Acha que isso irá te salvar? – gargalhou Kripto. – Eu vou matar você e qualquer um que tentar me parar!

- Isso jamais acontecerá! – o Septo muda suas posições de mãos, deixa as duas lado a lado tocando os polegares, então inverte a mão esquerda deixando o dorso a mostra e os polegares em contato com os dedos indicadores, criando a forma de um losango, este era o selo de Zygriff para intensificação. A água ganha mais força contra a esfera e começa a girar em espiral. – Somos inimigos naturais, Kripto. E nesse jogo, sou eu quem estou com a vantagem. – um impulso é gerado de suas mãos e percorre a água, como um onda, no fim da torrente em espiral ele se abre como uma boca e envolve a esfera enorme.

Kripto se vê sem saída e tenta intensificar seu ataque. O selo de Zygriff parece não ter efeito então ele tenta outras invocações avançadas com o selo de Kayus, mas continua sem sucesso.

- O que foi, acabou com toda a sua energia prima nesse único ataque? – perguntou o Septo com sarcasmo. – Você me subestimou e confiou demais neste ataque, agora não tem mais o que fazer, só lhe resta aceitar a derrota.

Envolvida pela água, a esfera perde sua força e lentamente apaga, se esvaindo em cinzas.

- Jamais aceitarei minha derrota, não enquanto eu respirar! – respondeu Kripto, furioso.

Ele volta sua atenção a Nathan, faz o selo simplificado de Melyne e surge bem na frente do garoto.

- Você será meu trunfo, criança. – diz com um sorriso malicioso.

Ele agarra Nathan pelo braço, o garoto se desespera e clama por ajuda, em segundos seu rosto é banhado por lágrimas. O Septo, usando a técnica Braken, transportasse até eles.

- Kripto, me dê o garoto! – pede com o braço estendido. – Você já gastou sua energia prima, sabe que no seu estado ela irá demorar para voltar a um nível em que possa ser usada para invocações avançadas e...

- Não preciso fazer uma invocação avançada... Como você disse não tenho mais para onde ir, sendo assim eu não vou voltar para aquele lugar sem ter matado ao menos um qualquer.

Nathan se debatia e esperneava ainda mais em cada palavra dita por Kripto.

- Calma, você não irá morrer. – disse o Septo firmemente ao garoto.

- Não engane o menino, ele já está a um passo da morte. – ele levantou dois dedos de sua mão direita. – Flames invo...

Uma bolha d'água surgiu no rosto de Kripto, um grilhão de pedra se ergueu do chão e envolveu a sua mão direita. O Septo se transportou para detrás dele e o imobilizou pegando o braço que segurava Nathan.

- Taer invocus. – falou o Septo, fazendo com que surgisse outro grilhão da parede do prédio que estava atrás deles, prendendo o braço que segurava.

Nathan cai no chão, desnorteado, assustado e chorando muito.

- Se podia fazer isso, por que não fez antes? – grita o pequeno.

- Calma garoto, vai ficar tudo bem agora. – respondeu o Septo tentando acalmá-lo.

Nesse instante outro Septo salta do prédio e aterrissa diante deles, apoiando-se em seus joelhos.

- Desculpe por interferir em sua apreensão. – diz se levantando e indo até eles.

Era um homem de dois metros de altura muito forte, a pele morena se destacava em contraste com a máscara branca em sua cabeça, além disso, diferente do Septo que ajudou Nathan, este não usava o colete branco com capuz do traje oficial, somente as roupas escuras de baixo e as luvas e sapatos com detalhes brancos.

- Vai matar seu prisioneiro. – diz outra mascarada caminhando nas sombras daquele beco escuro. – Acho que ele ainda não aprendeu a respirar debaixo d'água.

A mulher media cerca de um metro e sessenta, também não usava o traje oficial em sua totalidade, seu torso era coberto somente com o colete deixando o zíper aberto o suficiente para se tornar um belo decote para seus seios, não cobria sua cabeça com o capuz, mostrando seu cabelo preto amarrado em coque com duas agulhas longas e grossas, atravessadas opostas uma a outra.  Em seus braços expostos, se podia ver claramente as gravuras de intensificação, no ombro esquerdo a runa que representava o elemento do fogo, e no direito o do ar.

- Obrigado por me lembrar. – disse o Septo, que salvara Nathan, expressando o sarcasmo em não querer que Kripto vivesse e removendo a bolha d'água. – Ei grandão, ajuda ele a ficar quietinho?

O Septo de dois metros une a palma das mãos em horizontal e diz as palavras chancelas de invocação.

- Taer invocus.

Correntes de terra se formam do chão e da parede atrás de Kripto e se enrolam em seu corpo e sua cabeça, imobilizando-o e impedindo que falasse.

- Prontinho, agora podemos conversar despreocupados. – o Septo vira-se para Nathan, retira seu capuz, revelando os cabelos esverdeados e se encosta nos barris. – Então novato, quem é você?

Enxugando suas lagrimas e ainda se acalmando, Nathan respira fundo e responde:

- Você é idiota? Se podia ter evitado que ele causasse toda essa destruição tampando a boca dele e acorrentando desse jeito, por que não fez antes de ele criar aquele bola enorme de fogo que quase te matou? E vocês dois, por que ficaram só observando, por que não ajudaram antes, não teria sido tudo mais simples assim?

- Calma aí, meu jovem. – diz o Septo alto se aproximando e acocando do lado de Nathan. – Você é provavelmente novato do Instituto, ainda não conhece o que fazemos e nem como fazemos.

- É isso mesmo. – acrescenta a mulher.

- Como vocês sabem que sou novo?

Os Septos riram e o que estava recostado nos barris respondeu.

- Olha pra você, parece um filhote assustado, é notável que nunca viu nada parecido. Há quantos dias está no Instituto?

- Me matriculei hoje. – respondeu cabisbaixo. – E já me pergunto se fiz a escolha certa.

- Era de se esperar. – disse a mulher. – Você não tem jeito de Septo. Sentado ai no chão, acuado, parece mesmo com um filhote... Mas preciso admitir que tem coragem, de certa forma. Afinal, nos enfrentar como você fez, mesmo sabendo que poderia terminar como ele, foi muito corajoso da sua parte.

- Ou muita burrice. – disse o Septo grandalhão, rindo e bagunçando os cabelos de Nathan.

- Isso me faz lembrar que vocês não responderam minhas perguntas. – instigou Nathan.

- Bom, você vai entender isso mais a frente, - explicou o Septo que lutou contra Kripto. – mas em resumo, ela e o grandão ali não poderiam me ajudar sem antes fixar o perímetro de ilusão.

- Perímetro de ilusão? – questionou Nathan.

- Já vi que realmente não foi coragem, o garoto é meio burrinho mesmo. – comentou a mulher, com um riso.

- Dá uma chance para o carinha, mesmo matriculado no Instituto, ele ainda é um Simplório. – defendeu o grandão.

- Continuando... – o Septo esbelto, senta de forma despojada ao lado de Nathan, passa a mão em seus cabelos verdes e o encara pelas fendas da máscara, o que deixa o garoto desconfortável. – Perímetros de ilusão são criados para que Simplórios, como você, não sejam envolvidos naquilo que não conhecem, assim nossas ações se mantém em secreto... Por acaso a máscara te incomoda?

- Um pouco... – Nathan se impressionou, estava tentando não demonstrar, mas parece que não havia tido sucesso. - É meio sombria.

- Você está pegando a essência... – disse dando um soco leve no ombro de Nathan. – A máscara aumenta nossas habilidades mentais, vai entender melhor quando for usá-la, até mesmo nosso uniforme tem uma explicação.

- Qual? - perguntou curioso.

- O contraste entre o branco e o preto demonstra que entre mortais não existe pureza completa, - ele abriu o colete branco deixando bem vista a camisa preta que usava por debaixo. - sempre haverá trevas enquanto houver luz.

Nathan estava fascinado, era tanta informação que ele se sentia, de certa forma, perdido no novo mundo.

- E quanto a eles, por que não lutavam com você.

- Esses dois estavam criando o perímetro de ilusão, o que não puderam fazer enquanto Kripto se movia, por isso só me ajudaram depois... Próxima pergunta?

- Ei, não temos tempo para isso, precisamos levá-lo de volta. – interviu a mulher.

- Vai garoto, pensa rápido. – insistiu o esbelto de cabelos verdes.

- Quem são os Simplórios que ele falou? - questionou e se arrependeu por não ter escolhido uma pergunta melhor.

- Caramba, sério que essa é sua pergunta? – resmungou a mulher. – Pensei que perguntaria sobre como fizemos as invocações. - Nathan levantou a mão para perguntar, mas ela o interrompeu. - Agora já foi, quem sabe na próxima. Bom, Simplórios são todos que vivem a vida simples do mundo que conhecem, nunca abrindo os olhos para o verdadeiro, estando cotidianamente ligados ao destino de nascer, crescer, viver como um outro qualquer e morrer.

- Espera aí, achei que somente filhos de Corans e Moxs poderiam ser matriculados no instituto. Está me dizendo que qualquer um pode ser um Septo? – perguntou Nathan.

- Sim, poderiam, tanto que acho que você é um Patriw e olha só onde foi parar... Mas a questão é que não é qualquer um que está preparado para viver assim. Simplórios já estão tão acostumados com suas vidas normais, que seria como um apocalipse se todos passassem a enxergar o que você presenciou. Olha só a sua reação, tá se mijando de medo.

Nathan, ofendido, tenta dizer algo mas não encontra as palavras. Os Septos ao seu lado levantam-se e se preparam para ir.

- Bom, é isso... Você vai aprender muito mais quando voltar ao Instituto. Nós temos que ir, quem sabe nós não nos encontramos num futuro próximo. – disse o esbelto, cobrindo seus cabelos verdes com o capuz.

- Ei, vocês ainda não podem ir, o que direi a minha mãe? E o meu cavalo? Ele fugiu e preciso dele para voltar para o sul da ponte.

- Se vira, cara. – disse o grandão.

- Pelos Grandes Seres, como você é irritante garoto. – respondeu a mulher. – Eu vou levar ele para casa, encontro vocês depois.

- Tem certeza? – perguntou o grandão.

- É, tudo bem... – disse olhando para Nathan, que mesmo sem ver seu rosto ou mesmo seus olhos pela fenda escura da máscara, pode entender que ela não estava nada bem com aquela situação.

Os Septo tiraram Kripto das correntes de terra e com outra invocação revestiram seu corpo completamente em rocha, ficando somente a cabeça a mostra e em instantes sumiram, o que novamente deixou Nathan de queixo caído.

- Ei, garoto, levanta. Temos que ir. – disse a mulher.

- Como vocês fazem isso? – perguntou impressionado.

- Ah não, chega de perguntas, um dia você aprende... – ela se abaixou para que Nathan subisse em suas costas e complementou. – Se sobreviver. – e então riu maliciosamente.

- Como assim se eu sobreviver? Espera e o meu cavalo?

- Caramba, que menino chato, inventa alguma coisa para a sua mãe... Seja esperto! – ela ergueu o dedo indicador de sua mão, fazendo o selo simplificado de Melyne, e alertou. – Segure-se! Braken...

Dizendo a palavra chancela ela saltou e em milésimos de segundos estava no terraço do prédio, mais um salto e chegou a ponte levadiça, outro e já estavam ao sul da ponte. Nathan estava perplexo, abismado, seus olhos lacrimejavam por tamanha velocidade, ele se segurava com toda a força que podia na mulher, tentava discernir onde estavam mas a cada salto a paisagem se modificava, ele sentia-se maravilhosamente assustado sendo transportado daquele jeito. Eles então param no alto da estátua de Baygror, o cinzento. Um monumento de oito metros de altura, a figura do líder dos Sete Lendários apoiado em seu escudo, erguendo sua espada e olhando para os céus. Nathan assustou-se e gritou ao olhar para baixo e perceber que a mulher que o segurava em suas costas, estava em pé na ponta da espada de Baygror, sem se quer se desequilibrar.

- Garoto, se gritar no meu ouvido novamente eu te derrubo daqui, me entendeu? – avisou seriamente.

- Desculpe. - disse se agarrando ainda mais a ela. - Só não me derrube, por favor.

- É só me dizer pra qual rumo fica sua casa.

- Ali, depois do mercado.

A mulher sussurrou a palavra chancela, braken, novamente e saltou do alto da estátua, o que fez com que Nathan gritasse novamente. Ela, num seguinte salto, solta Nathan, que grita e esperneia em queda livre.

- Falei para não gritar, não foi? – diz ela ao salvá-lo. – Falta muito para a sua casa?

- Não, - responde gaguejando e tremendo. – é na selaria dos Braggen.

- Você é neto de Oliver Braggen, o Bela Sela?

- Sim, - responde, tentando se acalmar. – conhece meu avô?

- Todos conhecem. - diz ao parar em frente a selaria. – Pronto, são e salvo. A gente se esbarra, braken.­ – fazendo o selo simplificado de Melyne, ela some.

Nathan tenta se despedir e agradecer, mas a mulher desaparece mais rápido do que ele possa se expressar.

As duas luas, conhecidas como Olhos do Lobo, o grande ser que nas orações protege e aquece nas noites frias, já brilhavam altas no céu. O garoto, na frente de casa se preocupava com a reação de sua mãe, a mais preocupada da família, e buscava uma história convincente sobre o porquê chegara tão tarde e sobre o desaparecimento de Bounce. Na porta, antes de abrir, ele respirou fundo e pensou "seja o que o destino planejou".

- Nathan, onde estava? – perguntou seu avô, o assustando.

- Vovô, o senhor me assustou. – sorriu desconcertado. – Eu... Bom... É que o Bounce desapareceu e eu tentei encontrá-lo. Fui irresponsável em não amarrá-lo direito e quando sai do Instituto ele já havia desaparecido... Sinto muito. – a mentira com certas verdades e o jeito triste e inocente, pareceu convencer o velho Oliver Braggen.

- Não devia ter feito isso. Conhecendo tão bem sua mãe, deveria ter vindo logo para casa, mas antes o cavalo do que você, ela está desesperada. – com palavras brandas, Oliver tentava dar um sermão no garoto. – Ela só não foi atrás de você por que nem eu e nem Ferdinand deixamos.

- Perdão vovô... – disse quase chorando por se preocupar com o estado de sua mãe. – Mas todos confiaram em mim para cuidar de Bounce, eu não queria ser irresponsável.

- Bom, mas acabou sendo de certa forma... Entre, deixe que sua mãe veja que está tudo bem.

Milou estava sentada em prantos com as mãos no rosto, Abby ao seu lado também chorava, mas ao ouvir a porta abrindo olhou rapidamente e saltou ao ver que era Nathan quem adentrava, o abraçou chorando e tropeçando nas palavras.

- Meu filho, onde você estava? Está tudo bem? O que aconteceu? – perguntava chorando apalpando seu rosto, Abby copiava a mãe abraçando o irmão.

- Estou bem mamãe, é que precisei vir andando pois Bounce se desamarrou e não sei para onde foi... Eu fui atrás dele mas não o encontrei, me perdoe. - respondeu Nathan, acalentando a irmã e tentando explicar calmamente a Milou.

- Você por um acaso não viu os olhos do Lobo no céu? Pensou em mim em algum momento? Devia ter vindo direto pra casa, seu avô e Ferdinand poderiam ter ido atrás de Bounce.

- Perdão mamãe, não queria desapontá-los pois confiaram em mim.

- Está tudo bem, o importante é que você está bem e nunca mais voltará para aquele lugar, estudará aqui pertinho mesmo.

- O que? Mas mãe... - a ideia de perder tudo que iria aprender o entristeceu.

- Nada de "mas", é um lugar muito longe. Isso que aconteceu hoje é uma prova de que não deve voltar. Sim, com certeza foi um sinal dos Grandes Seres. – disse tirando a bolsa de Nathan de seus ombros e o empurrando para dentro.

- Mãe, eu quero voltar. – disse Nathan a olhando firmemente.

- Quer voltar? Não era você mesmo quem não queria ir para aquele lugar? Pois bem, agora ficará aqui, está decidido. Ir estudar naquele colégio trouxe vários problemas, Bounce sumiu, você chegou muito tarde e quase me matou do coração, sabia? Eu ia chamar a Milícia, mas Ferdinand e seu avô não deixaram.

- Eu sei, vovô me contou, mas... Eu mudei de ideia, é um colégio incrível e eu até já fiz amigos. – Nathan se lembrou de Monkey e do que os irmãos ArtDaves poderiam fazer a ele. – Por favor, me deixe voltar.

- Não, já decidi. Agora vá, troque essas roupas e venha jantar, ninguém comeu preocupado com você.

- Vovô... Ferdinand... – Nathan recorreu aqueles que talvez pudessem ajudá-lo. – Eu quero voltar...

- Falaremos com ela, garoto. Agora vá. – disse Ferdinand, bagunçando os cabelos do menino e Oliver balançou a cabeça discretamente, concordando.

Nathan virou-se cabisbaixo e foi para seu quarto, enquanto Ferdinand e Oliver tentavam convencer Milou a deixá-lo voltar ao colégio.

- Milou, podemos conversar? – perguntou o homem moreno de forma mansa.

- Nem tente me convencer, Ferdinand. – respondeu Milou, irritada, pondo os pratos na mesa.

- Minha filha, sabemos que ficou preocupada, mas precisa dar uma chance ao Nate. – disse Oliver sentando na cadeira a ponta da mesa. – Ele já é praticamente um homem, precisa deixar que ele aprenda a tomar decisões.

- Praticamente um homem? – indagou. – Ele é um garoto de onze anos papai!

Oliver a olhou com repreensão por seu tom de voz.

- Desculpe. – disse ela mais calma. – Mas é que, eu fiquei tão preocupada com a demora dele, se tivesse acontecido alguma coisa, eu nem sei o que faria...

- Nós entendemos sua preocupação, meu bem. – Ferdinand afagou seu ombro. – Mas tem que dar um pouco mais de liberdade a ele. Precisa demonstrar um pouco mais de confiança, ele não é mais um bebê.

- Eu sei... – respondeu Milou em um suspiro. – Tudo bem, acho que ele pode voltar ao colégio, mas se isso se repetir novamente eu o tiro de lá!

- Certo. – disse Ferdinand com um sorriso.

- E olhem só quem está de volta, - ressaltou Oliver apontando para Nathan, que ainda estava triste por não poder voltar ao colégio. – vamos, Nate, sente-se para jantarmos.

Nathan sentou-se calado, ao lado direito do avô. Milou chamou Abby para a cadeira ao seu lado e sentou ao lado direito de Ferdinand, que estava na outra ponta da mesa. Oraram aos Grandes Seres e serviram-se.

- Milou... – disse Oliver sinalizando para Nathan, enquanto saboreava o ensopado.

Ela respirou fundo, preparando-se para falar o que para ela era preocupante só em pensar.

- Nate... Ferdinand e seu avô me convenceram de que você pode voltar ao colégio.

O garoto logo abriu um sorriso e já foi agradecendo, mas ela o interrompeu.

- Você pode voltar, com a condição de que isso nunca mais se repita, não quero que chegue esse horário novamente, me entendeu?

- Sim, mamãe. – respondeu animado.

Nathan deu a resposta que sua mãe queria ouvir e que ele deduzia que iria aconteceria nos próximos dias dali para frente, mas mal imaginava que não seria bem daquela forma. Naquela noite, após o jantar, todos se acomodaram na sala, como sempre faziam, para conversar sobre como havia sido o dia e ter um momento em família que Oliver zelava muito e tentava passar tais tradições para Ferdinand. O pequeno garoto viajava em pensamentos, ansiando para ver o que lhe aguardava nesse novo mundo.


Notas Finais


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